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Jul 18th, 2019
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  1.  
  2. Fui chamado de racista e expulso de um restaurante.
  3.  
  4. Olha, é o seguinte... tô muito abalado com o que aconteceu, tô pultão e escreverei demais. Se você não gosta de ler, tá fazendo o que no fórum? E se você não consegue ler, tá fazendo o que na internet? Já dá duas estrelas aí e vá se masturbar.
  5.  
  6. Pra não perder o costume, resumo de antemão: fui num restaurante e, por causa de um garçom intrometido, apanhei no meu aniversário sob acusações de ser racista...
  7.  
  8. Seguinte; fui num restaurante em Moema com meu amigo pra comemorar nossos aniversários (faço 28 anos hoje e ele fez 29 anteontem).
  9.  
  10. Só nóis dois. Por quê? Porque somos amigos desde infância e de todo aquele bando, somos os únicos que mantém contato.
  11.  
  12. Como fazemos aniversário em dias próximos (cada um comemorando com sua família), aproveitamos a ocasião pra nos reencontrarmos e colocar o papo em dia - o que não é freqüente, já que moramos longe (ele no Centro e eu na Zona Norte de SP). Com esse aumento da passagem de ônibus, então, nossos encontros serão cada vez mais raros... não que peguemos ônibus, mas é motivo de raiva, né? Enfim...
  13.  
  14. Já estávamos no restaurante, conversando e rindo à vera. Sobre seu antigo trabalho, como Analista de Sistemas, ele acabou dizendo:
  15.  
  16. "Mas foi difícil trabalhar com ele. Odiava aquele CÊCÊ... típico daquele povinho, né?"
  17.  
  18. Ele se referia ao .cc/C++ que seu antigo escritório usava com freqüencia. Apenas isso. Mas o garçom, que estava ao lado, ficou perplexo. O garçom (que é negro) disse:
  19.  
  20. "Tá tudo bem? Precisam de algo? Querem MUDAR alguma coisa?"
  21.  
  22. "Não não, você está nos servindo direitinho" - respondeu inofensivamente meu amigo Isaias.
  23.  
  24. O garçom praticamente emanou um kaio-ken x100 ao escutar "servindo".
  25.  
  26. Continuamos a conversar e pedimos os pratos principais.
  27.  
  28. Falávamos agora sobre decoração. Apesar do meu trabalho atual, meu sonho é ser decorador e arquiteto. Estávmaos então conversando sobre isto:
  29.  
  30. "Mas chega de venezianas, meu rei. Quero que você me empreste seu talento pra me conseguir um bom sofá novo" - disse Isaias.
  31.  
  32. "Nossa, com todo prazer, milorde" - respondi despojadamente.
  33.  
  34. "Hahaha"
  35.  
  36. "Haha"
  37.  
  38. "Hahahahaha"
  39.  
  40. "É... então, que tipo de sofá?" - indaguei.
  41.  
  42. "Algo casual chic"
  43.  
  44. "Um chenille, então"
  45.  
  46. "Sim, mas sem chaise".
  47.  
  48. "Nem precisava falar. Que cor?"
  49.  
  50. "Aí que você tem que fazer sua magia. Quero algo que seja chamativo, mas que não destoe do carpete e da cortina."
  51.  
  52. "Um amarelo royal, talvez?"
  53.  
  54. "Hm, não... algo mais forte" - exigiu meu amigo.
  55.  
  56. "Verde musgo combinaria com a mesa de centro."
  57.  
  58. "Não tenho mais aquela mesa."
  59.  
  60. "Um marrom Itaquera, então..." - recomendei.
  61.  
  62. "É... pode ser, mas queria que você me indicasse bons tons de preto e vinho."
  63.  
  64. "Ah, um vinho realmente não combinaria e não gosto de sofás pretos. Lembra o de couro que tinha na casa dos meus pai--"
  65.  
  66. *BARULHO GERANDO SUSTO*
  67.  
  68. O garçom que atendia nossa mesa derrubou uma bandeija vazia enquanto vinha em nossa direção.
  69.  
  70. Ficamos (assim como boa parte do restaurante) assustados, mas tudo bem.
  71.  
  72. Isaias continuou:
  73.  
  74. "Então... continue".
  75.  
  76. "É por isso que não gosto de preto" - respondi, ainda tentando retomar o assunto.
  77.  
  78. "Ah sim. Aquele último ainda machucava a bunda, de tão velho que era" - relembrou Isaias sobre o antigo sofá desgastado dos meus pais.
  79.  
  80. Não deu nem tempo de rir com a lembrança da adolescência. O garçom, negro, estava do nosso lado, branco de ódio.
  81.  
  82. "AGORA VOCÊ PASSOU DOS LIMITES" - disse o garçom enfurecido, invadindo meu espaço pessoal enquanto eu ainda estava sentado.
  83.  
  84. "Que que é isso, cara, cê tá loco? Porré essa, chama o gerente lá, tio!" - disse Isaias revelando seu lado ABC Paulista.
  85.  
  86. "Você cala essa sua boca aí, seu pardo ridículo." - disse ele se referindo às origens mixadas do meu caro amigo - "Vá gastar a grana de futebol em outro restaurante. Não sou obrigado a aturar racismo de gente como vocês!" - retrucou o garçom, extremamente exaltado, exagerando nas feições e gestos corporais. Parecia um Calibã moderno e de gravata-borboleta.
  87.  
  88. Ainda sentado, exercitando minha paciência adquirida em anos usando a linha Turquesa e Vermelha do trem, falei calmamente:
  89.  
  90. "Cara, eu não sei do que você tá falando. Estamos aqui curtindo nosso aniversário--"
  91.  
  92. "O QUÊ?" - me interrompeu o garçom indignado - "VOCÊS VEM AQUI COM ESSA VIADAGEM E AINDA ACHAM QUE TEM A MORAL PRA ME DISCRIMINAR?"
  93.  
  94. Me chamem do que for, exceto de homossexual. Ao escutar aquilo, meu coração foi domado por um poder sobrenatural. Sabem quando você passa uma situação de perigo e dá impressão que vê as coisas em câmera lenta?
  95.  
  96. Então, mema coisa aqui. E na minha mente começou a tocar Eye of the Tiger. Conhecem aquela dupla (ou banda?) Trznor alguma coisa? Os caras fizeram boas faixas nos últimos filmes do David Fincher... então... escutei uma versão deles de Eye of the Tiger.
  97.  
  98. Com os pés firme como uma estátua de bronze no chão, dei impulso e estiquei as pernas. Momento mágico. Me levantava com um único objetivo; calar a boca daquele idiota.
  99.  
  100. Em pé, "rising up, back on the streets", "just a man and his will to survive". Era agora. Trocando paixão por glória. Me sentia o Stiflerfodão do Survivor.
  101.  
  102. Cara a cara. Face to face. Sem limites para espaço pessoal. Sem homoerotismo. Punhos fechados.
  103.  
  104. Soco.
  105.  
  106. Em mim.
  107.  
  108. Levei uma de baixo do queixo. Caí.
  109.  
  110. Nocaute? Antes fosse, assim teria desmaiado sem saber como.
  111.  
  112. Caí com a cabeça no colo de Isaias. Algo que não deveria ter passado três vezes nessa minha vida.
  113.  
  114. Ainda tonto, com a cara no jeans genital de Isais, levei um chute. Mas um chute bem dado mesmo, como se eu fosse uma sacola com presuntos e ele fosse um diabético de 140 kgs.
  115.  
  116. Isaias se levantou sem se preocupar comigo e partiu pra cima. O restaurante virou um micro-cosmo. Os consumidores representavam a sociedade pós-moderna.
  117.  
  118. Metade gritava "NEGRO! NEGRO! NEGRO"
  119.  
  120. Outra clamava "HOMOSSEXUAIS! HOMOSEXUAIS!"
  121.  
  122. No meio, o árbitro de tudo: o gerente. Ele disse:
  123.  
  124. "Vocês optaram por serem gays. Meu funcionário não pediu pra ser negro."
  125.  
  126. "É!" - concordou o garçom, sem perceber o que acabara de escutar.
  127.  
  128. Era uma batalha perdida. Fomos jogados pra fora de lá avisando que eles estavam mexendo com pessoas de importância, que eles teriam que prestar contas com a Marta Suplicy.
  129.  
  130. Fomos ao 78º DP e lá o delegado Franciscoh recomendou não fazer BO, já que o outro lado não faria nada mais depois de ter me "espancado" (nas palavras dele) e também porque saímos do restaurante sem pagar pelas refeições.
  131.  
  132. Sim, o nome dele tinha um H no final. Lembro disso porque o "Lima" dele se escrevia com Y e dois M.
  133.  
  134. Na saída da delegacia, uma equipe de reportagem, a do SPTV Primeira Edição. O produtor perguntou o que havia acontecido, eu disse e ele então pediu permissão para gravar.
  135.  
  136. Natália Ariede, a repórter, então se preparou para gravar e reproduzimos o que eu havia falado para o produtor minutos antes.
  137.  
  138. "Como teve início essa agressão homofóbica?"
  139.  
  140. "Não foi homofóbica, muito pelo contrário. O garçom flertou comigo assim que entrei no estabelecimento e simplesmente surtou quando me viu com meu amigo."
  141.  
  142. E o resto do depoimento vocês verão no programa...
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