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baekwho

liberdade pt 1

Jul 1st, 2019
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  1. Quando se tornou um adulto, Taecyeon pensava conhecer o significado da palavra independência. Ele era um homem seguro de si, pensava ser o dono de suas próprias decisões. Ele apenas pensou.
  2. Quando foi posto, por seus pais, dentro de um matrimônio contra sua vontade, começou a se questionar se era tão independente quanto pensava.
  3. Taecyeon era filho dos donos de uma das maiores empresas pesqueiras da Coreia do Sul, eles eram ambiciosos e estavam sempre a procura de expandir seus negócios. Taecyeon sabia que um dia toda aquela construção vinda do esforço de seus pais e avós cairia sobre suas mãos. Ele se dedicou e estudou durante toda sua vida para se tornar herdeiro daquilo. Porém, ele não esperava que um dia fosse ser usado como ferramenta de negócios, mas lá estava ele, noivo.
  4. Quando Taecyeon viu Hoshi pela primeira vez, estava em sua primeira viagem ao Japão. Era uma reunião formal para revisar toda a burocracia — que ele achava um saco — antes que seus pais firmassem negócios com os Minatozaki.
  5. Não sabia o que esperar de sua noiva, não sabia nada sobre aquela família a não ser que eles eram podres de ricos. Essa riqueza ficava evidente ao entrar no prédio a beirar do mar que sediava a empresa, ostentando janelas e paredes de vidros que davam visão a paisagem magnífica de uma das praias mais lindas de Fukuoka.
  6. Taecyeon esperava que sua noiva fosse ao menos simpática, assim seria mais fácil manter a convivência no dia a dia. Mas não esperava que ao ser recebido na sede da empresa com seus pais, fosse ser introduzido a um garoto de cabelos negros que parecia apenas alguns anos mais novo que si. Ele se vestia em um estilo casual demais para uma reunião tão formal, onde todos usavam ternos. Coberto de preto da cabeça aos pés, o garoto usava um casaco e calça moletom junto com um tênis surrado.
  7. — Essa é Amaya. Filha, cumprimente seu noivo. — Hide Minatozaki disse em coreano para aquele rapaz, sua voz imponente carregava uma falsa simpatia.
  8. — Oi. — Ouviu o tom de voz áspero da figura de cabelos negros pela primeira vez.
  9. — Oi, meu nome é Taecyeon. — Apesar das perguntas que começavam a surgir em sua cabeça, o coreano tentou ser simpático e sorriu.
  10. — Sua filha é encantadora, Hide. — A senhora Go comentou logo atrás de seu filho.
  11. — Sim, ela é. Mas anda um pouco rebelde.
  12. Taecyeon não pôde deixar de notar o quanto aquele garoto parecia acuado sob o olhar de seu pai, estava começando a entender a situação.
  13. Depois daquela breve introdução, eles não perderam tempo, Hide e Gyunghui foram seguidos por Boa e Minju até a sala de reuniões, seus filhos caminhavam logo atrás. O acastanhado aproveitou a distração dos mais velhos para tirar uma pequena dúvida.
  14. — Qual é o seu nome? — Perguntou em um sussurro para que apenas o outro ouvisse.
  15. O menor pareceu surpreso ao ouvir aquela pergunta, encarava Taecyeon em choque. Depois de um tempo, respondeu, também em um sussurro:
  16. — Hoshi.
  17. O casamento de Taecyeon e Hoshi não teve cerimônia nem festa, isso foi um alívio para o rapaz japonês, já que Hoshi nunca foi fã de festas. Ele não gostava das pessoas, da falsa simpatia, nem de se apresentar como alguém que ele não era. A falta de cerimônia havia lhe poupado da humilhação que era atender por um nome que não era seu na frente de pessoas que ele nem sequer conhecia.
  18. Ainda teria que viver com Taecyeon. Seus pais queriam que formassem uma família, que tivessem filhos, afinal, eles eram um casal agora. Essa palavra, casal, havia perdido o sentido para Hoshi. Se dois estranhos como ele e o coreano eram um casal, então sua ideia do que significava aquilo estava errada durante muito tempo.
  19. Hoshi não era o maior dos românticos, mas as músicas que gostava de ouvir sempre disseram que entre um par era preciso ter amor. Já entre ele e Taecyeon não havia nada além de estranheza.
  20. Se mudar para Coreia foi uma das poucas partes boas do acordo. Como era de costume, a noiva era acolhida por seu marido em sua terra natal, da mesma forma que aconteceu com sua mãe que deixou Busan para viver com Hide. É claro que Hoshi estava longe de ser uma noiva, mas para algumas pessoas apenas seus sentimentos não eram o suficiente para validar a forma como se identificava.
  21. Deixou Fukuoka com um sorriso no rosto. Para ele, aquela cidade litorânea não era nada parecida com um lar, era só um antro de todos os seus pesadelos e traumas. Se mudar para Incheon lhe trouxe um novo sentimento, talvez uma pontinha de esperança.
  22. Naquela tarde, Hoshi havia acabado de sair do banho, seus cabelos negros respingavam água e seus pés descalços entravam em contato com o chão gelado enquanto andava. Ele e Taecyeon tinham sua própria casa em Incheon, mas diferente de Hoshi, o mais velho passava mais tempo fora do que dentro dela. Ele tinha uma voz muito mais ativa e um papel importante nos negócios de seus pais, portanto, estava sempre trabalhando. Enquanto isso, Hoshi passava o dia inteiro em casa, sozinho, do jeito que gostava.
  23. Eles dormiam em cômodos diferentes, o Minatozaki caminhou em direção ao seu próprio quarto. Ao entrar, se sentou em frente ao grande piano próximo a sua cama, pronto para começar a ensaiar algo que já vinha tentando há muito tempo: o primeiro movimento de Moonlight Sonata.
  24. A música para Hoshi era como uma forma de se dispersar da realidade. Uma das poucas coisas boas que seu pai já fez foi matricula-lo em aulas de música. Hoshi gostava do som do piano porque era suave, mas triste. Parecia consigo. Ele se considerava masoquista por gostar tanto de ouvir toda sua melancolia expressa através daquelas melodias. Era bonito de se ouvir, mas não de sentir. Tocar era uma forma de colocar para fora seus sentimentos sem ser autodestrutivo.
  25. Se ele pudesse, dedicaria sua vida a música, mas aquela decisão não estava em suas mãos. Isso lhe causava uma grande revolta, ódio puro. Por que ele não podia ser livre? Por que ele nasceu dentro de uma gaiola? Por que ele nasceu? Viver não faz sentido quando todas suas decisões eram feitas por outras pessoas e não por si mesmo. Morrer e viver não tinham diferença quando já se estava morto por dentro.
  26. Sem perceber, descontava a frustação que esses pensamentos lhe traziam no piano, tornando a melodia bonita em algo desconexo conforme batia seus dedos agressivamente nas teclas. Só parou quando sentiu algumas lágrimas descendo por seu rosto. Eram lágrimas de ódio, ele as odiava.
  27. — Droga... — Murmurou enquanto secava seu rosto sem nenhuma delicadeza.
  28. — O que o piano te fez? — Deu um pulo de susto ao escutar a voz grave de seu marido com seu típico tom sarcástico. Respirou fundo, tentando buscar calma, pensando em como as coisas não podiam piorar.
  29. — As pessoas batem antes de entrar. — Passou as mãos por seus fios molhados, não conseguindo olhar para Taecyeon.
  30. — A porta estava aberta. — O acastanhado explicou, só assim fazendo Hoshi se dar conta em como era estranho vê-lo em casa naquele horário.
  31. — O que você ‘tá fazendo aqui?
  32. — Resolvi dar um tempo daquela chatice toda e voltar mais cedo.
  33. O Minatozaki finalmente olhou para o rapaz, vendo que ele ainda estava usando terno. Voltou a encarar as teclas do piano, pensando no constrangimento que era ser pego chorando por seu marido.
  34. Taecyeon deixava Hoshi nervoso. Não entendia o porquê, mas nunca sabia como agir diante aquele homem. Taecyeon era como uma contracorrente, ele tratava tudo com descontração, ele debochava das regras, ele parecia totalmente livre e independente. Hoshi não entendia como uma pessoa tão sem amarras acabou se submetendo a um casamento arranjado. Era intrigante.
  35. — Você toca bem. — Taecyeon comentou depois de um tempo dentro de um silêncio desconfortável.
  36. — O que? — O moreno lhe encarou confuso.
  37. — Você toca bem. — Ele repetiu, dessa vez fazendo o outro ficar levemente envergonhado pelo elogio.
  38. — Obrigado... — Agradeceu, desviando o olhar.
  39. — Desde quando você toca?
  40. — Desde os sete.
  41. — Fiquei surpreso quando você pediu um piano, eu não imaginava que você fosse do tipo que curte música clássica.
  42. Aquela afirmação fez Hoshi franzir o cenho. O que ele queria dizer com aquilo? Voltou a encará-lo, curioso.
  43. — E por que eu não gostaria?
  44. — Não condiz com a sua aparência.
  45. — Ah é? — Ergueu uma sobrancelha. — E eu pareço gostar do que?
  46. — Você parece ter o gosto de um adolescente passando pela fase emo.
  47. Contra sua vontade, Hoshi não conteve o riso que soltou ao ouvir aquela comparação. Era a primeira vez que sorria para Taecyeon, mesmo que timidamente.
  48. — E você parece ter o gosto de uma criança de sete anos. — Rebateu sarcasticamente.
  49. — Ouch. — O coreano pôs a mão sobre o peito como se estivesse ofendido, mas seu tom de voz era risonho. — Se você quer saber, eu já tive minha fase emo na adolescência.
  50. — Você? Sério?
  51. — Muito sério, mesmo que fosse uma fase mais rebelde do que emo. Eu era o bad boy da escola, vivia arranjando confusão.
  52. — Isso não parece com você. — Hoshi não conseguia imaginar aquele homem brincalhão como um adolescente encrenqueiro, mesmo que não conhecesse ele de fato.
  53. — Parece que você não é o único imprevisível aqui.
  54. — Isso é ruim?
  55. — Claro que não! — Taecyeon exclamou de imediato. — Isso significa que nós somos únicos, você é único. Eu gosto de pessoas únicas.
  56. E lá estava Hoshi envergonhado mais uma vez, torcendo profundamente para que suas bochechas não estivessem rosadas.
  57. — Obrigado, eu acho... — Ele agradeceu, voltando a ficar acanhado.
  58. Entraram em um silêncio desconfortável novamente. As conversas entre os dois eram sempre assim. Geralmente iniciadas por parte do mais velho, eles trocavam algumas palavras e então o assunto morria em um completo silêncio. Porém, aquele diálogo havia sido um pouco mais bem-humorado do que os outros que já tiveram.
  59. Hoshi esperava que Taecyeon dissesse que já estava de saída e lhe deixasse voltar a ensaiar, mas foi surpreendido daquela vez.
  60. — Eu vou fazer um espaguete... Você vem?
  61. O moreno ponderou bastante ao ouvir aquele convite. Mirou a expressão meio apreensiva do mais velho, ouvindo uma voz meio baixinha dentro de si falando para aceitar, mas outra, muito mais alta, falando para recusar e não se aproximar tanto do coreano.
  62. — Eu estou um pouco ocupado agora. — Respondeu hesitante.
  63. — Tem certeza? Você já comeu hoje? — Ele persistiu.
  64. — Não se preocupe comigo, Taecyeon.
  65. — Eu- hm... tudo bem. — Um sentimento breve de arrependimento cercou o Minatozaki ao ouvir o desânimo na voz de seu marido. — Se precisar de algo, eu estou lá embaixo, ok?
  66. Hoshi apenas assentiu, observando-o ir embora. Levantou-se rapidamente e fechou a porta para não ser incomodado outra vez. Soltou um longo suspiro ao se sentar novamente em frente ao piano e voltou a ensaiar do ponto que parou. Enfim, sozinho.
  67. Hoshi apenas assentiu, observando o acastanhado ir embora. Levantou-se rapidamente e fechou a porta para não ser incomodado outra vez. Soltou um longo suspiro ao se sentar novamente em frente ao piano e voltou a ensaiar do ponto que parou. Enfim, sozinho.
  68. Raios e trovões dominavam os céus de Incheon naquela madrugada, mas os barulhos estrondosos estavam longe de ser o maior tormento de Hoshi. A insônia parecia muito mais incômoda, mas antes que fosse apenas ela. Ele também sentia uma dor característica próxima do seu baixo ventre desde que havia se deitado. Ele sabia o que era, mas preferia fingir que aquilo não estava acontecendo.
  69. Se revirou entre seus lençóis para dar uma olhada no relógio eletrônico do lado esquerdo de sua cama. 3h21, ele marcava. Resolveu levantar e ir atrás de um analgésico para melhorar a dor insuportável que estava sentindo.
  70. Quando já estava com seus pés para fora da cama, olhou seus lençóis e se arrependeu ao dar de cara com um rastro de sangue naqueles tecidos brancos. Aquilo realmente estava acontecendo.
  71. Preferiu nem checar a calça branca que usava pois já sabia que ela estava igualmente ensanguentada. Pisou com os pés descalços no chão e caminhou em passos cuidadosos para fora do quarto.
  72. Abriu a porta do banheiro lentamente, não queria fazer nenhum barulho para acordar Taecyeon no outro quarto, por isso fechou ela com o mesmo cuidado. Encarou seu reflexo no grande espelho em frente a pia de mármore e observou as olheiras embaixo de seus olhos.
  73. O quadro depressivo de Hoshi era responsável por descoordenar sua rotina de sono. Havia dias que ele simplesmente dormia como uma pedra, outros em que acordava repentinamente no meio de alguns cochilos e havia dias em que simplesmente não dormia. Naquela semana, as noites que passava em claro haviam sido recorrentes.
  74. Abriu o armário do lado do espelho a procura do analgésico que precisava, mas quando pegou o frasco de vidro onde guardava aquele remédio não achou nada além de um recipiente vazio. Sua paciência se esgotou ali.
  75. Fechou os olhos e bagunçou seus fios negros, tentando manter seus sentidos enquanto segurava o frasco na mão. Inspirou. Aquela seria uma noite torturante. Insônia, cólica, disforia. Expirou. Um trovão pôde ser ouvido. Pedaços de vidro se espalhavam pelo chão.
  76. Passando pelo corredor, Taecyeon, que ainda estava acordado revisando alguns documentos da empresa, ouviu o barulho vindo do banheiro.
  77. — Hoshi? — Se aproximou da porta cuidadosamente, percebendo a luz acesa que sinalizava que alguém estava ali.
  78. O moreno prendeu a respiração ao escutar a voz do mais velho. Se recompôs rapidamente e começou a recolher os pequenos cacos de vidro no chão.
  79. — Hoshi? O que aconteceu? — Taecyeon voltou a perguntar, aumentando ainda mais o desespero e pressa do Minatozaki.
  80. — Nada. — Finalmente respondeu, trazendo um pouco de alívio para o outro.
  81. — Que barulho foi esse? O que aconteceu?
  82. — Não aconteceu-ahhh, droga!
  83. Aquele murmúrio ativou um alerta vermelho dentro de Taecyeon. Algo não estava certo.
  84. — O que foi isso? Tá tudo bem? — A preocupação era evidente em sua voz.
  85. — Vai embora.
  86. — O que aconteceu?
  87. — Vai embora, Taecyeon, não aconteceu nada.
  88. Abruptamente, o acastanhado abriu a porta, se deparando com Hoshi de joelhos, cheio de vidro ao seu redor, mas o que chamou sua atenção foi o sangue vívido escorrendo pelo dedo do mais novo.
  89. — Seu dedo-
  90. — Eu disse pra você ir embora. — O tom de voz e o olhar do Minatozaki entregavam que ele não estava nenhum pouco feliz pelo outro não ter obedecido suas ordens.
  91. — Me deixa te ajudar.
  92. — Não!
  93. — Você tá sangrando, olha o seu dedo.
  94. — Eu não preciso de ajuda, tá tudo bem.
  95. — Não tá não. Vai pro seu quarto e me deixa limpar isso. — Hoshi respirou fundo. “Por favor, vai embora, Taecyeon”.
  96. — Eu não preciso de ajuda. — Expirou.
  97. — Hoshi-
  98. — Que droga, eu não quero sua ajuda! Me deixa em paz.
  99. Mais um trovão foi ouvido. Taecyeon recuou o passo enquanto encarava o mais novo em estado de choque. Um silêncio desconfortável automaticamente se fez presente. Agora de cabeça baixa, Hoshi se arrependia por ter gritado com seu marido.
  100. — D-Desculpa, eu não queria ter gritado-
  101. — Vai pro seu quarto e me deixa limpar isso. — Taecyeon falou com uma seriedade que o moreno nunca tinha ouvido antes. — Por favor.
  102. — T-Tudo bem.
  103. Hesitou um pouco antes de se levantar, pois sabia que de pé o mais velho conseguiria ver o sangue, que não era de seu dedo, manchando sua calça. Mas contrariando suas expectativas, o acastanhado não disse nada ao encará-lo.
  104. — Estanca o sangue com alguma coisa e me espera. — Hoshi apenas assentiu e saiu do cômodo, deixando Taecyeon sozinho.
  105. Sentado em sua cama, Hoshi estancava o sangramento de seu dedo com a barra da camisa que usava. Parecia ter saído diretamente de um filme de terror, com cara de poucos amigos e roupas ensanguentadas. Mas, na verdade, estava apenas esperando Taecyeon, do jeito que ele havia mandado.
  106. Hoshi nunca se considerou alguém de sorte. Para ele, sua existência por si só já era um grande azar, mas era surpreendente a forma como tudo pôde dar errado em uma só noite, em um curto espaço de tempo. Insônia, cólica e mais um momento para a lista de constrangimentos na frente de seu marido.
  107. Ele não queria que Taecyeon o tivesse visto tão vulnerável. Ele não queria precisar de ajuda. Ele não queria ser, de alguma forma, frágil. Seu orgulho ficava ferido todas as vezes em que se via precisando de alguém. E lá estava o acastanhado, tentando quebrar o muro que construiu ao redor de si mesmo para que ninguém visse o seu eu sensível.
  108. Não demorou muito para sua linha de raciocínio caótica ser interrompida pelo mais velho entrando no quarto com um kit de primeiro-socorros nas mãos.
  109. — Me dê sua mão.
  110. Ele se sentou ao lado do moreno na cama. Um pouco hesitante, Hoshi estendeu sua mão esquerda em direção ao marido. Não conseguia manter contato visual com ele, por isso seus olhos apenas miravam suas roupas banhadas de sangue.
  111. Seria clichê dizer que sentiram um arrepio eletrizante ao terem aquele pequeno contato físico, porém, era impossível negar que houve uma sensação estranha quando a palma quente de Taecyeon entrou em contato com a pele gelada de Hoshi.
  112. Com algumas olhadelas tímidas, o moreno observava a delicadeza com qual o marido cuidava de sua mão, embora ele carregasse seriedade em seu rosto.
  113. Enquanto isso, Taecyeon refletia o quão agradáveis eram aqueles momentos onde o Minatozaki não estava na defensiva. Entendia que se adaptar a um casamento arranjado não era fácil, mas não queria ser visto como um inimigo pelo mais novo. Apesar dos cortes que recebia por parte do outro, não conseguia sequer ficar bravo com ele. Apenas cansado.
  114. Estava cansado de tentar se aproximar e ser ignorado. Estava cansado de tentar ajudar e ser evitado. Estavam casados a três meses e o Go já havia perdido as contas de quantas vezes havia dado de cara com a parede de bloqueio emocional construída por Hoshi. Era desgastante.
  115. Se sentia impotente ao ver o menor se deteriorando e não poder intervir por saber que teria suas investidas rejeitadas. Ao terminar de fazer o curativo na mão dele, teve seu toque imediatamente afastado pelo mesmo. Foi com esse gesto em mente que resolveu por seus sentimentos para fora.
  116. — Eu juro que não te entendo. — Ele começou, depois de um tempo em silêncio pensando no que queria dizer. — Eu sempre tento melhorar pelo menos um por cento da nossa convivência, mas você sempre me afasta. Qual é o problema?
  117. — Você quer mesmo que eu diga? — Hoshi, que não esperava ser confrontado, rebateu em um tom quase sarcástico enquanto fitava o rosto do acastanhado.
  118. — Sim, eu quero, porque só assim eu posso entender o que tem de errado. — A impaciência era evidente em sua voz.
  119. — Tudo está errado. — Ele foi direito. — Você não cansa, Taecyeon? Você não cansa de fingir que tá tudo bem? Você não cansa de fingir que nós não estamos sendo forçados a isso? Você não cansa de fingir que isso aqui não é uma merda? Porque sinceramente eu nem sequer consigo, eu não sei você, mas eu não queria estar aqui.
  120. O mais velho ergueu uma sobrancelha ao escutar aquela fala e se ajeitou melhor para poder encarar Hoshi.
  121. — E você acha que eu queria? Sério? Você acha que eu queria estar aqui agora? Pois não, eu não queria, mas pelo menos eu tento me adaptar a isso.
  122. Hoshi riu soprado antes de voltar a falar: — É essa a questão, eu não quero me adaptar, você não entende.
  123. — Eu não entendo porque você não me deixa entender. — Taecyeon rebateu.
  124. — Não! Você não entende porque você não tá na minha pele. — Apontou para si mesmo. — Você não entende porque você não é como eu. Você tem privilégios, você é valorizado. É mais fácil para você se adaptar a tudo isso porque você não tá tendo que abdicar de quem você é para estar aqui. Você nunca vai entender.
  125. Aquilo foi o suficiente para fazer o acastanhado parar e pensar por um tempo. Ele não conseguia entender como aquilo explicava a forma fria que o Minatozaki o tratava. Desde a primeira vez que se viram, ele sabia que havia algo errado na forma como Hide se referia a seu filho. Taecyeon não precisou estar na pele dele para entender que não existia Amaya, mas sim Hoshi.
  126. — Eu não preciso estar na sua pele para conhecer seus sentimentos. — Ele persistiu. — Eu quero pelo menos tentar, mas sempre que eu me aproximo, você me afasta. Sempre que eu tento ser bom, você é frio. Você se isola, mas eu sei que você não quer isso também.
  127. O riso que Hoshi soltou, como se Taecyeon tivesse contado algum tipo de piada, fez o outro franzir o cenho em confusão.
  128. — Para. Taecyeon, você não me conhece. Nós somos estranhos, você não vê? — Ele riu mais um pouco antes de continuar. — Eu também idealizei uma imagem sua quando vi aquele homem confiante na minha frente, mas olha para você agora, é um cachorrinho dos seus pais. Então não, eu não sou a porra de uma garotinha fantasiada de homem implorando por ajuda. Muito obrigado.
  129. O acastanhado não conseguia mais acreditar nas palavras do Minatozaki e na forma como aquele garoto distorceu simplesmente tudo o que ele disse.
  130. — Eu nunca disse que você era isso, pelo amor de Deus! — Se levantou da cama. — E eu não sou um cachorrinho dos meus pais!
  131. — Você não precisa nem dizer, você não é a primeira e nem última pessoa que me trata desse jeito. — Hoshi se levantou também, ficando de frente para o mais velho. — Se você não é um cachorrinho dos seus pais, então por que você está aqui? Por que você tá aqui discutindo comigo ao invés de estar fazendo o que quer? Por que você usa terno e gravata para ir trabalhar todo dia num lugar que você insiste em chamar de chato? Por que você tenta fazer esse casamento acontecer mesmo quando você sabe que não me ama? Por que?
  132. O acastanhado passou um tempo encarando o Minatozaki enquanto pensava naquelas indagações. Os raios que surgiam na grande janela atrás dos dois iluminava a expressão séria do mais novo.
  133. — Você é hipócrita. — Foi o que Taecyeon disse. Aquilo foi a gota d’água para Hoshi.
  134. — Eu sou hipócrita? Por que? Me diz porque eu sou hipócrita.
  135. — Você esquece que você também se propôs a isso. Você esquece que você também assinou aquele papel. Você esquece que também pôs uma aliança no dedo. A diferença entre você e eu é que eu não acho que sair latindo para pessoas que não tem culpa nenhuma disso vá resolver alguma coisa.
  136. — Latindo, é? — O moreno riu, enquanto se aproximava perigosamente do mais alto. — Sabe por que eu me propus a isso, Taecyeon?
  137. — Por que você é hipócrita. — Ele voltou a repetir aquela palavra.
  138. — Porque eu não tive escolhas! Você teve escolhas, eu não. — Apontou agressivamente para o outro. — Você tem pais que te tratam como um rei, eu não tenho nada a não ser um velho filho da puta que faz questão de me lembrar todos os dias que eu sou um lixo. Eu parei o meu tratamento hormonal pra te dar um filho que eu nem quero ter. Eu nasci dentro de uma gaiola, você é livre. Você tem tudo e nem percebe. Mas você tem medo, por isso prefere abanar o rabinho pra eles. Nós nunca vamos ser uma família, você tem sorte de ter pais que se amam porque os meus não. Eu fui fruto de um arranjado e eu posso afirmar que aquilo não é uma família.
  139. Hoshi parou um tempo para fechar os olhos e respirar fundo, começando a sentir uma leveza por ter posto tudo aquilo para fora.
  140. — Se você quer agradar eles, você não precisa fingir que gosta de mim, cachorrinho. — Continuou. — Você só precisa me meter uma barriga e eles ficam satisfeitos, okay? Eu fico no meu canto e você fica no seu.
  141. As palavras do Minatozaki finalmente começaram a fazer algum sentido para Taecyeon. Mas ele ainda não estava feliz pelo mais novo se sentir daquela forma em relação a si. O menor ainda não entendia a forma como o acastanhado se sentia.
  142. — Me desculpa, eu não posso fazer isso. — Hoshi ficou confuso. — Talvez eu seja sim um cachorrinho dos meus pais. Eu tive medo de decepcionar eles durante toda a minha vida, mas eu nunca pensei se isso era bom pra mim. Eu não quero fingir que tá tudo bem, mas eu também não quero fechar os meus olhos pra você. Eu não preciso fingir que gosto de você porque eu já me preocupo com tudo o que você passa. Eu não gosto de te ver sofrendo calado, eu não gosto de te ver chorando sozinho. Isso me incomoda. Eu só quero que você me dê uma chance de cuidar de todas as cicatrizes que eu sei que você tem.
  143. — Você não entende, eu não quero dar o que eles querem- — O moreno começou, mas foi logo interrompido por Taecyeon.
  144. — Nós não precisamos ser um casal, muito menos uma família. Eu só quero me dar bem com você. Eu não quero que você me afaste mais, eu não quero que você me rejeito. De uma forma ou de outra, você faz parte da minha vida agora. Nenhum de nós queria estar aqui, mas eu sinto que eu não preciso ser mais uma pessoa desnecessária para você. — Hoshi entendia do tipo de pessoa que ele estava falando. — Por que nós não começamos do zero? Vamos deixar tudo para trás, até aquela reunião chata que nós tivemos quando nos conhecemos, ok?
  145. — Ok. — Finalmente baixou a guarda.
  146. — Ótimo. — O acastanhado sorriu pela primeira vez naquela noite, então limpou a garganta. — Vamos fazer assim: Olá, meu nome é Taecyeon e o seu?
  147. Ele estendeu sua mão esquerda em direção ao outro. O Minatozaki encarou ela por um tempo antes de tocá-la com sua palma machucada e selar aquele aperto de mão.
  148. — Meu nome é Hoshi.
  149. — Prazer, Hoshi. — O sorriso do maior se abriu ainda mais, entretanto, logo ele se deu conta que os dois ainda tinham algumas coisas para arrumar. — Acho melhor você trocar de roupa e me deixar tirar os lençóis da sua cama, tudo bem?
  150. Ele apenas assentiu, rapidamente caminhando em direção ao seu closet para pegar uma nova muda de roupas. Enquanto isso, o Go se concentrou em começar a tirar o lençol ensanguentando da cama da cama do mais novo. Ambos internamente felizes por terem se entendido.
  151. — Taecyeon.
  152. O moreno chamou o nome do seu marido, antes de finalmente ir em direção ao banheiro e se trocar.
  153. — Hm? — Ele se virou, observando Hoshi parado na frente da porta do quarto.
  154. — Obrigado por entender.
  155. Taecyeon sorriu.
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