Fé, provas e maremotos
Quando um desastre acontece, tiramos todos conclusões. As grandes tragédias não nos afectam tanto quanto as pequenas.

Conhece alguém que actualmente tenha mudado a sua opinião sobre o poder nuclear como resultado da catástrofe no Japão? Um dos aspectos mais interessantes da crise -- vistos a uma grande e segura distância -- foi o que serviu para provar a todos os que assistiram o quão certos estão.
Antes, eu era a favor da energia nuclear. Agora ainda sou mais. Se as centrais nucleares podem suportar um sismo cinco vezes maior do que se pensava ser possível, e todas as múltiplas falhas desde então, eu concluo que esta tecnologia é mais segura do que as alternativas.
Ao mesmo tempo, todos os que conheço que tivessem dúvidas acerca do poder nuclear estão agora a sentirem-se inteiramente reivindicados e usarei esta história para arguir que é muito perigoso confiar o nosso futuro para aqui.
Todos nós, claro, estamos a tirar conclusões precipitadas. Neste momento, é simplesmente impossível saber o que se está a passar e noutra perspectiva de futuros sismos significa que mesmo que saibamos o estado actual dos reactores seria insensato apostar na sua estabilidade. Insensato, mas necessário. Nós temos que agir, afinal de contas, de uma maneira ou de outra. E mesmo quando não podemos agir, senti-mo-nos obrigados a ter uma opinião. Os nossos pensamentos dificilmente podiam ser outros, uma vez que a tecnologia evoluiu como uma forma de tomar decisões.
Eu acho que isto também explica o extraordinário foco em encobrir uma catástrofe natural que provavelmente nunca acontecerá, e que não tenha, tanto quanto sabemos, morto alguém como oposto ao sismo e ao maremoto os quais mataram dezenas de milhares e tornaram centenas de milhares de pessoas em sem-abrigo. Isso não podia acontecer aqui. Para as pessoas na Europa (excepto, talvez, os holandeses) um maremoto é uma catástrofe desconhecida. Isso não intervém em qualquer das decisões que talvez tenhamos de tomar. Então isso desfoca nos nossos pensamentos. É muito horrível; e é sobre tudo o que podemos pensar.
Mas embora possam haver razões para as nossas falhas de racionalidade, e de simpatia, isso não as faz correctas. A tendência é de nos apegarmos às nossas crenças, e até mesmo fortalece-las, diante da prova é muitas vezes um real e perigoso problema. Afinal, um lado ou outro terá que estar certo em relação à energia nuclear, e as pessoas de ambos os lados são confirmadas nas suas crenças por quase nada. Nem podíamos aboli-la por se livrar da crença religiosa.