GT - Cerejas e Chocolates

GT — CEREJAS E CHOCOLATES

>2003
>quinto ano
>meu nome é danilo, me chame de dan
>o nome dela é lisandra, não gosta que a chamem de lisa
>eu não consigo tirar nota máxima em nenhuma matéria além de educação física
>ela não consegue tirar menos de dez
>meu sonho é ser jogador de algum esporte
>o sonho dela é criar sonhos, escrever e publicar
>somos bem diferentes, mas tínhamos lá nossas atrações
>2004
>sexto ano
>me alegrei em vê-la na sala novamente
>tive medo de perde-la para outro colégio
>mas por quê tive medo? nem eu sei
>ela não gosta de mim, mas sorri das minhas piadas
>é a única garota que jamais me emprestou caneta
>e com razão, nunca devolvo
>2005
>sétimo ano
>meu sonho agora é ser bombeiro
>o dela continua sendo escrever e publicar
>odeio livros
>ela aprecia como se fosse uma droga viciante, que eu jamais iria experimentar
>um novo aluno chega
>usa óculos e all star
>ele também ama livros
>cartinhas de amor para lisandra ele começa a enviar
>2006
>oitavo ano
>boatos que ela e ele se beijaram
>arranjo alguem para aliviar a dor
>ela desmente a história e diz que não há nada entre os dois
>alívio e arrependimento marcam meus dias
>estava começando a ficar apaixonado de mais
>esquecendo daqueles que me cercavam de alegrias
>meu sonho agora é ser policial
>enquanto o sonho dela persiste até o final
>2007
>nono ano
>lisandra está ainda mais bela
>enquanto permaneço com a mesma aparência de sempre
>ela não fala mais comigo
>desistiu a tempos atrás
>eu abraço o silêncio e digo a mim mesmo que não a quero mais
>tento sair com outras garotas
>beijar outras bocas
>sabendo que só ela é meu ideal
>tentei conversar várias vezes com ela
>mas lisandra me ignora sem igual
>aumenta a minha dor
>reclamo e digo que é amor
>riem de mim
>eu sou apenas uma criança, eles dizem, como conseguia amar?
>2008
>primeiro ano do ensino médio
>ela chega na sala chorando
>reclamando de seus pais
>não querem que ela saia de casa
>mas ela quer sair e buscar inspirações para escrever
>eu quero apenas ao lado dela ficar
>irei arranjar uma bike para lisandra, ao lado dela os caminhos conhecer
>vou em quinze oficinas
>peças e sobras se compõem
>construo uma bicicleta com minhas próprias mãos
>é um método de conquista
>eu levo e entrego para ela
>ela aceita e ri com teus belos dentes
>pergunta aonde iremos dar a primeira volta
>deixo ela escolher
>2009
>segundo ano
>ela me convida para um passeio
>os pais dela não podem saber
>amo demais aquele jeitinho único dela de se aventurar
>com lisandra quero viver
>saímos de manhã
>segundo ela, é um belo lugar
>não nego
>era realmente de se impressionar
>lá nos conhecemos e nos apaixonamos
>ela pela primeira vez
>eu pela nonagésima vez naquele ano
>2010
>terceiro ano
>dei para ela um belo anel
>sei que não era muito, mas mesmo assim me orgulhei
>estávamos completando um ano de namoro às sombras
>sem ninguém para saber
>meu sonho era ser delegado
>o dela, ainda era escrever
>sua família eu conheci
>seu pai era divertido, sua mãe um pouco sádica
>seu irmão luan era um barbeiro no volante
>com a bebida na mão, sua sobriedade era inconstante
>ela conheceu minha família, amou cada pessoa
>ela tinha esse dom
>eu não
>2011
>aguardando alguma universidade
>ela passa em medicina, mas recusa
>quer escrever, não medicar
>eu não passo em nada, mas a esperança não irá me abandonar
>ela me fala coisas reconfortantes
>diz que um dia eu irei conseguir e que a tristeza irá passar
>alguns dizem que nossa relação é não vai continuar
>mas sabíamos que iria
>era amor
>era o sentimento que pessoas buscavam a vida toda, mas nunca conseguiam
>nós conseguimos
>2012
>ela diz que está grávida
>sou o pai
>um trabalho procuro arranjar
>ela não desiste da faculdade de letras
>seu sonho ainda é escrever e publicar
>tem desejos estranhos em momentos estranhos
>macarrão no café da manhã
>panquecas no almoço
>sorvete no jantar
>tento realiza-los, mesmo com salários baixos
>ela diz que um dia eu irei conseguir, que os tempos difíceis vão passar
>fico feliz
>2013
>sete meses de gestação
>comprei o berço e pago a aluguel nos dias certos
>subi de cargo no trabalho
>com ela ainda quero me casar
>organizo os preparativos para uma bela cerimônia
>após o nascimento, haverá um casamento
>vou para o trabalho
>esse é meu último dia antes das férias
>quero aproveitar o último mês de gestação ao lado de lisandra
>ela tem um desejo repentino
>cerejas com chocolate
>quando sair do trabalho, irei comprar
>ela sai de casa e caminha até a casa de sua mãe
>lá tem cerejas
>lá tem chocolate
>as duas passam a tarde a conversar
>o meu ponto está prestes a terminar
>para casa ela tenta voltar caminhando, mas infelizmente não consegue chegar
>seu irmão faz a curva do caminho, bêbado parecia estar
>com a alta velocidade ele a leva para outro lugar
>recebo a notícia
>lisandra não vai sobreviver
>apavoro em instantes
>choro e dor são constantes
>até a boa notícia receber
>meu filho havia nascido
>saudável e sem qualquer problema
>enquanto lisandra já havia partido
>cultuei a dor de perde-la, mas honrei a presença do meu filho em meus braços
>sabia que haveria tristeza e tempos difíceis
>mesmo assim vou continuar
>pois ela mesmo dizia
>um dia tudo vai passar

Rimas e táticas de escrita: Olavo Bilac.