O episódio "Arkangel", da série britânica Black Mirror, retratava uma tecnologia que permitia aos pais monitorarem seus filhos a todo momento, a fim de garantir-lhes segurança plena em um mundo cada vez mais perigoso. Fora do mundo distópico do seriado, uma realidade muito semelhante acomete ao nosso dia a dia, onde pais apelam à uma superproteção exagerada e disponibilidade de bens materiais às crianças para suprir a falta de liberdade, sucedendo em um imenso despreparo emocional de jovens e à altas taxas de suicídio subsequentes.

Em primeiro lugar, é importante salientar que a culpa não é apenas dos progenitores dos jovens. Todo o contexto sociocultural dos tempos modernos, com violência cada vez mais presente, juntamente da insatisfação trazida pela imersão excessiva e necessidade de aceitação em redes sociais acaba criando um ambiente favorável à, cada vez mais, jovens depressivos e inseguros. Parafraseando a música "Descontrução", do cantor Tiago Iorc, vestem um ego que não os satisfazem e fantasiam o brio da rotina.

Cabe dizer também que a falta de atenção do tema por toda a esfera social é preocupante. Sendo o suicídio a segunda maior causa de morte entre jovens, a mídia não cumpre seu pleno papel quando ignora o problema que é cada vez mais presente. Para exemplificar, de pouco mais de trinta anos para cá, as taxas de suicídio cresceram cinco vezes.

Fica mais do que claro, então, que a pauta precisa ser combatida com a finalidade de minimizar o dano aos adolescentes e suas famílias, que acabam sofrendo em decorrência destes. É fundamental que sejam criados artifícios para garantir a inteligência emocional dos jovens, desta forma, lidando melhor com os problemas do dia a dia. A escola tem papel fundamental nesse quesito, e portanto, deve contar com apoio de psicólogos para guiá-los em situações frágeis e desenvolver elos com a comunidade em que estão inseridos. Inserir a família do jovem nesse contexto também é interessante, já que faz parte da causa do problema e pode ajudar a vislumbrar uma realidade mais interessante do que a de Arkangel, com jovens preparados para a vida e sem problemas de autoestima.