Texto de Erick Bretas

Então temos o seguinte: Nathália Queiroz, filha do motorista Fabrício Queiroz, foi lotada,
em diferentes momentos, tanto no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj quanto no de Jair Bolsonaro em Brasília. Em vez de dar expediente como assessora parlamentar, Nathalia trabalhava como personal trainer e recepcionista de uma unidade da rede Bodytech no Rio de Janeiro.

Nathália Queiroz fez depósitos que somam R$ 84 mil na conta de Fabricio Queiroz. Este, por sua vez, repassou R$ 40 mil para a conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente eleito disse que se trata do ressarcimento de um empréstimo.

Acontece que um empréstimo é uma operação de duas vias: um dia o dinheiro deveria ter saído da conta de Bolsonaro para a de Fabrício. Até agora não apareceu o comprovante dessa primeira parte — e não vai aparecer nunca porque até os tijolos da Alerj sabem que a família Bolsonaro montou um esquema de contratação de assessores-fantasmas pra embolsar um dinheirinho do contribuinte.

É a corrupção em seu nível mais elementar, cometida por políticos que não roubam mais porque não têm acesso a esquemas mais vantajosos, não têm uma Odebrecht pra chamar de sua.

Os Bolsonaristas criticaram minhas primeiras postagens dizendo que eu me apressava ao acusar o presidente eleito e sua família. Torciam para que eu estivesse errado e aparecesse o recibo do empréstimo e uma explicação alternativa para as movimentações financeiras entre os Queiroz e os Bolsonaros. A explicação não veio. Em vez dela, vieram novas revelações que demonstram cabalmente a existência do esquema dos fantasmas.

Quando apareceu uma fotografia do Lula com o Léo Pinheiro no triplex do Guarujá, a resposta foi essa: o presidente da OAS estava fazendo um bico de corretor, queria empurrar o apartamento. Queria tanto que já foi fazendo uma reforma de R$ 1,2 milhão, instalou até elevador privativo e cozinha gourmet.

É como dizer que Nathália Queiroz tivesse o poder da onipresença, dava expediente em Brasília e trabalhava como personal trainer no Rio. Com o dinheiro das sessões de personal, fazia depósitos na conta do pai para ajudá-lo a quitar o empréstimo com o chefe (dela).

Tem que ser muito trouxa para engolir qualquer das histórias acima.

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É muito improvável que Jair Bolsonaro caia por causa do mensalinho do Bolsokid. O crime é anterior ao mandato e o presidente não pode ser processado em circunstâncias assim. Mas a blindagem do novo governo racha antes mesmo da posse.

Para as ratazanas da velha política, é uma festa. Acabou o discurso da moralidade com o que o presidente eleito pretendia emparedar os parlamentares fisiológicos. À primeira tentativa, basta tirar do bolso a carta Queiroz. Em votações de matérias controversas, como a reforma da Previdência, é trágico.

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Bolsonaro, assim que eleito, citou o versículo 32 do capítulo 8 do evangelho de João: E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

“A verdade vai libertar esse país”, disse o presidente eleito.

Se eu fosse místico, diria que ninguém deveria fazer uma invocação desse tipo se não tivesse muita certeza sobre o próprio passado.