cortei você pela raiz.

Você me destruiu.
De todas as maneiras que alguém pode destruir outra pessoa, você me destruiu.
Esses dias vi uma pessoa perguntando se gostaríamos de apagar alguém da nossa lembrança, se pudéssemos. 98% das respostas foram “não”, pois mesmo as maiores decepções serviram de aprendizado. E eu me senti fraca. Eu me senti fraca e imatura porque eu te apagaria de cada pensamento meu se pudesse. Eu apagaria cada rastro sangrento que você deixou em minha vida. Eu não cresci depois de você, eu só me fechei. O templo que um dia foi bonito e centro de atenções, hoje está em ruínas.
Eu quis dar tanto de mim que não sobrou mais nada.
Eu quis tanto ser teu pilar, tua base sólida, teu aconchego que acabei deixando de ser morada pro meu próprio bem estar.
Eu fui um espaço que você já venerou um dia. Onde teu corpo habitava e suava e gemia e amarrava e arranhava e beijava e lambia e idolatrava. Eu fui teu templo e você se ajoelhou pra mim. Mas como um devoto revoltado e mal agradecido, você se cansou. O templo que um dia te acolheu hoje cai aos pedaços e eu sinto vontade de chorar ao ver os escombros.
Algum dia você sentiu tanta dor, mas tanta, tanta, tanta dor, que não foi capaz de chorar?
Algum dia você quis tanto gritar, mas a voz não saiu?
Algum dia você quis tanto se esconder do mundo, mas ele te socou a cara e berrou que não pode parar de girar por sua causa?
Eu sim. Eu sim, sim e sim.
Você me destruiu de um jeito que achei que só existisse em filmes. E não estou falando só sobre destruir meu coração em centenas de pedaços. To falando de quando você destruiu minha autoestima, de quando destruiu meu orgulho, de quando destruiu meu braço ao apertar, de quando destruiu todas as coisas boas que eu gostava em mim, de quando destruiu meus bens pessoais e eu aceitei calada. Eu to falando de quando você me fez sentir medo, me fez sentir incapaz, me fez duvidar de todo o amor que já recebi de qualquer pessoa nessa vida. Você me fez acreditar que eu não era merecedora de amor algum, nem dos mais medíocres.
Eu tenho medo de me imaginar dependendo de alguém novamente. Quando finalmente percebi que você estava prestes a me empurrar de um penhasco, eu te deixei. Mesmo ainda sendo dependente de você, eu te deixei. Você me fez acreditar que ninguém jamais iria me amar de novo, então eu tive muito medo de partir. Mas eu tirei forças não sei de onde e parti. E eu me fechei e não há amor grande o bastante ou anos de análise que façam com que eu me abra. Eu tenho medo de me abrir graças a você. Eu tenho medo de passar tudo de novo e eu me recuso. Eu me recuso a deixar qualquer pessoa ocupar o maldito espaço que você ocupou. Porque hoje eu gosto tanto, tanto, tanto de mim que não tenho mais espaço pra gostar de outra pessoa. Porque eu me cuido tanto, tanto, tanto que seria muita imprudência me desarmar novamente. Eu não quero que ninguém mais me faça de refém. E eu te odeio por isso.
Eu te odeio porque o amor é uma coisa linda e eu queria tanto poder sentir. Eu te odeio porque você me proibiu de fazer tatuagem, porque você jogou fora meu alargador e porque você mentiu pra mim. Eu te odeio porque você me humilhou dentro de um bar, porque você me agrediu e porque você riu dos ferimentos. Eu te odeio porque você me usou pro teu mero prazer numa madrugada fria, mesmo após ter terminado comigo, e depois me deixou em uma avenida escura dizendo que ninguém poderia nos ver juntos. Eu te odeio porque eu fui a pé pra casa, aos prantos e me arranhando porque eu sentia nojo de mim, eu sentia nojo do meu corpo. Eu te odeio porque, depois de tudo, você quis voltar e eu voltei. Eu te odeio porque eu só fui te odiar realmente muito tempo depois de me cansar desse ciclo e te largar. Eu te odeio porque você disse que teria nojo do meu corpo caso eu me tatuasse, n o j o. Eu te odeio porque você machucou minhas costas quando me empurrou contra a parede. Eu te odeio porque você me beliscava para me obrigar a sorrir quando sua família chegava depois de uma briga nossa. Eu te odeio porque sua irmã viu as marcas no meu braço e você disse que eu tive uma crise e você precisou me segurar. Eu te odeio porque você me fez sentir completamente maluca e eu acreditei em você. Eu te odeio porque você me fez ter medo de qualquer pessoa que queira me amar.
E eu te odeio porque hoje eu me transformei numa pessoa oca que acaba ferindo pessoas boas por não conseguir sentir nada. Eu não sinto nada. Eu sou apenas o caos que sobrou do dilúvio que você provocou. Eu já fui uma pessoa amorosa um dia, juro que fui. Você sabe disso porque provou antes de me destruir. Eu já fui completamente diferente disso e eu peço perdão a todo mundo que me conheceu depois de você. Eu sinto saudade de quem eu fui e você não sabe o quanto eu te odeio por isso.

Já faz quatro anos que a primavera não chega pra mim.
Eu amava ser florida e hoje sou repleta de galhos secos.