"Cronologia de um dia no Festival BOOM:

09h00: Acordei cedo ao som de jambés e cantos típicos das tribos de pigmeus da Oceânia. Abri a tenda e contemplei a beleza da natureza, respirei o ar puro e acendi um cigarro.

10h00: Fui tomar um pequeno almoço: uma sandes de pão de forma com mortadela de soja, um sumo de laranja natural e uma omelete de cogumelos mágicos sem ovos.

11h00: Fiquei um pouco à conversa com uma árvore de folha caduca. Chamava-se Sónia.

11h30: Ia tomar banho, mas lembrei-me que ainda a semana passada tinha tomado.

12h00: Fui meditar. Ao meu lado estava um budista, um ateu, um católico, um muçulmano e um nazi. É bonito ver que deixamos as diferenças de lado quando estamos a rodar um charro.

13h00: Fui almoçar. Com a larica do charro só me apetecia comer donuts com doritos, mas optei por um space cake.

14h00: Fui assistir a uma conferência sobre activismo espiritual em que falaram sobre neo-xamanismo, geometria sagrada, ferramentas de bruxaria, cerimónias de medicina vegetal, vipassana e muito mais. Acabámos a fazer uma orgia.

15h30: Torci um pé o durante a orgia e tive de ir ao posto médico onde a enfermeira Yara me fez um raio-x com a mente e me fez um curativo com meia hora de Reiki. Ainda me custa andar e me dói o rabo.

16h00: A Sónia, a árvore com quem estive a falar de manhã não pára de me lançar olhares sedutores. Acho que está interessada, mas já lhe disse que é um amor impossível, já que ela é peixes e eu sou caranguejo. Nunca iria funcionar.

16h30: Tomei uns ácidos e anfetaminas e fiquei à conversa com um grupo de pessoas. Falámos sobre medicinas naturais e sobre a importância de não meter químicos no corpo.

18h00: Acabou-se o tabaco e tive de fumar chá de tília enrolado em facturas do supermercado. As propriedades medicinais do chá são incríveis.

19h00: Ouvi um gajo a falar sozinho e ouvi a frase “O capitalismo é a pena capital para o povo”. Achei genial e apontei no meu iPhone para não me esquecer.

20h00: Fui jantar. Bitoque sem bife nem ovo, com molho de 3 pimentas e LSD.

21h00: Tive uma epifania! Se a carne se estraga se ficar dentro de um carro ao sol e calor, como é que pode ir para dentro de um forno? Pensem nisso.

22h00: Fui dançar ao som de ritmos techno-afro-house-vegan e libertei-me do meu ego. Tive uma experiência extracorpórea em que vi a minha consciência projectada e percebi que somos todos um só.

00h00: Quando estava a voltar para a tenda encontrei a Sónia. Impávida e serena, com os seus ramos a esvoaçar e a olhar para mim. Fizemos amor ali. Apareceu um grupo de pessoas que também alinhou. A eles juntaram-se um esquilo, uma toupeira e o que aparentava ser um grilo gigante. Foi boom.