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- Esse GT é continuação do GT do Mike!
- /cc/
- (Prólogo)
- >a noite tava tranquila no morro, uma uva
- >fumando um baseado com os irmãos
- >o Joe olhou pra minha cara, rindo
- >”caralho menor, já tá doidão aí ó”
- >os moleques começaram a rir, mandei tomar no cu mas tava rindo também
- >eram todos crias
- >do nada a bala começou a comer, parceiro
- >muito tiro, muito tiro
- >a gente se levantou com as peças na mão, barulhando os cana
- >olhamo pra baixo e vimo só farda preta subindo
- >eram os caveiras
- >”puta que pariu” um dos moleques falou
- >o outro já tinha saído correndo
- >só tinha ficado eu e o Joe
- >ele olhou pra mim e falou “corre menor, mete o pé que eu vou segurar esses filha da puta”
- >pegou a AK e começou a dar rajada
- >lá de baixo a gente ouvia os caveiras gritando que iam nos matar
- >entrei num beco cheio de medo, tentando me esconder
- >mas nem deu pra eu andar muito quando ouvi um baque
- >o Joe caiu no chão, baleado
- >voltei pra falar com ele, já com lágrima nos olhos
- >foi quando vi um caveira passando por cima dele
- >na hora não pensei duas vezes irmão, peguei minha peça e acertei a bala no caveira
- >fiz no automático, sem pensar, sem ter controle das minhas ações
- >logo depois larguei a pistola e caí sentado no chão
- >puta que pariu, eu atirei no caveira
- >ele olhou pra mim com uma cara pior que a da morte
- >sorriu, com a boca já cheia de sangue
- >e caiu de cara no chão, enquanto o sangue ensopava a rua
- >fiquei congelado olhando aquela cena por alguns poucos segundos
- >mas pra mim pareceram décadas
- >eu sabia que não podia ficar de bobeira ali
- >meti o pé e me entoquei na casa de um morador lá
- >deitei no chão, cobri os ouvidos e fiquei esperando aquele inferno acabar
- (Parte I)
- >a minha história começou em 1999
- >quando eu nasci por um acidente
- >minha mãe, uma daquelas piranhas de baile funk
- >não tenho vergonha de falar não
- >meu pai, um moleque que tinha ganhado seu primeiro salário e foi no baile ostentar
- >meteram sem capa, 9 meses a cegonha me trouxe
- >que família hein, irmão?
- >minha mãe nunca valeu o pau que chupa
- >drogada, viciada em pó e depois em pedra
- >meu pai no começo tentava ajudar, mas chegou uma hora que nem ele aguentava mais
- >começou a beber
- >chegava em casa bêbado e enfiava a mão nela e em mim
- >era por isso que, ao contrário da maioria dos favelados, eu me amarrava em ir pra escola
- >andar na rua
- >fazer qualquer coisa irmão, menos ir pra casa
- >um belo dia meu pai chegou em casa mais puto que de costume
- >e pra ajudar, minha mãe tinha ficado grávida de outro cara
- >eu apanhei tanto que fugi de casa
- >fiquei rodando de noite na favela, sem ter pra onde ir
- >só uma porta abriu pra eu entrar
- >a de um moleque chamado Joe
- >ele devia ter uns 20 anos, eu tinha 11
- >tinha entrado pro tráfico a pedido do próprio dono do morro
- >a favela toda respeitava o moleque, que não era lá muito bonito, mas era gente fina pra caralho
- >ele me deixou morar com ele o tempo que eu precisasse, com uma condição
- >”tu é um moleque inteligente, vai pra escola e estuda. O movimento tá precisando de gente assim”
- >”nós é bom em trocar tiro e em meter marra, mas precisamos de algum maluco cabeça para ler, contar, medir, pesar e fazer essas paradas aí tá ligado menor? ‘’
- >”to ligado Joe “ eu respondi
- >sim, um cara de 20 anos pedindo pra um moleque de 11 fazer a contabilidade da boca
- >”então demorou, amanhã eu vou te colocar lá no contexto” ele me falou, dando uma pistola na minha mão
- >nessa época eu era moleque ainda, saca?
- >minha diversão era pegar ônibus pra Zona Sul, dar um rolé na casa dos bacana
- >eu adorava andar com o bondão na frente dos burgueses lá, ficavam escaldadões
- >os pm olhando atravessado pra gente
- >as patricinha cheia de medo
- >porra era muito bom, diversão de pivete é isso aí irmão
- >mas o tempo começou a passar
- >agora eu tinha novas responsabilidades, novo emprego
- >com 11 anos já era ajudante no tráfico da minha favela
- >não dava mais pra ficar na rotina de moleque
- >até porque, pra preto, pobre e favelado, a vida adulta chega cedo
- >nós não tem escolinha, pré vestibular, cursinho de inglês e aula de natação bancado pelo papai não
- >não é qualquer um que sobrevive no meu mundo, irmão
- >mas eu não sou desses que desiste sem tentar
- (Parte II)
- >quatro anos se passaram
- >muita coisa mudou
- >já tinha minha grana, não dependia mais de ninguém
- >mas optei morar com o Joe mesmo assim
- >ele era tipo um pai
- >ou melhor, um irmão mais velho
- >o mlk já tinha uns 25 anos, era considerado na favela
- >eu na aba dele também tava ganhando meu espaço
- >o tráfico no morro tava indo de vento em popa
- >os pm tavam barulhando o Chapadão dia sim dia não
- >pau no cu deles, CV filhos da puta
- >aqui é ADA poha
- >o frente do morro era um cara chamado Playboy
- >muito inteligente
- >ao invés de se preocupar em trocar tiro, ele gastava a energia dele aumentando as vendas de droga
- >lucrando mais, fortalecendo o bonde e ajudando a favela
- >o resultado foi que os moradores amavam a gente
- >o Joe se deu bem nessa, porque era amigo de geral, e então o Playboy precisava dele pra manter o contexto no bagulho
- >eu também me dei bem, porque o patrão precisava de alguém pra ficar de frente na contabilidade
- >só tinha um cara que não tava feliz com isso
- >vamos chama-lo de Lambari
- >ele era gerente de uma das bocas do morro
- >era um daqueles traficantes que gostava de sangue e de tiroteio
- >coisa cada vez mais rara sob a liderança do Playboy
- >lógico que ele não iria peitar o patrão abertamente, mas dizia-se que ele tava planejando derrubar o patrão
- >e todos que fechassem com ele
- >vulgo, eu e Joe
- >mas esses boatos não atrapalharam o clima na favela
- >no aniversário do patrão, o bonde organizou um super baile
- >pica.rar
- >regado demais, os melhores dj’s, os melhores mc’s, droga e bebida liberada
- >ia chover piranha
- >no dia eu e Joe nos arrumamos
- >o viado olhou pra mim e abriu um sorrisão
- >”vai perder esse cabaço hoje, muleque?’’
- >” que cabaço o quê viado, tá maluco?” eu perguntei, meio nervoso
- >”ah, não mete essa menor. Porra, nunca te vi com mulher nenhuma”
- >”todo o dinheiro que tu ganha tu gasta com essas porras de computador, videogame”
- >”porra, hoje tu vai comer alguém”
- >eu abri a boca pra retrucar mas ele fez sinal que eu ficasse quieto
- >terminamos de nos arrumar e fomos de moto para o baile
- >chegando lá, o Joe rapidamente sumiu
- >vários mlks e minas rodearam ele e levaram ele pra pista
- >o filha da puta era popular
- >eu tava sozinho então não tinha muito o que fazer
- >fui dar um dois pra ficar na moral e assistir o show
- >tava lá quietão na minha, já devia ter passado uma meia hora de que chegamos, quando o Joe aparece do nada
- >”coe Caneta, se liga aí, o patrão tá chamando nois lá na casa dele irmão”
- >”qual foi Joe que papo é esse viado?” eu perguntei, meio confuso
- >”para de conversa e chega junto muleque, não vamo deixar o patrão esperando não”
- >colei junto do Joe e fomos pra mansão do patrão
- >a mansão dele fica numa elevação no terreno, bem de frente para a pista onde rolava o baile funk
- >então era uma pista bem larga onde tava rolando o baile (nos dias de semana é um campinho de futebol), o palco onde tava os mc’s e os dj’s, e, numa elevação do outro lado do palco, de frente pro campo, tinha a mansão dele
- >da varanda da casa dele dava pra observar o baile inteiro
- >vista privilegiada
- >chefe é chefe né, pai?
- >chegando lá, os seguranças tiraram nossas armas, revistaram a gente e deixaram a gente entrar
- >era uma casa branca de três andares, com o exterior de vidraçaria, coisa linda de se ver
- >na varanda, que era grande pra caralho, tava rolando a festinha privê do chefe
- >uma proporção de 3 minas pra cada homem, só mulher gata
- >não é essas ratas de favela que ficam na pista não
- >é mina de zona sul, burguesa que sobe o morro pra ficar doidona e dar pra traficante
- >gostam de aventura, ela dizem
- >enfim
- >o patrão tava sentado numa mesa, com outros dois caras, trocando uma ideia lá
- >”coé Joe meu irmãozinho!” ele chamou, com um sorrisão
- >”fala tu meu chefe” o Joe respondeu, na humildade
- >”chega aí irmão, chega aí, senta aí. Vem tu também, ô Caneta” ele me chamou
- >caralho o patrão sabe meu nome
- >os dois malucos que tava com ele levantaram e nós sentamos
- >”tão curtindo o baile viado, fala aí “ ele perguntou, sem rodeio nenhum
- >”porra patrão, tá o mel... só não entendi por que você chamou a gente aqui... aconteceu alguma coisa?”
- >a expressão do Playboy mudou, ficou mais séria, deu pra ver que não era brincadeira
- >”porra irmão, esses caras aí não tem cabeça pra nada parceiro. Porra, dá pra contar com ninguém nessa favela” ele falou, se inclinando na nossa direção
- >”qual foi patrão qual foi?” o Joe perguntou, já entendendo que algo sério deveria ter acontecido
- >”os frentes do São Carlos, do Caju e da Coroa vieram falar comigo, tão planejando juntar um bonde pra tomar a Maré. A Pedreira não pode ficar de fora dessa, temos que fortalecer nossa facção”
- >traduzindo pra você, que não entende nada, o patrão tava se referindo aos chefes do tráfico dos morros acima, que estavam planejando se juntar pra atacar o Complexo da Maré
- >a Maré é, depois do complexo do Alemão, o maior conjunto de favelas da zona norte
- >mas, ao contrário do alemão, a maré era toda dividida entre as três facções, que lutavam por ela
- >o Comando Vermelho queria toma-la para sedimentar seu poder. Controlando a maré e o alemão, seriam os donos da Zona Norte
- >a minha facção, ADA, queria para criar um corredor entre zona norte e zona sul. Ia permitir que escoássemos a droga e as armas para os morros mais lucrativos, fortalecendo nossa facção
- >o Terceiro Comando queria para poder proteger e dar cobertura aos seus morros nas redondezas que, por serem isolados, eram vulneráveis aos ataques das outras facções
- >”mas eu não posso deixar a favela sozinha... vagabundo não tem capacidade nenhuma aqui, Joe”
- >”o único que eu podia deixar era o Lambari, mas aquele viado é maluco, tu sabe bem disso”
- >”o bonde do Lambari é forte, patrão, não dá pra gente dar mole com ele” o Joe respondeu, com precaução
- >”só pra tu ter uma ideia, irmão, hoje antes do baile, adivinha quem veio me procurar? A Luana, parceiro”
- >Luana era a namorada do Lambari
- >a mina mais gostosa da favela inteira, linda demais
- >mais gata que a namorada do patrão
- >todo mundo tava de olho nela, mas ela decidiu ficar com o maluco do Lambari
- >”qual foi da ideia patrão?” o Joe perguntou
- >”qual foi que o Lambari veio pro baile e não queria trazer ela. Ela não quis deixar ele sair e ele meteu a mão na cara dela, irmão... rancou dois dentes da mina no soco e ainda mandou rasparem a cabeça dela”
- >eu e Joe ficamos olhando o patrão, sem conseguir esboçar uma reação
- >”ela tá lá no meu quarto, amanhã vou dar a grana pra ela ir fazer o tratamento dentário. Agora fala aí parceiro, como é que eu vou deixar a favela na mão desse maluco? “
- >”porra patrão” o Joe respondeu. “manda o Lambari ir fortalecer o bonde que tá indo pra Maré po. É bom que se ele morrer lá, é lucro pra nossa firma”
- >”não posso mandar um gerente pra lá. Tá vindo os frentes do são carlos, do caju e do coroa. Se eu não for vai parecer que eu não to comprometido com o bagulho “ o Playboy respondeu
- >”porra, então vai você junto com o bonde do Lambari patrão” o Joe retrucou
- >”mas aí os caras vão me matar lá né irmão. O fechamento deles é com o Lambari, não é comigo” disse o Playboy
- >”então vamo fechar todos os bondes patrão, vamo geral pra lá” o Joe disse, impaciente
- >”porra mané, e tu vai desguarnecer a favela? Os filho da puta do Chapadão vão tomar o nossos morro! Aí a gente toma a Maré e perde a Pedreira” ele responde
- >o chefe era inteligente, já tinha pensado em todas as possibilidades
- >”patrão, por que tu não faz assim então” eu falei
- >os dois viraram pra me escutar
- >”leva o bonde do Lambari e metade do teu pra lá, porque assim ele não vai poder te matar”
- >vocês tomam tudo que puderem na Maré e, quando terminar, você deixa o Lambari lá na contenção pra administrar a favela que vocês tomaram”
- >”e você volta pra cá e fica na Pedreira. Porque lá o Lambari vai ser responsabilidade dos outros frentes, então se ele fizer merda ele vai ter que se ver com os malucos do São Carlos”
- >”a gente mata dois coelhos com uma cajadada só”
- >”boa muleque” o patrão responde, abrindo um sorrisão, enquanto que o Joe me dá um tapinha nas costas. “porra é isso... mas só faltou tu me falar quem vai ficar de frente na Pedreira enquanto eu e Lambari tivermos na Maré”
- >”ué patrão” eu respondi “escolhe o cara que tiver mais conceito na favela depois de você”
- >nós dois olhamos para o Joe quase que ao mesmo tempo
- >o novo frente da favela já tinha sido escolhido
- (Parte III)
- >”já tá bom de conversa” o Playboy falou, após discutirmos todo o nosso plano
- >”ô Stefany! Me ajuda aqui que eu quero meter mas esses dois comédias tão aqui me empatando”
- >uma morena linda veio dando risada, abraçou o chefe e falou “olha, vocês são bandidos mas quem vai roubar ele sou eu... vamo lá pra cima, amor” ela falou no ouvido do Playboy
- “demorou patrão” o Joe lançou, dando mó risadão “curte lá que eu vou achar uma pra tirar o cabaço desse vacilão aqui” ele falou, apontando pra mim
- >fiquei puto e dei um pisão no pé dele
- >o chefe e a piranha dele começaram a rir
- >”vocês dois são meus convidados. Só escolher a mulher que vocês quiserem” ele disse, e deixou nós dois lá
- >”ouviu né viado? Não vou ficar aqui te paparicando não, arranja aí uma mulher pra tu porque a minha eu já achei “ o Joe falou, me largando e chegando numa negona chamada Joyce
- >puta que pariu Joe, que mulher é essa que tu chegou
- >tu é maneiro pra caralho, mas pra mulher tu tem um mau gosto que puta merda hein
- >peguei uma cerveja e fiquei andando de um lado pro outro, olhando lá pra baixo, pro baile
- >até que uma vadia colou do meu lado
- >”eu vi você falando com o patrão... tu deve ser importante né?”
- >olhei pro lado
- >”ele chamou e a gente veio, é assim que funciona as coisas po”
- >ela deu uma risada
- >”meu nome é Amanda.... vamo nos conhecer melhor?” ela perguntou, já com cara de safada
- >eu já sabia quem ela era
- >era uma amiga da Luana, de vez em quando o Lambari comia ela também
- >fiquei receoso “porra, pensei que tu saísse com o Lambari”
- >”ah, eu saio as vezes sim... mas hoje eu quero sair é contigo... vai querer ou não? Eu sei que tu me achou gostosa” ela disse, já metendo o mãozão no meu pau
- >”ah porra, eu não sei...” eu falei... lógico que eu queria comer a gostosa, mas isso podia dar uma merda...
- >”tu não é fechamento do Playboy? Então... para de ser medroso e vamo logo fuder, ou você não é homem o suficiente?”
- >porra piranha, não precisava lançar essa também né
- >ela me puxou pela mão e foi me levando
- >passamos perto da hidromassagem, onde o Joe tava metendo na negona no meio de todo mundo
- >ele olhou pra minha cara cheio de malícia
- >”vai que é tua muleque” ele falou pra mim por telepatia
- >dava pra ler nos olhos dele
- >porra Joe
- >subi com a Amanda pra um quartinho
- >a mulher não me deixou fazer nada
- >foi só eu tirar a roupa que ela já chegou chupando
- >que porra é essa piranha?
- >montou em mim e quicou mais de uma hora
- >eu já tinha gozado duas vezes e a vadia não parava
- >caralho
- >quando ela terminou, fomos dormir exaustos, suados, e eu com um sorrisão imenso na cara
- >aí sim muleque
- >acordei no dia seguinte com o Joe me chamando
- >deixei a piranha dormindo na cama e fui com o parceiro
- >lá na pista, tava os bondes reunidos, vários carros e motos, todas as armas entocadas
- >fomos em direção ao patrão, que tava trocando uma ideia com os uns caras
- >ele nos viu chegando e, colocando a mão no ombro do Joe, falou em alto e bom som para todos ouvirem
- >”atenção bandidagem, aqui quem tá falando é o Playboy, o frente da Pedreira”
- >”tamo reunido aqui hoje em razão do apoio que nós temos o dever de prestar aos irmãos que tão indo lutar na Maré”
- >”eu como sou frente vou puxar o bonde da Pedreira que vai barulhar os alemão na Maré”
- >”na minha ausência, vou deixar o morro nas mãos do Joe, meu homem de confiança”
- >”geral conhece ele e sabe que o muleque é disposição”
- >”disciplina no bagulho e fé em Deus” ele falou, sob aplausos dos seus funcionários
- >em pouco tempo, o bonde partiu em direção a Maré, deixando eu, Joe e uns 20 outros bandidos pra tomar conta do morro
- >os primeiros dias foram tranquilos, conseguimos levar a situação na moral
- >eu aconselhei o Joe a aumentar o arrego pros cana do 41º, pra evitar mal-entendidos na comunidade
- >mas a atenção do Rio de Janeiro tava voltada para a Maré
- >era tiroteio dia e noite, noite e dia
- >o governador deixou a favela em quarentena, estava esperando ajuda do governo federal pra entrar com o Exército
- >enquanto não recebia a resposta, a guerra comia lá dentro
- >nosso bonde tomou muita boca, mataram muito alemão
- >chegava a ser bonito ver a união de vários morros da nossa facção juntos num único ideal
- >mas vida de bandido nunca é bonida
- >”porra mermão, não sei como tu não cansa dessa porra”
- >”o dia inteiro fazendo conta” o Joe falou, me zoando
- >”porra viado, alguém tem que ter cérebro aqui nessa porra né” respondi, rindo
- >”se arruma aí, vamo descer lá na boca pra fumar umzinho” ele disse, colocando uma camisa
- >me arrumei e fui com ele lá
- >só não sabia que aquela seria a última vez que eu iria vê-lo
- (Parte IV)
- >depois de matarem Joe, tudo ficou mais difícil
- >eu fui escolhido pra ficar de frente na Pedreira, por ter matado o caveira
- >mas eu não tinha cabeça pra mais nada
- >me tranquei na nossa casa e fiquei um dia chorando
- >caralho mermão, como a vida pode fazer isso?
- >tirar de você, na crueldade, a única pessoa que já se importou contigo
- >a única pessoa que você tinha
- >a única
- >o Joe era meu irmão porra, ele era tudo pra mim
- >eu tinha 16 anos e tava sozinho no mundo, sem ninguém, e com uma favela inteira dependendo de mim
- >tentei manter o contexto no bagulho, mas os outros caras também tavam abalados
- >e no final das contas, não faria muita diferença
- >alguns dias depois, um bonde embicou pra dentro da favela
- >eram os mesmos carros que saíram, o que significa que o patrão tava voltando
- >reuni os irmãos e fomos pro pátio receber o patrão
- >mas não era o patrão
- >era o Lambari
- >ele já desceu matando todo mundo, só deixou eu vivo
- >”agora tu vem comigo, seu filha da puta” ele disse, me arrastando pra casa do Playboy
- >veio ele e mais uns crias dele
- >”quer dizer então que tu é fechamento do Playboy e que tá querendo me atrasar no bagulho”
- >”tira a mão de mim comédia, nos somos o mesmo fechamento”
- >ele me deu um murro na cara que me fez cair no chão
- >”mesmo fechamento é o caralho mermão, a intenção de vocês era de me matar naquela porra”
- >ele veio pra cima de mim, cheio de ódio
- >lambari era um negão alto e forte, com uma cara de mau
- >não conhecia a história dele e nem queria conhecer
- >só sei que ele me bateu muito naquele dia
- >”tu vai sofrer por causa da tua vacilação” ele me falou
- >me acorrentou na sala e me expôs como troféu
- >trazia os amigos dele pra me bater
- >no começo era só porrada
- >mas depois foi piorando
- >apagavam cigarro na minha pele
- >passavam a faca em mim só pra ver o sangue descer
- >e vocês imaginam o que eles decidiram fazer depois disso né...
- >o filho da puta até trouxe a Luana e a Amanda, as ex namoradas dele
- >matou as duas na minha frente
- >irmão, você tem ideia do que é isso?
- >minha vontade era implorar pra morrer mas não ia dar pra ele esse gostinho
- >” quem diria que o comédia aí ia aguentar tanta porrada chefe “ um dos amigos dele disse
- >” porra é verdade, pensei que esse viado aí só ficava na caneta e no caderno mesmo “ outro respondeu
- >” teria futuro se tivesse fechado com nois, comédia... mas preferiu ficar na covardia e agora vai morrer “ o Lambari emendou
- >aquele dia eu tinha certeza que seria meu último
- >mas quem disse que a vida é assim, maninho?
- >do nada um rajadão de tiro destruiu o vidro da casa
- >lá de baixo a gente ouvia os marginais gritando e fugindo
- >”corre porra, corre!”
- >”sujou, sujou!”
- >o viado do Lambari juntou os seguranças dele
- >mandou todos saírem e segurarem os canas
- >enquanto isso ele ia juntar o dinheiro
- >o filho da puta esqueceu de mim e começou a correr de um lado pro outro, alucinado
- >jogando a grana dentro de uma bolsa
- >e o tiroteio ficando mais e mais intenso
- >ocasionalmente um tiro acertava uma parte das vidraças, ou alguma coisa dentro da casa
- >até que um barulho forte veio do portão
- >Lambari pegou sua Glock e deu uma rajada em direção a porta
- >esvaziou a porra do pente, trocando tiro
- >mas óbvio que o doente não acertou nada, tremendo do jeito que tava
- >vimos um cara entrando, um cara enorme, do tamanho do lambari, com farda preta e cara de puto
- >olhei para a identificação dele na farda
- >sargento Yuri
- >o caveira chegou dando tiro e o Lambari correu, se escorando atrás de uma pilastra bem na minha frente
- >mas pelo que parece, o fuzil do caveira também descarregou
- >como a vida é irônica, não é mesmo?
- >Lambari reparou e não perdeu a chance
- >partiu pra cima do caveira, acertando um chute na costela dele
- >o pm soltou um urro, mas conseguiu segurar a perna do lambari
- >fechou a mão e deu um soco tão forte no lambari que o viado caiu no chão
- >o caveira partiu pra cima dele, mas Lambari pegou uma garrafa de cerveja que tava ali do lado e quebrou ela na cabeça do caveira
- >o pm caiu no chão do lado dele, com a cabeça sangrando, desorientado
- >lambari se levantou e começou a chutar o pm
- >eu já tava vendo o pm morrer, com cada chutão que eu tava levando
- >mas aí eu vi o inacreditável
- >o caveira segurou a perna do lambari e acertou um soco no joelho do fdp
- >o soco foi tão forte, mais tão forte, que o osso do viado cortou a pele e saiu pra fora
- >fratura exposta
- >o filho da puta caiu do meu lado, berrando igual um animal, enquanto o caveira se arrastava na nossa direção pra nos matar
- >desesperado, o lambari pega a chave e me solta
- >”tem um pente no meu bolso viado, carrega a Glock e mata esse filho da puta!” ele disse, chorando de dor
- >eu pego a glock e o pente, e carrego a arma, apontando pro Yuri
- >o caveira rasteja, sujando o chão com seu sangue e olhando pra minha cara
- >eu encaro o caveira por alguns minutos
- >aquele filho da puta
- >pego a glock e descarrego ela na cara do Lambari
- >dou tiro até desfigurar
- >o caveira observa tudo, atônito
- >eu encaro ele novamente, e solto a glock ao alcance dele
- >lá fora os sons de tiro já estavam acabando
- >logo logo a favela estaria cheia de PM
- >ao invés de pegar a arma e me matar, ele deita de barriga pro alto e fecha os olhos
- >não sei se morreu ou não, mas optou por me deixar vivo
- >era só isso que eu queria
- >fugi pra mata antes que os caveiras pudessem me encontrar naquela casa
- >cambaleando, machucado e sangrando, consegui escapar daquele inferno
- >só não sabia aonde que eu iria agora
- (Parte V)
- >passei a noite na mata, mas na manhã do dia seguinte eu percebi que não dava mais
- >ia morrer se permanecesse ali
- >porra, pra onde eu vou?
- >pra bandido não tem hospital, SUS, essas porras
- >já tava fudido, delirando de febre
- >fui descendo o morro pela mata até chegar na rua
- >catei duas notas de dois que eu tinha no bolso e peguei um ônibus
- >o 474
- >conhecido na Zona Sul como “quatro sete crack”
- >o ônibus que os pivetes pegam pra fazer arrastão na praia
- >o ônibus que eu tantas vezes já peguei, em dias melhores
- >se fosse pra eu morrer, preferia morrer de frente pro mar
- >sentei lá no fundão, e não demorou muito até que eu desmaiasse de dor
- >acordei com uma menina me cutucando
- >”moço? Moço, você tá bem?” ela perguntava, consternada
- >não tive forças pra abrir os olhos
- >ela pegou um dos meus braços, colocou por cima do ombro e me carregou
- >descemos do ônibus e andamos mais um pouco
- >ela carregava meu peso, mesmo eu sentindo que ela era bem menor que eu
- >abri os olhos e vi de relance as pessoas na rua olhando atravessado pra nós
- >”porra, o que esse neguinho mal-encarado tá fazendo aqui?” elas deviam se perguntar
- >foda-se
- >eu via tudo em flashes, uma hora estávamos na rua, depois num prédio, num elevador e finalmente numa cama
- >deitei e desmaiei, apaguei, não vi mais nada
- >quando acordei, eu não sabia aonde estava, que dia era, só sabia que estava de manhã
- >”tem alguém aí?” eu perguntei, sem resposta
- >caralho, qq eu tô fazendo aqui
- >tentei me levantar, mas não consegui, doía muito
- >olhei para meu corpo, tava cheio de gaze e bandagens por todo lado
- >de repente, ouço o barulho da porta abrindo e depois fechando
- >passos vindo na direção do quarto
- >e a porta do quarto se abrindo
- >”você acordou!” disse a menina, num misto de preocupação e alegria
- >”eu fiquei preocupada, achei que não fosse resistir! Você estava muito machucado”
- >olhei bem pra ela
- >loirinha do olho azul, pele branquinha, devia ter 1,60 de altura, por aí
- >magrinha com uns peitos redondinhos, bem diferente das minas da favela que pareciam umas cavalas
- >tava usando uma blusinha branca e calça legging azul escura
- >”eu fui dar uma corridinha, mas já cheguei. Vou trazer seu café e tomar um banho” ela falou, reparando que eu olhava para ela
- >saiu do quarto e voltou alguns minutos mais tarde, com a bandeja cheia de comida
- >olhei praquela porra igual um esfomeado
- >”caralho, isso é café da manhã?” eu perguntei
- >”´é sim...” ela respondeu, meio constrangida “quê foi, não tá do seu agrado? Eu posso pedir alguma coisa se você preferir” ela falou, já vindo pegar a bandeja de volta
- >”não porra, é coisa pra caralho, tem mais comida nesse café da manhã do que no almoço que eu costumo comer “
- >ela parou e deu uma risada, enquanto eu atacava a comida
- >sentou do meu lado e começou a falar
- >”então, você deve estar se perguntando quem eu sou né... meu nome é Sophia, eu faço medicina na UFRJ... eu te encontrei no ônibus e vi que você não iria resistir”
- >”felizmente não tinha nenhum ferimento muito grave, apesar de você estar todo ferido”
- >”te trouxe aqui pra cuidar de você, mas fiquei preocupada porque eu não sabia se você estava indo pra casa da sua família ou se tinha alguém te esperando, enfim”
- >eu olhei pra ela, com a boca cheia de comida “tá tranquilo pô, não tinha ninguém me esperando não, valeu aí pela força”
- >”você fala engraçado” ela disse, rindo
- >”de onde você é?” ela perguntou, me olhando
- >caralho, fudeu, ela quer saber de onde eu sou
- >quando souber que sou favelado vai ligar pra polícia
- >se bem que, com a minha cara, não precisa ser o xeroque rolmes pra deduzir que eu sou do morro
- >olhei bem pra cara dela e falei “Sou da Pedreira pô”
- >ela me olhou meio confusa
- >”desculpa, eu não sou carioca, eu sou de Friburgo... onde fica essa Pedreira? É perto de Copacabana?”
- >eu soltei uma risada alta pra cacete
- >tá explicado porque a novinha me trouxe pra cá
- >é do interior, conhece porra nenhuma do Rio
- >”é mais ou menos por aí” eu falei, com sarcasmo
- >acho que ela não percebeu
- >”então... vamos ao que interessa... que séries você assiste?” ela perguntou, com os olhinhos brilhando
- >”quê?” eu perguntei, sem entender nada
- >”que séries você assiste, oras? Vai dizer que você não vê série nenhuma na netflix?” ela perguntou, de brincadeira
- >mas logo reparou pela minha cara que eu realmente não assistia série nenhuma
- >”meu Deus, como você se diverte??”
- >eu dei uma risadinha
- >”a gente arruma umas coisas lá pra se distrair tia”
- >”meu nome é Sophia, muito prazer... e o seu? “ ela perguntou
- >”me chama de Caneta que tá maneiro” eu respondi
- >”pois bem Caneta, se prepare porque enquanto você estiver aqui você vai assistir séries comigo”
- >ela ligou a TV do quarto e sentou no chão, do lado da cama
- >colocou na Netflix e começou a colocar as séries que ela gosta
- >mermão, eu vi Netflix até o cu fazer bico
- >ficamos nessa rotina praticamente a semana inteira
- >quando acabaram as séries que ela conhecia, começamos a ver séries novas
- >quando acabaram as novas, vimos filmes
- >quando enjoamos dos filmes, ela começou a ler pra mim
- >ler mano, tu tem noção?
- >tu acha que favelado conhece Lovecraft, Stephen King, Edgar Allan Poe?
- >a mina ia lendo as histórias comigo e depois ficava perguntando o que eu achava
- >percebi que ela era meio solitária, tímida, morando sozinha numa cidade que ela mal conhecia
- >e eu tava fazendo companhia pra ela e ela cuidava de mim
- >aos poucos fui recuperando o movimento
- >tive forças pra ficar em pé e me locomover, com a ajuda dela
- >um certo dia, quando eu já estava conseguindo ficar de pé relativamente bem, ela entra no quarto
- >alegre
- >sorridente
- >e de biquíni
- >”você já está se recuperando, então hoje vai tomar um banho para ficar bem cheiroso!” ela falou, animada
- >”tá, e pra que o biquíni? “ eu perguntei
- >”ué, eu vou te dar o banho né...” ela disse
- >”você vai me dar banho?”
- >”claro! Você não tem força ainda para ficar muito tempo de pé sozinho, especialmente fazendo esforço físico, por menor que seja. Vou lá pra te dar apoio e te ajudar no banho”
- >”além disso, seu corpo desacostumou com a temperatura da água, então se houver algum choque térmico, você vai precisar de alguém pra te ajudar”
- >”agora seja um bom menino e sente”
- >eu sentei na cama enquanto ela vinha, na inocência, tirando a minha roupa
- >a menina era boa de coração, dava pra ver que ela fazia aquilo só pra me ajudar
- >mas também eu estaria mentindo se dissesse que ela não reparou no tamanho do menino e que ela não dava umas olhadas de vez em quando
- >ela tentava disfarçar, mas as bochechinhas brancas dela ficaram tão coradas que nem precisava falar nada
- >quando ela ligou a água quente irmão, puta que pariu
- >que sensação boa
- >ela pegou o sabonete com a mãozinha dela e começou a passar no meu corpo
- >”se você é um cara legal quando tá fedido, imagina como vai ser quando tiver limpinho” ela falou, enquanto me limpava
- >e ela é boa nessa parada de limpar mano
- >mas convenhamos, ela é boa em tudo que ela fez até agora
- >que porra é essa, sobrenatural
- >chega uma hora que eu começo a encarar ela
- >meu corpo cheio de espuma e ela tb toda molhada do chuveiro
- >ela repara que eu to olhando pra ela e prende a respiração
- >querendo ou não, cria de favela tem um ar intimidador
- >enquadrei ela contra a parede
- >ela me olhava, congelada, num misto de medo e nervosismo
- >encostei minha boca na dela e beijei
- >sentia meu corpo fraco, mas me segurei pra não mostrar pra ela
- >não queria que ela visse mais fraqueza minha
- >ela jogou os braços por cima dos meus ombros
- >retribuiu o beijo
- >colou o corpo dela no meu enquanto eu a empurrava contra a parede
- >e a água quente caindo em cima de nós dois
- >de repente senti uma fraqueza
- >meus joelhos dobraram
- >caí no chão do banheiro
- >ela desligou o chuveiro, desesperada, e me levou de volta pra cama
- >me secou, me vestiu
- >e só parou quando eu insisti que tava tudo bem
- >ela disse que precisava sair para resolver alguma coisa, e antes que eu pudesse falar algo ela foi embora
- >me senti um merda
- >é só preto começar a ver filme americano pra achar que a vida é igual cinema
- >com romance e essas porras
- >nada a ver irmão
- >fiquei sozinho naquela cama pelo resto do dia
- >me perguntando o por que de eu ser tão idiota
- >o Joe tava certo, eu era um virjão mesmo
- >caralho, o Joe
- >ainda não tinha caído a ficha de que eu nunca mais o veria
- >já tinha passado a hora de eu voltar para a favela, mas algo naquele apartamento me prendia
- >quando chegou a noite, eu só sabia olhar pela janela, ver o movimento da zona sul
- >me perguntando por onde estaria a Sophia, e se ela me perdoaria pelo meu exagero
- >foi aí que ela chegou em casa
- >entrou no quarto sem falar comigo e foi direto pro banheiro, onde ela se trancou
- >”Sophia, me desculpa!” eu falei alto, pra ela ouvir
- >”eu não queria te assustar nem te forçar po”
- >”na hora eu não consegui me controlar, eu tive que te beijar”
- >”você é a mina mais linda e maravilhosa que eu já conheci”
- >”o tempo que eu to passando contigo tá sendo o melhor da minha vida”
- >”mas eu traí sua confiança e entendo que tu esteja puta comigo cara”
- >”se quiser eu vou embora hoje mesmo, não tem caô”
- >”juro, não vou guardar rancor”
- >e a porta continuava trancada, como se ela não estivesse ouvindo
- >fiquei encarando a porta, magoado por não saber o que fazer e por ter vacilado com a única pessoa que parecia se importar comigo agora que o Joe tinha morrido
- >foi quando ela destrancou a porta
- >e saiu do banheiro
- >nua
- >aquele corpo branco dela, como se tivesse sido feito com neve
- >sem pelo nenhum abaixo da sobrancelha
- >com um jeitinho delicado, quase infantil
- >ela me olhou e veio na minha direção, me hipnotizando
- >não tinha malícia no jeito dela, não igual às minas da favela
- >mas havia um fogo, um fogo diferente
- >ela abriu minha calça e montou em cima de mim, encaixando no meu pau
- >começou a subir e descer, me beijando e deixando escapar uns gemidos tímidos
- >eu sentia o tesão dela, mas também sentia que ela queria me agradar de todas as formas
- >depois de gozar, ela fez questão de me chupar até que eu gozasse na boca dela
- >e dormiu do meu lado, ainda nua, agarradinha
- >se antes eu não sabia se queria voltar para a favela, agora tinha certeza
- >meu lugar era aqui, com a minha deusa, o meu amor, a minha Sophia
- (Parte VI)
- >ficamos mais uns dias nessa rotina
- >vendo filme, transando muito e ela me ajudando a me recuperar
- >no final da semana seguinte, eu já estava praticamente bem
- >conseguia levantar, andar e fazer tudo que eu quisesse sozinho
- >ainda não dava pra correr ou sair na mão mas era questão de tempo
- >de noite, após mais uma bela sessão de sexo, ela falou pra mim
- >”amor, pensei em comemorarmos a sua recuperação...”
- >”como assim, princesa?” eu perguntei, enquanto assistia TV
- >”tem um casal que mora aqui do lado que são muito amigos meus”
- >”e o cara também tava machucado e já está se recuperando”
- >”aí eu combinei com a esposa dele de fazermos um jantar para comemorar nossos guerreiros, você e ele”
- >olhei para o corpinho lindo dela, com a cabeça dela encostada no meu peito
- >”claro amor, pode ser” respondi
- >”ótimo... vou marcar amanha com a ju”
- >algo nessa história me deixou meio apreensivo, mas deixei pra lá
- >era só uma janta, afinal
- >no dia seguinte, a Sophia me vestiu com uma roupa que ela tinha lá
- >nunca fiquei tão bonito na vida, quem me visse ia poder jurar que não sou favelado
- >motorista, talvez, garçom quem sabe, mas jamais traficante
- >ela colocou um vestido preto que deixava ela ainda mais linda, se é que isso era possível
- >fomos de mãos dadas no apartamento do lado
- >quando chegamos, demos logo de cara com a moça
- >uma tal de Juliana, aparentemente
- >pela barriga, dava pra reparar que estava nos primeiros meses de gravidez
- >me cumprimentou de uma forma muito simpática e nos convidou a entrar
- >disse que ia chamar o namorado e que já voltava
- >fiquei reparando na decoração bonita do apartamento dela, trocando alguma ideia boba com a Sophia quando o impossível aconteceu
- >um cara grande entrou na sala, andando de muleta, com bastante dificuldade
- >ele me viu na mesma hora que eu o vi
- >meu sangue gelou
- >era o caveira
- >o Yuri, sei lá
- >o que quase matou o Lambari
- >eu pensei que ele tinha morrido mas o sacana tava vivo
- >todo fudido, mas vivo
- >”então amor, essa é a Sophia que eu tava te falando, e esse é o namorado dela, o...” a juliana falou
- >”Anderson” eu emendei, falando meu nome meio nervosamente
- >”esse é o Anderson. Então, vamos nos sentar?”
- >nós quatro nos sentamos à mesa enquanto a Juliana nos servia
- >eu nunca tinha visto aquele prato lá, ela disse que se chamava “ceviche”
- >coisa de rico, foda-se
- >”ai meu Deus eu adoro frutos do mar” a Sophia falou, e começou a comer
- >a juliana gargalhou, enquanto eu e Yuri nos encarávamos
- >com certeza o caveira tava armado, e eu ali de bobeira
- >mas ele não ia me matar, não ali, na frente da esposa grávida dele
- >”mas então, Anderson, o que aconteceu contigo?” ela me pergunta, de um jeito meio simpático
- >”foi acidente de moto, moça” eu respondi, desviando o olhar do Yuri e provando a minha comida de um jeito meio estabanado
- >”puxa vida menino, que perigo! Pela sua cara você é novo... quantos anos você tem?” ela perguntou, curiosa
- >”16, faço 17 mês que vem” respondi, e ouvi o Yuri bufar do outro lado
- >Sophia olhou para o caveira, assustada
- >”não se preocupa não amiga, ele é assim mesmo”
- >”mas eu não tiro a culpa dele, a rotina é muito estressante”
- >”quem fez isso no corpo dele foram os traficantes lá de um morro chamado Pedreira, quase mataram ele, são uns bárbaros, uns verdadeiros animais”
- >a Sophia ouviu o nome do morro e imediatamente olhou pra mim, com os olhos bem arregalados
- >mas não disse nada
- >eu desviei o olhar novamente, tentando disfarçar
- >”que foi, amiga, aconteceu alguma coisa?” a Juliana perguntou, notando que todo mundo estava nervoso menos ela
- >”não, amiga, não é nada! A propósito, o ceviche está maravilhoso!” a Sophia falou, meio embaraçada
- >”ah amiga, que bom que vocês gostaram! Era o prato preferido do meu ex, o Arthur... eu já te contei a história dele, né? Ele e Yuri eram muito amigos, mas o Arthur veio a falecer... e por coincidência foi na mesma favela da Pedreira”
- >”quando soube que o Yuri foi pra lá eu fiquei desesperada, mas graças a Deus ele voltou pra casa bem” ela falou, pegando na mão do caveira
- >mas ele já tava puto
- >levantou bruscamente da mesa e foi andando para o sofá
- >Sophia observou aquilo tudo, atônita, enquanto a Juliana tentava amenizar a situação
- >”ah amiga, é o estresse pós traumático. É uma coisa muito complicada... você quer vir comigo pra cozinha pra eu te mostrar minhas receitas de frutos do mar? Assim a gente dá um pouco de espaço para os meninos conversarem”
- >Sophia olhou pra mim, angustiada, mas a Juliana pegou a mão dela e a levou pra cozinha, me deixando sozinho com o caveira
- >ficamos nos encarando por um longo tempo enquanto as meninas conversavam na cozinha
- >de repente ele falou, com uma voz meio rouca “chega aí”
- >levantei lentamente e fui sentar numa poltrona, perto do lugar que ele estava
- >ele me olhou, bem sério, e falou
- >”foi você que matou o sargento Costa, não foi?”
- >eu sabia que ele tava se referindo ao outro caveira
- >”fui eu” respondi, engolindo seco
- >”ele era meu amigo”
- >”era namorado da juliana”
- >”e era o pai do filho dela”
- >”você matou o meu melhor amigo” ele disse, com a voz carregada de rancor
- >”seu melhor amigo matou o meu melhor amigo” eu contra argumentei
- >esse tal de Costa tinha matado o Joe, e eu nunca iria me esquecer disso
- >”matou um marginal, e aí?” o Yuri perguntou, com desprezo
- >”e você só tá vivo agora porque o marginal aqui decidiu não te matar” eu respondi
- >afinal, eu poderia muito bem ter matado ele quando ele tava caído e machucado
- >”você sabe que mesmo machucado eu consigo te moer todinho, né? “ ele perguntou, se inclinando na minha direção
- >”eu to ligado, caveira... mas se tu for me matar, acho bom fazer isso logo”
- >”agora eu sei onde tu mora e se eu der um toque nos irmão eles brotam aqui e matam tu e tua namorada”
- >” e aí, qual vai ser? Vai me matar ou não vai? “ perguntei, encarando ele
- >ele cobriu o rosto com uma das mãos
- >o caveira tava tentando me intimidar, mas dava pra ver que ele tava preocupado com a família dele
- >e no final das contas, o bem estar da tal da Juliana valeu mais a pena que a vingança pelo amigo dele
- >mesmo com ele tentando tapar o rosto, consegui ver uma única lágrima correndo pela bochecha dele
- >e ele sussurrando bem baixinho
- >”me perdoa, irmão”
- >olhei pro lado, pra dar a ele um pouco de privacidade
- >querendo ou não, eu entendia a dor dele
- >ele tirou a mão do rosto e falou pra mim
- >”o Costa costumava dizer que tudo isso era uma guerra sem fim, que sempre ia ter mais gente querendo matar e querendo morrer”
- >”nós dois poderíamos ser amigos, se o destino não tivesse te colocado como meu inimigo”
- >”mas tu é guerreiro assim como eu e sabe que entre nós não pode ter amizade alguma”
- >”essa noite não tem guerra entre nós, mas se nós nos encontrarmos na pista, atira em mim pra matar, por que eu não vou atirar em tu pra morrer”
- >eu assenti com a cabeça, enquanto ele levantava pra ir pro quarto dele
- >antes de ele ir embora, eu falei
- >”promete pra mim que se eu morrer na guerra tu vai cuidar da Sophia como tu cuida da Juliana?”
- >”afinal, somos inimigos, mas as minas não tem nada a ver”
- >ele ponderou um pouco, virou e disse
- >”eu prometo, vou cuidar da sua mina”
- >”obrigado” eu respondi. “prometo que vou cuidar da Juliana também, se você morrer”
- >ele olhou pra mim atravessado e disse
- >”eu não vou morrer”
- (Parte VII)
- >”COMO ASSIM, ANDERSON? COMO ASSIM CARA?” a Sophia gritava, em prantos, quando chegamos em casa
- >”calma amor, me deixa explicar!”
- >”você é bandido, anderson? Você é envolvido com tráfico? “ ela me perguntou, já com os olhos marejados
- >não consegui responder
- >ela caiu na cama, cobrindo o rostinho com as mãos, chorando e soluçando
- >”o que eu fiz com a minha vida?” ela perguntava, entre os soluços
- >”por quê isso tá acontecendo comigo?” ela dizia
- >”por que??”
- >eu cheguei junto dela, ajoelhei do lado dela e comecei a fazer carinho
- >”amor, me perdoa por isso”
- >”mas não fui eu que escolhi essa vida”
- >”e se pudesse voltar no tempo, eu preferia ter morrido no ônibus”
- >”assim você não teria se envolvido nisso tudo”
- >”mas já que não posso voltar no tempo, juro que vou sumir e nunca mais te procurar”
- >”me perdoa por ter atrapalhado a sua vida”
- >ela virou, me olhando com os olhos vermelhos, e falou
- >”você não entende, né? Seu idiota”
- >”eu te amo, é óbvio que não vou conseguir te esquecer”
- >”mas eu não nasci pra viver no perigo amor, não nasci pra viver em troca de tiro”
- >”não quero ter que cuidar de você toda semana”
- >”não vou aguentar ver você ferido”
- >”por favor, sai dessa vida... vem morar aqui comigo, amor”
- >”eu te banco, eu faço o que você quiser, mas esquece o morro, esquece tudo”
- >eu olhei pela janela
- >a proposta era tentadora
- >passar o resto da vida vendo tv, comendo bem, transando e curtindo a mulher mais linda desse mundo
- >que tipo de louco negaria uma chance dessas?
- >mas eu tinha que negar
- >eu tinha uma missão, irmão
- >um propósito
- >uma dívida com meu mano Joe
- >e um dever a cumprir com a minha favela
- >”não posso amor... eu tenho que voltar”
- >”eu tenho que ir de volta pra Pedreira”
- >ela não se conteve, explodiu em lágrimas
- >me abraçou com toda força que seus braços delicados podiam fazer
- >”então deixa eu ir contigo, Anderson... deixa eu cuidar de você, deixa eu ficar do seu lado”
- >”não me obriga a ficar longe, a ficar me remoendo, todo dia preocupada, sem saber como você está”
- >”por favor” ela implorava, olhando nos meus olhos
- >eu a abracei firme e disse “amor, nada na minha vida é mais valioso que você”
- >”por isso que quero que minha princesa fique aqui, longe do perigo”
- >”não posso viver preocupado com a sua vida”
- >”prometo que vou te visitar sempre e que vou ficar bem”
- >”eu te amo”
- >deitei do lado dela na cama e consolei ela
- >ela se abriu pra mim, mesmo com lágrimas ainda correndo pela sua bochecha
- >fizemos amor pela última vez, curtindo cada segundo de prazer antes da dolorosa partida
- >no dia seguinte, levantei da cama de fininho
- >beijei ela na bochecha enquanto ela ainda dormia
- >e voltei para a Pedreira
- >subi o morro de cabeça erguida, pronto para enfrentar o que quer que fosse
- >mas não demorou muito para que os seguranças me cercassem e me levassem para o topo do morro
- >para a casa do patrão
- >ainda dava pra ver as marcas de tiro, mas a casa tinha sido reformada
- >estava nova
- >entrei sozinho, e lá dentro encontrei o frente
- >o único cara que ainda podia trazer ordem pra esse caos
- >o Playboy
- >ele olhou pra mim e me abraçou como um irmão, mesmo sendo meu superior
- >”caralho caneta, que falta tu me fez irmão”
- >”tu é um presente de Deus nessa favela”
- >”depois de tudo que aconteceu, tanta morte e traição”
- >”vou precisar de você do meu lado para reconstruir nossa favela juntos”
- >olhei pra ele, com os olhos marejados
- >dessa vez íamos fazer a coisa certa
- >até comecei a imaginar
- >um futuro em breve onde a favela tivesse tranquila
- >com um contexto maneiro
- >onde eu pudesse trazer a Sophia pra morar aqui
- >o Playboy era o cara certo pra liderar a gente
- >e, aparentemente, ele achava o mesmo de mim
- >me promoveu a gerente geral
- >toda a administração do morro tava sob meu comando
- >só respondia ao patrão, no caso, ele
- >”faz o que tem que ser feito, Caneta” ele me disse, dando carta branca
- >eu não dei mole
- >dobrei o arrego dos canas pra dar tranquilidade pro morro
- >proibi a venda de crack e os assaltos no entorno da favela, pra dar tranquilidade pro asfalto
- >organizei um baile bolado toda sexta feira, pra atrair clientela e oferecer entretenimento
- >fortaleci a favela, ajudando os moradores necessitados, pra reestabelecer o contexto no bagulho
- >regulamentei a venda de gás, internet, tv a cabo e vans, pra poder gerar mais lucro sem prejudicar o morador
- >na balança financeira, o saldo foi lá pro alto
- >os soldados tavam tudo armado até os dentes, com cordãozão de ouro
- >nessa hora que os frentes costumam aproveitar pra tomar outras favelas, mas não eu
- >sugeri ao Playboy que fortificássemos a Pedreira
- >ia ser nossa fortaleza
- >construímos esconderijos em toda a favela e fizemos uma trilha pela mata pra facilitar fugas
- >era a época de ouro do nosso morro
- >nosso esforço não passou despercebido
- >alguns meses depois, veio um toque da Rocinha
- >o QG da nossa facção
- >convocando o frente e o gerente geral da Pedreira
- >vulgo, Playboy e eu
- >para uma reunião na alta cúpula da facção
- >o Playboy sempre tinha sido um cara considerado, mas o meu nome era desconhecido
- >só me conheciam como o cara que matou um caveira
- >mas agora iam conhecer meu trabalho
- >eu e Playboy partimos pra lá de carro
- >eu dirigindo e ele no carona
- >”reparei que algo mudou em você, Caneta” ele disse, puxando assunto
- >”sei que o Lambari aloprou contigo, até te peço perdão por isso meu mano”
- >”mas tem mais coisa aí que tu não me contou”
- >continuei dirigindo, sem saber o que dizer
- >”acho que tudo que a gente precisa é de um motivo pra viver, patrão” falei
- >”o motivo do Lambari era o ódio, o do Joe era a alegria, mas eu nunca soube o meu”
- >”só fui descobrir algumas semanas atrás”
- >”é muito mais fácil sustentar o peso dessa guerra quando a gente sabe que tem alguém que faz tudo valer a pena”
- >o patrão balançou a cabeça, concordando
- >”se a bandidagem toda pensasse igual você, Caneta, teria muito menos sangue derramado nas favelas” ele falou, olhando pra fora
- >concordei com ele
- >quando finalmente chegamos na Rocinha, não teve como não se impressionar
- >o Playboy já conhecia a comunidade, mas eu não
- >uma favela tão imensa que poderia ser uma cidade
- >ele foi me guiando morro acima até chegarmos em uma casa bonita, mas discreta
- >paramos o carro e entramos
- >os seguranças nos guiaram até uma sala redonda, com uma mesa grande no meio e cercada de poltronas confortáveis que já estavam quase todas ocupadas
- >sentei do lado do patrão, enquanto que um homem magro e com grandes olhos começou a falar
- >era Nem, o chefe da Rocinha
- >”boa noite a todos. Estamos reunidos aqui hoje para traçar as novas diretrizes da nossa facção”
- >”nosso eixo de atuação, como todos sabem, tem sido muito direcionado ao complexo da Maré”
- >”mas após estudar melhor a situação, cheguei à conclusão de que nossa abordagem pode estar equivocada”
- >”enquanto as facções rivais ainda tiverem o controle de favelas nas redondezas da Maré, nunca vamos conseguir tomar todo o complexo, pois sempre que atacarmos eles vão pedir reforços”
- >”por outro lado, a Pedreira, sob liderança do Playboy, tem apresentado resultados muito encorajadores”
- >”sendo assim, eu proponho que nos juntemos para usar a Pedreira como nossa base de operações para tomar os morros nas cercanias da maré, e aí sim tomarmos o complexo para estabelecer nosso corredor dentro da cidade do Rio”
- >o Nem falava como um empresário, nem parecia que nós éramos bandidos
- >podia ser uma reunião de diretores de uma empresa qualquer
- >a maioria dos outros frentes concordaram com a ideia, menos o Playboy é claro, que não aceitaria que seu morro fosse feito de trampolim para as aventuras dos outros frentes
- >”por que não focar os nossos recursos para tomar os morros da Zona Sul, que são muito mais lucrativos?” ele perguntou, de um jeito meio desafiador
- >”qualquer tiroteio aqui na Sul dá muito mais visibilidade, é só estourar uma bombinha que já tem mil viaturas em cima da gente, não dá pra barulhar nem fazer guerra por aqui, ia gerar muito prejuízo para nossas favelas” respondeu Nem
- >”ah, mas quando é a minha favela que fica no prejuízo não tem problema, né?” ele disse, dessa vez contestando abertamente a autoridade do Nem
- >”se você tiver uma ideia melhor, estamos abertos para escuta-la” o Nem respondeu, calmamente
- >” eu tenho uma ideia melhor” falei, levantando a mão
- >”nossa meta está no caminho certo só que na proporção errada”
- >”explique-se” o Nem falou
- >”nossa meta desde o começo foi construir o nosso corredor do tráfico entre a Zona Norte a Zona Sul, para multiplicar nossos lucros”
- >”mas imagina só o quanto nós enriqueceríamos se parássemos de pensar só na CIDADE do Rio e começássemos a pensar no ESTADO do Rio”
- >”se controlarmos as rotas de venda de droga entre São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, nossa facção vai lucrar mais do que qualquer outra”
- >”já temos bases em Angra dos Reis e em Macaé, vamos usa-la para fazer o nosso corredor estadual, e ganharmos a força que precisamos pra sufocar nossos rivais”
- >olhei para o patrão, nervoso, torcendo pra não ter falado merda
- >”o que os senhores acham?” o Nem perguntou aos outros frentes
- >”de acordo” disse o Báu da Mineira
- >”de acordo” disse o Piloto do São Carlos
- >”de acordo” a Sara da Vila Vintém
- >”de acordo” o Magno da Coroa
- >”de acordo” o Kaká do Caju
- >”de acordo” o Batman dos Macacos
- >”de acordo” o Sávio do Vidigal
- >e finalmente, o Nem se pronunciou. “de acordo”
- >minha proposta tinha sido aceita
- >ganhei autoridade e prestígio perante os frentes da facção
- >e tomei a responsabilidade de levar a nossa bandeira para todo o Estado do Rio
- >depois de cumprimentar todos, fui embora com o Playboy, que estava mais quieto que uma múmia
- >pegamos o carro e saímos da Rocinha em direção à Pedreira
- >”porra, patrão, foi por um triz”
- >”eles queriam fazer nossa casa de acampamento”
- >”queriam voltar a fazer guerra na Zona Norte e acabar com a tranquilidade da nossa favela”
- >”mas foi o que você falou patrão, dessa vez vamos fazer a coisa certa” eu dizia, animado, enquanto o Playboy dirigia por uma estrada escura cercada de mato
- >de repente ele para o carro
- >”sim, Caneta”
- >”dessa vez vamo fazer a coisa certa”
- >puxando a pistola, ele dá dois tiros no meu peito antes que eu pudesse reagir
- >”eu já vi o Lambari ganhar condição e tentar tomar o meu lugar”
- >”não vou deixar isso acontecer novamente”
- >”desculpa irmão, mas to te matando como herói antes que tu se torne o vilão”
- >”não existe lealdade no crime, é matar ou morrer”
- >”então eu tenho que te matar pra não ter que morrer”
- >”me perdoa”
- >ele me jogou pra fora do carro e foi embora, me deixando na estrada de terra
- >virei pro alto, olhando pras estrelas e chorando
- >não vou poder cumprir minha promessa com a Sophia
- >não vou poder cuidar dela, levar ela pra minha casa, mostrar a ela meu mundo
- >meu corpo vai ficando frio enquanto o sangue sai do meu corpo
- >olho pras estrelas, que brilham fraco no céu
- >pelo menos havia uma pessoa com quem eu ainda podia contar
- >uma pessoa que eu tinha certeza que não ia me trair e que ia manter sua palavra
- >e por mais bizarro que isso seja, essa pessoa era meu inimigo
- >era um caveira
- >o Yuri
- >cuida da minha mina, mano
- >to indo pro céu pedir perdão pro teu irmão Costa
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