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- I. A QUIETA VALSA DE APÓLO E BACO
- [I- 5.19.3.18.5.22.15]
- escrevo versos sem paciência
- para, em desencargo,
- manter a consciência
- através do diálogo.
- sou preso a este meu cargo -
- a declamar minha incompetência
- e a escrever o que não falo.
- termino eu o escravo
- desta minha impotência
- deste meu velho cansaço
- e desta minha sentença,
- é fato.
- de fato,
- eu morrerei com frequência
- e vou morrer parcelado,
- mas não haverá penitência
- até que eu seja enterrado.
- [I - 6.5.19.20.1]
- dormi mal e acordei meio torto,
- mas tem uma festa.
- bebi para resolver a dor no corpo,
- porque tem festa.
- quando o Sol baixou, eu me ergui,
- porque tem festa.
- me maquiei e me vesti
- porque tem festa.
- não fiz o que minha mãe queria,
- porque tem festa.
- desperdicei todo o meu dia,
- para ir na festa.
- eu fui para me perder em torpor,
- porque é festa.
- eu exaustei o meu motor,
- porque é festa.
- fumei cigarros e uma ponta,
- porque é festa.
- me embriaguei e não dei conta,
- porque é festa.
- comemorei um aniversário,
- porque é festa.
- tentei, mas errei o vaso sanitário,
- porque é festa.
- reclamei da nossa economia,
- porque é festa.
- falei mal de tudo o que via,
- porque é festa.
- disse besteiras sobre política,
- porque é festa.
- briguei com uma garota bonita,
- porque é festa.
- troquei flertes com a Lua,
- porque é festa.
- pensei em me atirar na rua,
- porque é festa.
- cuspi sangue e vomitei fumaça,
- porque é festa.
- parei para cumprimentar meu parça,
- porque é festa.
- virei de uma vez o copo,
- porque é festa.
- quando comecei, me perdi logo,
- porque é festa.
- tirei toda a minha roupa,
- porque é festa.
- beijei uma santa e uma louca,
- porque é festa.
- larguei em casa o coração,
- porque é festa.
- eu já não sabia dizer não,
- porque é festa.
- troquei socos e pontapés,
- porque é festa.
- chutei o chão e machuquei o pé,
- porque é festa.
- eu não voltei o mesmo de antes,
- depois da festa.
- chorei de uma dor angustiante,
- porque foi festa.
- bebi demais e chorei muito,
- porque foi festa.
- mas, se eu errei, não foi o intuito -
- foi só uma festa.
- [inspirado pelo poema
- “Dia da Criação”,
- de Vinicius de Moraes]
- [I - 16.1.12.1.22.18.1.19]
- vomito essas palavras,
- perturbadas palavras.
- são tristes e quebradas,
- leves, mas pesadas,
- escritas, faladas ou cantadas,
- às vezes rimadas,
- mas sempre cansadas.
- pouco pontuadas,
- desgastadas por rimas fracas
- e digitadas por mãos apressadas.
- elas são tecidas sem calma,
- rasgadas da alma
- e cuspidas -
- não esculpidas,
- só escarradas.
- a ascendência é,
- também,
- mal falada -
- os textos sujos,
- são os filhos bastardos
- de um poeta fracassado -
- um sonhador e um desgraçado -
- sem jeito e sem tato.
- desinteressantes
- e desinteressados,
- desprovidos de mensagem,
- de emoção ou de fatos -
- só falam de tempos errados
- e amores passados.
- em versos apressados -
- sem métrica ou fixo formato -
- não mostram talento nato,
- apenas um romântico,
- um peito quebrado
- e problemas enterrados -
- ao público,
- tão pobremente,
- apresentados.
- [I - 16.5.9.24.5.19.3.18.9.20.15.18]
- não sou eu peixe,
- nem sou autor,
- e nesse meu não ser eu
- é que eu sou
- autor e peixe -
- peixescritor.
- sou poeta e nadador,
- um peixe-voador,
- e no meu nadoescrita
- navego os rios da vida,
- nadoescrevendo
- e rimavoando
- por mares de tinta
- sobre o amor.
- [I - 19.1.14.7.21.5]
- meu peito sangra em versos
- e lamenta em redondilhas -
- da minha dor nasce a rima,
- da insônia, a poesia.
- se eu me corto, jorra tinta
- do corte que ali se abrira -
- a arte sempre foi sangrar,
- a arte, às dores, dá a vida.
- se isso escrevo com a mão,
- é o meu pesar que a mão guia -
- de todas as minhas musas
- é a mais bela a agonia.
- se crês que a arte é só beleza,
- crês em uma utopia -
- nem só de amores nasce a arte,
- arte com sangue se cria.
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