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- Esse GT é continuação do GT do Caneta.
- /cc/
- Prólogo
- >tudo aconteceu numa terça feira
- >dia 22 de novembro
- >por volta das 16h da tarde
- >eu estava sozinha em casa, estudando para as provas da faculdade
- >quando ouço alguém batendo na minha porta
- >fui abrir e vi a Ju
- >”oi Ju” eu falei, com um sorriso
- >”quer entrar?” perguntei, antes de reparar nos olhos vermelhos dela
- >coloquei uma mão no ombro dela e perguntei “ju, o que aconteceu?”
- >”você está chorando? O que houve?”
- >ela me abraçou apertado e disse, entre soluços
- >”é o Anderson, Sophia...”
- >”acharam ele baleado, na beira de uma estrada”
- >eu afastei ela, segurando ela pelos braços e olhando para os olhos dela
- >mais nervosa, impossível
- >ela olhou pra mim e completou
- >”ele não resistiu”
- >...
- >fui eu quem organizou o enterro
- >fui buscar o corpo no IML, que já tinha sido dado como indigente
- >comprei o caixão
- >enterramos no mesmo final de semana, num domingo chuvoso
- >só foram eu, ju e o yuri
- >o Anderson foi embora da minha vida do mesmo jeito que ele apareceu
- >de repente, sem dar explicações, sem pedir permissão
- >mas eu ainda não tinha o esquecido
- >nem esquecido tudo que passamos juntos
- >tudo que ele me fez sentir
- >acho que ele nunca entendeu o quão especial ele foi pra mim
- >acho que nunca vai entender
- >mas aquela dor fez nascer algo novo em mim
- >que eu nunca havia sentido antes
- >acho que comecei a entender como a ju e o yuri se sentiam
- >e pior
- >comecei a gostar
- (Parte I)
- >tu deve achar que eu sou um filha da puta né?
- >porque eu matei o menorzinho lá
- >mas a diferença entre eu e você é que eu tenho mais de dez anos no crime
- >tu não duraria um dia
- >aprende logo de uma vez, irmão
- >aqui não existe essa porra de lealdade, de confiança
- >é a lei dos canalhas po
- >por que tu acha que eu fortaleço a favela, que eu dou mó moral?
- >acha que é porque eu gosto?
- >isso é política, parceiro
- >se o morador tiver contente, ele não vai arrumar problema pro teus negócios
- >não vai ficar de papo com bandido de favela rival
- >não vai te denunciar
- >a gente sobrevive da forma que a gente pode
- >o mesmo rosto que faz rir, é o que faz chorar também
- >mas vamo voltar pra história
- >quando eu cheguei na Pedreira, ninguém deu falta do Caneta
- >o mlk era puro e era inteligente, mas era tímido, quietão
- >não tinha muitos amigos
- >mas pelo menos o mlk fez o serviço dele direito
- >o morro tava uma uva, o bonde tava mais pesado do que nunca
- >a favela tava do jeito que eu gosto
- >mas ainda tinha um assunto pra resolver
- >e esse assunto tinha nome, parceiro
- >o nome dele era Chapadão
- >já faz muito tempo que os comédias do comando vermelho tavam de frente naquele morro
- >meus informantes me deram o papo inclusive de que o dono do morro, o viado do Marreta, tava fechado com o Lambari pra me derrubar
- >aí eu te pergunto, quanto tempo ia demorar até o Marreta descobrir o Caneta?
- >quanto tempo ia demorar até que o Marreta convencesse o Caneta de que a Pedreira ia ficar melhor sem mim?
- >tu acha que eu vou correr esse risco?
- >é por essas e outras que eu to vivo, e o Caneta tá morto
- >o filha da puta do Marreta não saia da minha cabeça
- >tava tão bolado com essa situação, que nem me liguei que faltava uma semana pro meu aniversário
- >caralho, uma semana
- >já tinha passado um ano desde aquele dia que eu sentei com o Joe e com o Caneta pra decidir o que íamos fazer com o Lambari
- >e hoje, os três tão mortos e eu aqui
- >é o crime, parceiro
- >dei a ordem pra organizarem um baile pica no dia do meu aniversário
- >passei a semana inteira esperando
- >mas sei lá, irmão, tinha algo de estranho comigo
- >eu já tava enjoado dessa porra saca
- >comer as mesmas piranhas de sempre
- >trocar as mesmas ideias de sempre
- >com os mesmos caras de sempre
- >e ainda ter que ficar me preocupando com Marreta
- >porra, a semana passou se arrastando
- >mas a sexta finalmente chegou
- >e eu tava lá, na sacada da minha casa, olhando o baile comer solto lá em baixo
- >várias piranhas na minha casa, andando sem roupa como se fossem putas na vitrine das lojas msm
- >vagabundo fazendo a festa com as novinhas
- >mas, apesar de tudo, eu tava em outro pique
- >”qual foi patrão, vai curtir não?” o Soró perguntou
- >Soró era meu segurança, mlk fechamento, lutava jiu jitsu e fazia sucesso com as meninas do morro
- >”fica na disciplina aí viado, vou dar um rolé lá embaixo” eu respondi
- >”que papo é esse patrão, cheio de princesa aqui e tu vai descer lá pra ficar com aquelas ratas lá?” ele perguntou, achando graça na minha ideia
- >”pega a visão viado, as vezes a gente pode se surpreender com o que a gente encontra na favela” eu falei, quase que profetizando o que iria acontecer
- >”além disso, eu sou o frente nessa porra, tenho que ser visto, senão nego vai achar que eu to entocado aqui na minha casa e vão pensar que eu sou frouxo”
- >Soró se levandou, afastando as duas minas que tavam lá se esfregando nele
- >puxou a pistola e falou “então já é patrão, vamo lá que eu fico na contenção”
- >olhei pro moleque e respondi “precisa disso não viado”
- >”brinca com as piranhas aí, eu to de boa sozinho”
- >”certeza patrão?” ele perguntou, já sentando denovo enquanto as vagabundas alisavam ele
- >”total, fica na tua aí e mete bronca filhote”
- >precisei falar mais nada
- >quando olhei de volta a putaria já tava rolando solto ali naquele trio
- >peguei minha Glock e parti pra pista
- >realmente, o nível era muito mais baixo
- >o tanto de bêbado e de cracuda que tinha ali não era brincadeira
- >fiquei parado em um canto da quadra, observando tudo
- >de vez em quando aparecia uns pra me cumprimentar mas a maioria mantinha distância
- >foi aí que eu percebi uma muvuca ali no meio da multidão
- >um empura-empurra
- >não pode ter essa porra
- >no meu baile é só lazer caralho
- >puxei a peça e já fui cheio de ódio resolver a parada lá
- >cheguei e vi que o problema era um dos meus soldados
- >um mlk novo chamado JG
- >ele tava discutindo com uma mina lá e tava dando merda
- >”qual foi do bagulho aí menor, tá arranjando caô na minha festa?” perguntei, já brabo
- >o magrelo ficou branco
- >”né nada disso não patrão” ele respondeu, meio que gaguejando
- >”gagueja não viado, fala aí qual foi do bagulho”
- >”é que eu cheguei na piranha aqui e ela tá cheio de cu doce aqui irmão, to chamando ela pro canto e ela não tá querendo ir, to escaldadão com essa puta aí po” ele falou, todo nervoso
- >a menina deu um tapão no braço dele. “piranha é a tua mãe seu arrombado, vai procurar quem te queira”
- >ele virou pra meter a mão nela, mas eu já enquadrei ele
- >”primeiro que tu já começou errado me chamando de irmão”
- >”segundo que se a mina não quer ela não quer, e tu vai ter que respeitar”
- >”terceiro que se eu tiver outro problema contigo, tu vai pra vala”
- >”estamos entendidos?” perguntei olhando no olho dele
- >ele balançou a cabeça e foi embora, puto mas com medo
- >em volta da gente tinha formado um círculo, cheio de pessoas assistindo
- >”parou a música por quê? Volta com essa porra!” eu gritei, e o baile prosseguiu com tranquilidade
- >fui voltar pro lugar de onde eu tava e foi aí que eu avistei uma mina
- >uma mina linda que eu nunca tinha visto ali antes
- >tava bebendo cerveja, do lado de umas amigas
- >não tinha o corpo muito grande, era magra mas era malhadinha de academia
- >com uma blusinha que mostrava a barriga chapada
- >uma bunda redondinha
- >e uma carinha de princesa
- >cheguei junto na mesma hora
- >”Oi amor” eu falei, abrindo um sorrisão
- >ela me olhou como se eu não fosse ninguém
- >”quem é você?” perguntou, meio constrangida de eu estar chegando nela do lado das amigas
- >”meu nome é Celso Pinheiro Pimenta, mas a rapaziada por aqui me conhece como Playboy” lancei, botando marra
- >”ah... então você é o dono do morro né?” ela perguntou, sem dar muita bola
- >”é assim que eu ganho a vida” eu respondi, chegando mais junto
- >ela deu um passo pra trás
- >”eu nunca te vi aqui antes, é a primeira vez que tu vem?” perguntei no ouvido dela
- >ela balançou a cabeça, fazendo que sim
- >”tá gostando?”
- >ela fez sinal de mais ou menos com a mão
- >”tu tem cara de ser de fora... onde tu mora?”
- >ela deu uma risada
- >”você acha que eu vou dar meu endereço pra um dono de morro?” perguntou, cheia de ironia
- >”eu queria que tu desse outra coisa, pra ser bem sincero” respondi cheio de malícia
- >ela chegou o rosto bem perto do meu, como se fosse me beijar
- >abriu um sorrisão e disse
- >”pois o dono do morro vai ficar querendo”
- >filha da puta
- >cheguei e perguntei
- >”você sabia que hoje é meu aniversário?”
- >”parabéns” ela disse, batendo palminha de um jeito irônico
- >”é falta de educação ir no aniversário de alguém e não dar presente” falei, jogando a mão na cintura dela
- >ela deixou
- >boa, porra!
- >”o que você quer de presente?” ela perguntou
- >colei meu corpo junto no dela
- >”quero que você passe a noite comigo” falei, com um sorriso safado na cara
- >”hmmm, não”
- >”não?”
- >”é, não”
- >”como assim não?”
- >”não vou te dar esse presente”
- >”então o que tu vai me dar?” perguntei, já meio puto
- >”um beijo”, ela falou
- >”mas eu não quero só isso, quero meter poha” respondi, irritado
- >”é falta de educação recusar o presente que te oferecem” ela respondeu, usando minhas palavras contra mim
- >filha da puta
- >antes que eu pudesse responder, ela me pegou pelo pescoço e me beijou
- >caralho mermão, que beijo gostoso
- >que boquinha macia
- >que gostinho bom
- >aquela mina ali era de ouro, puta que pariu
- >o pau tava quase rasgando a calça
- >peguei na bunda dela, e ela deixou
- >feliz aniversário pra mim, caralho
- >ela se afastou de mim e sorriu
- >”satisfeito?”
- >”não, eu já falei que quero você”
- >”e eu já falei que não quero”
- >”porra garota, para de fazer cu doce” eu falei, pegando ela com firmeza pelo pulso
- >”me solta!” ela respondeu, irritada
- >”você vai vir comigo” eu disse, puxando ela
- >em volta, as pessoas começaram a reparar
- >”então vai ser assim?” ela perguntou
- >”e o esporro que tu acabou de dar no teu soldado? Que não podia arrastar mulher à força? Onde foi parar?”
- >”enfiou no cu?” ela perguntou
- >eu parei de arrasta-la e, olhando pra tras, soltei a mão dela
- >o pior é que ela tinha razão, e eu n podia esculachar ela na frente de todo mundo
- >não depois do esporro que eu dei no JG
- >ela sorriu e disse: “bom garoto, assim está bem melhor”
- >”tu pode pelo menos me dizer teu nome e me dar teu whatsapp?” perguntei, cansado dessa palhaçada toda
- >”meu nome é Daphne, amor...” ela disse
- >”o whatsapp você vai ter que merecer”
- >”agora eu vou embora, minhas amigas tão cansadas” ela disse, se virando pra partir
- >cheguei junto dela de novo e perguntei
- >”quando a gente vai se ver de novo?”
- >”quando eu quiser” ela disse, dando um sorriso
- >me deu um selinho de leve e foi embora
- >”Daphne...” eu repeti, em silêncio, enquanto a festa tava rolando
- (Parte II)
- >”alô” eu respondi, atendendo o celular
- >era o dia após a minha festa
- >eu tinha enchido a cara, depois que a mina me deixou de pista
- >subi e comi uma piranha qualquer, fantasiando com aquela Daphne
- >ainda tava pensando nela...
- >dormi pesado e acordei com a merda do telefone tocando
- >”Playboy, aqui é o Nem” a voz falou do outro lado, se identificando
- >”fala tu mestre, qual é a situação” perguntei, escaldado
- >que porra é essa, o chefe da facção me ligando de manhã
- >”é do nosso conhecimento que você matou aquele menino da reunião, o tal do Caneta”
- >nessa hora eu gelei
- >puta que pariu eles descobriram
- >meu impulso foi de negar, porque isso ia dar uma merda fudida
- >mas mentir pra eles era sinônimo de ir pra vala
- >”procede essa informação aí irmão, passei o menorzinho”
- >”por qual motivo tu fez isso, playboy?” ele perguntou
- >”o menor não era pureza não, já tava dando sinal de que ia bambear, não to podendo aceitar mais traíra no meu morro”
- >”o menor não é nada disso que tu tá falando, playboy”
- >”toda a cúpula concordou que ele era purinho”
- >”nós já estamos de olho nesse seu papo torto faz tempo, irmão”
- >”os outros frentes já tão cansados das tuas vacilações”
- >”por isso decidimos testar teu compromisso com a facção”
- >eu não entendi
- >”como assim testar meu compromisso?”
- >”queremos que tu tome o Chapadão em nome do ADA para mostrar que está fechado com nós”
- >caralho puta que pariu
- >”patrão, eu sozinho não tenho condição de fazer isso” tentei explicar
- >”dá teu jeito, irmão. Ou foge pra um lugar bem escondido, porque se tu não honrar a missão a casa vai cair pra tu “
- >”coé mestre, pera aí...” falei, mas o viado desligou na minha cara
- >filho da puta
- >e agora, o que eu faço?
- >como é que vou tomar a porra do Chapadão?
- >tem mais fuzil naquela porra que no exército da china
- >começo a pensar
- >a mente tá a mil
- >pego o telefone e começo a ligar para os gerentes das bocas do morro
- >vamos ter que organizar um bonde e atacar o Chapadão
- >to frenético no telefone quando vejo, de repente, uma mensagem do whatsapp
- >de um número desconhecido
- >abri pra ler
- >”to com saudade amor... quando podemos nos ver?”
- >caralho, quem é essa pessoa?
- >fui abrir a foto
- >caralho
- >é a novinha de ontem
- >puta que pariu, me pegou na hora certa hein rapariga
- >me esculacha no meu aniversário, aí no dia seguinte eu descubro que tenho que fazer uma missão suicida
- >e pra melhorar essa maluca decide falar comigo
- >”tu sabe onde eu moro. Aparece no morro que nois troca uma ideia” mandei pra ela
- >ela visualiza e não responde
- >cachorra
- >decido fazer uma reunião depois no jantar
- >chamo os gerentes pra minha casa pra discutirmos o problema do Chapadão
- >explico pra eles que a ordem foi dada pelos superiores (mas é óbvio que eu não falo o motivo)
- >eles ficam transtornados
- >”caralho patrão, não dá pra fazer isso. Entrar lá é suicídio porra” um deles fala
- >”ah, não me diga. Obrigado por me informar, não sabia disso” eu respondi, puto
- >”avisa pro chefe, patrão, fala pra ele que se não fortalecerem o nosso bonde a gente vai passar mal lá” outro disse
- >”e tu acha que eu não tentei? Os caras mandaram invadir nós vai ter que invadir, porra” respondi
- >”vai dar merda isso patrão, vai dar merda”
- >”o que que vai dar merda?” uma voz de mulher pergunta, vindo do portão
- >é a maluca da Daphne
- >os gerentes viram pra trás, olhando pra ela
- >ela vem andando como se tivesse naquelas pistas lá de desfile de moda
- >porra garota, tu tá numa favela, aqui não é São Paulo Fashion Week não
- >mas lá vem ela, toda se querendo
- >” deu um caô aí dona” um dos gerentes fala, provavelmente já sacando que era minha mina
- >”que caô foi esse? Um bando de marmanjo sentado em círculo, tão parecendo moleque de 12 anos batendo punheta em rodízio usando revista da playboy” ela disse, soltando uma risada
- >”ô Daphne, presta atenção, eu tenho consideração por você mas eu to numa parada séria aqui tá ligado”
- >”então senta num sofá aí, liga a tv e espera a minha reunião acabar e depois a gente conversa
- >a fdp chega na minha frente, senta no meu colo e diz
- >”você quer que eu saia pra ficar conversando de pokemon com seus amigos, amor?”
- >”nananinanão”
- >”quem vai sair são eles” ela diz, sorrindo e olhando pra mim
- >eu encaro elas, e os irmãos ficam sem saber o que fazer
- >ela vira pra trás, encarando eles, e fala
- >”vocês não ouviram não? É pra sair”
- >os caras levantam, meio que sem jeito, e se despedem
- >”depois a gente conversa patrão, com licença”
- >ela fica olhando, até o último atravessar a porta
- >depois olha pra mim e pergunta, de um jeito meio doce
- >”então amor, agora você vai me dizer o que houve?”
- >”você não vai nem entender o que eu vou te dizer” respondi
- >ela fez uma carinha e disse “ ahh, tenta, vai... eu sou inteligente, por incrível que pareça”
- >ai meu caralho
- >”então, o meu chefe acabou de me passar uma missão que eu não consigo cumprir
- >ele quer que eu invada uma favela que existe aqui nas redondezas, mas eu não tenho recurso pra isso”
- >ela me olhou e disse “te pediram pra invadir o Chapadão?”
- >olhei pra ela, surpreso
- >”como tu sabe disso?”
- >”isso é mole, amor... a única grande favela rival da Pedreira aqui é o Chapadão... não precisa ser nenhum gênio pra deduzir isso né?”
- >”pois é, eles querem que eu entre no Chapadão, senão eu estou fudido, vão me manda pra vala” falei, já meio irritado
- >ela boceja
- >wtf
- >”nossa amor... é só por causa disso?” ela pergunta, meio indiferente
- >”só por causa disso?
- >acho que você não ouviu a parte que eles vão me matar se eu não tomar o chapadão”
- >”ué, então é só tomar o Chapadão, oras” ela respondeu, com a simplicidade de quem diz que 2+2=4
- >”não é tão fácil quanto trocar de calcinha, Daphne... porra, se eu subir aquele morro vou perder metade do meu bonde ou até mais, isso se eu conseguir tomar o morro”
- >”e quem disse que você precisa subir morro, amorzinho?” ela pergunta
- >porra, eu não tava entendendo mais porra nenhuma
- >ontem ela cagou pra mim, ficou cheia de cu doce
- >hoje subiu o morro sozinha, sentou no meu colo cheia de dengo e tá querendo me dar consultoria
- >fiquei olhando pra ela com uma cara de confuso
- >ela revirou os olhos
- >”ahh amor, você é lindo mas é muito burrinho, né?”
- >”presta atenção, vocês pagam arrego para o 41º não pagam?”
- >eu fiz que sim com a cabeça
- >”então meu amorzinho, é só você ligar para o comandante do 41º e comprar o Chapadão”
- >”como assim comprar o Chapadão?” eu perguntei
- >ela ficou me encarando, e de repente respondeu, com uma voz como se tivesse falando com um doente mental
- >”presta atençãozinha, você liga pro comandante do 41º e diz pra ele que vai dar, vamos supor, 10 milhões pra ele.
- >em troca, ele vai fazer operação no chapadão todo santo dia até tirar todos os caras de lá
- >quando tiver tirado os caras, a PM desce e você ocupa o morro sem ter que dar um teco
- >entendeu agora, paixão?”
- >eu fiquei olhando pra cara dela
- >filha da puta
- >a garota em dez minutos pensou em uma solução que eu, com 10 anos de crime, junto com meus crias, não consegui
- >essa mina é pica
- >ela olhou pra mim com uma cara cheia de malícia
- >”agora que já terminamos, podemos subir pra brincar um pouquinho?”
- >nem esperou eu responder
- >me puxou pela mão e me levou lá pro quarto
- >mermão, que mina é essa
- (Parte III)
- >a mina é pica, irmão
- >o plano dela funcionou direitinho
- >com ajuda dos PM’s a gente tomou o morro sem dar um tiro
- >a garota tem estudo, muito mais inteligente que o Caneta
- >começou a me ajudar na contabilidade do morro
- >quando vi que ela era de confiança, dei todos os papéis na mão dela pra ela cuidar
- >na semana seguinte a menina me vem com planilha de excel
- >apresentação em power point
- >gráfico de escala pra ver flutuação no preço da droga
- >mermão que porra é essa
- >e de quebra a mina ainda fodia muito
- >a garota não parava
- >todo dia a gente metia
- >fim de semana era 3, 4 fodas
- >tava tudo indo bem
- >eu vivia dividido entre os dois morros
- >uma hora tava no chapadão, outra hora na pedreira
- >apesar de ter dado uma nota na mão dos cana, eles deixaram o viado do marreta escapar
- >puta que pariu
- >mas foda-se
- >tava embolsando 200% de lucro, duas favelas revendendo e eu botando no caixa
- >não queria deixar a Daphne supervisionando as coisas
- >pode ser machismo, foda-se, mas mulher não tem pulso pra botar banca de bandido
- >quem disse que minha opinião valeu de alguma coisa?
- >foi só eu deixar a Pedreira por dois dias que quando eu voltei os gerentes já tavam lambendo a bota dela igual cachorro desmamado
- >a mina é gostosa pra caralho e ainda tem atitude
- >”finalmente tá tudo dando certo nessa porra hein amor.... e tudo isso graças a você” eu falei pra ela um belo dia, enquanto jogava meu PES na humildade
- >foda-se FIFA
- >se tu prefere FIFA, faça o favor de se fuder
- >ah, e enquanto eu jogava ela tava me mamando (aquela carinha)
- >”tudo isso graças a você... tá me fortalecendo pra caralho amor”
- >”hmm..uhmm...hammm”(isso é o som dela concordando comigo enquanto chupa meu pau)
- >”e pensar que antes de você eu ficava dependendo de uns pé rapados aí”
- >”tinha um muleque lá, chamavam ele de Caneta”
- >”ele era até inteligente, mas era mó lerdão, falava com ninguém, só com o parceiro lá dele, o Joe”
- >ela mamava me olhando, prestando atenção no que eu dizia
- >”mas o mlk começou a querer brilhar, levei ele na cúpula da facção e ele foi dar uma de espertalhão”
- >”tive que barulhar ele, amor... é foda, o mlk era até bom”
- >”mas você é melhor” falei, abrindo um sorrisão pra ela
- >ela sorriu de volta, pegando meu pau e batendo na língua dela
- >que cena mais linda de se ver
- >mas é claro que algo tinha que atrapalhar
- >e não, não foi o fato de eu ter perdido de 3x1 pro PSG jogando de Chelsea
- >foi que naquela hora meu telefone tocou
- >era o viado do Nem
- >Daphne viu que eu ia ficar ocupado e voltou a mamar
- >eu atendi o telefone, meio puto e meio surpreso
- >”diga mestre” falei
- >”fala playboy... to ligando pra avisar que tu cumpriu com a tua missão conforme determinado, e a cúpula tá muito satisfeita”
- >”é nois mestre, nossa facção vem na frente de tudo irmão”
- >”é isso... já escolhemos o novo frente do Chapadão inclusive”
- >”pera aí... quê?”
- >”pois é, vai ser o R9 da Vila do João, vocês chegaram a se conhecer na Maré” ele falou, com toda a tranquilidade do mundo
- >Daphne marotamente reparou que eu tava puto
- >tentou tirar a boca do meu pau pra perguntar o que tava rolando
- >eu segurei ela pelo cabelo pra ela continuar mamando
- >”porra chefe, tá de sacanagem? Eu tomei a porra do morro e tu vai entregar pra outro de mão beijada?” perguntei puto
- >”a decisão já foi tomada playboy. Você mesmo disse que a facção vem na frente de tudo. Põe em prática o que você falou” ele disse, desligando
- >soltei a Daphne, que já tava sufocando
- >” o que aconteceu amor?” ela perguntou, já sem fôlego
- >”aquele viado do Nem vai dar o Chapadão pra outro” eu respondi, pegando já o telefone
- >”tudo bem, nós não precisamos do Chapadão. A Pedreira rende mais do que lá” ela disse, calmamente
- >”mas é o meu morro, eu tomei então é meu e ninguém pode entrar lá e ficar de frente”
- >”amorzinho, pare de ser idiota, você vai entrar em briga com seu superior por um morro que nem dá dinheiro direito”
- >”porra, usa sua cabeça pra pensar pelo menos uma vez na vida, ao invés de só ficar fazendo peso no pescoço”
- >”tem várias outras favelas nesse entorno que tu pode tomar, tem o Juramento em Vicente de Carvalho, tem o Jorge Turco, tem o Muquiço”
- >”para de ficar fixado na merda do Chapadão” ela falou, com jeito de bandido
- >”você tá falando isso porque tu não entende de porra nenhuma” eu respondi
- >”tá de sacanagem, playboy? Eu tomei o morro pra você, se não fosse eu tua cabeça já tava pendurada numa árvore”
- >”não tenho paciência pra aturar bandido burro não, ou tu cresce e começa a pensar como homem ou é melhor pararmos por aqui”
- >”porra Daphne, tu não entende mesmo, a importância do Chapadão é o simbolismo caralho, a gente tomou uma das favelas mais fortes do CV, a gente botou o Marreta pra correr”
- >ela levantou da cama, já irritada
- >puta que pariu, ela dá medo
- >”caralho lá vem você com marreta, é marreta pra cá, marreta pra lá”
- >”eu to aqui te ajudando a trabalhar, ganhando dinheiro pra você, te dando a buceta mas tu só quer falar de marreta”
- >”foda-se o marreta, playboy! Porra, tem centenas de morros pra tu invadir e tu vai ficar obcecado com a merda do Chapadão?”
- >eu fiz que sim com a cabeça
- >não ia abaixar a cabeça pra mulher
- >a mina é pica mas o frente aqui sou eu, caralho
- >peguei o telefone, liguei pros meus crias no Chapadão e mandei todos voltarem pra Pedreira
- >se o Nem vai colocar outro bandido de frente do Chapadão, por mim tudo bem
- >mas não vai ter ajuda minha nem soldado meu
- >vai ficar ele sozinho lá no Chapadão
- >enquanto eu falava no telefone, a Daphne me encarou, puta
- >”quer saber? Faz o que quiser” ela disse, virando e indo embora
- (Parte IV)
- >a mina tava certa
- >puta que pariu
- >retirei meus soldados do morro, deixei todos na Pedreira
- >quando o arrombado do R9 chegou lá, só tinha ele e a meia dúzia de pé rapados que ele levou
- >como as notícias voam, logo logo o viado do Marreta ficou sabendo
- >o filho da puta já tava a um tempão reunindo forças pra retomar o Chapadão
- >ele partiu de outro morro e subiu o Chapadão tranquilo
- >chegou lá e matou o R9 lá
- >por causa do filha da puta do Nem que me mandou sair do moro, caralho
- >se eu ainda tivesse lá, duvido que o marreta teria saído
- >a Daphne tava puta comigo, nem queria olhar na porra da minha cara
- >e eu nem tinha coragem de ir lá pedir ajuda pra ela
- >mas a minha situação tava foda, irmão
- >na TV, era a minha cara que tava estampada lá
- >como se eu fosse o único responsável por essa porra toda
- >e de quebra, a cúpula da facção me culpava por tudo isso
- >dizia que foi culpa da minha teimosia termos perdido o morro
- >falaram que estava sendo estudado o que iria ser feito contra mim
- >e que corria o risco de eu perder o mando na Pedreira
- >essa eu não aguentei
- >tive que sentar em um canto e começar a fumar meu baseado, pra relaxar
- >olhando pra vista da minha varanda
- >de repente eu ouço alguém vindo
- >”essa maconha estragada vai destruir os poucos neurônios que você ainda tem” ela falou
- >era a filha da puta da Daphne
- >”que porra é essa de neurônios” eu perguntei, sem entender nada
- >ela revirou os olhos, com aquela cara de desprezo
- >”esquece. Por que tu tá fumando maconha? Tu nunca fuma, sempre diz que não pode misturar trabalho e lazer”
- >olhei pra ela, ainda chateado com aquela porra toda
- >mas eu tinha que contar pra ela a situação
- >no fim das contas, ela era a única pessoa que eu podia confiar
- >a única que tinha se mostrado leal de verdade e que tinha me ajudado a chegar no topo
- >e agora que eu tava no fundo do poço, ela era a única que podia me tirar dali
- >falei pra ela que a cúpula tava insatisfeita, e que corria risco de eu perder o mando do morro
- >e que eu tinha que fazer alguma coisa rápido pra agradar os dirigentes
- >senão eu tava fudido
- >ela balançou a cabeça, meio que em um gesto de reprovação
- >”você é muito burro, Playboy”
- >fiquei encarando ela
- >”dizer que eu sou burro não vai ajudar a eu reconquistar meu contexto na facção”
- >ela virou pra mim
- >”que facção, animal?”
- >”a minha, ué”
- >”playboy, presta atenção”
- >”tu não tem mais facção nenhuma”
- >”é óbvio que os caras já não querem te ver mais nem pintado de ouro”
- >”para de achar que tu tem que agradar eles, porque na situação que tu tá, tu tem que se preocupar em sobreviver”
- >”se tu não fosse mongol e tivesse ouvido o que eu falei, não estaria assim agora”
- >”mas tu já fez a merda então, paciência”
- >eu parei pra refletir no que ela tava me dizendo
- >fazia sentido, como sempre
- >”então o que tu acha que eu devo fazer?”perguntei
- >ela fez uma cara bem pensativa
- >”agora a única coisa que tu pode fazer é se fortalecer na comunidade e se preparar pro pior”
- >”esperar que algum outro traficante burro faça uma merda e os holofotes saiam de cima de você”
- >sei lá que porra é essa de holofote, mas tá bom
- >a Daphne tava bem seria esse dia, bem reflexiva
- >é foda, dava pra ver só pela cara dela que algo de ruim estava prestes a acontecer
- >nessa altura do campeonato, é seguro dizer que ela praticamente mandava no morro junto comigo
- >afinal, tudo que ela falava eu fazia
- >ou pelo menos quase tudo
- >não era justo, caso o pior ocorresse, que ela pagasse o pato pelos meus erros
- >cheguei por trás dela, abraçando ela, e falei no ouvido dela
- >”caso o pior de tudo aconteça, eu preciso te dizer uma coisa”
- >”subindo a rua aqui da minha casa, se tu dobrar a tua primeira esquerda depois da vendinha do seu joca, vai ter uma estrada de barro”
- >“pega ela sempre em frente e tu vai sair numa trilha no matagal atrás da favela”
- >”segue essa trilha toda a vida e tu vai achar uma saída pra rua”
- >”esse é o melhor caminho pra fugir da favela se alguma coisa aconteça”
- >”não quero que tu fique aqui caso eles tomem a favela de mim”
- >”eu te amo, Daphne” eu falei, pela primeira vez
- >ela sorriu e me beijou, enquanto o sol tava se pondo
- >nos dias que seguiram, a situação só piorou
- >segui o conselho da Daphne, e mandei os dirigentes do ADA tomarem no cu
- >não deu outra
- >fui expulso da facção, e eles colocaram um valor de 100 mil pela minha cabeça, pra quem me matasse
- >o marreta soube disso e logo dobrou a oferta
- >200 mil pra quem levasse minha cabeça pra ele
- >tava preta a situação, amigo
- >o viado do marreta mandou os pivetinhos dele começarem a fazer assalto pra caralho no entorno da minha favela
- >ele sabia que o que me sustentava era que a Pedreira vendia muito e o Chapadão vendia pouco
- >então começou a fazer roubo por perto da Pedreira, pro local ficar perigoso
- >e os clientes pararam de aparecer
- >e tava ficando cada vez mais difícil eu manter os lucros e pagar meus funcionários
- >na mídia, diziam que a culpa dos assaltos era minha, bando de hipócrita
- >fui tentar ligar pro coronel do 41º BPM e tive uma bela surpresa
- >agora ele tava recebendo arrego do filha da puta do marreta
- >não queria assunto comigo
- >eu tava fudido
- >na terça feira, fiquei sabendo que parte do meu bonde tava planejando se rebelar contra mim
- >tavam putos que o salário tava atrasado e tinham recebido a confirmação que o marreta iria dar condição pra geral caso eles entregassem o morro
- >foram dois dias de guerra dentro da própria Pedreira
- >quando chegou na sexta, só tinha metade do meu bonde vivo
- >o marreta tinha avisado que, sábado a noite, ele ia tomar a Pedreira
- >eu coloquei todos meus soldados nas entradas na frente do morro
- >se eu caísse, irmão, ia cair atirando
- >na noite da véspera da invasão, eu tava deitado na minha cama
- >certo que iria morrer
- >com uma pistola na mão, tentando achar motivos pra não me matar
- >como a vida dá tão errado assim, irmão?
- >como pode ser que uma hora tu tá no topo, na crista da onda
- >e outra hora você tá na merda, fudido?
- >a vida te ilude
- >a riqueza, o sucesso, tudo isso é uma mentira
- >que passa voando na tua frente e nem te deixa saborear o momento
- >não tinha nenhum motivo mais pra eu permanecer aqui
- >só a daphne
- >a mina que tanto me fortaleceu
- >ela era o único motivo de eu não me matar
- >não queria parecer tão fraco assim pra ela, mesmo depois de morto
- >a opinião dela agora era tudo que importava pra mim
- >ela entrou no quarto, já preparada pra dormir
- >a mina só dorme nua, então, já sabem
- >sei lá parceiro, ela tava mais bonita nesse dia
- >tava especial
- >meus olhos brilharam quando eu a vi, vindo na minha direção
- >subindo na cama
- >de alguma forma, ela sabia o que eu tava pensando
- >sabia a minha aflição
- >abriu um sorriso, igual ao de um leão partindo em cima da presa
- >e sussurrou
- >”vou fazer essa ser a melhor noite da sua vida”
- >subiu em cima de mim e me fez esquecer os problemas
- >esquecer tudo
- >só conseguia pensar no corpo dela junto do meu
- >transamos por horas, até adormecermos juntos
- >cansados
- >felizes
- >a guerra podia esperar
- >eu tava com meu amor do meu lado
- (Parte V)
- >acordei com um barulho estranho
- >abri meus olhos lentamente, e vi que ainda era madrugada de sábado
- >fui tentar me levantar mas não consegui
- >minhas mãos estavam algemadas
- >olhei pro lado e vi a Daphne me encarando
- >relaxei na hora, devia ser alguma maluquice dela
- >”caralho amor, eu tava dormindo, não quero fuder agora”
- >”vamos esperar amanhecer”
- >ela olhou pra mim cheia de desprezo
- >”graças a Deus eu nunca mais vou ter que transar com você seu verme”
- >que porra é essa
- >”o que deu em você, amor? É tpm de novo?” perguntei, meio assustado
- >ela revirou os olhos
- >”a sua ignorância me impressiona, playboy”
- >”antes de te conhecer eu achava que isso era suicídio”
- >”isso o quê, amor?” eu perguntei, agora sem entender nada
- >”isso”
- >”me infiltrar na tua favela”
- >”me aproximar de você”
- >”te fazer de fantoche pra te derrubar”
- >”e finalmente me vingar, vingar o Anderson e vingar o nosso filho”
- >que porra é essa mermão
- >tentei me levantar, já puto
- >”me solta dessa merda, daphne. Quem é Anderson, caralho?”
- >ela soltou uma risada
- >”você não conhece mesmo as pessoas que tão do teu lado né?”
- >”Anderson é o nome do Caneta, seu mongoloide”
- >”o cara que fechava contigo, era fiel até o último minuto e tu matou na covardia”
- >”ele tinha mulher e tinha filho, caso você não saiba”
- >”mas você matou ele”
- >”você matou parte de mim quando eu descobri que ele tinha morrido”
- >”e principalmente, você matou meu filho que estava na minha barriga”
- >”eu o perdi quando entrei em depressão”
- >”mas depois disso o objetivo da minha vida foi te caçar e te derrubar”
- >”a patricinha quieta e estudiosa entrou na academia, começou a malhar”
- >”mudou de corpo, mudou de atitude”
- >”e agora tá aqui, com a tua vida nas mãos”
- >nessa hora eu comecei a me debater com força, tentando me soltar
- >”melhor pegar leve, a algema pode cortar seu pulso e eu não quero que você morra antes da hora” ela disse
- >”sua filha da puta, eu vou te matar, eu vou te rasgar todinha” respondi, berrando
- >”você vai me matar, playboy?” ela perguntou, rindo
- >”quantas vezes eu não pude te matar, enquanto tu dormia, enquanto tu tava bêbado”
- >”mas não, eu me segurei, me guardei pra esse momento”
- >”e como valeu a pena, meu Deus” ela disse, em êxtase
- >”é melhor tu correr sua piranha, porque quando eu me soltar daqui eu vou te picotar e tu vai desejar nunca ter nascido” respondi, forçando a algema com toda minha força
- >”playboy, se eu correr daqui você não me encontra nem se eu te mandar meu endereço por whatsapp”
- >”você é o traficante mais burro, ignorante e retardado que eu já tive o desprazer de conhecer”
- >”e olha que eu conheci o Marreta, que é páreo duro”
- >olhei arregalado pra ela
- >”tu conheceu o marreta, daphne?” perguntei, atônito
- >”primeiro, esquece daphne, esse nome horrível de piranha”
- >”meu nome é Sophia”
- >”mas sim, eu conheci o Marreta, aquela ameba desprovida de qualquer vestígio de intelecto”
- >”quem tu acha que contou pra ele que era hora de retomar o Chapadão?”
- >”quem você acha que sugeriu que ele mandasse os pivetes dele assaltarem no entorno da Pedreira pra diminuir o movimento das tuas bocas?”
- >”quem tu acha que apresentou ele ao coronel do 41º”
- >”porra playboy, tu é um anjinho”
- >nessa hora, o celular da piranha começou a tocar
- >ela atendeu com um sorriso
- >”oi... sim, eu já to com ele aqui... sim, podem subir, vou pro lugar combinado... beijos!”
- >”quem era, sua vagabunda?” perguntei, ainda me debatendo
- >”um amigo meu... logo logo você vai conhecer ele... “
- >”bom playboy, eu já vou nessa. Foi um desprazer te conhecer... mas aproveite seus últimos momentos deitado nessa cama”
- >”porque quando meu amigo chegar ele vai fazer... como foi que você disse?”
- >”ah, lembrei, vai fazer você desejar nunca ter nascido”
- >”um beijo” ela disse, dando um beijo na mão e assoprando na minha direção
- >foi mais ou menos nessa hora que eu ouvi o tiro comendo
- >olhei pela janela, mas não vi ninguém lá embaixo no morro
- >foi aí que eu vi vários vultos pretos descendo o morro
- >eram os caveiras
- >”filha da puta” eu pensei
- >”ela ensinou o caminho da mata pra eles”
- >”eles tão invadindo a favela pelo alto”
- >olhei puto, enquanto eles vinham e matavam o meu bonde, que tava lá embaixo, esperando o ataque do Marreta
- >os mlk não tinham nem chance, tavam sendo pegos de surpresa
- >atacados por trás
- >e pelos caveiras, ainda por cima
- >fiquei olhando, torcendo pra eles reagirem, mas vi que não ia dar
- >foi nessa hora que ouvi um estrondo
- >a porta do quarto tinha sido arrombada, caindo no chão
- >pulou pra dentro um caveira enorme
- >usando uma touca ninja que só dava pra ver os olhos
- >na identificação dele, eu lia um nome
- >”Sgt Yuri”
- >ele me encarou, vindo na minha direção
- >e disse, com uma voz meio rouca
- >”eu esperei muito tempo por isso, mas tua hora chegou”
- >”pede perdão a Deus porque eu não vou ter”
- >aquela mina é foda, a daphne
- >até nisso ela tava certa, de novo
- >porque depois do que aquele cara fez
- >eu desejei não ter nascido
- Epílogo:
- >eu acompanhei pela tv
- >o jornal noticiando a invasão do morro da Pedreira
- >as investigações que tinham sido abertas para apurar a ligação entre o merda do playboy com o comandante do 41º
- >foi aí que eu finalmente entendi
- >o motivo de eu ter me apaixonado tanto pelo Anderson
- >o motivo de em tão pouco tempo eu ter sentido mais por ele do que por qualquer outro homem que eu conheci
- >e o motivo era simples
- >ele revelou um lado em mim que eu não conhecia
- >porque eu sempre fui uma burguesinha
- >tratada como princesa, com todos os mimos
- >mas lá no fundo, lá dentro
- >eu nasci pra aventura, pra loucura
- >e quando eu vi o Anderson, esse sentimento me conectou a ele
- >obrigada amor
- >você viu mais em mim em uma semana do que eu em uma vida inteira
- >você me libertou, e agora eu te vinguei, matando o canalha que te traiu
- >o canalha que tirou você de mim
- >que matou nosso filho antes mesmo dele nascer
- >mas isso não é o fim, meu anjo
- >não
- >isso é só o começo
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