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- “Assim, na breve duração desse olhar, o primeiro que trocamos, e já unindo-nos com tudo que isto implica, vejo apenas em Joana Carolina a adolescente arrancada à imobilidade e à cegueira por obra de um milagre, para vir ao meu encontro com seus claros pés e descobrir-me. Tenho, ignorante que sou, uma sensação de agraciado, certo de que nessa jovem triplamente iluminada – pelo sol da tarde, pelas chamas das velas, pelo meu êxtase – e em quem a enfermidade, mais do que uma pena, foi um desígnio para resguardá-la até que emergisse, das entranhas do tempo, este minuto, residem as venturas da vida e que, ligando-me a ela, aposso-me de grandezas que não entenderei e que nem sequer adivinho. Arpoado em minhas profundezas pelo seu olhar, ofereço-me com a máxima candura, imaginando que este brio de súbito gerado em meu espírito pode comprar a paz e o júbilo. Desconheço que esta flecha lançada ao som do hino solto pelas mulheres é semente cujos frutos ninguém pode antever e que as alegrias serão quase nenhumas ante os sofrimentos, as depredações em nossas vidas, sobretudo na existência de Joana, minha vítima.”
- Osman Lins. Retábulo de santa Joana Carolina. In: Melhores contos de Osman Lins. Seleção de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003. p. 158.
- [ Blog: wsaraiva.wordpress.com / Twitter: @WSarai ]
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