noah *

Era uma tarde qualquer de verão quando Yunho foi abordado pela primeira vez na frente de sua escola por aquele cara estranho com promessas boas demais pra qualquer um que ouvisse. Ele franziu a testa, dispensou os elogios à sua aparência e foi embora. Mas no outro dia o maldito estava lá de novo, e num terceiro dia também, e aí o rapaz resolveu ceder à insistência. Mais tarde, descobriu que o convite para se tornar trainee da Panda&Co era sério mesmo. Veja bem, ele era um rapaz simples e de família humilde, queria estudar advocacia e ter um escritoriozinho num lugar não muito caro de Seoul. Mas tinha sonhos bobos, também. Nunca achou que teria chance na indústria do entretenimento, mas agora que ela tinha se apresentado, a agarraria com todas as forças.

O primeiro ano inteiro foi um desastre, um verdadeiro teste de resiliência, porque ele não tinha talento e jeito nenhum pra coisa. E podia muito bem ter se escorado no rosto bonito pra fazer só o mínimo suficiente pra lhe colocar num grupo, mas não queria ser só mais um ídolo medíocre. Ouvia calado as puxadas de orelha dos instrutores de canto, de dança e de rap, mas a cada uma delas, algo dentro de si se tornava ainda maior. Não sabia se era o orgulho, a teimosia, ou o famoso 'eu vou mostrar pra eles'. Não eram sentimentos muito nobres, mas que serviu pra algum propósito, serviu. Ao fim do segundo ano, ele teve uma melhora surpreendente em seu desempenho. No terceiro, estava no top3 da empresa. E sem nada trabalhando ao seu favor - nada além de sangue, suor e lágrimas.

Durante os anos seguintes, finalmente conseguiu se soltar mais, deixando um pouco a postura rígida e desconfiada e se tornando o rapaz mais leve e simpático que todos conhecem hoje - mas isso veio como uma maneira de afastar o medo e a insegurança. Já estava treinando há um bom tempo, sem perspectivas de debut ainda, e era angustiante. Ele sabia que tinha potencial, mas temia que o tempo passasse demais e não considerassem mais que ele tivesse uma idade adequada pra debutar. Estava quase desistindo do sonho e aceitando que sequer ter acreditado nele tinha sido um delírio, quando teve a notícia de que seria enviado para um reality. A esperança durou pouco, já que foi eliminado logo no início, mas com a pequena fanbase que conquistou, já sentia-se mais confiante para continuar naquele caminho.

E assim continuou. Se dedicando ao treinamento, ao grupo de trainees de sua empresa que também tinha sido eliminado, até compartilhando uma ou outra música autoral no SoundCloud - passou a se interessar por produção algum tempo depois de começar a praticar para escrever seus próprios versos de rap, um dia. E, enfim, finalmente a chance que ele esperava veio: o debut com o TOP, anunciado para ele em 2020, sete anos após o início de seu treinamento. Ele estava mais do que pronto. E é essa a paixão e a determinação que fica nítida nos palcos, mesmo que, até agora, tenha tido só um pouquinho do gosto que queria deles.