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May 22nd, 2018
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  1. - Ei menino! Ei! Você aí mesmo, Jasão, venha cá, faça favor!
  2.  
  3. Foi assim que eu conheci o velho Bano. Na época eu tinha apenas treze anos de idade e na verdade parecia que eu tinha dez, se alguém extrapolasse bem, me daria onze.
  4. Seu nome verdadeiro até hoje eu nunca descobri qual seja, mas com esse simples chamado, minha vida mudou totalmente. Para melhor? Não sei dizer ao certo.Hoje jánão costumo olhar a vida como algo que tenha ramificações a cada escolha que a gente faz, e sim como um contínuo rio sem margens chamado Destino no qual nos estamos embarcados sem chance alguma de atracar.
  5.  
  6. - O que você vai fazer quando sua mãe morrer? – Disse o velho tranquilamente quando eu me aproximei dele, como que se essa fosse acoisa mais simples do mundo.
  7.  
  8. - Como que é? – eu fiquei branco sem saber nem o que responder para aquele velho de pele escura e enrugada, que me fazia uma pergunta desse calibre mantendo um sorriso que eu não sabia se era de desdém ou de pura demência da idade.
  9.  
  10. - Ei Jasão, não fique com essa cara. Não vai dizer que você não está pensando nisso. Sua mãe vai morrer hoje à noite. Quer você queira, quer não. Eu sei disso.
  11.  
  12. Minha mãe estava muito doente, eu sabia que a cada dia ela estava mais fraca, mas eu não iria ficar em pleno meio-dia parado na rua conversando com um maldito velho maltrapilho que ficava agourando a minha mãe. Tentei falar algo para aquele velho, mas minha garganta seca me traiu e não consegui nada, apenas enchi meus olhos de lágrimas.
  13. Quando dei as costas para o velho, ele supreendentemente ágil, segurou meu braço e colocou um pedaço de papel em minha mão.
  14.  
  15. - Jasão, você não ficará sozinho. Aqui está meu endereço, após a morte da sua mãe, você deve me procurar. Eu não o verei mais se você não vier até mim. O que estou fazendo contigo é uma oferta única, pense bem no que irá fazer.
  16.  
  17. - Tire suas mãos de mim seu velho maluco! – Aos berros me desvencilhei daquele homem, amassei o papel que ele me deu, joguei aos pés dele e saí correndo em direção a minha casa o mais rápido que pude. Tudo naquele momento parecia ser tão surreal, o mundo parecia estar se derretendo diante de mim, a cor do sol desbotada, o olhar das pessoas que parecia me incriminar de algo que nem fiz, o riso do velho ecoando em meus ouvidos, tudo estava fora de compasso, o tempo ao meu redor lento demais.
  18. Chegando em casa, entrei no quarto da minha mãe, e me ajoelhando ao lado da sua cama, segurei sua mão gelada, tremendo e chorando. Mãe, por favor, não me abandone, a senhora não pode me deixar sozinho neste mundo.
  19.  
  20. Como uma maldita profecia, minha mãe morreu naquela noite. Minha mãe que era tão boa para mim, foi acometida por uma doença que os médicos não conseguiram diagnosticar, apenas diziam que era algo raro e de difícil tratamento. Quando se cansou de ser um rato de laboratório, nos mudamos para essa pequena cidade, onde ela dizia que seria um ótimo lugar para terminar os seus dias na Terra.
  21.  
  22. Eu sempre perguntava a ela o que eu faria sozinho neste mundo, o que poderia eu fazer? Minha mãe era a minha âncora neste mundo, já que nunca conhecimeu pai, e por mais que eu perguntasse, ela nunca revelava nada, a não ser que ele tinha a abandonado, antes mesmo que eu tivesse nascido.
  23.  
  24. Minha mãe teve um funeral mais simples possível, na verdade, apenas existente graças à bondade de alguns poucos vizinhos. Se dependesse de mim, nem sei o que faria, talvez eu tivesse que enterrá-la no nosso quintal, com minhas próprias mãos.
  25.  
  26. A noite chegou, e com ela a amargura da perda de minha mãe se solidificava cada vez mais em meu coração. Não conseguia dormir de forma alguma, cada vez que tentava, o rosto daquele velho aparecia para mim, debochando, rindo, escarnecendo com minha tristeza.
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