Psycho Inspired One Shot (Chanbaek)

E lá estávamos nós de novo, depois de gritos e ofensas. Você de um lado, eu de outro, separados por uma barreira criada pelo sofá do nosso pequeno apartamento.

Sua respiração ofegante por conta do choro era audível do outro lado da sala. Eu não queria te olhar pois sabia que iria quebrar ao ver suas lágrimas. Continuava de olhos fechados, tentando acalmar meus neurônios e me questionando como nós chegamos aquele ponto.

Você é difícil. Quando nos conhecemos, era impossível não prestar atenção no seu sorriso tão radiante quanto os seus vívidos cabelos azuis e roupas que sempre pareciam sujas de tinta. Suas diversas cores se destacavam entre a apatia pertinente daquele campus cinzento e eu era apenas mais um dos estudantes que viviam nele.

É claro que você não deu bola para investidas de um rapaz tão comum, porém ousado até demais, como eu.

O corredor estava cheio de alunos andando para lá e para cá no dia que eu tentei te chamar para sair pela primeira vez. Você estava usando amarelo da cabeça aos pés, chamando atenção, assim como o sol que brilhava naquela manhã quente. Eu tentava parecer o mais confiante possível perto de você, porém ao te perguntar se você tinha planos para aquela noite, não consegui impedir os meus dedos de tremerem por baixo da manga do meu moletom preto.

— Talvez eu esteja livre para você outra hora, Park Chanyeol. — Meu nome saiu da sua boca de forma divertida, você sorriu e sumiu pelos corredores, me deixando com uma cara de idiota para trás.

Sabia que era uma rejeição, mas eu realmente havia me convencido que você estaria disponível para mim em outro momento e não desisti.

Voltei a mandar indiretas de que estava interessado outras vezes, sempre quando nós estávamos com algum dos nossos amigos em comum, todos eles sabiam que eu gostava de você. Minha resposta era apenas o seu riso e uma batidinha no ombro.

Você é imprevisível. Qualquer pessoa que estivesse persistindo tanto em ter uma chance com outra uma hora se cansa. Eu me cansei. Parei de tentar flertar com você por um tempo, talvez estivesse começando a aceitar que você realmente não queria nada comigo e eu não queria ser um cara chato.

Meus amigos insistiram para que eu saísse com eles em uma noite de karaokê, eu odiava sair à noite e quase sempre voltava arrependido, mas cedi daquela vez. Eu estava te evitando desde a última rejeição e não sabia que você estaria lá.
Eu me fiz acreditar que tinha superado, mas assim que te vi sendo iluminado pelas luzes dançantes do karaokê, carregando o seu bom-humor costumeiro, meu coração começou a bater forte, me dizendo o contrário.

Depois de muita bebedeira e cantoria desafinada, você me puxou para os fundos do bar, dizendo que tinha algo para me falar. Eu me lembro da iluminação azul de neon do lado de fora pintando o seu rosto, as suas mãos na gola da minha camisa e o seu sorriso embriagado.

Minha garganta já estava seca e mãos suadas. Eu tremia e tentava acreditar que era pelo frio de não ter pego um casaco naquela ventania noturna.

— Ninguém vai te roubar de mim. — falou antes de ficar nas pontas dos pés e impulsionar os seus lábios nos meus.

Eu não entendi o significado daquelas palavras na hora, mas elas pouco importavam porque você me fez ir ao céu naquele instante.

Você é confuso. Jongdae me contou que você disse aquilo porque havia ouvido uma das minhas colegas de classe dizendo que iria tentar me chamar para sair naquela semana. Entretanto, sempre que eu tentava entrar em contato para esclarecer tudo, você me ignorava. Passou várias semanas me evitando, me chutando para longe.

Eu consegui te arrancar a verdade ao te pegar de surpresa na biblioteca do campus em uma manhã daquele verão, te deixando sem saída daquela conversa.

Aquela tinha sido a primeira vez que vi você nervoso, roía as unhas ao me olhar e constantemente ajeitava o casaco azul que usava. Quando eu perguntei o porquê tinha feito aquilo, você sorriu desconcertado até me responder:

— Talvez eu precisasse de um pequeno impulso... — E eu apenas ri.

Sem me importar se estávamos na biblioteca, dessa vez fui eu que te puxei para um beijo entre aquelas prateleiras.

Você é apaixonante demais. Poder te ver e abraçar o quanto pudesse me motivava todos os dias.
Você nunca foi bom em demonstrar sentimentos, enquanto eu era o meloso entre nós dois. Mas eu sabia que toda vez que você sorria para mim, toda vez que me beijava, toda vez que me abraçava, era porque carregava no peito o mesmo sentimento esquisito que eu chamava de amor.

— Chanyeol, eu acho que quero passar a minha vida com você. — segredou em uma noite que passamos na cama de solteiro apertada dos dormitórios, depois de ter insistido em usar uma de minhas camisetas, descansando no meu peito.

Você não ouviu porque já tinha caído no sono àquele ponto, mas eu sussurrei que te amo pela primeira vez ali.

Você é complexo demais. Talvez fosse então que tivesse surgido os nossos problemas. Você era uma carta difícil de ler desde o início e a nossa história por si só já era bastante confusa.

Quanto mais me envolvia, mais acabava me afundando dentro desse oceano que é você e todos os seus nuances. Eu sentia familiaridade, ao mesmo tempo que parecia não te conhecer. Nós estávamos tendo um “caso’, mas eu nunca consegui entender os seus sentimentos. Querendo ou não, isso afetava o nosso relacionamento, já que eu nunca tive certeza se você me amava na mesma intensidade, assim como não sabia quando você estava bem.

Você me mostrou uma nova camada depois de ter ido visitar os seus pais no interior, não havia te visto por uma semana e estava morrendo de saudades. Eu sabia que você não tinha uma relação boa com eles. Quando nós estávamos almoçando juntos, eu conseguia sentir sua tensão.

— Às vezes eu sinto que tá tudo errado comigo. — murmurou, enquanto estávamos sentados em uma das mesas circulares de uma cafeteria qualquer.

Eu perguntei se estava tudo bem e você apenas desconversou. Eu não insisti e deixei para lá. Talvez eu tenha errado.
A nossa impulsividade nos deu a ideia de morar juntos. Nós estávamos no melhor período do nosso relacionamento quando resolvemos alugar um apartamento. Estávamos certos de que queríamos passar o resto da vida lado a lado e começar uma nova jornada, apenas nós dois.

Não era um apartamento tão extraordinário quando nós o conhecemos. Composto apenas pela sala-cozinha, um banheiro e o nosso quarto, era o que cabia no orçamento. Você insistiu para que pintássemos as paredes de vermelho porque aquela era a cor do amor e eu soube que qualquer lugar se tornaria aconchegante para mim se eu tivesse você.

— Eu quero que esse seja o nosso lugar de paz, longe de todo o estresse lá fora. — sussurrou ofegante, seu peito nu subia e descia e suor escorria por seus fios de cabelo na primeira noite em nosso novo lar.

Nós queríamos poder ter cumprido essa promessa. Depois de um tempo, tudo começou a se tornar estressante. Nós tínhamos dívidas, provas e trabalho para encher as nossas cabeças. Os nossos desencontros começaram a partir desse ponto.

Nós não conversávamos com a mesma frequência, nós não passávamos mais tempo juntos, apenas deitávamos na cama no final do dia e dizíamos “boa noite”.

Eu sei que eu não sou bom para você. O nosso relacionamento é como a mistura de água e óleo. Nós somos opostos, talvez seja por isso que nos atraíamos tanto. Você é colorido, eu sou preto e branco. Você é fogo, eu sou como a água. Você é extravagante, eu mais discreto. Você é intuitivo, eu sou metódico. Porém, não havia nada que nós tivéssemos em comum como o nosso temperamento forte.

Juntar duas pessoas que têm tanto a dizer, com certeza, gera uma explosão.

Quando as dores de cabeça começaram a subir em nossas costas, nós resolvemos matar um ao outro. Todas as noites eram repletas de raiva. Você dizia que me odeia e me machucava. Mas de manhã, você sempre voltava atrás e me mostrava o quanto me ama.
Nós nos abraçávamos e pedíamos desculpas, mas continuávamos brigando por qualquer coisa. Sempre.

Nós ficamos viciados em brigar, machucar um ao outro, fazer as pazes e brigar de novo. Isso havia se tornado rotina fixa, todo dia sempre com dor de cabeça e o coração machucado também. Nossas brigas só foram piorando até chegar ao ponto onde estávamos. Eu de frente para você, depois de mais um de nossos conflitos calorosos, eu nem sequer me lembrava o motivo inicial da discussão, elas sempre começavam através de coisas banais. Nós só precisávamos do isqueiro e o fósforo.

— Eu... Eu não entendo o porquê nós continuamos com isso, Chanyeol. — Seu fio de voz me fez abrir os olhos e encarar o cenário em minha frente.

Você, sentado no sofá, com seus cabelos emaranhados, roendo as unhas de forma atordoada. O nosso apartamento estava intacto, cada quadro no lugar, cada peça posta devidamente em cima da mesa de centro, a televisão ligada no mudo era uma das poucas fontes de luz daquele ambiente. Estava tudo impecável, ao contrário de nós dois que estávamos cada vez mais destruídos.

Eu também não parecia nada bem. A esse ponto, eu já havia desfeito o nó da gravata e o penteado que eu fazia para ir ao estágio todas as manhãs. Cada discussão acabava conosco.

— O que? — Sinto rouquidão em minha voz.

— Você sabe o que eu estou falando. — Você me encarou no escuro com seus olhos avermelhados. — Por que nós continuamos insistindo em algo que nós sabemos que não está dando certo? Por que você ainda não desistiu de mim, Chanyeol? Eu não entendo a gente. Você sabe que os nossos amigos dizem que nós deveríamos terminar?

Sim, eu sabia o que comentavam sobre o nosso namoro, mas nunca pensei que algum dia você iria chegar a tocar no assunto. Sempre que me diziam que era melhor colocar um ponto final no nosso namoro, eu soltava uma gargalhada e voltava a repetir que nós estávamos felizes juntos.

— E você liga para a opinião deles, Baekhyun? — Ri, tentando esconder o temor que sentia da sua próxima resposta.

Você jogou sua cabeça para trás, cansado.

— Sabe que um tempo atrás eu diria que não, mas agora eu comecei a me importar?

Meu coração começou a palpitar, eu tinha medo do que aquelas palavras podiam significar.

— Você... Não me ama mais? — Dei meio passo para trás, você riu. — Eu tô falando sério, Baekhyun. Você não me ama mais?

Eu estava irascível de novo. Você sabia o quanto me irritava os seus deboches no meio de uma discussão séria.

— Eu sabia que você não entenderia. Como você tem coragem de me perguntar isso? — Você se levantou do sofá e parou em minha frente. — Eu te amo, Chanyeol, eu te amo mais que tudo, mas nada é tão fácil como eu pensei que seria.

Você me encarava no fundo dos olhos, mas parecia distante, como se estivesse incerto do que dizia.

— Você acha que eu não sei? Mas eu nunca pensei em terminar com você. — Dei de ombros, enquanto cruzava os meus braços.

Sua expressão fechou, você parecia irritado com o que eu havia dito.

— Você pode não falar desse jeito acusatório comigo? — Suspirou. — Eu só acho que estou cansado de fingir que tá tudo bem.

— E isso significa terminar comigo? Certo. — Concordei com a cabeça, enquanto ria com desdém.

— Não, Chanyeol, que droga! — Eu não queria manter contato visual, mas eu pude ouvir bem quando você bateu o pé a minha frente. — Por que você não consegue me ouvir sem tirar conclusões precipitadas?

— Porque foi exatamente isso que você disse! — Apontei para você.

— Mas não foi isso que eu quis dizer, merda!

Sem perceber, nós já estávamos exaltados de novo, levantando a voz um para o outro. Passei as mãos pelos meus cabelos, em busca de paciência. Eu não queria discutir mais uma vez.

— E então foi o que, Baekhyun? O que você quis dizer? — Perguntei calmamente, de olhos fechados.

Quando eu te olhei novamente, seus ombros estavam mais encolhidos do que nunca e você parecia hesitante, tentando criar coragem para revelar o que tinha a dizer.

— Eu nunca te contei, Chanyeol, mas... Eu tenho medo. Tudo na minha vida é tão incerto. — Seu tom de voz havia passado de irritadiço para angustiado com rapidez. — Meus pais diziam que minha vocação como professor de artes nunca me levaria a lugar nenhum, e agora eu realmente tô começando a me questionar isso. Eu nunca tive apoio deles, você sabe, mas nunca me perguntou como eu me sentia sobre isso.
Me senti contrariado ao ouvir suas palavras. Eu sempre soube do seu relacionamento complicado com os pais, mas nunca deixei de te incentivar a correr atrás da sua carreira.

— Mas eu me importo com você, Baek. — Dei um passo à frente, tentando tocar seu ombro, mas você desviou do toque.

— Eu sei que se importa, eu confesso que a culpa é minha por não gostar de falar sobre mim, mas às vezes eu só preciso... esvaziar. — Você dizia tudo de cabeça baixa — Eu não sei com quem falar porque não sei em quem confiar, então acabo descontando em você e eu sinto muito por isso.

— Por que você nunca me falou disso? — Questionei, um tanto preocupado. — Você pode confiar em mim, Baek.

Dei outro passo à frente, ficando ainda mais próximo, tentando buscar o calor que você irradiava toda vez que nós estávamos juntos. Mas eu só sentia frio.

— Eu não quero te preocupar com os meus problemas. — Mirou seu olhar em mim. — Você não percebeu como está sempre focado em carregar tudo nas costas? E que as nossas brigas sempre giram em torno de trabalho, universidade, apartamento? Você não precisa de mais uma dor de cabeça.

Eu me sentia atônito, e talvez um pouco aborrecido por saber que era dessa forma como você se enxergava aos meus olhos. Uma mera dor de cabeça.

— Você é mais importante do que qualquer coisa material.

Toquei sua bochecha com a minha mão direita, admirando a forma como a pouca luz daquela sala iluminava sua expressão triste.

— Eu não tenho mais certeza... — Você cobriu minha mão com os seus dedos bonitos. — Apesar das nossas preocupações de adultos, eu pensei que tudo valeria a pena pela nossa felicidade. Você, para mim, é uma das poucas coisas que realmente fazem sentido, mas isso é algo que eu comecei a duvidar nos últimos tempos.

E o temor voltou a se alastrar por todo o meu corpo.

— Baekhyun- — Tentei intervir.

— Não, por favor, me escuta! — Me interrompeu apertando a mão que cobria seu rosto. — Eu tenho medo, muito medo de que um dia você canse de mim e resolva arranjar alguém melhor, por isso eu cansei de fingir que tá tudo bem, fazer isso significa te perder. Então isso tudo, nós, não faria sentido, assim como não valeria a pena. Então eu me pergunto o porquê você ainda não desistiu disso, Chanyeol? É só o que eu quero saber.

Você não sabia, mas eu tinha a resposta para aquela pergunta na ponta da língua.

— Eu te amo, isso não é o suficiente? — Eu sorri, enquanto tocava a sua face, agora com ambas as mãos. — Eu sei que eu não sou bom também, eu também cansei de fingir que tá tudo bem, mas eu acredito que nós podemos passar por isso.

— E se não? — A incerteza no seu tom de voz era perceptível.

— Nós vamos. — assegurei. — Nós somos imaturos ainda, mas eu quero crescer com você, Baekhyun. Não importa quantas vezes a gente brigue ao ponto de ser o fim, eu sei que não é.

— E se for dessa vez? — insistiu, recuando para trás.

—  Eu nunca deixaria isso acontecer, mesmo sendo um pouco cabeça-quente, às vezes.

— Quase sempre. — corrigiu, risonho.

Eu poderia ter ficado irritado e iniciado outra briga, mas apenas aproveitei a chance para me aproximar novamente.

— Olha para mim. — pedi, enquanto gentilmente abraçava sua cintura do jeito que eu gostava de fazer sempre que nos reconciliávamos de uma briga ou quando te encontrava depois das aulas no começo do nosso namoro. — Você não precisa ter medo. Eu ainda estou aprendendo a como lidar com sua complexidade, mas eu quero que você confie em mim. Eu nunca te deixaria, você acredita em mim?

Você pareceu surpreso com o meu contato repentino, mas dessa vez não se soltou. Eu conseguia sentir o seu nervosismo por me ter tão próximo, quase como se fosse a primeira vez. Você conseguia ficar ainda mais perfeito de perto, à meia luz.

— Eu não quero que tudo dê errado. — Você tinha hesitação no olhar, ao mesmo tempo que já estava entregue.

Apenas colei nossas testas, de olhos fechados, ouvindo sua respiração junto da minha.

— Nada vai dar errado enquanto nós ainda acreditarmos nos nossos sentimentos. — Sussurrei. — Vai ficar tudo bem.

Eu falei antes de juntar os nossos lábios. Seus braços envolveram o meu pescoço e eu senti o seu corpo deslizar sobre o meu enquanto você ficava na ponta dos pés. Nossas línguas e nossos gostos se misturaram. Sentir a sua boca ardente me fazia lembrar os principais motivos para eu nunca sequer ter pensando em te largar. Aquele era o momento onde nós estávamos em perfeita harmonia.

Não consegui conter o meu leve sorriso entre aquele selar quando senti os seus dedos agarrarem os meus fios castanhos e te abracei com ainda mais força antes de retomarmos.

Sempre que eu te beijava o mundo parecia parar. E talvez aquele tivesse sido o beijo mais importante que nós já demos em toda a história do nosso relacionamento porque nele tinha conforto, segurança, equilíbrio, mas principalmente, amor e a certeza de que aquele não podia ser o nosso fim.

Nós fomos nos separando gradativamente, enquanto eu deixava mais alguns selares em você, pois eu simplesmente não conseguia resistir aos seus lábios.

— Diz que acredita em mim. — Eu disse, enquanto procurava respostas, mirando em seu olhar.

Diferente da outra vez que havia questionado, o seu olhar estava cheio de fé e confiança. Você abriu um sorriso bonito, aquele que só você tinha, aquele fazia eu me apaixonar de novo toda vez que olhava, me fazia lembrar a infância, com seus olhos sorrindo junto.

— Eu acredito em você. Vai ficar tudo bem.

E naquele momento, eu tive certeza que, não importa quantas vezes nós brigássemos, eu e você iriamos continuar atraindo um ao outro. Você me deixa louco, mas eu simplesmente não consigo te deixar ir. Nós somos complicados, meio estranhos. Mas toda vez que você sorri para mim, eu fico certo de que tudo vai se acertar.