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A Rede de Mentiras em Torno da Cloroquina: Uma Retrospectiva #pandemiasemfake #institutovero #svbr

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Dec 16th, 2020
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  1. Retrospectiva: Cloroquina
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  3. Senhoras e senhores, meu nome é Lucas Rosa e esse vídeo é parte da campanha #PandemiaSemFake, uma campanha do Science Vlogs Brasil apoiada pelo Instituto Vero, com apoio da Rede Internacional de Checagem de Dados (o IFCN) e da Shuttleworth Foundation. Todos nós estamos lutando juntos por informação de qualidade na internet, ainda mais num momento como esse, onde a informação pode salvar vidas. E é claro que a gente aqui do Mural Científico não ia ficar de fora! Hoje a gente vai falar sobre aquele remédio que deu tanta dor de cabeça pra desmentir, e a sua relação com as mentiras no mundo todo sobre essa pandemia. Roda a vinheta!
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  5. [Vinheta]
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  7. 2020 foi marcado por um acontecimento histórico que ainda vai impactar a nossa espécie por muitos anos. Estou falando é claro do fato que [aumenta empolgação] que a banda koreana BTS finalmente conseguiu conquistar a posição número 1 no rank de músicas nos EUA! VAI ARMY! .... Ah é, e também teve a pandemia.
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  9. Falando sério agora, a pandemia de covid-19 ceifou milhões de vidas no mundo todo; gente que teve sua vida interrompida muito antes do necessário. Em um cenário de tanto desespero, é natural que a gente se apegue a qualquer esperança. Porém a gente não pode deixar que essa vontade de ter uma resposta domine a gente; do contrário, podemos acabar acreditando em curas falsas e investir de maneira errada nosso tempo, dinheiro e esforço. E isso é um problema porque, em uma pandemia, quando a gente investe em uma esperança falsa, pessoas pagam o preço com as suas vidas. E agora que estamos no fim do ano, podemos olhar pra trás e ver toda a linha do tempo de eventos que levaram a esses erros.
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  11. A hidroxicloroquina e a cloroquina são dois remédios bem similares, e eu vou chamar ambos apenas de “cloroquina” no resto desse vídeo, ok? Bom, a cloroquina é um remédio usado há muito tempo para tratar condições como Lupus, Malária e Artrite. Ou seja, nada a ver com vírus, né? Então de onde veio essa história?
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  13. Tudo começou com um estudo realizado na China, e um post publicado no twitter pela revista China Science em 17 de Fevereiro de 2020. É importante ressaltar que a China Science é uma revista jornalistica sobre ciência, não uma revista científica que publica artigos científicos. Ela é uma revista similar à Veja, não uma revista similar à Nature. E se você não entendeu o que eu quis dizer com isso, checa a minha série de vídeos Como Não Ser Enganado que eu explico direitinho lá, vai estar aqui no card.
  14. Enfim, a China Science tweetou que cientistas chineses tinham descoberto que a cloroquina tinha “certo efeito curativo” sobre a COVID-19. E é aqui que entrou em ação um profissional EXTREMAMENTE importante e cujas ações a gente vai falar muito a respeito: Os Checadores de Fatos.
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  16. Agências de checagem de fatos são agências compostas geralmente por jornalistas que são especialistas em rastrear fontes de informações e verificar se essas informações estão corretas ou não. Uma agência de checadores da Nigéria foi a primeira a desmentir esse tweet da China Science.
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  18. Reportar notícias sobre ciência é difícil; é por isso que existem divulgadores científicos como nós do Science Vlogs. Infelizmente, nem todo jornalista tem o preparo necessário para fazer isso, e as informações acabam, de propósito ou não, sendo distorcidas. O que os cientistas chineses DE FATO tinham encontrado é que tratar células isoladas, em laboratório, com cloroquina, resultava em uma eliminação do vírus nessas células. Isso NÃO É O MESMO que afirmar que o remédio vai ter um efeito curativo em seres humanos. Descobertas em células – também chamados de estudos in vitro - são um primeiro passo muito importante em qualquer pesquisa científica séria, mas são APENAS o primeiro passo, e a vasta maioria das substâncias morre por aí mesmo. Muita coisa funciona nas células mas deixa de funcionar quando você testa em animais ou seres humanos, porque se tratam de sistemas muito mais complexos, e com muito mais elementos interagindo, do que um punhado de células numa placa num laboratório.
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  20. Mas enfim, apesar dos checadores de fatos terem desmentido, a gente sabe que a mentira viaja muito mais longe e muito mais rápido do que a verdade. As coisas só pioraram quando, eu Março, tivemos OUTRA história mal-contada: o cientista francês Didier Raoult publicou um estudo pre-print dizendo que o tratamento de pacientes com cloroquina melhorava a doença. Estudos pre-print são estudos que NÃO foram publicados em revistas científicas ainda – e talvez nunca sejam – e por isso não passaram pelo processo de revisão por pares que é o que torna a ciência tão confiável. Novamente, eu explico isso na minha série do Como Não Ser Enganado.
  21. Esse estudo do Didier Raoult tinha VÁRIOS problemas que faziam com que ele não fosse um estudo confiável – e novamente tanto as agências checadoras de fatos quanto os divulgadores científicos entraram em ação, apontando essas falhas. O Nunca Vi Um Cientista, parceiro aqui do Mural, publicou um infográfico na época com essas falhas, e a gente também falou pro pessoal ter cautela com a cloroquina e esperar mais estudos.
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  23. Porém, não existe agência de checagem no mundo que tenha poder para competir com a maior força do mundo: A burrice de políticos. Nos Estados Unidos, Donald Trump, em coletiva de imprensa, anunciou a “descoberta” da “cura” através da cloroquina. Foi desmentido ao vivo no próprio palco pelo representante da FDA – que é a Anvisa dos Estados Unidos – mas não adiantou. A cloroquina virou bandeira política lá fora – e aqui dentro do Brasil, porque é CLARO que o presidente Jair Bolsonaro não ia ficar de fora de uma cagada né?
  24. Enfim, nos meses de Março, Abril e subsequentes, diversas notícias falsas sobre a eficácia da Cloroquina tomaram as redes. E nós, divulgadores científicos e checadores de fatos, tivemos que lutar contra esses boatos e relembrar as pessoas: Esperem os estudos científicos saírem.
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  26. E eles saíram. A partir de Maio começaram a surgir diversos estudos bem robustos, bem sólidos, sem os defeitos dos estudos do Didier Raoult, que começaram a comprovar de maneira bem clara que a cloroquina NÃO era eficaz contra a covid. Nesse momento as notícias sobre a cloroquina começaram a perder força – mas não desapareceram completamente. Mesmo em Julho ainda era possível encontrar notícias falsas das mais bizarras, como a de que médicos que se recusassem a receitar o remédio para seus pacientes poderiam ser processados para terem o seu registro cassado, ou a de que o então governador da Bahia, Rui Costa, estava recolhendo os medicamentos de farmácias do estado. Ambas essas notícias foram desmentidas pela Agência Lupa.
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  28. E eu queria gastar um minuto reforçando o quão insana é a situação dessa última notícia. Devido à força das informações falsas, muitos brasileiros passaram a viver numa realidade alternativa, onde a cloroquina é um possível remédio contra a Covid, o que não é verdade. E aí essa realidade falsa foi usada para tentar prejudicar um político em pleno ano de eleição – pessoas revoltadas com uma mentira que dizia que elas seriam privadas de uma outra mentira. É o inception da desinformação.
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  30. Enfim, a cloroquina perdeu a força, ainda que não totalmente. Outros medicamentos sem eficácia comprovada, também politizados pelo presidente Jair Bolsonaro, surgiram, como a Ivermectina e a Nitaxozanida. Por sorte, nenhum desses conseguiu o mesmo nível de disseminação da cloroquina – talvez justamente porque os checadores de fatos e os divulgadores científicos tenham conseguido vacinar pelo menos parte da população contra essas mentiras. Mas é triste observar essa situação; é triste ver políticos do mundo inteiro tratando a ciência com tanto descaso e elegendo pra si mesmos a autoridade de decidir o que é verdade e o que não é.
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  32. O saldo final é que a cloroquina foi o medicamento mais citado em notícias falsas e obras de desinformação no mundo em 2020. Uma realidade paralela sustentada por diversas mentiras; uma bolha que é muito difícil de furar com a verdade. E fenômenos assim VÃO continuar acontecendo enquanto nossa sociedade e nossas lideranças não aprenderem a levar a sério a ciência e os cientistas. A entender o que torna o método científico tão eficaz, tão confiável, tão importante. Se você quer dar um passo na direção certa, vou recomendar de novo a minha série Como Não Ser Enganado; tem dois vídeos no ar e pretendo lançar mais dois em breve, então fique de olho. É de longe o conteúdo mais importante aqui no canal.
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  34. E o que mais você pode fazer? Você pode incentivar os profissionais que lutam contra a desinformação – os divulgadores científicos e as agências de checagem de fatos. Se inscreva e acompanhe os canais do Science Vlogs Brasil. Se puder, ajude-os financeiramente; quase todos tem algum financiamento recorrente ou maneira de monetizar o conteúdo. Aqui no Mural você pode nos ajudar comprando coisas na Amazon através do nosso link de afiliados, ou doando diretamente através do nosso link do Streamlabs; ambos vão estar na descrição. O Nunca Vi Um Cientista e o Olá Ciência tem o programa de Membros do youtube, onde por poucos reais por mês você ganha diversos benefícios. Escolha seu criador de conteúdo favorito e dá uma mão pra ele. Da mesma forma, prestigie o trabalho das Agências de Checagem de Fatos. Vou deixar aqui em baixo os links da Agência Lupa, a Aos Fatos e a Estadão Verifica, que são super importantes aqui no Brasil. Também vou deixar os links do CoronavirusFactsAlliance, o principal banco de dados em inglês sobre checagem de fatos a respeito da pandemia. E, PRINCIPALMENTE, verifiquem o Instituto Vero, que está sendo lançado agora e está sendo um grande parceiro aqui do Science Vlogs Brasil nessa campanha.
  35. Enfim, é isso. Valorizem aqueles que lutam pela verdade. A gente precisa da sua ajuda! Muito obrigado.
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  37. [Encerramento]
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