Habboksville, 5 de Outubro de 1943

		Caro amigo Richard,


		Há semanas que não consigo dormir descansada, este sentimento de culpa está a consumir-me a alma e nunca senti a minha consciência tão pesada. Eu preciso de contar a alguém tudo o que aconteceu naquela noite ou o nó que tenho na minha garganta só vai apertar cada vez mais.
		Na noite de 13 de Setembro ocorreu aquele baile na mansão da Gretchen, lembra-se? Eu sempre lhe contei tudo e apenas nós os dois tínhamos conhecimento do caso entre o meu marido e ela, mesmo sem eles fazerem ideia de que eu estava a par de tudo. A cada dia que passava eu só me sentia mais idiota, e eu sei que me disseste que eu devia terminar logo com este casamento mas houve muitos motivos para eu não o conseguir fazer. Eu tentei muito que o caso deles acabasse logo, mostrei todos os sinais possíveis para ele e até pensei em engravidar para tentar que ele abrisse os olhos e ficasse apenas comigo. Mas naquele baile eu não pude deixar de reparar no jeito que eles se olhavam, começou a surgir muita raiva dentro de mim, sabes?
		Essa noite foi um pesadelo para mim porque foi quando eu caí na ficha e percebi que a minha relação com o Edward já tinha chegado ao fim, porém o que eu sentia por ele era maior que tudo neste mundo e tu sabes muito bem disso, oh se sabes. Todas aquelas horas naquela mansão foram uma tortura para mim e eu não sei o que me aconteceu mas cometi uma loucura. Eu sei o que estás a pensar neste exato momento e sim, fui eu. Eu aproximei-me dela e falámos como se nada estivesse a acontecer, ela nunca deixou de ser cínica e isso ainda só me deixou com mais raiva dela. Eu esperei que ela descesse para o porão porque sugeri que ela trouxesse outro vinho, a primeira garrafa que eu peguei à mão eu tive o instinto de atirar contra ela mas eu não esperei que fosse fatal. Eu tinha ódio dela mas não a queria matar. Só que eu tinha que fazer algo! Eu tenho a certeza que tu me compreendes.
		Nesse momento eu entrei em pânico porque vi que ela não reagia, eu só quis trancar tudo e fugir dali o mais rápido possível sem falar com mais ninguém. Eu não tive mais reação, eu queria contar-te tudo mas eu estava com medo, aliás eu estou com medo. Apesar de só terem encontrado o corpo dela dias depois eu não conseguia estar sossegada comigo mesma. Já fiz as malas e vou embora daqui, sozinha. O Edward nunca valeu tudo o que eu fiz por ele e eu já não me conheço mais.
		Eu espero que me desculpes um dia, quero agradecer por todos estes anos de amizade e cumplicidade. Sempre foste fundamental para mim e um apoio inexplicável. Perdoa-me por ir sem me despedir pessoalmente e por as últimas palavras trocadas serem uma confissão terrível como esta.


		Um abraço enorme,

																															Amelia C.