Relatório #1422:

Relampejos de felicidade à aurora do momento, o colorir da vida se faz presente, o copo já está meio cheio.

Ilusões(?)

O brilho do sol ofuscava ao refletir nas viseiras do capacete, a falta de oxigênio tirava força e sanidade de seu corpo. Naquela roupa desconfortável, sua fina atmosfera que ainda o mantém vivo naquela tortura, ali sentia-se nu, nos braços da escuridão, rotacionando em si mesmo, sem ter um norte, nem mesmo saber as direções de cima e baixo.
O rádio do resgate bipava em seus fones, mas não havia voz, era a esperança passando por entre seus dedos. Em seu cinto penduravam-se ferramentas inúteis e referências de sua vida, memórias que mais pareciam um conto de fadas, eram a arma de tortura nas mãos da situação, tortura na qual era inútil gritar, quem poderia ouvir no vácuo?
Dados foram passados pelo rádio, a atmosfera da Terra incinerou-se durante a guerra, tropas cuidaram dos remanescentes grupos de pessoas, tudo o que conhecera havia se tornado poeira novamente, sem esperanças de encontrar rostos conhecidos, se tornara inútil após se sacrificar por poucos que nem sequer se importariam com sua sobrevivência. O frio da sombra queimara um lado de seu rosto, o calor do sol queimava um lado de seu rosto, o frio do espaço queimava o outro lado, mas não o incomodava, não mais. Agarrando-se aos 6% de oxigênio no tanque, começara a ver pontos escuros, era sua consciência indo embora, o que era um alívio. A raiva atravessou sua espinha como energia elétrica, ódio de estar ali, ódio de ser quem é, ódio de estar vivo. Catarse era sua última gota de forca, não seria novidade se fosse desperdiçar inutilmente, mas um grito saiu de sua garganta e atingiu os microfones do capacete, sentindo a adrenalina e respirando descontroladamente, suas palavras quebravam o silêncio, o resgate pareceu detectar, após um período de delay ambos conversavam preparando o rendez-vous. Os barulhos cessaram, a fagulha de esperança estava acesa, mas o tempo se passou e nada mudou, até que o oxigênio chegasse a 1%. Algo em sua visão periférica o incomodava, uma estrela diferente brilhava no espaço, não tinha a mesma cor de uma estrela normal, ela começou a se mover, ficou mais brilhante... Era a nave do resgate vindo! Sentiu uma força mais forte o empurrando em direção à nave. ia acelerando cada vez mais, a direção mudou, ele se espatifaria no casco da nave de resgate?! Logo tão perto de sobreviver?
Nada podia se fazer, fechou os olhos com força e esperou o impacto...3...2...1...
Não houve impacto, sentiu o coração palpitar de esperança, abriu os olhos...
Ilusões!
Com 0,5% de tanque a visão ficou turva e começou a fechar enquanto aprofundava-se na inconsciência...
Descanso e tranquilidade o aguardavam.