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May 21st, 2018
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  1. Moe Kadeny
  2.  
  3. Eram três da manhã. Um homem dormia tranquilamente, na madrugada. Tinha os cabelos negros e espetados, e aspecto japonês, apesar disso, os olhos eram bem abertos. Kazumi olhava apreensivo para a mulher que dormia ao seu lado, na cama de casal. A mulher estava deitada de barriga para cima, com os olhos fechados com força. De repente abriu os olhos e virou-se para o homem.
  4. - Não consigo aguentar, Kazumi... – Disse, apalpando a sua enorme barriga que doía. Kazumi estremeceu.
  5. - Aiko... Ainda não se completaram nem oito meses... – O homem disse, engolindo em seco. Aiko gemeu.
  6. - Desculpe, mas não estou aguentando... Me leve ao hospital... – A mulher implorou. Kazumi admirou seus cabelos negros e lisos com um reflexo azulado do luar. O lugar estava um breu. O homem, com um nó na garganta, apalpou a mesa ao lado e acendeu o abajur. Em seguida, sentou-se na cama e se levantou. Foi até o outro lado da cama ajudando Aiko a se levantar, dando apoio.
  7. Aos passos lentos, Aiko e Kazumi andaram pelos cômodos, Aiko apoiada em Kazumi, que abria as portas e caminhava lentamente, acompanhando os gemidos de dor da mulher. Ainda com roupas de dormir, ambos entraram no carro. Kazumi, apressado, partiu pela estrada deserta. A mulher ainda gemia de dor, alisando a barriga enorme, resultante de quase oito meses de gravidez. Ao chegar no hospital, Kazumi abriu a porta para a esposa, que andou lentamente até o interior.
  8. A enfermeira recebeu-os com urgência. Todos os restantes pareciam ter má vontade, mas ela os apressava. Kazumi interrogava os médicos sempre que podia, mas nenhum deles disse nada muito esclarecedor. Até que a doutora Wilson, uma médica estrangeira, com os cabelos loiros e ondulados, apareceu no quarto e seu olhar foi direto para Kazumi.
  9. - Então, doutora? – Kazumi interrogou-a, pedindo explicações. As mãos tremiam e ele suava muito, mesmo com o ar congelante do hospital, vindo do ar condicionado.
  10. - Está dilatando - A médica afirmou, tentando manter-se séria. – Em poucos minutos começará o trabalho de parto.
  11. Kazumi pareceu atormentado, as mãos tremeram mais ainda e ele levou uma delas a cabeça. A doutora Wilson aproximou-se do homem, e dobrou-se para ficar à altura dele, que estava sentado.
  12. - Não seria melhor esperar lá fora? – Disse, vendo que o homem estava muito nervoso. – Lhe avisaremos quando tudo terminar.
  13. O homem parecia não ter ideias do que fazer em mente. Aceitou com um aceno de cabeça, e meio atormentado, levantou-se. Beijou a esposa e saiu do quarto. Ficou na primeira cadeira que viu ao sair do quarto da esposa. Olhava para o azulejo azul, tremendo em todas as partes do corpo. Sacuida a perna com um tique nervoso. Olhava em volta, ansioso por alguma notícia.
  14. Passaram-se trinta minutos de tortura até que Algumas vozes vieram do quarto. Kazumi empalideceu. Não conseguiu entender as vozes, estava demasiado nervoso. Apoiou a testa na cabeça e fechou os olhos com força, esperando apenas que os ruídos se acalmassem. Depois de poucos minutos, já se ouvia o choro de um bebê. O homem suspirou. Um pouco aliviado, um pouco preocupado, apenas olhou para a porta, apreensivo, ainda balançado a perna nervosamente. Depois de dois minutos, o bebê ainda chorava. “Não são lindas?” Vinham vozes do quarto. Depois de apenas algums segundos a doutora Wilson apareceu com um sorriso suave no rosto.
  15. - São meninas! – Anunciou alegremente. – São gêmeas!
  16. - Posso entrar? – Perguntou, ainda com a perna balançando nervosamente. – Posso vê-las?
  17. A médica fez que sim com a cabeça, ainda com um sorriso no rosto. Kazumi foi apressadamente até o quarto, atropelando a médica.
  18. Aiko sorria, muito emocionada, com duas bebezinhas, uma em cada braço. Tinham a pele parda igual a da mãe. Uma delas chorava, a outra dormia tranquilamente. Kazumi correu até a esposa e olhou as duas filhas com os olhos brilhando. Não se aguentava de felicidade.
  19. - Não são lindas? – A mãe dizia, olhando para Kazumi que se debruçava sob os lençóis azulados que cobriam a esposa.
  20. - São lindas sim. – Disse, abrindo um sorriso de orelha a orelha e deixando escapar uma lágrima. – Elas são iguais a você, Aiko... – E sorriu para a mulher. A mulher sorriu em retribuição.
  21. - São as gêmeas Moe. – Declarou, com um sorriso de orgulho. - Moe Kadeny e Moe Katheryn.
  22. CAPITULO 2
  23. Embora as gêmeas precisassem ficar no hospital até completar os nove meses, tudo ocorrera bem. Kazumi tranquilizou-se ao longo do tempo e os meses passaram-se rápido. “Elas são lindas, iguais a você!” Kazumi repetia sorrindo quando se lembrava das gêmeas. Periodicamente iam visitá-las. Kazumi quase chorou de emoção quando uma delas agarrou com força o seu dedo, que acariciava a bebezinha. Ao final dos nove meses, foram para o hospital. Desta vez não para uma visita costumeira, para levá-las para casa. Kazumi insistiu e fez Aiko comprar os berços assim que saíram do hospital, no dia do parto. Kadeny recebeu um berço Lilás bem claro, e o de Katheryn era rosa. Kazumi perdia-se nas lembranças dos berços e das meninas quando ouviu uma voz chamar seus nomes.
  24. - Senhor Chiang Khai e Senhora Seang Khai – chamava uma mulher de voz aguda e de vestes brancas de enfermeira, na porta que levava aos quartos. Kazumi foi apressado até a mulher, e Aiko foi logo atrás, puxada pelo marido.
  25. - Acompanhe-me, por favor. – A enfermeira pediu e levou até o costumeiro quarto em que as duas ficavam. O casal olhou pelo vidro o quarto dos bebês, admirados, tornaram a olhar para as gêmeas, em berços vizinhos. A enfermeira apareceu com as duas nos braços. Pela primeira vez estavam fora do quarto. O casal sorriu. A mulher entregou Katheryn para a mãe e Kadeny para o pai. Em seu pulso frágil havia uma pulserinha com o nome da mãe “AIKO SAENG KHAI”. Kazumi quase chorou quando Kadeny agarrou o seu dedo novamente com suas mãozinhas de bebê.
  26. O tempo passou rápido. As Gêmeas receberam muita visita de família e amigos, e praticamente todos os conhecidos já tinham a visitado depois de um mês em casa. Kazumi não se cansava de comprar mimos para as filhas. De vez em quando aparecia com brinquedinhos e enfeites de quarto de bebê, fazendo a mãe sorrir e corar, emocionada. Ao primeiro ano das gêmeas, o homem organizou a maior festa que podia. Quase a cidade inteira apareceu. A família Khai rapidamente tornou-se popular por causa das gêmeas Moe e a empolgação de Kazumi para mostrá-las. Todos os anivesários eram uma festa enorme, em um salão caríssimo, com todos os tipos de doce, embora as atrações sempre dormissem nos braços de Aiko no meio das festas. Rapidamente, quatro anos se passaram. As meninas já começaram a adquirir características próprias, inclusive a personalidade. Katheryn era sempre enturmada, e fazia questão dos mimos básicos de menina. Usava roupas rosas “da moda”, tinha vestidos orientais chiquérrimos de festa. Kadeny nunca fez questão de muita coisa, e era mais quieta. Quase todas as roupas dela tinham aspecto oriental, mas não eram tão formais quanto as da irmã.
  27. As irmãs Moe cresceram, e chegou a hora de irem pra escola – cinco anos. Kazumi, é claro, preocupou-se com os mínimos detalhes. Chegou a conversar pessoalmente com a diretora da escola apenas para conferir se teria comprado o paradidático certo, que aparecia com o nome em inglês na lista e o homem tinha comprado uma versão tailandesa. “Não tem problema” todos disseram, mas precisou sair da boca da diretora para que o homem finalmente engolisse e se acalmasse. Aiko tentava tranquilizar o homem e resolveu responsabilizar-se pela compra dos uniformes e das bolsas para sossegá-lo. Katheryn apontava para todos os cantos, indecisa com qual bolsa escolher. “Mãe, aquela é tão bonita!” “Olhe, mãe, aquela tem florzinhas!” ficou em dúvida entre uma bolsa com enfeites de flores branco e outra de corações vermelhos, ambas rosa, e a mãe escolheu a de corações para a filha indecisa. A outra Moe não sabia o que escolher, e por fim escolheu uma bolsa igual a de Katheryn, só que lilás claro, da cor de seu berço, com corações púrpura. A compra de uniforme deixou Katheryn feliz, pois o uniforme parecia bastante com as roupas que costumava usar. Kadeny não mostrou alteração. “É bonitinho” comentou meio forçada quando a irmã lhe mostrou os uniformes com empolgação.
  28. No primeiro dia de aula, Kazumi fez questão de conferir todos os detalhes das garotas bem na porta da escola, repetindo o que fizera duas vezes antes de sair de casa. Com um nó na garganta, ele despediu-se delas, que entraram na escola descontraídas com o novo ambiente. Katheryn rapidamente fez novas amigas. Kadeny não falava muita coisa, mas ganhou as mesmas amigas que a irmã. Ao final do dia, Kazumi buscou-as. O pai já esperava na porta da escola faz meia hora, pois quis se prevenir caso largassem mais cedo. Recebeu com alívio as notícias das gêmeas, que tinham gostado de ir à escola. Preparou na noite daquele dia tudo para o dia seguinte, e conferiu três vezes de manhã de novo. Aos poucos, com os conselhos de Aiko, o pai foi aliviando, e apenas uma olhada básica nas duas nas manhãs já bastava para ele. Na época de férias, Kazumi fez questão de revisar as matérias com as filhas várias vezes. A professora das meninas elogiava-as muito, em especial Kadeny. “Educada, comportada e muito inteligente!” A professora Minchi elogiava sempre que tinha a oportunidade de falar com o pai. Em geral não havia muito conteúdo, pois as escolas nessa idade ensinavam às meninas boas maneiras e educação.
  29. As gêmeas Moe foram sempre muito populares na escola. Katheryn com sua personalidade e Kadeny com sua boa fama em estudos, eram amigas da maioria das meninas das turmas. O mesmo se repetiu nos outros anos. As meninas tinham sete anos quando foram começar, de fato, o ensino fundamental. Kazumi fez igual ao primeiro dia de aula e conferiu os mínimos detalhes de tudo. Katheryn fez questão de bolsas novas e a mãe comprou de boa vontade para as gêmeas. Eram do mesmo modelo, com vários símbolos na língua Thai, que escreviam várias vezes Amor e Amizade. Katheryn escolheu uma bolsa azul e Kadeny uma da cor púrpura, ambas com os escritos em branco. Embora a cultura do país fosse de muita educação e boas maneiras, a cidade e especialmente o bairro era mais desconectada disso. No ensino fundamental, essas “boas maneiras” perderam o valor para muitos alunos. Kadeny tirava excelentes notas, mas não sustentavam sua fama. Todos se interessavam em Katheryn, e por mais que a menina fizesse propaganda da irmã, Kadeny nunca teve uma amiga muito próxima. Os trabalhos em grupo serviam de consolo, pois Katheryn sempre a escolhia, em primeiro lugar.
  30. Uma menina chamada Lang Feng entrou na metade do ano, no início do segundo semestre, e parecia ter os mesmos gostos que Katheryn. A menina rapidamente conquistou sua amizade. Para a surpresa de Kadeny, quando a professora Minchi pediu para juntarem duplas, Katheryn preferiu fazer grupo com Lang Feng desta vez. Kaadeny fez dupla com um menino que sobrara, e aceitou-a de muita má vontade, pois queria fazer dupla com um amigo que, por sua vez, preferira outro. Os dias se passaram e Kadeny ficava cada vez mais sozinha. O ano terminou, e na segunda série, Lang Feng já estava em outro colégio. Mesmo assim, Kadeny não recuperou sua fama. A menina tornou-se extremamente tímida. O pai Kazumi parecia não saber o que acontecia com ela na escola, e sempre exibia Kadeny para a família com suas ótimas notas.
  31. Certo dia, Kadeny ficou na escola até mais tarde para terminar um trabalho em grupo com uma menina até bastante simpática. O pai prometeu de pegá-la as quatro horas, mas terminaram o trabalho bem antes. A menina resolveu dar uma passeada na cidade enquanto não chegava a hora de ser buscada. A sua escola ficava no bairro mais urbano da cidade, as casas em geral não tinham estilo oriental, muito menos as lojas ou as roupas das pessoas. Kadeny atravessou um lago ali perto, caminhando com a amiga que fizera o trabalho de escola, e começaram a observar outro bairro. Neste bairro sim, haviam casas de madeira, de telhado curvo, um clássico oriental, todos se vestiam com o estilo mais asiático possível e haviam dezenas de academias de budismo. Haviam dois templos, um de mármore, outro de madeira, porém ambos com o aspecto oriental do bairro, bem perto ao centro de budismo principal da cidade. Kadeny sentiu imensa atração por esta cultura, mas não pode observá-la. Já eram quase quatro horas e era melhor esperarem Kazumi na escola.
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