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Lobão responde a Alexandre Garcia

May 24th, 2013
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  1. Alexandre Garcia e a Revolução de 64.
  2.     Gostaria de dizer algumas coisas sobre o que aconteceu no dia 31/03/1964
  3. e nos anos que se seguiram. Porque concluo, diante do que ouço de pessoas em
  4. quem confio intelectualmente, que há algo muito errado na forma como a
  5. história é contada.
  6.     Nada tão absurdo, considerando as balelas que ouvimos sobre o
  7. “descobrimento” do Brasil ou a forma como as pessoas fazem vistas grossas
  8. para as mortes e as torturas perpetradas pela Igreja Católica durante
  9. séculos. Mas, ainda assim, simplesmente não entendo como é possível que esse
  10. assunto seja tão parcial e levianamente abordado pelos que viveram aqueles
  11. tempos e, o que é pior, pelos que não viveram.
  12.      Nenhuma pessoa dotada de mediano senso crítico vai negar que houve
  13. excessos por parte do Governo Militar. Nesta seara, os fatos falam por si e
  14. por mais que se tente vislumbrar certos aspectos sob um prisma eufemístico,
  15. tortura e morte são realidades que emergem de maneira inegável.
  16.      Ocorre que é preciso contextualizar as coisas. Porque analisar fatos
  17. extirpados do substrato histórico-cultural em meio ao qual eles foram
  18. forjados é um equívoco dialético (para os ignorantes) e uma desonestidade
  19. intelectual (para os que conhecem os ditames do raciocínio lógico). E o que
  20. se faz com relação aos Governos Militares do Brasil é justamente ignorar o
  21. contexto histórico e analisar seus atos conforme o contexto que melhor serve
  22. ao propósito de denegri-los.
  23.      Poucos lembram da Guerra Fria, por exemplo. De como o mundo era
  24. polarizado e de quão real era a possibilidade de uma investida comunista em
  25. território nacional. Basta lembrar de Jango e Janio; da visita à China; da
  26. condecoração de Guevara, este, um assassino cuja empatia pessoal abafa sua
  27. natureza implacável diante dos inimigos.
  28.     Nada contra o Comunismo, diga-se de passagem, como filosofia. Mas creio
  29. que seja desnecessário tecer maiores comentários sobre o grau de
  30. autoritarismo e repressão vivido por aqueles que vivem sob este sistema.
  31. Porque algumas pessoas adoram Cuba, idolatram Guevara e celebram Chavez,
  32. até.
  33.      Mas esquecem do rastro de sangue deixado por todos eles; esquecem as
  34. mazelas que afligem a todos os que ousam insurgir-se contra esse sistema tão
  35. “justo e igualitário”. Tão belo e perfeito que milhares de retirantes
  36. aventuram-se todos os anos em balsas em meio a tempestades e tubarões na
  37. tentativa de conseguirem uma vida melhor.
  38.      A grande verdade é que o golpe ou revolução de 1964, chame como queira,
  39. talvez tenha livrado seus pais, avós, tios e até você mesmo e sua família de
  40. viver essa realidade. E digo talvez, porque jamais saberemos se isso, de
  41. fato, iria acontecer. Porém, na dúvida, respeito a todos os que não
  42. esperaram sentados para ver o Brasil virar uma Cuba.
  43.      Respeito, da mesma forma, quem pegou em armas para lutar contra o
  44. Governo Militar. Tendo a ver nobreza nos que renunciam ao conforto pessoal
  45. em nome de um ideal. Respeito, honestamente.
  46.      Mas não respeito a forma como esses “guerreiros” tratam o conflito. E
  47. respeito menos ainda quem os trata como heróis e os militares como vilões. É
  48. uma simplificação que as pessoas costumam fazer. Fruto da forma dual como
  49. somos educados a raciocinar desde pequenos. Ainda assim, equivocada e
  50. preconceituosa.
  51.      Numa guerra não há heróis. Menos ainda quando ela é travada entre
  52. irmãos. E uma coisa que se aprende na caserna é respeitar o inimigo.
  53. Respeitar o inimigo não é deixar, por vezes, de puxar o gatilho.
  54.      Respeitar o inimigo é separar o guerreiro do homem. É tratar com
  55. nobreza e fidalguia os que tentam te matar, tão logo a luta esteja acabada.
  56. É saber que as ações tomadas em um contexto de guerra não obedecem à ética
  57. do dia-a-dia. Elas obedecem a uma lógica excepcional; do estado de
  58. necessidade, da missão acima do indivíduo, do evitar o mal maior.
  59.      Os grandes chefes militares não permanecem inimigos a vida inteira.
  60. Mesmo os que se enfrentam em sangrentas batalhas. E normalmente se encontram
  61. após o conflito, trocando suas espadas como sinal de respeito. São vários os
  62. exemplos nesse sentido ao longo da história. Aconteceu na Guerra de
  63. Secessão, na Segunda Guerra Mundial, no Vietnã, para pegar exemplos mais
  64. conhecidos. A verdade é que existe entre os grandes Generais uma relação de
  65. admiração.
  66.      A esquerda brasileira, por outro lado, adora tratar os seus
  67. guerrilheiros como heróis. Guerreiros que pegaram em armas contra a
  68. opressão; que sequestraram, explodiram e mataram em nome do seu ideal.
  69.      E aí eu pergunto: os crimes deles são menos importantes que os
  70. praticados pelos militares? O sangue dos soldados que tombaram é menos
  71. vermelho do que o dos guerrilheiros? Ações equivocadas de um lado desnaturam
  72. o caráter nebuloso das ações praticadas pelo outro? Penso que não. E vou
  73. além.
  74.      A lei de Anistia é um perfeito exemplo da nobreza que me referi
  75. anteriormente. Porque o lado vencedor (sim, quem fica 20 anos no poder e sai
  76. porque quer, definitivamente é o lado vencedor) concedeu perdão amplo e
  77. irrestrito a todos os que participaram da luta armada. De lado a lado. Sem
  78. restrições. Como deve ser entre cavalheiros. E por pressão de Figueiredo,
  79. ressalto, desde já. Porque havia correntes pressionando por uma anistia
  80. mitigada.
  81.      Esse respeito, entretanto, só existiu de um lado. Porque a esquerda,
  82. amargurada pela derrota e pela pequenez moral de seus líderes nada mais fez
  83. nos anos que se seguiram, do que pisar na memória de suas Forças Armadas. E
  84. assim seguem fazendo.
  85.      Jogando na lama a honra dos que tombaram por este país nos campos de
  86. batalha. E contaminando a maneira de pensar daqueles que cresceram ouvindo
  87. as tolices ditas pelos nossos comunistas. Comunistas que amam Cuba e Fidel,
  88. mas que moram nas suas coberturas e dirigem seus carrões. Bem diferente dos
  89. nossos militares, diga-se de passagem.
  90.      Graças a eles, nossa juventude sente repulsa pela autoridade. Acha
  91. bonito jogar pedras na Polícia e acha que qualquer ato de disciplina encerra
  92. um viés repressivo e antilibertário. É uma total inversão de valores. O que
  93. explica, de qualquer forma, a maneira como tratamos os professores e os
  94. idosos no Brasil.
  95.      Então, em 31 de março, celebrarei aqueles que se levantaram contra o
  96. mal iminente. Celebrarei os que serviram à Pátria com honra e abnegação.
  97. Celebrarei os que honraram suas estrelas e divisas e não deixaram nosso país
  98. cair nas mãos da escória moral que, anos depois, o povo brasileiro resolveu
  99. por bem colocar no Poder.
  100.       Bem feito. Cada povo tem os políticos que merece.
  101.       Se você não gosta das Forças Armadas porque elas torturaram e mataram,
  102. então, seja, pelo menos, coerente. E passe a nutrir o mesmo dissabor pela
  103. corja que explodiu sequestrou e justiçou, do outro lado. Mas tenha certeza
  104. que, se um dia for necessário sacrificar a vida para defender nosso
  105. território e nossas instituições, você só verá um desses lados ter honradez
  106. para fazê-lo.
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