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- CÉU
- Wisława Szymborska (1923-2012)
- Poetisa polonesa. Prêmio Nobel de Literatura em 1996.
- Tradução: Aleksandar Jovanovic
- Era preciso comecar daí: céu.
- Janela sem encosto, sem moldura, sem vidraça.
- Abertura e nada mais, porém muito bem aberta.
- Não preciso aguardar a noite amena:
- nem levantar a cabeça
- para perscrutar o céu.
- Tenho céu atrás de mim, sob as mãos
- e debaixo das pálpebras.
- Estou enredada de céu
- e isto me exalta.
- Nem as montanhas mais altas
- Estão mais próximas do céu
- do que os vales mais profundos.
- Não há mais céu num lugar
- do que em outro.
- A nuvem está atada ao céu
- indiferente como o túmulo.
- A toupeira é tão feliz
- quanto a coruja que abre as asas.
- O objeto que cai no precipício
- cai do céu no céu.
- Partes poeirentas, líquidas, montanhosas,
- passageiras e queimadas do céu, migalhas do céu,
- brisas de céu e montes.
- O céu é onipresente
- até nas trevas sob a pele.
- Devoro o céu, rejeito o céu.
- Estou com armadilhas na armadilha,
- com o habitante instalado,
- com o abraço abraçado,
- com a pergunta presente na resposta.
- A divisão entre céu e terra
- não foi pensada de forma adequada
- a respeito desta unidade.
- Permite até que se sobreviva
- no endereço mais exato,
- que pode ser achado mais depressa
- se me procurarem.
- Os meus sinais característicos são
- o arrebatamento e o desespero.
- (Apud "Antologia de 63 poetas eslavos". Tradução e organização Aleksandar Jovanovic. São Paulo: Hucitec, 1996.)
- Fonte: http://www.lumiarte.com/luardeoutono/wislawa.html
- [ Twitter: @WSarai ]
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