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- decerto, nós nunca daríamos bem
- eu sou humanas e você é exatas
- e é claro que isso não significa nada
- é só um pretexto que faz parte de uma teoria bem idiota que criei aqui.
- eu me apaixonei pelo seu genótipo antes de querer seu fenótipo [a biologia é a nossa paz e nós nunca a demos atenção]
- e logo eu, amante de português, me senti segura na sua matemática. o seu jogo de 1+1 que nunca na minha cabeça dava 2.
- eu sempre gostei de matemática, viu? mas você fez acabar com todos os meus belos anos de aluna exemplar quando me apresentou a nova matéria: o amor.
- mais especificamente, o seu amor. um amor com tantos números, coeficientes, parênteses, dificuldades e problemas.
- eu fiz de tudo pra te entender, porque eu sou brilhante quando o assunto é interpretação.
- só que as suas equações eram grandes demais e eu sempre errava o cálculo. eu te pedi ajuda e você me disse que haviam vários caminhos que levavam ao mesmo resultado. eu persisti, mas não adiantou.
- as suas equações eram desnecessárias e você sabe que no fundo era só somar os coeficientes x e y (eu e você) e o resultado iria ser 2 (nós). eu ignorei toda a sua matemática confusa porque os seus eu te amo valiam mais. eu amo palavras e quando você soava em meu ouvido a minha preferida com 7 letras e 3 espaçamentos, tudo de número (o caos) eu negligenciava.
- a teoria mais bonita pra mim é pensar que apesar de sermos tão distintos, somos necessários e somos bases.
- as falas desse país não seriam existidas se não houvesse o português.
- não haveria expressão e nem escrita. e você é importante, matemática, por que sem você é impossível lidar com tanto agrupamento de coisas no mundo.
- é preciso contar, mas é preciso saber ler também.
- eu te escrevi e você me escaneou tão errado. você não entendeu que a minha maior vontade era ficar, independente do resultado. e eu te culpei por isso.
- não é por você ser de exatas que você não iria saber interpretar nada. (porra!) eu era o seu amor. amor é outra palavra que é sentida no coração e isso eu sei que você tem [mas parece que você esquece disso]
- isso que dá odiar biologia.
- no fim de tudo, a única maneira de nós nos encontrarmos são nos problemas.
- sabe aqueles enormes, cheios de textos e vários números? o português só encontra a matemática assim: em problemas.
- e eu aceitei isso, mas é tão triste.
- não sei se dói só em mim, mas eu sou tão fictícia que imagino que sim.
- o que foi o nosso amor perto da poesia, da síntese, do contexto, dos livros, do Buarque, do Mário de Andrade e Tarsília?
- nós escrevemos nossa história juntas, mas os erros linguísticos foram tremendos e a vida não perdoa. a nossa história sempre foi mais bonita quando permaneceu na minha cabeça.
- só que o nosso amor aconteceu nesse tempo-espaço confuso e isso é o que mata.
- eu fiz muitas coisas por nós e dói até hoje quando lembro de você me dizendo que a nossa relação era +1-1=0. por acaso você se achava positiva?
- no final da sua infeliz conta, fiz questão de deixar bem claro que 0+0 é 0 também.
- você nunca cedeu e eu também não.
- nós éramos muito difíceis.
- você era muito literal, o 2 sempre era 2 pra você. e eu, doida pelo amor, enxergava o 2 como cartão postal pra designar tudo de bom que somamos com nós.
- m.a.t.e.m.á.t.i.c.a [você]
- você sabia que a palavra matemática só existe no português?
- num mundo de 193 países,
- você só existe em mim.
- você só existe em mim.
- só existe você em mim.
- e isso dói, eu queria que você fizesse parte da minha vida mais do que faz da minha escrita.
- não queria que existisse apenas no meu dolorido coração.
- mas apesar de tudo, eu aprendi a contar com você. o nosso resultado foi o que sobrou depois do caos: eu. tudo isso é uma parcela de 1001 traumas e decepções e dores e agonias.
- graças a você, agora, eu sei contar.
- obrigada.
- mas ainda prefiro escrever.
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