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kraauser

gt do playboy

Oct 29th, 2018
208
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Never
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  1. Esse GT é continuação do GT do Caneta.
  2.  
  3. /cc/
  4. Prólogo
  5. >tudo aconteceu numa terça feira
  6. >dia 22 de novembro
  7. >por volta das 16h da tarde
  8. >eu estava sozinha em casa, estudando para as provas da faculdade
  9. >quando ouço alguém batendo na minha porta
  10. >fui abrir e vi a Ju
  11. >”oi Ju” eu falei, com um sorriso
  12. >”quer entrar?” perguntei, antes de reparar nos olhos vermelhos dela
  13. >coloquei uma mão no ombro dela e perguntei “ju, o que aconteceu?”
  14. >”você está chorando? O que houve?”
  15. >ela me abraçou apertado e disse, entre soluços
  16. >”é o Anderson, Sophia...”
  17. >”acharam ele baleado, na beira de uma estrada”
  18. >eu afastei ela, segurando ela pelos braços e olhando para os olhos dela
  19. >mais nervosa, impossível
  20. >ela olhou pra mim e completou
  21.  
  22. >”ele não resistiu”
  23. >...
  24. >fui eu quem organizou o enterro
  25. >fui buscar o corpo no IML, que já tinha sido dado como indigente
  26. >comprei o caixão
  27. >enterramos no mesmo final de semana, num domingo chuvoso
  28. >só foram eu, ju e o yuri
  29. >o Anderson foi embora da minha vida do mesmo jeito que ele apareceu
  30. >de repente, sem dar explicações, sem pedir permissão
  31. >mas eu ainda não tinha o esquecido
  32. >nem esquecido tudo que passamos juntos
  33. >tudo que ele me fez sentir
  34. >acho que ele nunca entendeu o quão especial ele foi pra mim
  35. >acho que nunca vai entender
  36. >mas aquela dor fez nascer algo novo em mim
  37. >que eu nunca havia sentido antes
  38. >acho que comecei a entender como a ju e o yuri se sentiam
  39. >e pior
  40. >comecei a gostar
  41. (Parte I)
  42. >tu deve achar que eu sou um filha da puta né?
  43. >porque eu matei o menorzinho lá
  44. >mas a diferença entre eu e você é que eu tenho mais de dez anos no crime
  45. >tu não duraria um dia
  46. >aprende logo de uma vez, irmão
  47. >aqui não existe essa porra de lealdade, de confiança
  48. >é a lei dos canalhas po
  49. >por que tu acha que eu fortaleço a favela, que eu dou mó moral?
  50. >acha que é porque eu gosto?
  51. >isso é política, parceiro
  52. >se o morador tiver contente, ele não vai arrumar problema pro teus negócios
  53. >não vai ficar de papo com bandido de favela rival
  54. >não vai te denunciar
  55. >a gente sobrevive da forma que a gente pode
  56. >o mesmo rosto que faz rir, é o que faz chorar também
  57. >mas vamo voltar pra história
  58. >quando eu cheguei na Pedreira, ninguém deu falta do Caneta
  59. >o mlk era puro e era inteligente, mas era tímido, quietão
  60. >não tinha muitos amigos
  61. >mas pelo menos o mlk fez o serviço dele direito
  62. >o morro tava uma uva, o bonde tava mais pesado do que nunca
  63. >a favela tava do jeito que eu gosto
  64. >mas ainda tinha um assunto pra resolver
  65. >e esse assunto tinha nome, parceiro
  66. >o nome dele era Chapadão
  67. >já faz muito tempo que os comédias do comando vermelho tavam de frente naquele morro
  68. >meus informantes me deram o papo inclusive de que o dono do morro, o viado do Marreta, tava fechado com o Lambari pra me derrubar
  69. >aí eu te pergunto, quanto tempo ia demorar até o Marreta descobrir o Caneta?
  70. >quanto tempo ia demorar até que o Marreta convencesse o Caneta de que a Pedreira ia ficar melhor sem mim?
  71. >tu acha que eu vou correr esse risco?
  72. >é por essas e outras que eu to vivo, e o Caneta tá morto
  73. >o filha da puta do Marreta não saia da minha cabeça
  74. >tava tão bolado com essa situação, que nem me liguei que faltava uma semana pro meu aniversário
  75. >caralho, uma semana
  76. >já tinha passado um ano desde aquele dia que eu sentei com o Joe e com o Caneta pra decidir o que íamos fazer com o Lambari
  77. >e hoje, os três tão mortos e eu aqui
  78. >é o crime, parceiro
  79. >dei a ordem pra organizarem um baile pica no dia do meu aniversário
  80. >passei a semana inteira esperando
  81. >mas sei lá, irmão, tinha algo de estranho comigo
  82. >eu já tava enjoado dessa porra saca
  83. >comer as mesmas piranhas de sempre
  84. >trocar as mesmas ideias de sempre
  85. >com os mesmos caras de sempre
  86. >e ainda ter que ficar me preocupando com Marreta
  87. >porra, a semana passou se arrastando
  88. >mas a sexta finalmente chegou
  89. >e eu tava lá, na sacada da minha casa, olhando o baile comer solto lá em baixo
  90. >várias piranhas na minha casa, andando sem roupa como se fossem putas na vitrine das lojas msm
  91. >vagabundo fazendo a festa com as novinhas
  92. >mas, apesar de tudo, eu tava em outro pique
  93. >”qual foi patrão, vai curtir não?” o Soró perguntou
  94. >Soró era meu segurança, mlk fechamento, lutava jiu jitsu e fazia sucesso com as meninas do morro
  95. >”fica na disciplina aí viado, vou dar um rolé lá embaixo” eu respondi
  96. >”que papo é esse patrão, cheio de princesa aqui e tu vai descer lá pra ficar com aquelas ratas lá?” ele perguntou, achando graça na minha ideia
  97. >”pega a visão viado, as vezes a gente pode se surpreender com o que a gente encontra na favela” eu falei, quase que profetizando o que iria acontecer
  98. >”além disso, eu sou o frente nessa porra, tenho que ser visto, senão nego vai achar que eu to entocado aqui na minha casa e vão pensar que eu sou frouxo”
  99. >Soró se levandou, afastando as duas minas que tavam lá se esfregando nele
  100. >puxou a pistola e falou “então já é patrão, vamo lá que eu fico na contenção”
  101. >olhei pro moleque e respondi “precisa disso não viado”
  102. >”brinca com as piranhas aí, eu to de boa sozinho”
  103. >”certeza patrão?” ele perguntou, já sentando denovo enquanto as vagabundas alisavam ele
  104. >”total, fica na tua aí e mete bronca filhote”
  105. >precisei falar mais nada
  106. >quando olhei de volta a putaria já tava rolando solto ali naquele trio
  107. >peguei minha Glock e parti pra pista
  108. >realmente, o nível era muito mais baixo
  109. >o tanto de bêbado e de cracuda que tinha ali não era brincadeira
  110. >fiquei parado em um canto da quadra, observando tudo
  111. >de vez em quando aparecia uns pra me cumprimentar mas a maioria mantinha distância
  112. >foi aí que eu percebi uma muvuca ali no meio da multidão
  113. >um empura-empurra
  114. >não pode ter essa porra
  115. >no meu baile é só lazer caralho
  116. >puxei a peça e já fui cheio de ódio resolver a parada lá
  117. >cheguei e vi que o problema era um dos meus soldados
  118. >um mlk novo chamado JG
  119. >ele tava discutindo com uma mina lá e tava dando merda
  120. >”qual foi do bagulho aí menor, tá arranjando caô na minha festa?” perguntei, já brabo
  121. >o magrelo ficou branco
  122. >”né nada disso não patrão” ele respondeu, meio que gaguejando
  123. >”gagueja não viado, fala aí qual foi do bagulho”
  124. >”é que eu cheguei na piranha aqui e ela tá cheio de cu doce aqui irmão, to chamando ela pro canto e ela não tá querendo ir, to escaldadão com essa puta aí po” ele falou, todo nervoso
  125. >a menina deu um tapão no braço dele. “piranha é a tua mãe seu arrombado, vai procurar quem te queira”
  126. >ele virou pra meter a mão nela, mas eu já enquadrei ele
  127. >”primeiro que tu já começou errado me chamando de irmão”
  128. >”segundo que se a mina não quer ela não quer, e tu vai ter que respeitar”
  129. >”terceiro que se eu tiver outro problema contigo, tu vai pra vala”
  130. >”estamos entendidos?” perguntei olhando no olho dele
  131. >ele balançou a cabeça e foi embora, puto mas com medo
  132. >em volta da gente tinha formado um círculo, cheio de pessoas assistindo
  133. >”parou a música por quê? Volta com essa porra!” eu gritei, e o baile prosseguiu com tranquilidade
  134. >fui voltar pro lugar de onde eu tava e foi aí que eu avistei uma mina
  135. >uma mina linda que eu nunca tinha visto ali antes
  136. >tava bebendo cerveja, do lado de umas amigas
  137. >não tinha o corpo muito grande, era magra mas era malhadinha de academia
  138. >com uma blusinha que mostrava a barriga chapada
  139. >uma bunda redondinha
  140. >e uma carinha de princesa
  141. >cheguei junto na mesma hora
  142. >”Oi amor” eu falei, abrindo um sorrisão
  143. >ela me olhou como se eu não fosse ninguém
  144. >”quem é você?” perguntou, meio constrangida de eu estar chegando nela do lado das amigas
  145. >”meu nome é Celso Pinheiro Pimenta, mas a rapaziada por aqui me conhece como Playboy” lancei, botando marra
  146. >”ah... então você é o dono do morro né?” ela perguntou, sem dar muita bola
  147. >”é assim que eu ganho a vida” eu respondi, chegando mais junto
  148. >ela deu um passo pra trás
  149. >”eu nunca te vi aqui antes, é a primeira vez que tu vem?” perguntei no ouvido dela
  150. >ela balançou a cabeça, fazendo que sim
  151. >”tá gostando?”
  152. >ela fez sinal de mais ou menos com a mão
  153. >”tu tem cara de ser de fora... onde tu mora?”
  154. >ela deu uma risada
  155. >”você acha que eu vou dar meu endereço pra um dono de morro?” perguntou, cheia de ironia
  156. >”eu queria que tu desse outra coisa, pra ser bem sincero” respondi cheio de malícia
  157. >ela chegou o rosto bem perto do meu, como se fosse me beijar
  158. >abriu um sorrisão e disse
  159. >”pois o dono do morro vai ficar querendo”
  160. >filha da puta
  161. >cheguei e perguntei
  162. >”você sabia que hoje é meu aniversário?”
  163. >”parabéns” ela disse, batendo palminha de um jeito irônico
  164. >”é falta de educação ir no aniversário de alguém e não dar presente” falei, jogando a mão na cintura dela
  165. >ela deixou
  166. >boa, porra!
  167. >”o que você quer de presente?” ela perguntou
  168. >colei meu corpo junto no dela
  169. >”quero que você passe a noite comigo” falei, com um sorriso safado na cara
  170. >”hmmm, não”
  171. >”não?”
  172. >”é, não”
  173. >”como assim não?”
  174. >”não vou te dar esse presente”
  175. >”então o que tu vai me dar?” perguntei, já meio puto
  176. >”um beijo”, ela falou
  177. >”mas eu não quero só isso, quero meter poha” respondi, irritado
  178. >”é falta de educação recusar o presente que te oferecem” ela respondeu, usando minhas palavras contra mim
  179. >filha da puta
  180. >antes que eu pudesse responder, ela me pegou pelo pescoço e me beijou
  181. >caralho mermão, que beijo gostoso
  182. >que boquinha macia
  183. >que gostinho bom
  184. >aquela mina ali era de ouro, puta que pariu
  185. >o pau tava quase rasgando a calça
  186. >peguei na bunda dela, e ela deixou
  187. >feliz aniversário pra mim, caralho
  188. >ela se afastou de mim e sorriu
  189. >”satisfeito?”
  190. >”não, eu já falei que quero você”
  191. >”e eu já falei que não quero”
  192. >”porra garota, para de fazer cu doce” eu falei, pegando ela com firmeza pelo pulso
  193. >”me solta!” ela respondeu, irritada
  194. >”você vai vir comigo” eu disse, puxando ela
  195. >em volta, as pessoas começaram a reparar
  196. >”então vai ser assim?” ela perguntou
  197. >”e o esporro que tu acabou de dar no teu soldado? Que não podia arrastar mulher à força? Onde foi parar?”
  198. >”enfiou no cu?” ela perguntou
  199. >eu parei de arrasta-la e, olhando pra tras, soltei a mão dela
  200. >o pior é que ela tinha razão, e eu n podia esculachar ela na frente de todo mundo
  201. >não depois do esporro que eu dei no JG
  202. >ela sorriu e disse: “bom garoto, assim está bem melhor”
  203. >”tu pode pelo menos me dizer teu nome e me dar teu whatsapp?” perguntei, cansado dessa palhaçada toda
  204. >”meu nome é Daphne, amor...” ela disse
  205. >”o whatsapp você vai ter que merecer”
  206. >”agora eu vou embora, minhas amigas tão cansadas” ela disse, se virando pra partir
  207. >cheguei junto dela de novo e perguntei
  208. >”quando a gente vai se ver de novo?”
  209. >”quando eu quiser” ela disse, dando um sorriso
  210. >me deu um selinho de leve e foi embora
  211. >”Daphne...” eu repeti, em silêncio, enquanto a festa tava rolando
  212. (Parte II)
  213. >”alô” eu respondi, atendendo o celular
  214. >era o dia após a minha festa
  215. >eu tinha enchido a cara, depois que a mina me deixou de pista
  216. >subi e comi uma piranha qualquer, fantasiando com aquela Daphne
  217. >ainda tava pensando nela...
  218. >dormi pesado e acordei com a merda do telefone tocando
  219. >”Playboy, aqui é o Nem” a voz falou do outro lado, se identificando
  220. >”fala tu mestre, qual é a situação” perguntei, escaldado
  221. >que porra é essa, o chefe da facção me ligando de manhã
  222. >”é do nosso conhecimento que você matou aquele menino da reunião, o tal do Caneta”
  223. >nessa hora eu gelei
  224. >puta que pariu eles descobriram
  225. >meu impulso foi de negar, porque isso ia dar uma merda fudida
  226. >mas mentir pra eles era sinônimo de ir pra vala
  227. >”procede essa informação aí irmão, passei o menorzinho”
  228. >”por qual motivo tu fez isso, playboy?” ele perguntou
  229. >”o menor não era pureza não, já tava dando sinal de que ia bambear, não to podendo aceitar mais traíra no meu morro”
  230. >”o menor não é nada disso que tu tá falando, playboy”
  231. >”toda a cúpula concordou que ele era purinho”
  232. >”nós já estamos de olho nesse seu papo torto faz tempo, irmão”
  233. >”os outros frentes já tão cansados das tuas vacilações”
  234. >”por isso decidimos testar teu compromisso com a facção”
  235. >eu não entendi
  236. >”como assim testar meu compromisso?”
  237. >”queremos que tu tome o Chapadão em nome do ADA para mostrar que está fechado com nós”
  238. >caralho puta que pariu
  239. >”patrão, eu sozinho não tenho condição de fazer isso” tentei explicar
  240. >”dá teu jeito, irmão. Ou foge pra um lugar bem escondido, porque se tu não honrar a missão a casa vai cair pra tu “
  241. >”coé mestre, pera aí...” falei, mas o viado desligou na minha cara
  242. >filho da puta
  243. >e agora, o que eu faço?
  244. >como é que vou tomar a porra do Chapadão?
  245. >tem mais fuzil naquela porra que no exército da china
  246. >começo a pensar
  247. >a mente tá a mil
  248. >pego o telefone e começo a ligar para os gerentes das bocas do morro
  249. >vamos ter que organizar um bonde e atacar o Chapadão
  250. >to frenético no telefone quando vejo, de repente, uma mensagem do whatsapp
  251. >de um número desconhecido
  252. >abri pra ler
  253. >”to com saudade amor... quando podemos nos ver?”
  254. >caralho, quem é essa pessoa?
  255. >fui abrir a foto
  256. >caralho
  257. >é a novinha de ontem
  258. >puta que pariu, me pegou na hora certa hein rapariga
  259. >me esculacha no meu aniversário, aí no dia seguinte eu descubro que tenho que fazer uma missão suicida
  260. >e pra melhorar essa maluca decide falar comigo
  261. >”tu sabe onde eu moro. Aparece no morro que nois troca uma ideia” mandei pra ela
  262. >ela visualiza e não responde
  263. >cachorra
  264. >decido fazer uma reunião depois no jantar
  265. >chamo os gerentes pra minha casa pra discutirmos o problema do Chapadão
  266. >explico pra eles que a ordem foi dada pelos superiores (mas é óbvio que eu não falo o motivo)
  267. >eles ficam transtornados
  268. >”caralho patrão, não dá pra fazer isso. Entrar lá é suicídio porra” um deles fala
  269. >”ah, não me diga. Obrigado por me informar, não sabia disso” eu respondi, puto
  270. >”avisa pro chefe, patrão, fala pra ele que se não fortalecerem o nosso bonde a gente vai passar mal lá” outro disse
  271. >”e tu acha que eu não tentei? Os caras mandaram invadir nós vai ter que invadir, porra” respondi
  272. >”vai dar merda isso patrão, vai dar merda”
  273. >”o que que vai dar merda?” uma voz de mulher pergunta, vindo do portão
  274. >é a maluca da Daphne
  275. >os gerentes viram pra trás, olhando pra ela
  276. >ela vem andando como se tivesse naquelas pistas lá de desfile de moda
  277. >porra garota, tu tá numa favela, aqui não é São Paulo Fashion Week não
  278. >mas lá vem ela, toda se querendo
  279. >” deu um caô aí dona” um dos gerentes fala, provavelmente já sacando que era minha mina
  280. >”que caô foi esse? Um bando de marmanjo sentado em círculo, tão parecendo moleque de 12 anos batendo punheta em rodízio usando revista da playboy” ela disse, soltando uma risada
  281. >”ô Daphne, presta atenção, eu tenho consideração por você mas eu to numa parada séria aqui tá ligado”
  282. >”então senta num sofá aí, liga a tv e espera a minha reunião acabar e depois a gente conversa
  283. >a fdp chega na minha frente, senta no meu colo e diz
  284. >”você quer que eu saia pra ficar conversando de pokemon com seus amigos, amor?”
  285. >”nananinanão”
  286. >”quem vai sair são eles” ela diz, sorrindo e olhando pra mim
  287. >eu encaro elas, e os irmãos ficam sem saber o que fazer
  288. >ela vira pra trás, encarando eles, e fala
  289. >”vocês não ouviram não? É pra sair”
  290. >os caras levantam, meio que sem jeito, e se despedem
  291. >”depois a gente conversa patrão, com licença”
  292. >ela fica olhando, até o último atravessar a porta
  293. >depois olha pra mim e pergunta, de um jeito meio doce
  294. >”então amor, agora você vai me dizer o que houve?”
  295. >”você não vai nem entender o que eu vou te dizer” respondi
  296. >ela fez uma carinha e disse “ ahh, tenta, vai... eu sou inteligente, por incrível que pareça”
  297. >ai meu caralho
  298. >”então, o meu chefe acabou de me passar uma missão que eu não consigo cumprir
  299. >ele quer que eu invada uma favela que existe aqui nas redondezas, mas eu não tenho recurso pra isso”
  300. >ela me olhou e disse “te pediram pra invadir o Chapadão?”
  301. >olhei pra ela, surpreso
  302. >”como tu sabe disso?”
  303. >”isso é mole, amor... a única grande favela rival da Pedreira aqui é o Chapadão... não precisa ser nenhum gênio pra deduzir isso né?”
  304. >”pois é, eles querem que eu entre no Chapadão, senão eu estou fudido, vão me manda pra vala” falei, já meio irritado
  305. >ela boceja
  306. >wtf
  307. >”nossa amor... é só por causa disso?” ela pergunta, meio indiferente
  308. >”só por causa disso?
  309. >acho que você não ouviu a parte que eles vão me matar se eu não tomar o chapadão”
  310. >”ué, então é só tomar o Chapadão, oras” ela respondeu, com a simplicidade de quem diz que 2+2=4
  311. >”não é tão fácil quanto trocar de calcinha, Daphne... porra, se eu subir aquele morro vou perder metade do meu bonde ou até mais, isso se eu conseguir tomar o morro”
  312. >”e quem disse que você precisa subir morro, amorzinho?” ela pergunta
  313. >porra, eu não tava entendendo mais porra nenhuma
  314. >ontem ela cagou pra mim, ficou cheia de cu doce
  315. >hoje subiu o morro sozinha, sentou no meu colo cheia de dengo e tá querendo me dar consultoria
  316. >fiquei olhando pra ela com uma cara de confuso
  317. >ela revirou os olhos
  318. >”ahh amor, você é lindo mas é muito burrinho, né?”
  319. >”presta atenção, vocês pagam arrego para o 41º não pagam?”
  320. >eu fiz que sim com a cabeça
  321. >”então meu amorzinho, é só você ligar para o comandante do 41º e comprar o Chapadão”
  322. >”como assim comprar o Chapadão?” eu perguntei
  323. >ela ficou me encarando, e de repente respondeu, com uma voz como se tivesse falando com um doente mental
  324. >”presta atençãozinha, você liga pro comandante do 41º e diz pra ele que vai dar, vamos supor, 10 milhões pra ele.
  325. >em troca, ele vai fazer operação no chapadão todo santo dia até tirar todos os caras de lá
  326. >quando tiver tirado os caras, a PM desce e você ocupa o morro sem ter que dar um teco
  327. >entendeu agora, paixão?”
  328. >eu fiquei olhando pra cara dela
  329. >filha da puta
  330. >a garota em dez minutos pensou em uma solução que eu, com 10 anos de crime, junto com meus crias, não consegui
  331. >essa mina é pica
  332. >ela olhou pra mim com uma cara cheia de malícia
  333. >”agora que já terminamos, podemos subir pra brincar um pouquinho?”
  334. >nem esperou eu responder
  335. >me puxou pela mão e me levou lá pro quarto
  336. >mermão, que mina é essa
  337. (Parte III)
  338. >a mina é pica, irmão
  339. >o plano dela funcionou direitinho
  340. >com ajuda dos PM’s a gente tomou o morro sem dar um tiro
  341. >a garota tem estudo, muito mais inteligente que o Caneta
  342. >começou a me ajudar na contabilidade do morro
  343. >quando vi que ela era de confiança, dei todos os papéis na mão dela pra ela cuidar
  344. >na semana seguinte a menina me vem com planilha de excel
  345. >apresentação em power point
  346. >gráfico de escala pra ver flutuação no preço da droga
  347. >mermão que porra é essa
  348. >e de quebra a mina ainda fodia muito
  349. >a garota não parava
  350. >todo dia a gente metia
  351. >fim de semana era 3, 4 fodas
  352. >tava tudo indo bem
  353. >eu vivia dividido entre os dois morros
  354. >uma hora tava no chapadão, outra hora na pedreira
  355. >apesar de ter dado uma nota na mão dos cana, eles deixaram o viado do marreta escapar
  356. >puta que pariu
  357. >mas foda-se
  358. >tava embolsando 200% de lucro, duas favelas revendendo e eu botando no caixa
  359. >não queria deixar a Daphne supervisionando as coisas
  360. >pode ser machismo, foda-se, mas mulher não tem pulso pra botar banca de bandido
  361. >quem disse que minha opinião valeu de alguma coisa?
  362. >foi só eu deixar a Pedreira por dois dias que quando eu voltei os gerentes já tavam lambendo a bota dela igual cachorro desmamado
  363. >a mina é gostosa pra caralho e ainda tem atitude
  364. >”finalmente tá tudo dando certo nessa porra hein amor.... e tudo isso graças a você” eu falei pra ela um belo dia, enquanto jogava meu PES na humildade
  365. >foda-se FIFA
  366. >se tu prefere FIFA, faça o favor de se fuder
  367. >ah, e enquanto eu jogava ela tava me mamando (aquela carinha)
  368. >”tudo isso graças a você... tá me fortalecendo pra caralho amor”
  369. >”hmm..uhmm...hammm”(isso é o som dela concordando comigo enquanto chupa meu pau)
  370. >”e pensar que antes de você eu ficava dependendo de uns pé rapados aí”
  371. >”tinha um muleque lá, chamavam ele de Caneta”
  372. >”ele era até inteligente, mas era mó lerdão, falava com ninguém, só com o parceiro lá dele, o Joe”
  373. >ela mamava me olhando, prestando atenção no que eu dizia
  374. >”mas o mlk começou a querer brilhar, levei ele na cúpula da facção e ele foi dar uma de espertalhão”
  375. >”tive que barulhar ele, amor... é foda, o mlk era até bom”
  376. >”mas você é melhor” falei, abrindo um sorrisão pra ela
  377. >ela sorriu de volta, pegando meu pau e batendo na língua dela
  378. >que cena mais linda de se ver
  379. >mas é claro que algo tinha que atrapalhar
  380. >e não, não foi o fato de eu ter perdido de 3x1 pro PSG jogando de Chelsea
  381. >foi que naquela hora meu telefone tocou
  382. >era o viado do Nem
  383. >Daphne viu que eu ia ficar ocupado e voltou a mamar
  384. >eu atendi o telefone, meio puto e meio surpreso
  385. >”diga mestre” falei
  386. >”fala playboy... to ligando pra avisar que tu cumpriu com a tua missão conforme determinado, e a cúpula tá muito satisfeita”
  387. >”é nois mestre, nossa facção vem na frente de tudo irmão”
  388. >”é isso... já escolhemos o novo frente do Chapadão inclusive”
  389. >”pera aí... quê?”
  390. >”pois é, vai ser o R9 da Vila do João, vocês chegaram a se conhecer na Maré” ele falou, com toda a tranquilidade do mundo
  391. >Daphne marotamente reparou que eu tava puto
  392. >tentou tirar a boca do meu pau pra perguntar o que tava rolando
  393. >eu segurei ela pelo cabelo pra ela continuar mamando
  394. >”porra chefe, tá de sacanagem? Eu tomei a porra do morro e tu vai entregar pra outro de mão beijada?” perguntei puto
  395. >”a decisão já foi tomada playboy. Você mesmo disse que a facção vem na frente de tudo. Põe em prática o que você falou” ele disse, desligando
  396. >soltei a Daphne, que já tava sufocando
  397. >” o que aconteceu amor?” ela perguntou, já sem fôlego
  398. >”aquele viado do Nem vai dar o Chapadão pra outro” eu respondi, pegando já o telefone
  399. >”tudo bem, nós não precisamos do Chapadão. A Pedreira rende mais do que lá” ela disse, calmamente
  400. >”mas é o meu morro, eu tomei então é meu e ninguém pode entrar lá e ficar de frente”
  401. >”amorzinho, pare de ser idiota, você vai entrar em briga com seu superior por um morro que nem dá dinheiro direito”
  402. >”porra, usa sua cabeça pra pensar pelo menos uma vez na vida, ao invés de só ficar fazendo peso no pescoço”
  403. >”tem várias outras favelas nesse entorno que tu pode tomar, tem o Juramento em Vicente de Carvalho, tem o Jorge Turco, tem o Muquiço”
  404. >”para de ficar fixado na merda do Chapadão” ela falou, com jeito de bandido
  405. >”você tá falando isso porque tu não entende de porra nenhuma” eu respondi
  406. >”tá de sacanagem, playboy? Eu tomei o morro pra você, se não fosse eu tua cabeça já tava pendurada numa árvore”
  407. >”não tenho paciência pra aturar bandido burro não, ou tu cresce e começa a pensar como homem ou é melhor pararmos por aqui”
  408. >”porra Daphne, tu não entende mesmo, a importância do Chapadão é o simbolismo caralho, a gente tomou uma das favelas mais fortes do CV, a gente botou o Marreta pra correr”
  409. >ela levantou da cama, já irritada
  410. >puta que pariu, ela dá medo
  411. >”caralho lá vem você com marreta, é marreta pra cá, marreta pra lá”
  412. >”eu to aqui te ajudando a trabalhar, ganhando dinheiro pra você, te dando a buceta mas tu só quer falar de marreta”
  413. >”foda-se o marreta, playboy! Porra, tem centenas de morros pra tu invadir e tu vai ficar obcecado com a merda do Chapadão?”
  414. >eu fiz que sim com a cabeça
  415. >não ia abaixar a cabeça pra mulher
  416. >a mina é pica mas o frente aqui sou eu, caralho
  417. >peguei o telefone, liguei pros meus crias no Chapadão e mandei todos voltarem pra Pedreira
  418. >se o Nem vai colocar outro bandido de frente do Chapadão, por mim tudo bem
  419. >mas não vai ter ajuda minha nem soldado meu
  420. >vai ficar ele sozinho lá no Chapadão
  421. >enquanto eu falava no telefone, a Daphne me encarou, puta
  422. >”quer saber? Faz o que quiser” ela disse, virando e indo embora
  423. (Parte IV)
  424. >a mina tava certa
  425. >puta que pariu
  426. >retirei meus soldados do morro, deixei todos na Pedreira
  427. >quando o arrombado do R9 chegou lá, só tinha ele e a meia dúzia de pé rapados que ele levou
  428. >como as notícias voam, logo logo o viado do Marreta ficou sabendo
  429. >o filho da puta já tava a um tempão reunindo forças pra retomar o Chapadão
  430. >ele partiu de outro morro e subiu o Chapadão tranquilo
  431. >chegou lá e matou o R9 lá
  432. >por causa do filha da puta do Nem que me mandou sair do moro, caralho
  433. >se eu ainda tivesse lá, duvido que o marreta teria saído
  434. >a Daphne tava puta comigo, nem queria olhar na porra da minha cara
  435. >e eu nem tinha coragem de ir lá pedir ajuda pra ela
  436. >mas a minha situação tava foda, irmão
  437. >na TV, era a minha cara que tava estampada lá
  438. >como se eu fosse o único responsável por essa porra toda
  439. >e de quebra, a cúpula da facção me culpava por tudo isso
  440. >dizia que foi culpa da minha teimosia termos perdido o morro
  441. >falaram que estava sendo estudado o que iria ser feito contra mim
  442. >e que corria o risco de eu perder o mando na Pedreira
  443. >essa eu não aguentei
  444. >tive que sentar em um canto e começar a fumar meu baseado, pra relaxar
  445. >olhando pra vista da minha varanda
  446. >de repente eu ouço alguém vindo
  447. >”essa maconha estragada vai destruir os poucos neurônios que você ainda tem” ela falou
  448. >era a filha da puta da Daphne
  449. >”que porra é essa de neurônios” eu perguntei, sem entender nada
  450. >ela revirou os olhos, com aquela cara de desprezo
  451. >”esquece. Por que tu tá fumando maconha? Tu nunca fuma, sempre diz que não pode misturar trabalho e lazer”
  452. >olhei pra ela, ainda chateado com aquela porra toda
  453. >mas eu tinha que contar pra ela a situação
  454. >no fim das contas, ela era a única pessoa que eu podia confiar
  455. >a única que tinha se mostrado leal de verdade e que tinha me ajudado a chegar no topo
  456. >e agora que eu tava no fundo do poço, ela era a única que podia me tirar dali
  457. >falei pra ela que a cúpula tava insatisfeita, e que corria risco de eu perder o mando do morro
  458. >e que eu tinha que fazer alguma coisa rápido pra agradar os dirigentes
  459. >senão eu tava fudido
  460. >ela balançou a cabeça, meio que em um gesto de reprovação
  461. >”você é muito burro, Playboy”
  462. >fiquei encarando ela
  463. >”dizer que eu sou burro não vai ajudar a eu reconquistar meu contexto na facção”
  464. >ela virou pra mim
  465. >”que facção, animal?”
  466. >”a minha, ué”
  467. >”playboy, presta atenção”
  468. >”tu não tem mais facção nenhuma”
  469. >”é óbvio que os caras já não querem te ver mais nem pintado de ouro”
  470. >”para de achar que tu tem que agradar eles, porque na situação que tu tá, tu tem que se preocupar em sobreviver”
  471. >”se tu não fosse mongol e tivesse ouvido o que eu falei, não estaria assim agora”
  472. >”mas tu já fez a merda então, paciência”
  473. >eu parei pra refletir no que ela tava me dizendo
  474. >fazia sentido, como sempre
  475. >”então o que tu acha que eu devo fazer?”perguntei
  476. >ela fez uma cara bem pensativa
  477. >”agora a única coisa que tu pode fazer é se fortalecer na comunidade e se preparar pro pior”
  478. >”esperar que algum outro traficante burro faça uma merda e os holofotes saiam de cima de você”
  479. >sei lá que porra é essa de holofote, mas tá bom
  480. >a Daphne tava bem seria esse dia, bem reflexiva
  481. >é foda, dava pra ver só pela cara dela que algo de ruim estava prestes a acontecer
  482. >nessa altura do campeonato, é seguro dizer que ela praticamente mandava no morro junto comigo
  483. >afinal, tudo que ela falava eu fazia
  484. >ou pelo menos quase tudo
  485. >não era justo, caso o pior ocorresse, que ela pagasse o pato pelos meus erros
  486. >cheguei por trás dela, abraçando ela, e falei no ouvido dela
  487. >”caso o pior de tudo aconteça, eu preciso te dizer uma coisa”
  488. >”subindo a rua aqui da minha casa, se tu dobrar a tua primeira esquerda depois da vendinha do seu joca, vai ter uma estrada de barro”
  489. >“pega ela sempre em frente e tu vai sair numa trilha no matagal atrás da favela”
  490. >”segue essa trilha toda a vida e tu vai achar uma saída pra rua”
  491. >”esse é o melhor caminho pra fugir da favela se alguma coisa aconteça”
  492. >”não quero que tu fique aqui caso eles tomem a favela de mim”
  493. >”eu te amo, Daphne” eu falei, pela primeira vez
  494. >ela sorriu e me beijou, enquanto o sol tava se pondo
  495. >nos dias que seguiram, a situação só piorou
  496. >segui o conselho da Daphne, e mandei os dirigentes do ADA tomarem no cu
  497. >não deu outra
  498. >fui expulso da facção, e eles colocaram um valor de 100 mil pela minha cabeça, pra quem me matasse
  499. >o marreta soube disso e logo dobrou a oferta
  500. >200 mil pra quem levasse minha cabeça pra ele
  501. >tava preta a situação, amigo
  502. >o viado do marreta mandou os pivetinhos dele começarem a fazer assalto pra caralho no entorno da minha favela
  503. >ele sabia que o que me sustentava era que a Pedreira vendia muito e o Chapadão vendia pouco
  504. >então começou a fazer roubo por perto da Pedreira, pro local ficar perigoso
  505. >e os clientes pararam de aparecer
  506. >e tava ficando cada vez mais difícil eu manter os lucros e pagar meus funcionários
  507. >na mídia, diziam que a culpa dos assaltos era minha, bando de hipócrita
  508. >fui tentar ligar pro coronel do 41º BPM e tive uma bela surpresa
  509. >agora ele tava recebendo arrego do filha da puta do marreta
  510. >não queria assunto comigo
  511. >eu tava fudido
  512. >na terça feira, fiquei sabendo que parte do meu bonde tava planejando se rebelar contra mim
  513. >tavam putos que o salário tava atrasado e tinham recebido a confirmação que o marreta iria dar condição pra geral caso eles entregassem o morro
  514. >foram dois dias de guerra dentro da própria Pedreira
  515. >quando chegou na sexta, só tinha metade do meu bonde vivo
  516. >o marreta tinha avisado que, sábado a noite, ele ia tomar a Pedreira
  517. >eu coloquei todos meus soldados nas entradas na frente do morro
  518. >se eu caísse, irmão, ia cair atirando
  519. >na noite da véspera da invasão, eu tava deitado na minha cama
  520. >certo que iria morrer
  521. >com uma pistola na mão, tentando achar motivos pra não me matar
  522. >como a vida dá tão errado assim, irmão?
  523. >como pode ser que uma hora tu tá no topo, na crista da onda
  524. >e outra hora você tá na merda, fudido?
  525. >a vida te ilude
  526. >a riqueza, o sucesso, tudo isso é uma mentira
  527. >que passa voando na tua frente e nem te deixa saborear o momento
  528. >não tinha nenhum motivo mais pra eu permanecer aqui
  529. >só a daphne
  530. >a mina que tanto me fortaleceu
  531. >ela era o único motivo de eu não me matar
  532. >não queria parecer tão fraco assim pra ela, mesmo depois de morto
  533. >a opinião dela agora era tudo que importava pra mim
  534. >ela entrou no quarto, já preparada pra dormir
  535. >a mina só dorme nua, então, já sabem
  536. >sei lá parceiro, ela tava mais bonita nesse dia
  537. >tava especial
  538. >meus olhos brilharam quando eu a vi, vindo na minha direção
  539. >subindo na cama
  540. >de alguma forma, ela sabia o que eu tava pensando
  541. >sabia a minha aflição
  542. >abriu um sorriso, igual ao de um leão partindo em cima da presa
  543. >e sussurrou
  544. >”vou fazer essa ser a melhor noite da sua vida”
  545. >subiu em cima de mim e me fez esquecer os problemas
  546. >esquecer tudo
  547. >só conseguia pensar no corpo dela junto do meu
  548. >transamos por horas, até adormecermos juntos
  549. >cansados
  550. >felizes
  551. >a guerra podia esperar
  552. >eu tava com meu amor do meu lado
  553. (Parte V)
  554. >acordei com um barulho estranho
  555. >abri meus olhos lentamente, e vi que ainda era madrugada de sábado
  556. >fui tentar me levantar mas não consegui
  557. >minhas mãos estavam algemadas
  558. >olhei pro lado e vi a Daphne me encarando
  559. >relaxei na hora, devia ser alguma maluquice dela
  560. >”caralho amor, eu tava dormindo, não quero fuder agora”
  561. >”vamos esperar amanhecer”
  562. >ela olhou pra mim cheia de desprezo
  563. >”graças a Deus eu nunca mais vou ter que transar com você seu verme”
  564. >que porra é essa
  565. >”o que deu em você, amor? É tpm de novo?” perguntei, meio assustado
  566. >ela revirou os olhos
  567. >”a sua ignorância me impressiona, playboy”
  568. >”antes de te conhecer eu achava que isso era suicídio”
  569. >”isso o quê, amor?” eu perguntei, agora sem entender nada
  570. >”isso”
  571. >”me infiltrar na tua favela”
  572. >”me aproximar de você”
  573. >”te fazer de fantoche pra te derrubar”
  574. >”e finalmente me vingar, vingar o Anderson e vingar o nosso filho”
  575. >que porra é essa mermão
  576. >tentei me levantar, já puto
  577. >”me solta dessa merda, daphne. Quem é Anderson, caralho?”
  578. >ela soltou uma risada
  579. >”você não conhece mesmo as pessoas que tão do teu lado né?”
  580. >”Anderson é o nome do Caneta, seu mongoloide”
  581. >”o cara que fechava contigo, era fiel até o último minuto e tu matou na covardia”
  582. >”ele tinha mulher e tinha filho, caso você não saiba”
  583. >”mas você matou ele”
  584. >”você matou parte de mim quando eu descobri que ele tinha morrido”
  585. >”e principalmente, você matou meu filho que estava na minha barriga”
  586. >”eu o perdi quando entrei em depressão”
  587. >”mas depois disso o objetivo da minha vida foi te caçar e te derrubar”
  588. >”a patricinha quieta e estudiosa entrou na academia, começou a malhar”
  589. >”mudou de corpo, mudou de atitude”
  590. >”e agora tá aqui, com a tua vida nas mãos”
  591. >nessa hora eu comecei a me debater com força, tentando me soltar
  592. >”melhor pegar leve, a algema pode cortar seu pulso e eu não quero que você morra antes da hora” ela disse
  593. >”sua filha da puta, eu vou te matar, eu vou te rasgar todinha” respondi, berrando
  594. >”você vai me matar, playboy?” ela perguntou, rindo
  595. >”quantas vezes eu não pude te matar, enquanto tu dormia, enquanto tu tava bêbado”
  596. >”mas não, eu me segurei, me guardei pra esse momento”
  597. >”e como valeu a pena, meu Deus” ela disse, em êxtase
  598. >”é melhor tu correr sua piranha, porque quando eu me soltar daqui eu vou te picotar e tu vai desejar nunca ter nascido” respondi, forçando a algema com toda minha força
  599. >”playboy, se eu correr daqui você não me encontra nem se eu te mandar meu endereço por whatsapp”
  600. >”você é o traficante mais burro, ignorante e retardado que eu já tive o desprazer de conhecer”
  601. >”e olha que eu conheci o Marreta, que é páreo duro”
  602. >olhei arregalado pra ela
  603. >”tu conheceu o marreta, daphne?” perguntei, atônito
  604. >”primeiro, esquece daphne, esse nome horrível de piranha”
  605. >”meu nome é Sophia”
  606. >”mas sim, eu conheci o Marreta, aquela ameba desprovida de qualquer vestígio de intelecto”
  607. >”quem tu acha que contou pra ele que era hora de retomar o Chapadão?”
  608. >”quem você acha que sugeriu que ele mandasse os pivetes dele assaltarem no entorno da Pedreira pra diminuir o movimento das tuas bocas?”
  609. >”quem tu acha que apresentou ele ao coronel do 41º”
  610. >”porra playboy, tu é um anjinho”
  611. >nessa hora, o celular da piranha começou a tocar
  612. >ela atendeu com um sorriso
  613. >”oi... sim, eu já to com ele aqui... sim, podem subir, vou pro lugar combinado... beijos!”
  614. >”quem era, sua vagabunda?” perguntei, ainda me debatendo
  615. >”um amigo meu... logo logo você vai conhecer ele... “
  616. >”bom playboy, eu já vou nessa. Foi um desprazer te conhecer... mas aproveite seus últimos momentos deitado nessa cama”
  617. >”porque quando meu amigo chegar ele vai fazer... como foi que você disse?”
  618. >”ah, lembrei, vai fazer você desejar nunca ter nascido”
  619. >”um beijo” ela disse, dando um beijo na mão e assoprando na minha direção
  620. >foi mais ou menos nessa hora que eu ouvi o tiro comendo
  621. >olhei pela janela, mas não vi ninguém lá embaixo no morro
  622. >foi aí que eu vi vários vultos pretos descendo o morro
  623. >eram os caveiras
  624. >”filha da puta” eu pensei
  625. >”ela ensinou o caminho da mata pra eles”
  626. >”eles tão invadindo a favela pelo alto”
  627. >olhei puto, enquanto eles vinham e matavam o meu bonde, que tava lá embaixo, esperando o ataque do Marreta
  628. >os mlk não tinham nem chance, tavam sendo pegos de surpresa
  629. >atacados por trás
  630. >e pelos caveiras, ainda por cima
  631. >fiquei olhando, torcendo pra eles reagirem, mas vi que não ia dar
  632. >foi nessa hora que ouvi um estrondo
  633. >a porta do quarto tinha sido arrombada, caindo no chão
  634. >pulou pra dentro um caveira enorme
  635. >usando uma touca ninja que só dava pra ver os olhos
  636. >na identificação dele, eu lia um nome
  637. >”Sgt Yuri”
  638. >ele me encarou, vindo na minha direção
  639. >e disse, com uma voz meio rouca
  640. >”eu esperei muito tempo por isso, mas tua hora chegou”
  641. >”pede perdão a Deus porque eu não vou ter”
  642. >aquela mina é foda, a daphne
  643. >até nisso ela tava certa, de novo
  644. >porque depois do que aquele cara fez
  645. >eu desejei não ter nascido
  646. Epílogo:
  647. >eu acompanhei pela tv
  648. >o jornal noticiando a invasão do morro da Pedreira
  649. >as investigações que tinham sido abertas para apurar a ligação entre o merda do playboy com o comandante do 41º
  650. >foi aí que eu finalmente entendi
  651. >o motivo de eu ter me apaixonado tanto pelo Anderson
  652. >o motivo de em tão pouco tempo eu ter sentido mais por ele do que por qualquer outro homem que eu conheci
  653. >e o motivo era simples
  654. >ele revelou um lado em mim que eu não conhecia
  655. >porque eu sempre fui uma burguesinha
  656. >tratada como princesa, com todos os mimos
  657. >mas lá no fundo, lá dentro
  658. >eu nasci pra aventura, pra loucura
  659. >e quando eu vi o Anderson, esse sentimento me conectou a ele
  660. >obrigada amor
  661. >você viu mais em mim em uma semana do que eu em uma vida inteira
  662. >você me libertou, e agora eu te vinguei, matando o canalha que te traiu
  663. >o canalha que tirou você de mim
  664. >que matou nosso filho antes mesmo dele nascer
  665. >mas isso não é o fim, meu anjo
  666. >não
  667. >isso é só o começo
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