Kustapassaessa

Citações Stálin 2

Jan 2nd, 2021 (edited)
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  1. Stalin - De Uma Carta ao Camarada Kaganovitch e a outros Membros do Comitê Central do Partido Comunista (bolchevique) da Ucrânia
  2. Em segundo lugar, acentuando com acerto o caráter positivo do novo movimento que se efetua na Ucrânia em prol da cultura e da vida social ucranianas, Shumski não percebe, entretanto, os lados negativos desse movimento. Shumski não vê que, em razão da debilidade dos quadros comunistas do país, esse movimento na Ucrânia, frequentemente dirigido por intelectuais não comunistas, pode adquirir às vezes o caráter de luta por isolar a cultura e a vida social ucranianas do conjunto da cultura e da vida social soviéticas, o caráter de luta contra “Moscou" em geral, contra os russos em geral, contra a cultura russa e sua suprema manifestação: o leninismo. Não vou deter-me em demonstrar que esse perigo se torna cada vez mais real na Ucrânia. Apenas quero dizer que mesmo certos comunistas ucranianos não estão livres desse defeito. Refiro-me a um fato de todos conhecido, como é o artigo do conhecido comunista Khvylevoy, publicado na imprensa ucraniana. Sua exigência da “desrussificar imediatamente o proletariado” na Ucrânia; sua opinião de que “a poesia ucraniana deve fugir o mais depressa possível da literatura russa e de seu estilo”; sua declaração de que “as ideias do proletariado nos são suficientemente conhecidas sem a arte de Moscou”; seu entusiasmo por não se sabe que papel messiânico da “jovem” intelectualidade ucraniana; sua intenção ridícula e não marxista de separar a cultura da política, todos esses fatos e outros semelhantes, soam agora (e não podem deixar de soar) de modo mais que estranho na boca de um comunista ucraniano. Enquanto os proletários da Europa ocidental e seus Partidos Comunistas estão cheios de simpatia para com "Moscou”, para com essa cidade do leninismo e do movimento revolucionário internacional, enquanto os proletários da Europa ocidental olham com entusiasmo a bandeira que ondula em “Moscou”, o comunista ucraniano Khvylevoy não tem nada a dizer em favor de “Moscou”, a não ser convidar os militantes ucranianos a fugir de “Moscou”, “o mais rapidamente possível”. E a isso se chama internacionalismo! Que dizer então de outros intelectuais ucranianos do campo não comunista, se os comunistas começam a falar, e não apenas a falar, mas também a escrever na nossa imprensa soviética com a linguagem de Khvylevoy? Shumski não compreende que só é possível haver-se com o novo movimento que se desenvolve na Ucrânia em prol de uma cultura ucraniana, lutando contra os excessos de Khvylevoy, nas fileiras comunistas.
  3.  
  4. Shumski não compreende que somente lutando contra esse excessos é possível converter a cultura e a vida social ucranianas, que começam a elevar-se, numa cultura e numa vida social soviéticas.
  5.  
  6.  
  7.  
  8. Stalin - Sobre as Perspectivas da Revolução na China
  9. 1926
  10. Quais são essas particularidades?
  11.  
  12. A primeira particularidade consiste em que a revolução chinesa, sendo uma revolução democrática burguesa, é ao mesmo tempo uma revolução nacional libertadora, que dirige sua arma contra a dominação do imperialismo estrangeiro na China. Nisto, ela se diferencia, antes de tudo da revolução na Rússia, em 1905. A questão consiste em que a dominação do imperialismo na China não se manifesta apenas em sua potência militar, mas também e sobretudo em que os ramos fundamentais da indústria na China, as estradas de ferro, as fábricas e usinas, as minas, os bancos, etc., se encontram à disposição ou sob o controle dos imperialistas estrangeiros. Mas disto resulta que a luta contra o imperialismo estrangeiro e seus agentes chineses, não pode deixar de representar um papel sério na revolução chinesa. Por isto mesmo, a revolução chinesa se une diretamente às revoluções dos proletários de todos os países contra o imperialismo.
  13.  
  14. A segunda particularidade da revolução chinesa consiste em que a grande burguesia nacional é muito fraca na China, é incomparavelmente mais fraca que a burguesia russa do período de 1905. Também isto é compreensível. Visto que os ramos fundamentais da indústria estão concentrados nas mãos dos imperialistas estrangeiros, a grande burguesia nacional na China não podo deixar de ser débil e atrasada. Neste sentido, a observação de Mif sobre a debilidade da burguesia nacional na China, como um dos fatos característicos da revolução chinesa, é completamente justa. Mas disto resulta que o papel de iniciador e dirigente da revolução chinesa, o papel de chefe do campesinato chinês, deve caber infalivelmente ao proletariado chinês e ao seu Partido.
  15.  
  16. Também não se deve esquecer a terceira particularidade da revolução chinesa, de que, ao lado da China, existe e se desenvolve a União Soviética, cuja experiência revolucionária e auxílio não podem deixar de facilitar a luta do proletariado chinês contra o imperialismo e contra as sobrevivências feudais medievais na China.
  17. ______________________
  18. A intervenção não consiste apenas, de modo algum, na entrada de tropas, e esta não constitui de modo algum a particularidade fundamental da intervenção. Nas condições atuais do movimento revolucionário nos países capitalistas, em que a entrada direta de tropas estrangeiras pode suscitar uma série de protestos e conflitos, a intervenção tem um caráter mais flexível e formas mais mascaradas. Nas condições atuais, o imperialismo prefere intervir por meio da organização da guerra civil no seio do país dependente, por meio do financiamento das forcas contrarrevolucionárias, por meio do apoio moral e financeiro a seus agentes chineses contra a revolução. Os imperialistas quiseram apresentar a luta de Denikin e Koltchák, de ludénitch e Vrangel contra a revolução na Rússia, como uma luta exclusivamente interna. Mas todos nós sabíamos, e não somente nós como também o mundo inteiro, que, por trás desses generais contrarrevolucionários russos, se encontravam os imperialistas da Inglaterra e dos Estados Unidos, da França e do Japão, sem o apoio dos quais teria sido completamente impossível uma séria guerra civil na Rússia. É necessário dizer a mesma coisa sobre a China. A luta de U Pei-Fu e Sun Tchuan-Fan, Tchjan Tzo-Lin e Tchjan Tzun-Tchan contra a revolução na China, seria simplesmente impossível se os imperialistas de todos os países não inspirassem esses generais contrarrevolucionários, se não os financiassem, se não lhes fornecessem armamentos, instrutores, “conselheiros”, etc.
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  20. Em que consiste a força das tropas de Cantão? No fato de que elas têm ideias e o entusiasmo que as inspiram na luta para se libertar do imperialismo, no fato de que elas trazem a libertação da China. Em que consiste a força dos generais contrarrevolucionários na China? No fato de que, por trás deles, se encontram os imperialistas de todos os países, os proprietários de todas e quaisquer estradas de ferro, concessões, fábricas e usinas, bancos e escritórios comerciais na China.
  21.  
  22. Por isto, a questão não consiste apenas, ou mesmo não consiste tanto, na entrada de tropas estrangeiras, quanto no apoio que os imperialistas de todos os países prestam à contrarrevolução na China. A intervenção com mãos alheias — eis, agora, a raiz da intervenção imperialista.
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  24. É necessário saber diferenciar a essência da política dos imperialistas, inclusive dos japoneses e norte-americanos, de seu mascaramento. Lênin disse muitas vezes que é difícil vencer os revolucionários com pancadas, com o punho cerrado, mas, às vezes, eles são vencidos facilmente com carinho. Nunca se deve esquecer, camaradas, esta verdade dita por Lênin. Em qualquer caso, é claro que os imperialistas japoneses e norte-americanos compreenderam suficientemente a importância dessa verdade. Por isto, é necessário diferenciar rigorosamente entre o carinho e o elogio aos elementos de Cantão, e o fato de que os imperialistas mais generosos em carinhos, são os que se agarram mais tenazmente às “suas” concessões e estradas de ferro na China, e não estão dispostos de modo algum a renunciar às mesmas.
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  26. Anteriormente, nos séculos XVIII e XIX, as revoluções começavam geralmente com a insurreição do povo, na maior parte desarmado ou mal armado, que se chocava com o exercito do velho regime e que ele tratava de desagregar ou, pelo menos, atrair parcialmente para o seu lado. Era a forma típica de explosões revolucionárias no passado. O mesmo ocorreu em nosso país, na Rússia, em 1905. Na China, as coisas passaram-se de outro modo. Na China, não é o povo desarmado que se levanta contra as tropas do velho governo, e sim o povo armado, representado pelo seu exército revolucionário. Na China, a revolução armada luta contra a contrarrevolução armada. Esta é uma das particularidades e uma das vantagens da revolução chinesa. Nisto consiste a importância especial do exército revolucionário na China.
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  28. Em segundo lugar, os revolucionários chineses, inclusive os comunistas, devem tomar a peito o estudo da arte militar. Não devem encarar a arte militar como uma questão de segunda categoria, pois ela, na China, é atualmente, o fator mais importante da revolução chinesa. Os revolucionários chineses e, por conseguinte, também os comunistas, devem estudar a arte militar a fim de avançar gradualmente e ocupar no exército revolucionário os postos dirigentes. Esta é a garantia de que o exército revolucionário na China seguirá pelo caminho justo, diretamente para o objetivo. Sem isto, as hesitações e vacilações no exército podem tornar-se inevitáveis.
  29. ______________________
  30. Daí decorre a tarefa dos comunistas da China na questão da atitude para com o Kuomintang e para com o futuro poder revolucionário na China. Dizem que os comunistas chineses devem sair do Kuomintang. Isto é errôneo, camaradas. Seria o erro mais profundo os comunistas chineses saírem do Kuomintang, atualmente. Toda a marcha da revolução chinesa, seu caráter, suas perspectivas, mostra sem dúvida que os comunistas chineses devem permanecer no Kuomintang e, aí, reforçar seu trabalho.
  31.  
  32. Mas poderá o Partido Comunista da China tomar parte no futuro poder revolucionário? Não somente poderá como também deverá tomar parte. A marcha da revolução na China, seu caráter, suas perspectivas, mostra eloquentemente que o Partido Comunista da China deverá participar do futuro poder revolucionário da China.
  33.  
  34. Esta é uma das garantias necessárias de que a hegemonia do proletariado chinês será realizada de fato.
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  36. Ainda mais, é necessário ter em vista a perspectiva da nacionalização das mais importantes fábricas e usinas. Neste sentido, levanta-se, antes de tudo, a questão da nacionalização das empresas cujos proprietários se distinguem por uma hostilidade e uma agressividade especiais para como o povo chinês. É necessário, depois, impelir para a frente a questão camponesa, ligando-a à perspectiva da revolução na China. Penso que é necessário conduzir as coisas de modo a, no final de contas, confiscar as propriedades rurais em proveito dos camponeses, e nacionalizar a terra.
  37.  
  38.  
  39.  
  40. Stalin - Uma Vez Mais Sobre o Desvio Social-Democrata em Nosso Partido
  41. Se considerarmos a história de nosso Partido desde o momento de sua origem na forma de grupos bolcheviques em 1902 e acompanharmos as suas etapas posteriores até os dias de hoje, pode-se então afirmar sem exagero que a história de nosso Partido é a história da luta das contradições dentro do próprio Partido, a história da superação destas contradições e o fortalecimento gradual de nosso Partido na base da superação destas contradições. Pode-se pensar que os russos sejam demasiadamente briguentos, gostem de discutir, criem divergências e por isso o desenvolvimento do Partido se processa entre nós através da superação das contradições internas do Partido. Isto não é verdade, camaradas. O problema aqui não é o de se ser belicoso. O problema aqui está na existência das divergências de princípios que surgem na marcha do desenvolvimento do Partido, no curso da luta de classes do proletariado. O problema aqui está em que só se pode superar as contradições por meio da luta por estes ou aqueles princípios, por estes ou aqueles objetivos da luta, por estes ou aqueles métodos de luta que nos conduzam ao objetivo que temos em vista. É possível e é necessário estabelecer quaisquer acordos com os heterodoxos dentro do Partido quanto às questões da política corrente, quanto às questões de caráter puramente prático.
  42.  
  43. Mas se estas questões se acham ligadas à divergências de princípios, então nenhum acordo e nenhuma linha "intermediária" pode salvar a situação. Não há e não pode haver uma linha "intermediária" nas questões que tenham caráter de princípios. Estes ou aqueles princípios devem ser colocados na base do trabalho do Partido. Uma linha "intermediária" nas questões de princípios é uma "linha" de confusão nas cabeças, uma "linha" de dissimulação das divergências, uma "linha" de degeneração ideológica do Partido, uma "linha" de morte ideológica do Partido.
  44.  
  45. Como vivem e se desenvolvem atualmente os Partidos social-democratas no Ocidente? Há entre eles contradições dentro do Partido, divergências de princípios? Há, sem dúvida. Revelam eles estas divergências e se esforçam no sentido de superá-las honrada e francamente perante as massas do Partido? Não. Não, sem dúvida! A prática da social-democracia consiste em ocultar e esconder estas contradições e divergências. A prática da social-democracia consiste em transformar as suas conferências e congressos numa vazia mascarada de exibição de bem-estar que oculta e dissimula cuidadosamente as divergências internas. Mas disto não se pode obter nada mais do que a confusão nas cabeças e o empobrecimento ideológico do Partido. Nisto se encontra uma das causas da decadência da social-democracia da Europa Ocidental que outrora foi revolucionária mas que atualmente é reformista.
  46.  
  47. Mas assim não podemos viver e progredir, camaradas. Uma política em que haja uma linha "intermediária" de princípios não é a nossa política, A política em que há uma linha "intermediária" de princípios é a política dos Partidos que se acham num processo de definhamento e de degeneração. Uma tal política não pode deixar de conduzir à transformação do Partido num aparelho burocrático vazio que marcha à reboque dos acontecimentos e isolado das massas operárias. Este caminho não é o nosso caminho.
  48. ______________________
  49. Consideremos o primeiro período, o período da "Iskra" ou o período do IIº Congresso de nosso Partido quando pela primeira vez surgiram divergências dentro de nosso Partido entre os bolcheviques e os mencheviques e quando os dirigentes de nosso Partido se dividiram, no final de contas, em duas partes: na parte bolchevique (Lênin) e na parte menchevique (Plekhanov, Axelrod, Mártov, Zassulitch e Potressov). Lênin se achava então em minoria. Se soubésseis quantos gritos e exclamações houve então a respeito dos "insubstituíveis" que haviam se afastado de Lênin! A prática da luta e a história do Partido demonstraram, porém, que estas divergências se apoiavam numa base de princípios e que estas divergências constituíam uma etapa necessária para a formação e o desenvolvimento de um Partido realmente revolucionário e realmente marxista. A pratica da luta demonstrou então que, em primeiro lugar a questão não é de quantidade, mas de qualidade e, em segundo lugar, a questão não é de unidade formal, mas de que a unidade tenha uma base de princípios. A história demonstrou que Lênin tinha razão e que os "insubstituíveis" estavam errados. A história demonstrou que sem a superação destas contradições entre Lênin e os "insubstituíveis" não teríamos um autêntico Partido revolucionário.
  50. ______________________
  51. 2. Origens das Contradições Dentro do Partido
  52. MAS de onde partem estas contradições e divergências, onde se encontram a sua origem?
  53.  
  54. Penso que as origens das contradições internas dos Partidos proletários residem em duas circunstâncias.
  55.  
  56. Que circunstâncias são estas?
  57.  
  58. Trata-se, em primeiro lugar, da pressão da burguesia e da ideologia burguesa sobre o proletariado e seu Partido nas condições da luta de classes — pressão a que frequentemente cedem as camadas menos firmes do proletariado, o que quer dizer também as camadas menos firmes do Partido proletário. Não se pode considerar que o proletariado esteja completamente isolado da sociedade e que se mantenha fora da sociedade. O proletariado é uma parte da sociedade e se acha ligado às suas diferentes camadas por numerosos fios. Mas o Partido é uma parte do proletariado. É por isso que o Partido não pode estar livre das ligações e influências das diferentes camadas da sociedade burguesa. A pressão da burguesia e de sua ideologia sobre o proletariado e seu Partido se manifesta no fato de que as idéias, os costumes, os hábitos e o estado de espíritoburgueses penetram frequentemente no proletariado e seu Partido através de determinadas camadas do proletariado que se encontram desta ou daquela forma ligadas à sociedade burguesa.
  59. ______________________
  60. A segunda camada é constituída pelos elementos recém-saídos das classes não proletárias, do campesinato, das fileiras da pequena burguesia e da intelectualidade. Trata-se de elementos provenientes de outras classes que apenas recentemente se integraram na composição do proletariado e que introduzem na classe operária os seus hábitos, os seus costumes, as suas vacilações e as suas indecisões. Esta camada constitui o campo mais favorável para todo gênero de agrupamentos anarquistas, semi-anarquistas e "ultra-esquerdistas".
  61.  
  62. E finalmente temos a terceira camada — é a aristocracia operária, a cúpula da classe operária, a parte do proletariado mais acomodada, com a sua tendência a estabelecer compromissos com a burguesia, com o seu estado de espírito predominante no sentido da adaptação aos poderosos do mundo, com a sua tendência a "vencer na vida". Esta camada constitui o campo mais favorável para os reformistas e oportunistas rematados.
  63.  
  64. Apesar da diferença exterior, estas duas últimas camadas da classe operária representam mais ou menos o melo comum que alimenta o oportunismo em geral, o oportunismo descarado, quando predominam os estados de espíritoda aristocracia operária, e o oportunismo que se cobre com uma fraseologia "de esquerda", quando predominam os estados de espírito das camadas semi-burguesas da classe operária que ainda não romperam inteiramente com o meio pequeno-burguês, o fato de que os estados de espírito "ultra-esquerdistas" coincidem frequentemente com o estado de espíritode um oportunismo descarado — é um fato que nada apresenta de extraordinário. Lênin, afirmou por mais de uma vez que a oposição "ultra-esquerdista" é o reverso da oposição de direita, menchevique e francamente oportunista. E nisto ele tem toda razão. Se um elemento "ultra-esquerdista" é pela revolução somente pelo fato de que espera para amanhã mesmo a vitória da revolução, então se torna claro que ele deve cair em desespero e se desiludir da revolução se se verificar um atraso da revolução, se a revolução não vencer amanhã mesmo.
  65. ______________________
  66. Pode-se evitar estas contradições e divergências? Não, não se pode. Pensar que se possa evitar essas contradições significa enganar-se a si mesmo. Engels tinha razão quando afirmou que não se pode dissimular as contradições dentro do Partido por longo tempo e que estas contradições são resolvidas pela luta.
  67.  
  68. Isto não quer dizer que o Partido deva ser transformado em clube de discussão. O Partido proletário, ao contrário, é e deve continuar a ser uma organização de luta do proletariado. Eu quero apenas dizer que não se pode passar por alto e fechar os olhos em face das divergências dentro do Partido se estas divergências assumem um caráter de princípios. Quero apenas dizer que é somente por meio da luta pela linha marxista de princípios, que se poderá preservar o Partido proletário da pressão e influência da burguesia. Quero apenas dizer que é somente por meio da superação das contradições internas do Partido que se poderá conseguir a pureza e o fortalecimento do Partido.
  69. ______________________
  70. Desejaria, em primeiro lugar, assinalar algumas particularidades da nossa oposição interna no Partido. Tenho em vista as suas particularidades exteriores, que saltam aos olhos e por enquanto não me refiro à essência destas divergências. Penso que se poderia reduzir estas particularidades a três particularidades principais. Trata-se, em primeiro lugar do fato de que a oposição no PC (b) da URSS é uma oposição unificada e não uma "simples" oposição qualquer. Trata-se em segundo lugar, do fato do que a oposição tenta mascarar o seu oportunismo com uma fraseologia "de esquerda", ostentando palavras de ordem "revolucionárias". Trata-se, em terceiro lugar, do fato de que a oposição, em vista da sua imprecisão de princípios, queixa-se de vez em quando de que não é compreendida e que os seus líderes representam na realidade uma fração de "incompreendidos". (Risos).
  71.  
  72. Comecemos pela primeira particularidade. Como se explica o fato de que a oposição se apresente entre nós como uma oposição como bloco de todas e quaisquer tendências condenadas anteriormente pelo Partido e em que ela se apresenta não como uma simples oposição, mas tendo à frente o trotskismo?
  73.  
  74. Este fato é explicável pela seguinte circunstância.
  75.  
  76. Em primeiro lugar, pelo fato de que todas as tendências que se unem em bloco — os trotskistas, a "nova oposição", os restos do "centralismo democrático"(7) e os restos da "oposição operária(8) — todas elas são tendências mais ou menos oportunistas que ou lutam contra o leninismo desde que surgiram ou iniciaram ultimamente a luta contra o mesmo. Não é preciso dizer que este traço comum devia facilitar a sua unificação em bloco para a luta contra o Partido.
  77. ______________________
  78. Pois bem, e como se explica o fato de que sejam precisamente os trotskistas que se, apresentam à frente do bloco oposicionista?
  79.  
  80. Em primeiro lugar, pelo fato de que o trotskismo constitui a tendência mais completa do oportunismo em nosso Partido entre todas as tendências oposicionistas existentes (O V Congresso da Internacional Comunista estava certo ao qualificar o trotskismo como um desvio pequeno-burguês).
  81.  
  82. Em segundo lugar, pelo fato de que nenhuma tendência oposicionista em nosso Partido sabe mascarar, com tanta habilidade e artifício, o seu oportunismo com uma fraseologia "de esquerda" e revolucionária, como o trotskismo (Risos).
  83.  
  84. Não é a primeira vez, na história de nosso Partido, que o trotskismo se apresenta à frente das tendências oposicionistas contra o nosso Partido. Desejaria me referir a um precedente conhecido que teve lugar, na história de nosso Partido, de 1910 a 1914, quando se formou um bloco, chefiado por Trotski, de tendências oposicionista» e anti-partidárias, o chamado bloco de Agosto. Eu desejaria me referir a este precedente porque ele representa uma espécie de protótipo do atual bloco oposicionista. Nessa ocasião Trotski unificou, contra o Partido, os liquidacionistas (Potressov, Mártov e outros), os otzovistas (os "vperiodistas") e o seu próprio grupo. E atualmente ele tenta unificar num bloco oposicionista a "oposição operária", a "nova oposição" e o seu próprio grupo.
  85.  
  86. Sabe-se que Lênin lutou então contra o bloco de Agosto durante três anos. Eis o que escreveu Lênin então a respeito do bloco de Agosto, às vésperas de sua formação:
  87.  
  88. "Por isso declaramos, em nome do Partido em seu conjunto, que Trotski segue uma política anti-partidária; — que ele infringe os estatutos do Partido e se lança pelo caminho da aventura e da cisão... Trotski cala a respeito desta verdade incontestável porque, em virtude dos objetivos reais de sua política, a verdade lhe é insuportável. E os seus objetivos reais tornam-se cada vez mais claros e tornam-se evidentes até mesmo para os membros do Partido menos clarividentes. Estes objetivos reais são a constituição de um bloco anti-partidário dos Protessov com os vperiodistas, bloco que Trotski apóia e organiza... Este bloco, sem dúvida, apóia o "fundo" de Trotski e da conferência, anti-partidária por ele convocada porque tanto os senhores Potressov como os vperiodistas conseguem aqui o que lhes é necessário; a liberdade para suas frações, a sua consagração, uma máscara para a sua atividade e a sua defesa legal perante os operários.
  89.  
  90. E eis que justamente do ponto de vista das "bases de principio" não podemos deixar de considerar este bloco como aventurismo no sentido mais preciso da palavra. Trotski não ousa disser que ele vê nos Potressov e nos otzovistas autênticos marxistas e verdadeiros defensores dos princípios do social-democratismo. Nisto está a essência da posição de aventureiro que ele se esforça permanentemente por mascarar. O bloco de Trotski com Potressov e os vperiodistas é uma aventura precisamente do ponto de vista das "bases de princípio". Isto não é menos verdadeiro do ponto de vista das tarefas político-partidárias... A experiência do ano decorrido após o pleno demonstrou de fato que são precisamente os grupos de Potressov e que é justamente a fração dos vperiodistas que encarnam esta influência burguesa sobre o proletariado... E finalmente, em terceiro lugar, a política de Trotski é uma aventura do ponto de vista da organização, porque, como já o indicamos, ela infringe os estatutos do Partido e, ao organizar uma conferência em nome de um grupo do estrangeiro (ou em nome de um bloco constituído de duas frações anti-partidárias, os golossoviets e os vperiodistas) envereda diretamente pelo caminho da cisão".(10)
  91.  
  92. Assim se manifestou Lênin a propósito do primeiro bloco das tendências anti-partidárias chefiadas por Trotski.
  93. ______________________
  94. Consideremos, finalmente, o trotskismo que já há alguns anos critica o nosso Partido do ponto de vista "da esquerda" e que constitui, ao mesmo tempo, segundo a correta classificação do V Congresso da Internacional Comunista, um desvio pequeno-burguês. O que pode haver de comum entre um desvio pequeno-burguês e a verdadeira revolução? Não é verdade que uma fraseologia "revolucionária" constitui aqui apenas a cobertura de um desvio pequeno-burguês?
  95.  
  96. Já não falo da "nova oposição", cuja gritaria "esquerdista" serve para dissimular a sua escravização ao trotskismo.
  97.  
  98. O que nos revelam todos estes fatos?
  99.  
  100. Eles nos revelam que o mascaramento "esquerdista" de sua atividade oportunista constitui um dos traços característicos de todas e quaisquer tendências oportunistas no nosso Partido durante o período posterior à tomada do poder.
  101.  
  102. Como se explica esse fenômeno?
  103.  
  104. Explica-se pelo espírito revolucionário do proletariado da URSS e pelas imensas tradições revolucionárias que possui o nosso proletariado. Isto se explica pelo intenso ódio dos trabalhadores da URSS aos elementos contra-revolucionários e oportunistas. Isto se explica pelo fato de que os nossos operários simplesmente se negarão a ouvir um oportunista notório e por isso a máscara "revolucionária" constitui o engodo que deve, embora de forma aparente, atrair a atenção dos operários e inspirar-lhes confiança na oposição. Os nossos operários não poderão, por exemplo, compreender por que até agora os operários ingleses não chegaram a perceber a necessidade de afogar traidores da espécie de um Thomas, a necessidade de jogá-los no poço. (Risos). Todo aquele que conhece os nossos operários compreenderá facilmente que não haveria lugar entre os trabalhadores soviéticos para pessoas e oportunistas da espécie de Thomas. E apesar disso todos nós sabemos que os trabalhadores ingleses não somente não pretendem afogar os senhores Thomas, mas ainda os reelegem para o Conselho Geral(12) e não simplesmente os reelegem mas ainda lhes fazem uma demonstração de apreço. É claro que esses operários não exigem do oportunismo uma máscara revolucionária porque eles atualmente aceitam de boa vontade os oportunistas em seu meio.
  105.  
  106. E como se explica esse fato? Explica-se pela ausência de tradições revolucionárias entre os operários ingleses. Elas, estas tradições revolucionárias, começam a se formar agora. Surgem e se desenvolvem e não temos motivos para duvidar de que os operários ingleses se temperarão nos combates revolucionários. Mas até que isso aconteça permanece a diferença existente entre os operários ingleses e soviéticos. Esta circunstância explica, em particular, o fato de que seja arriscado para os oportunistas se aproximarem dos operários da URSS sem algum disfarce "revolucionário".
  107.  
  108. Eis onde residem as causas do disfarce "revolucionário" do bloco oposicionista.
  109. ______________________
  110. Em que consiste a essência econômica e a base econômica do socialismo? Não está em se implantar sobre a terra o "paraíso celestial" e a alegria para todos? Não, não se trata disso. Esta é a noção do filisteu e do pequeno-burguês da essência econômica do socialismo. Criar a base econômica do socialismo significa tornar a agricultura estreitamente unida à indústria socialista de maneira que formem uma única economia total, submeter a agricultura à direção da indústria socialista, organizar as relações entre a cidade e o campo na base da troca dos produtos da agricultura e da indústria, fechar e liquidar todos os canais pelos quais se originam as classes e se origina, em primeiro lugar, o capital, criar, no final de contas, as condições de produção e distribuição que conduzam direta e rapidamente à liquidação das classes.
  111. ______________________
  112. Se a questão da construção do socialismo na URSS constitui a questão da superação de nossa burguesia "nacional", então a questão da vitória definitiva do socialismo é a questão da superação da burguesia mundial. O Partido afirma que o proletariado de um único país não se acha em condições de suplantar com as suas próprias forças a burguesia mundial. O Partido afirma que para a vitória definitiva do socialismo num único país torna-se indispensável a superação ou, pelo menos, a neutralização da burguesia mundial. O Partido afirma que somente o proletariado de alguns países possui forças para a realização dessa tarefa. É por isso que a vitória definitiva do socialismo neste ou naquele país significa a vitória da revolução proletária, no mínimo, em alguns países.
  113. ______________________
  114. A oposição afirma que a questão da construção do socialismo num único país foi colocada pela primeira vez no nosso Partido em 1926. Em todo caso, Trotski afirmou claramente na conferência:
  115.  
  116. "Por que exigem o reconhecimento teórico da construção do socialismo em um único país? De onde surgiu essa perspectiva? Por que ninguém apresentou este problema antes de 1925?"
  117.  
  118. Conclui-se, dessa forma, que esta questão não se apresentou ao nosso Partido antes de 1925. Conclui-se que somente Stálin e Bukharin apresentaram esta questão ao Partido e a apresentaram em 1925.
  119.  
  120. Isso é verdade? Não, não é.
  121.  
  122. Afirmo que o problema da construção da economia socialista num único país foi apresentado pela primeira vez ao Partido por Lênin ainda em 1915. Afirmo que quem então replicou a Lênin não foi outro senão Trotski. Afirmo que desde aquela época, isto é, a partir de 1915, o problema da construção da economia socialista num único país foi tratado, por diversas vezes, em nossa imprensa e em nosso Partido.
  123.  
  124. Citemos os fatos.
  125.  
  126. a) 1915. Artigo de Lênin no órgão central dos bolcheviques (no "O Social-Democrata")(16): "A palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa". Eis o que afirma Lênin nesse artigo:
  127.  
  128. "Como palavra de ordem independente, porém, a palavra de ordem de Estados Unidos do mundo não seria justa, provavelmente, em primeiro lugar porque se funde com o socialismo; em segundo lugar porque poderia dar lugar a uma interpretação errônea sobre a impossibilidade da vitória do socialismo em um único país e sobre as relações desse país com os demais.
  129.  
  130. A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Donde se conclui que é possível que o socialismo comece triunfando somente em alguns países capitalistas e inclusive em um só país isoladamente. O proletariado triunfante deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista dentro de suas fronteiras (o grifo é meu — St,) se levantaria contra o resto do mundo, contra o mundo capitalista, atraindo para seu lado as classes oprimidas dos demais países, organizando neles a insurreição contra os capitalistas e empregando, se necessário, inclusive a força das armas contra as classes exploradoras e seus Estados..," Porque "a livre união das nações no socialismo é impossível sem uma luta mais ou menos prolongada e tenaz das repúblicas socialistas contra os Estados atrasados"(17).
  131.  
  132. Citamos a seguir a réplica de Trotski, publicada no mesmo ano de 1915 no órgão "A Nossa Palavra", dirigido por Trotski(18):
  133.  
  134. "A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo".
  135. ______________________
  136. Vemos que o problema da "organização da produção socialista" foi colocado por Lênin já em 1915, às vésperas da revolução democrático-burguesa na Rússia, na época da guerra imperialista, quando a questão da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista se apresentava na ordem do dia.
  137.  
  138. Vemos que quem então replicou a Lênin não foi outro senão Trotski que, evidentemente, sabia que o artigo de Lênin trata da "vitória do socialismo" e da possibilidade da "organização da produção socialista num único país".
  139.  
  140. Vemos que a acusação a respeito da "estreiteza nacional" foi pela primeira vez apresentada por Trotski já em 1915 a essa acusação era dirigida não contra Stálin ou Bukharin, mas contra Lênin.
  141.  
  142. Hoje Zinoviev, de vez em quando, põe em circulação a ridícula acusação de "estreiteza nacional". Ele, pelo visto, não compreende que repete e restaura com isso a tese de Trotski dirigida contra Lênin e seu Partido.
  143. ______________________
  144. Trotski é de opinião que "a construção socialista dentro dos limites de um único país" é impossível. Lênin afirma porém que nós, isto é, o proletariado da URSS, temos atualmente, na época da ditadura do proletariado, "tudo o que é necessário e suficiente" "para a construção de uma sociedade socialista completa". O contraste dos pontos de vista é completo.
  145.  
  146. Esses são os fatos.
  147.  
  148. Vemos assim que a questão da construção do socialismo num único país foi apresentada em nosso Partido já em 1915 e o foi pessoalmente por Lênin e que não foi outro senão Trotski quem discutiu a respeito com Lênin, acusando Lênin de "estreiteza nacional".
  149.  
  150. Vemos que desde então esse problema não saiu da ordem do dia dos trabalhos de nosso Partido até a morte do camarada Lênin.
  151.  
  152. Vemos que esse problema foi por diversas vezes levantado por Trotski desta ou daquela forma sob o aspecto de uma polêmica dissimulada mas perfeitamente clara com o camarada Lênin e em que Trotski toda vez que tratava do mesmo não o fazia no espírito de Lênin e do leninismo, mas contra Lênin e o leninismo.
  153.  
  154. Vemos que Trotski prega uma descarada mentira ao afirmar que antes de 1925 a questão da construção do socialismo num único país não foi apresentada por ninguém.
  155. ______________________
  156. Comparemos este trecho de Trotski (1926) com alguns de seus artigos publicados em 1915 onde ele, ao estabelecer uma polêmica com Lênin quanto à questão da possibilidade da vitória do socialismo num único país, apresentou, pela primeira vez, a questão da "estreiteza nacional" do camarada Lênin e dos leninistas — e compreenderemos que Trotski permaneceu, quanto ao problema da construção do socialismo num único país, na sua velha posição social-democrata que nega essa possibilidade.
  157.  
  158. É precisamente por esse motivo que o Partido afirma que o trotskismo constitui, no nosso Partido, um desvio social-democrata.
  159. ______________________
  160. Trotski afirmou em discurso pronunciado na XV Conferência do Partido:
  161.  
  162. "Lênin considerava que de forma alguma poderemos construir o socialismo em vinte anos em vista do atraso de um país camponês como o nosso e nem conseguiremos fazê-lo dentro de trinta anos. Admitamos como um mínimo necessário o prazo de trinta a cinqüenta anos".
  163.  
  164. Considero meu dever declarar aqui, camaradas, que esta perspectiva, inventada por Trotski, não tem nada de comum com a perspectiva apresentada pelo camarada Lênin no que diz respeito à revolução na URSS. O próprio Trotski começa a lutar, um pouco mais adiante em seu aludido discurso, contra essa perspectiva. Mas isso é uma tarefa sua. Eu devo declarar porém, que nem Lênin, nem o Partido podem responder por esta perspectiva inventada por Trotski e pelas conclusões que daí decorrem. O fato de que Trotski, após haver inventado essa perspectiva, comece depois em seu discurso a lutar contra a sua própria ficção — esse fato serve apenas para provar que Trotski se emaranhou definitivamente e se colocou em posição ridícula.
  165.  
  166. Lênin não afirmou em absoluto que "de forma alguma poderemos construir o socialismo" em 30 ou cinqüenta anos. Na realidade eis o que Lênin afirmou:
  167.  
  168. "Dez a vinte anos de relações justas com o campesinato e a garantia da vitória em escala mundial (até mesmo se se verificar um retardamento das revoluções proletárias que, entretanto, aumentam de número no momento atual), ou então vinte a quarenta anos de sofrimentos causados pelo terror dos guardas-brancos".
  169.  
  170. Pode-se, partindo desta tese de Lênin, chegar à conclusão de que "de forma alguma podemos construir o socialismo em vinte a trinta ou a cinquenta anos"? Não, não se pode. Desta tese só se pode chegar às seguintes conclusões:
  171.  
  172. a) Na vigência de relações justas com o campesinato teremos assegurado a vitória (isto é, a vitória do socialismo) em dez a vinte anos;
  173.  
  174. b) Essa vitória será uma vitória não apenas na URSS, mas uma vitória "em escala mundial";
  175.  
  176. c) Se não lograrmos a vitória durante esse prazo tal fato será um indício de que fomos derrotados e o regime de ditadura do proletariado será substituído pelo regime do terror dos guardas-brancos que poderá se prolongar por vinte a quarenta anos.
  177.  
  178. Não há dúvida alguma de que podemos concordar ou não concordar com essa tese de Lênin e com as conclusões que dela decorrem. Mas não se pode deturpá-la, como o faz Trotski.
  179. ______________________
  180. Sétima questão. Admitamos que assim seja, diz-nos a oposição, mas, afinal de contas, com quem é melhor manter a união — com o proletariado mundial ou com o campesinato de nosso país, a quem dar preferência — ao proletariado mundial ou ao campesinato da URSS? Assim, o problema se apresenta como se de um lado estivesse o proletariado da URSS e diante dele dois aliados — o proletariado mundial que se acha preparado para derrotar imediatamente a sua burguesia mas aguarda a nossa aprovação preliminar, e o nosso campesinato que se acha disposto a ajudar o proletariado da URSS mas não se acha inteiramente convencido de que o proletariado da URSS aceitará essa ajuda. Trata-se, camaradas, de uma apresentação infantil do problema. Uma tal apresentação do problema não tem nada de comum com a marcha da revolução em nosso pais nem com a correlação de forças na frente da luta entre o capitalismo mundial e o socialismo. Desculpem a minha expressão, mas somente colegiais podem apresentar a questão dessa maneira. Lamento que o problema não se apresente de uma forma que atenda aos desejos de alguns oposicionistas e não há motivos para se duvidar de que aceitaríamos, com prazer, a ajuda deste ou daquele grupo, se isso dependesse apenas de nós. Não, não é assim que a questão se apresenta na vida real.
  181. ______________________
  182. O Partido responde a esta questão afirmando que o proletariado da URSS se acha em condições, em vista da situação mencionada, de superar a sua burguesia "nacional" e edificar com êxito a economia socialista.
  183.  
  184. A oposição afirma, porém, que:
  185.  
  186. "Sem um apoio estatal (o grifo é meu — J. St.) direto do proletariado europeu a classe operária da Rússia não poderá se manter no poder e transformar o seu domínio temporário numa prolongada ditadura socialista". (Vide Trotski "A Nossa Revolução", pág. 278).
  187.  
  188. E qual é o sentido desta afirmação de Trotski e o que significa o "apoio estatal do proletariado europeu"? Significa que sem a previa vitória do proletariado no Ocidente, sem a prévia tomada do poder pelo proletariado do Ocidente o proletariado da URSS não somente não poderá superar a sua burguesia e edificar o socialismo como não poderá até mesmo se manter no poder.
  189.  
  190. É assim que se apresenta a questão e eis onde se encontra a raiz de nossas divergências.
  191.  
  192. Em que se distingue a posição de Trotski da posição do menchevique Otto Bauer?
  193.  
  194. É de se lamentar que em nada.
  195. ______________________
  196. Trotski afirmou em discurso pronunciado perante a XV Conferência do PC (b) da URSS:
  197.  
  198. "Pode-se supor que o capitalismo europeu entrará em decadência dentro de trinta a cinquenta anos e o proletariado seja incapaz de realizar a revolução? Pergunto: por que devo aceitar esta premissa que só pode ser chamada de uma premissa de um negro pessimismo sem motivo em relação ao proletariado europeu? Afirmo que não tenho nenhuma base teórica ou política para julgar que nos será mais fácil edificar o socialismo com o campesinato do que o proletariado europeu tomar o poder". (Vide o discurso de Trotski perante a XV Conferência do PC (b) da URSS).
  199.  
  200. Em primeiro lugar, deve-se abandonar, sem reservas, a perspectiva de calmaria na Europa "no decurso de trinta a cinquenta anos". Ninguém obrigou Trotski a partir desta perspectiva da revolução proletária nos países capitalistas do Ocidente e que não tem nada de comum com a perspectiva de nosso Partido. O próprio Trotski se ateve a essa perspectiva inventada por ele mesmo e ele próprio deve responder pelas consequências de uma tal operação.
  201.  
  202. Eu considero errada essa maneira de colocar o problema. Considero que Trostski, ao apresentar o problema desta forma, trai-se completamente. Não é verdade que os mencheviques nos afirmavam o mesmo em Outubro de 1917, quando eles nos gritavam a plenos pulmões que o proletariado do Ocidente têm probabilidades muito maiores de derrubar a burguesia e tomar o poder do que o proletariado da Rússia onde a técnica está pouco desenvolvida e onde o proletariado é pouco numeroso? E acaso não é fato que, apesar das lamentações dos mencheviques, o proletariado da Rússia teve, em outubro de 1917, maiores possibilidades de tomar o poder e derrubar a burguesia do que o proletariado da Inglaterra, da França ou da Alemanha? Acaso a prática da luta revolucionária em todo o mundo não demonstrou e não provou que não se pode colocar o problema da forma como Trotski o apresenta?
  203.  
  204. A questão de se saber quem tem mais possibilidades de vitória rápida é solucionada não por meio da contraposição do proletariado de um país ao proletariado de outros países ou do campesinato de nosso pais ao proletariado de outros países. Uma tal contraposição é um jogo de comparações infantil. A questão de se saber quem tem maiores possibilidades de vitória rápida é solucionada pela situação internacional real, pela real correlação de forças entre o capitalismo e o socialismo. Pode acontecer que os proletários do Ocidente vençam a sua burguesia e tomem o poder antes que tenhamos tempo de construir a base socialista de nossa economia. Essa possibilidade não se acha de forma alguma excluída. Mas pode acontecer também que o proletariado da URSS consiga construir a base socialista de nossa economia antes que proletariado do Ocidente derrote a sua burguesia. Essa possibilidade também não se acha excluída.
  205. ______________________
  206. O Partido considera, partindo do fato de que a industrialização constitui o elemento básico da construção socialista e que o mercado interno de nosso país constitui o mercado principal para a indústria socialista, que a industrialização deve se desenvolver na base de um melhoramento constante da situação material da massa principal do campesinato (sem falar já dos operários) e que a estreita união entre a indústria e a economia camponesa, entre o proletariado e o campesinato e a direção do proletariado nessa união constitui, segundo a expressão de Lênin, "o alfa e o omega do Poder Soviético"(26) e a vitória de nossa construção e que em conseqüência disto a nossa política em geral, a política tributária e a política dos preços em particular deve ser organizada de maneira a atender aos interesses dessa estreita união.
  207.  
  208. Mas a oposição, não acreditando na possibilidade da atração do campesinato à tarefa da construção do socialismo e supondo, evidentemente, que se pode realizar a industrialização em prejuízo da massa fundamental do campesinato, envereda pelo caminho dos métodos capitalistas de industrialização, pelo caminho da consideração do campesinato como "colônia", como objeto de "exploração" da parte do Estado proletário e propõe medidas de industrialização, a intensificação da pressão tributária sobre o campesinato, o aumento dos preços de entrega das mercadorias industriais, etc., que serviram apenas para frustrar a união entre a indústria e a economia camponesa, minar a situação econômica dos camponeses pobres e dos camponeses médios e destruir as próprias bases da industrialização.
  209. ______________________
  210. Partimos do fato de que o Partido, o Partido Comunista, é instrumento básico da ditadura do proletariado e que a direção de um único Partido, que não divide e não pode dividir essa direção com outros Partidos, constitui a condição fundamental sem qual não se pode conceber uma ditadura do proletariado algo sólida e desenvolvida. Em virtude disso consideramos inadmissível a existência de frações dentro de nosso Partido uma vez que é claro por si mesmo que a existência de frações organizadas dentro do Partido conduz à divisão de um Partido único em organizações paralelas, à formação de embriões e células de um novo Partido ou de novos Partidos no país e, por conseguinte, à decomposição da ditadura do proletariado.
  211. ______________________
  212. O sr. Ossovski, um dos adeptos da oposição, declarou claramente em seus artigos que o Partido existente, o nosso Partido, defende os interesses dos capitalistas, e que em vista disso torna-se necessário organizar um novo Partido, "um Partido realmente proletário" que existiria e desenvolveria as suas atividades ao lado do Partido existente.
  213.  
  214. A oposição tem a liberdade de afirmar que não responde pela posição assumida pelo sr. Ossovski. Mas isto não é verdade. Ela responde integral e completamente pelas "proezas" do sr. Ossovski. É sabido que Ossovski se incluiu abertamente no número dos partidários da oposição e contra isso a oposição nunca fez a menor tentativa de protesto. Sabe-se, também, que Trotski defendeu Ossovski no pleno de julho do CC contra o camarada Molotov. Sabe-se, finalmente, que, apesar da opinião unânime do Partido contra Ossovski, a oposição votou, no CC, contra a exclusão de Ossovski do Partido. Tudo isso confirma o fato de que a oposição assumia a responsabilidade moral pelas "proezas" do sr. Ossovski.
  215.  
  216. Conclusão: o trabalho prático da oposição no PC (b) da URSS se manifestou na posição assumida pelo sr. Ossovski, na sua posição de defesa da necessidade da formação de um novo Partido em nosso país, paralelo ao PC (b) da URSS e contra ele.
  217.  
  218. Sim, e não poderia ser de outro modo. Porque das duas uma:
  219.  
  220. Ou a oposição, ao apresentar estas graves acusações contra o Partido, era a primeira a não acreditar na seriedade destas acusações e as apresentava apenas a título de exibição e nesse caso induzia a classe operária a erro, o que é um crime; ou a oposição acreditava e continua a acreditar na seriedade de suas acusações e então devia se orientar e realmente se orientava no sentido da derrota dos quadros dirigentes do Partido e da formação de um novo Partido.
  221.  
  222. Eis qual era a fisionomia de nossa oposição no seu trabalho prático contra o PC (b) da URSS em outubro de 1926.
  223. ______________________
  224. Partindo das acusações contra o Partido apresentadas pela nossa oposição, os "ultra-esquerdistas" da Alemanha, chefiados pelo sr. Korsch, chegaram às suas "próprias;" conclusões e colocaram os pontos nos ii. Sabe-se que Korsch, ideólogo dos "ultra-esquerdistas" na Alemanha, afirma que a nossa indústria socialista é "uma indústria puramente capitalista". Sabe-se que Korsch, chama o nosso Partido de Partido "kulakizado" e a Internacional Comunista de Organização "oportunista". Sabe-se, ainda, que Korsch, prega, em vista disso, a necessidade de uma "nova revolução" contra o poder existente na URSS.
  225.  
  226. A oposição pode dizer que ela não responde pela posição assumida pelo sr. Korsch. Mas isto não é verdade. A oposição responde integral e completamente pelas "proezas" do sr. Korsch. O que o sr. Korsch afirma é a conclusão natural das premissas que os lideres de nossa oposição estabeleceram para os seus partidários, sob a forma das conhecidas acusações contra o Partido. Porque se o Partido escorrega pelo plano inclinado do oportunismo, se a sua política se divorcia da linha de classes da revolução, se ele degenera e marcha para o Thermidor e se o nosso Estado "está longe de ser um Estado proletário", então só se pode chegar a uma conclusão — uma nova revolução contra o poder "kulakizado". Sabe-se, além disso, que os "ultra-esquerdistas" da Alemanha, os Wedding(27) inclusive, votaram contra a exclusão de Korsch do Partido, assumindo com esse ato a responsabilidade moral pela propaganda contra-revolucionária de Korsch. Pois bem, e quem desconhece que os "ultra-esquerdistas" defendem a oposição no PC (b) da URSS?
  227.  
  228. O mesmo se pode dizer dos adeptos da oposição na França. Refiro-me a Souvarine e seu grupo que editam uma conhecida revista na França. Partindo das premissas estabelecidas pela nossa oposição nas suas acusações contra o Partido. Souvarine chega à conclusão de que a burocracia do Partido, isto é, os dirigentes de nosso Partido, constituem os piores inimigos da revolução. Souvarine afirma que só há um meio de "salvação": uma nova revolução contra os dirigentes superiores do Partido e do governo, uma nova revolução, em primeiro lugar, contra o Secretariado do CC do PC (b) da URSS. Ali, na Alemanha, uma "nova revolução" contra o poder existente na URSS. Aqui, na França, uma "nova revolução" contra o Secretariado do C.C.. Pois bem, e como organizar esta nova revolução:? Pode-se organizá-la sem um Partido particular, adaptado aos objetivos da nova revolução? Não, sem dúvida. Daí a questão da criação de um novo Partido.
  229.  
  230. A oposição pode dizer que não responde pelo que o sr. Souvarine escreve. Mas isto não é verdade. Em primeiro lugar, sabe-se que Souvarine e seu grupo são partidários da oposição e particularmente de sua fração trotskista. Em segundo lugar, sabe-se que ainda muito recentemente a oposição projetava colocar o sr. Souvarine na redação do órgão central do Partido Comunista da França. É verdade que esse projeto fracassou. Mas não foi por culpa sua, mas por infelicidade da nossa oposição.
  231.  
  232. Conclui-se. por conseguinte, que a oposição, no seu trabalho prático, se a considerarmos não sob o aspecto em que ela se apresenta a si mesma, mas sob o aspecto em que ela se manifesta no curso do seu trabalho entre nós, na URSS, assim como na Franca e na Alemanha, — conclui-se, afirmo eu, que a oposição se aproximou bastante, no seu trabalho prático, da questão da destruição dos quadros atuais de nosso Partido e da formação de um novo Partido.
  233. ______________________
  234. E eis o que a respeito de nossa oposição escreve o órgão central do Partido contra-revolucionário burguês de Miliukov, Notícias".(29):
  235.  
  236. "Hoje a oposição mina a ditadura, cada nova edição da oposição contém um número maior de palavras "ameaçadoras", a própria oposição evolui no sentido de desfechar ataques cada mais rudes contra o sistema dominante e isto por enquanto basta para que acolhamos agradecidos como alto-falante para as amplas camadas da população politicamente insatisfeita" ("últimas Notícias" n.° 1990).
  237.  
  238. E a seguir:
  239.  
  240. "O mais temível inimigo do poder Soviético é atualmente o que se aproxima dele imperceptivelmente, prende-o por todos lados com os seus tentáculos e o liquida antes que perceba que está liquidado. É justamente esse papel, inevitável e necessário na etapa preparatória da qual ainda não saímos, que a oposição soviética representa" (Últimas Notícias" n.° 1983, 27 de agosto deste ano).
  241.  
  242. Penso que são supérfluos quaisquer comentários a respeito.
  243.  
  244. Limito-me apenas a estas citações em vista da exigüidade do tempo ao meu dispor, embora se possa fazer dezenas e centenas de citações idênticas.
  245.  
  246. Eis porque os social-democratas e os kadetes louvam a nossa oposição.
  247.  
  248. Será por mera casualidade? Não, é.
  249.  
  250. Vê-se por aí que a oposição não reflete o estado de espírito do proletariado de nosso país, mas o estado de espírito dos elementos proletários que se acham descontentes com ditadura do proletariado, que se enfurecem contra a ditadura do proletariado e aguardam, com impaciência, a sua decomposição e a sua queda.
  251.  
  252. Dessa forma a lógica da luta fracionista de nossa oposição conduziu, na realidade, ao fato que a frente de nossa oposição se fundiu objetivamente com a frente dos adversários e inimigos da ditadura do proletariado.
  253.  
  254. Era esse o desejo da oposição? Talvez não fosse esse o seu desejo. Mas aqui a questão não depende do que deseja a oposição mas a que objetivamente conduz a sua luta fracionista. A lógica da luta fracionista é mais forte do que os desejos destas ou daquelas pessoas. E é precisamente por isso que a questão se processou de tal forma que a frente da oposição se fundiu na realidade com a frente dos adversários e dos inimigos da ditadura do proletariado.
  255. Lênin nos ensinou que a defesa e o fortalecimento do proletariado constitui o principal dever dos comunistas. Mas se processou de tal forma que a oposição se encontrou, em virtude da sua política fracionista, no campo dos adversários da ditadura proletariado.
  256.  
  257. Eis porque afirmamos que a oposição rompeu com o leninismo não apenas em teoria mas também na prática.
  258. ______________________
  259. Trotski afirmou em seu discurso que "na questão nacional Stálin cometeu um erro muito grande". Que erro é esse e em que circunstâncias foi cometido — Trotski não o disse.
  260.  
  261. Isto não é verdade, camaradas. Não passa de maledicência. Nunca tive qualquer divergência com o Partido ou com Lênin quanto ao problema nacional. Trotski se refere aqui, ao que parece, a um incidente insignificante, quando o camarada Lênin me censurou, perante o XII Congresso do nosso Partido, de que ponho em prática uma política orgânica demasiadamente severa em relação aos semi-nacionalistas georgianos, semi-comunistas do tipo de Mdivani, que foi recentemente nosso representante comercial em Franca, e de que eu os "persigo". Os fatos subseqüentes, porém, demonstraram que os chamados "desvisionistas", pessoas do tipo de Mdivani, mereciam na realidade uma atitude em relação a eles mais severa mesmo do que a que eu tive, como um dos secretários do CC de nosso Partido. Os acontecimentos subseqüentes demonstraram que os "desvisionistas" constituem uma fração corrupta do oportunismo mais descarado.
  262.  
  263. Que Trotski demonstre que não é assim. Lênin não sabia e não podia saber desses fatos, uma vez que se achava doente, estava de cama e não tinha possibilidades de acompanhar os acontecimentos. Mas que relação pode ter esse incidente insignificante com a posição de princípios de Stálin? Trotski, evidentemente, na sua maledicência insinua certas "divergências" entre eu e o Partido. Mas acaso não é fato que o CC em seu conjunto e inclusive o próprio Trotski, votaram unanimemente pelas teses de Stálin relativas ao problema nacional? Acaso não é fato que essa votação teve lugar após o incidente com Mdivani, por ocasião do XII Congresso de nosso Partido? Acaso não é fato que foi precisamente Stálin e não qualquer outro quem fez o informe sobre o problema nacional no XII Congresso? Onde estão aqui, portanto, as "divergências" sobre o problema nacional e para que, propriamente, Trotski quis mencionar este incidente insignificante?
  264. ______________________
  265. A "oposição operária" também se considerava mais esquerdista do que qualquer outra, mas na prática se revelou a mais direitista de todas. A atual oposição também se considera a mais esquerdista de todas, mas a prática e todo o trabalho da atual oposição demonstram que ela constitui o centro de atração e o foco de todas as tendências oportunistas de direita que vão da "oposição operária" e do trotskismo até a "nova oposição" e todos os Souvarine que nela existem.
  266. ______________________
  267. Trotski declarou em seu discurso que ele "se antecipou à política de Lênin em março-abril de 1917". Conclui-se, dessa forma, que Trotski "se antecipou" às teses de Abril do camarada Lênin. Conclui-se que Trotski já em fevereiro-março de 1917 chegou independentemente à política defendida pelo camarada Lênin em abril-maio de 1917 nas suas teses de Abril.
  268.  
  269. Permití-me declarar, camaradas, que se trata de uma ostentação estúpida e indecorosa. Trotski "antecipando-se" à Lênin — é um quadro diante do qual não se pode deixar de rir. Os camponeses tem toda razão quando costumam dizer, em tais casos: "Comparam uma mosca a um kalantcha"(32) (Risos). Trotski "antecipando-se" a Lênin ... Que Trotski tente aparecer e provar isto pela imprensa. Porque não experimentou fazê-lo ao menos, uma vez? Trotski "se antecipou" Lênin... Mas, nesse caso, como se explicar o fato de que o camarada Lênin, desde o seu aparecimento no cenário da Rússia, em abril de 1917 considerou necessário afastar-se da posição de Trotski? Como explicar o fato de que o "antecipado" julgue necessário afastar-se do "antecipador"? Acaso não é fato que Lênin declarou, várias vezes, em abril de 1917 que nada tem de comum com a fórmula fundamental de Trotski; "sem o tsar, mas um governo operário"? Acaso não fato que o próprio Lênin declarou então por diversas vezes que nada tem de comum com Trotski que tenta saltar a etapa do movimento camponês e a revolução agrária?
  270.  
  271. Onde está aí a "antecipação"?
  272.  
  273. Conclusão: necessitamos de fatos e não de invenções e intrigas, enquanto que a oposição prefere operar por meio de invenções e intrigas.
  274. ______________________
  275. No que diz respeito aos capitalistas, as suas divergências a respeito de nosso Partido são ainda maiores. Recentemente, por exemplo, a imprensa americana elogiou Stálin, afirmando que este lhe daria a possibilidade de conseguir grandes concessões. Mas verifica-se que atualmente criticam e insultam Stálin por todas as formas afirmando que ele, Stálin, os "enganou". Certa ocasião, surgiu na imprensa burguesa uma caricatura de Stálin que o representa com um balde d'água nas mãos apagando as chamas da revolução. Mas posteriormente surgiu uma outra caricatura, como refutação à primeira e em que Stálin segura um balde cheio não de água, mas de querosene, e não apaga, mas aviva as chamas da revolução. (Aplausos e risos).
  276. ______________________
  277. Desejaria chamar a vossa atenção para o ponto de vista de Lênin sobre este assunto.
  278.  
  279. "Na nossa República Soviética — afirma Lênin — o regime social se baseia na cooperação de duas classe: os operários e os camponeses e nela são admitidos, em determinadas condições, também os "nepmans", isto é, a burguesia"(34).
  280.  
  281. É por que se dá à nova burguesia essa permissão de prestar alguma cooperação condicional e„ evidentemente, subordinada a determinadas condições e sob o controle do Poder Soviético — é precisamente por isso que Ustrialov elogia o nosso Partido, esperando agarrar-se a essa permissão e se utilizar do Poder Soviético para atender aos objetivos da burguesia. Mas os nossos cálculos e os do Partido são outros: utilizarmo-nos dos representantes da nova burguesia, de sua experiência e dos seus conhecimentos para sovietizá-los, assimilar uma parte deles e jogar fora a outra parte que não estiver em condições de ser sovietizada.
  282.  
  283. Não é verdade que Lênin estabelecia uma diferença entre a nova burguesia e os mencheviques e kadetes, admitindo e utilizando-se da primeira e propondo a prisão dos segundos?
  284.  
  285. Vejamos o que escreveu a respeito o camarada Lênin na sua obra "O Imposto em Espécie":
  286.  
  287. "Não devemos recear que os comunistas "aprendam" com os especialistas burgueses e inclusive com os comerciantes, os capitalistas-cooperativistas e os outros capitalistas. Devemos aprender com eles de forma diferente, mas, em essência, da mesma maneira como aprendemos com os especialistas militares. Só se pode controlar os resultados da "ciência" pela experiência prática: devemos trabalhar melhor do que o faziam ao nosso lado, os técnicos burgueses, devemos conseguir, por todos os meios ao nosso alcance, o fomento da agricultura e da indústria e o desenvolvimento da troca entre a agricultura e a indústria. Não devemos regatear o pagamento "pela ciência": não tenhamos receio de pagar caro pela ciência, sob a condição de que aprendamos o que nos é útil".(35).
  288.  
  289. Foi assim que Lênin se manifestou a respeito da nova burguesia e dos técnicos burgueses, de quem Ustrialov é representante.
  290.  
  291. Vejamos agora o que Lênin afirmou a propósito dos mencheviques e dos social-revolucionários:
  292.  
  293. "Quantos aos "sem Partido" que na realidade não passam de mencheviques e social-revolucionários disfarçados no traje da moda dos sem Partido de Kronstadt — devemos mantê-los cuidadosamente na prisão ou mandá-los para Berlim, onde está Mártov, para que possam gozar livremente de todas as belezas de uma democracia pura e para que possam trocar idéias livremente com Tchernov, com Miliukov e com os mencheviques georgianos"(36).
  294.  
  295. Assim se manifestou Lênin.
  296. ______________________
  297. Conclui-se, dessa forma, que alguns inimigos de classe da espécie de Ustrialov elogiam o nosso Partido, pelo fato de que adotamos a NEP e permitimos certa cooperação da burguesia condicional e limitada, ao regime soviético existente, uma vez que é nosso propósito utilizarmo-nos dos seus conhecimentos e da sua experiência para realização da nossa construção, objetivo que, como se sabe, estamos alcançando com êxito. Mas a oposição é elogiada por outros inimigos de classe, do gênero dos mencheviques e kadetes, uma vez que o seu trabalho conduz ao enfraquecimento da unidade de nosso Partido, ao enfraquecimento da ditadura do proletariado e facilita a tarefa dos mencheviques e dos kadetes que visa a derrota da ditadura.
  298.  
  299. Espero que a oposição compreenderá, finalmente, a amplitude da diferença entre os elogios da primeira categoria e os elogios da segunda categoria.
  300. ______________________
  301. A OPOSIÇÃO falou aqui a respeito de alguns erros de determinados membros do CC. Houve alguns erros isolados, não se pode negar. Não há, entre nós, pessoas que sejam absolutamente "infalíveis". Não existe em todo o mundo indivíduos dessa espécie. Mas há diferentes espécies de erros. Há erros em que os seus autores não insistem e que não dão origem a plataformas, tendências e facções. São erros que se esquecem rapidamente. Há outro gênero de erros, sobre os quais os seus autores insistem e dos quais surgem facções, plataformas e a luta dentro do Partido. São erros que não se podem esquecer rapidamente.
  302.  
  303. É preciso fazer uma distinção rigorosa entre estas duas categorias de erros.
  304.  
  305. Trotski declara, por exemplo, que eu cometi um erro, em certa ocasião, quando exercia funções junto ao departamento do monopólio do comércio exterior. Isto é verdade. Eu de fato propus, num período de ruína dos nossos órgãos armazenadores de gêneros alimentícios, a abertura provisória de um dos nossos portos para a exportação de trigo. Mas não insisti nesse erro e após me entender com Lênin tomei providências no sentido de corrigi-lo rapidamente. Eu poderia citar dezenas e centenas de erros idênticos de Trotski, corrigidos posteriormente pelo CC, e nos quais ele não insistiu. Se eu fosse me ocupar da enumeração de todos os erros, os muito sérios, os menos sérios e os pouco sérios, cometidos por Trotski durante a sua atividade no CC mas nos quais não persistiu e que foram esquecidos — teria de ler vários relatórios sobre o assunto. Mas penso que na luta política, na polêmica política, deve-se falar não sobre erros desse gênero, mas sobre os erros que se transformam posteriormente em plataformas e provocam lutas dentro do Partido.
  306.  
  307. Trotski e Kamenev, porém, levantaram justamente uma questão relacionada a esse gênero de erros que não se transformaram em tendências oposicionistas e que foram rapidamente esquecidos. E desde que foram justamente estas as questões levantadas pela oposição, permití-me então que eu também lembre aqui alguns erros do mesmo gênero, cometidos no passado pelos líderes da oposição. Talvez isso lhes sirva de lição e de outra vez não tentarão se agarrar a erros já esquecidos.
  308.  
  309. Houve uma ocasião em que Trotski afirmou no CC de nosso Partido que o Poder Soviético estava por um fio, que "já dera o que tinha de dar" e só restava ao Poder Soviético alguns meses de vida, senão uma semana. Isso foi em 1921. Foi um erro perigosíssimo que indicava o perigoso estado de espírito em que se encontrava Trotski. Mas o CC achou graça na sua afirmação, Trotski não insistiu nesse erro e o erro foi esquecido.
  310.  
  311. Houve uma ocasião — isso foi em 1922 — em que Trotski propôs que se permitisse às nossas empresas e trustes industriais que hipotecassem a propriedade do Estado, inclusive o capital fixo, aos capitalistas privados em troca de crédito. (O camarada Iaroslavski: "É o caminho da capitulação".) Sem dúvida que o é. Teria sido, em todo caso, uma base para a desnacionalização de nossas empresas. Mas o CC rejeitou esse plano, Trotski lutou em favor do mesmo, mas deixou depois de insistir em seu erro e hoje já não há mais lembrança desse erro.
  312.  
  313. Houve uma ocasião — isso foi em 1922 — em que Trotski propôs uma rígida concentração de nossa indústria, uma concentração tão extravagante que acarretaria inevitavelmente o desemprego para cerca de um terço de nossa classe operária. O CC rejeitou essa proposta de Trotski como algo escolástico, extravagante e politicamente perigoso. Trotski lembrou por várias vezes ao C.C. que no futuro se teria, apesar de tudo, de enveredar por esse caminho. Não enveredamos, porém, por esse caminho. (Vozes no auditório: "Ter-se-ia de fechar a fábrica Putilov"). Sim, chegou-se a se cogitar disso. Mas depois Trotski deixou de insistir no seu erro e este foi esquecido.
  314.  
  315. E etc, etc.
  316. ______________________
  317. É necessário lembrar erros dessa espécie? É lógico que não é necessário, dado que foram esquecidos e de há muito liquidados. Por que então Trotski e Kamenev lançam esse gênero de erros à face de seus adversários do Partido? Não é claro que isso só serve para nos lembrar os numerosos erros dos líderes da oposição? E somos forçados a fazê-lo embora apenas para obrigar a oposição a perder o seu hábito de lançar mão de intrigas e ardis.
  318.  
  319. Há, porém, erros de outra espécie, erros nos quais os seus autores insistem e dos quais surgem posteriormente plataformas fraccionistas. Trata-se já de erros de uma espécie inteiramente diferente. Cumpre ao Partido descobrir esses erros e superá-los. Isso porque a superação desses erros é o único meio de manter os princípios do marxismo no Partido, conservar a unidade do Partido, liquidar o fracionismo e criar uma garantia contra a repetição desses erros.
  320.  
  321. Consideremos, por exemplo, o erro de Trotski por ocasião da paz de Brest e que se transformou em toda uma plataforma contra o Partido. É preciso lutar franca e decididamente contra tais erros? Sim, é preciso.
  322.  
  323. Ou consideremos outro erro de Trotski, por ocasião da discussão sindical, o qual provocou uma discussão em nosso Partido que abrangeu toda a Rússia.
  324.  
  325. Ou consideremos, por exemplo, o erro de Outubro de Zinoviev e Kamenev, que provocou uma crise no Partido, antes da insurreição de Outubro de 1917.
  326.  
  327. Ou, por exemplo, os erros atuais do bloco da oposição que se transformaram numa plataforma fracionista e em luta contra o Partido.
  328.  
  329. E etc., etc.
  330.  
  331. É preciso lutar franca e decididamente contra tais erros? Sim, é preciso.
  332.  
  333. É admissível que nos mantenhamos calados em face de tais erros, quando se trata das divergências no Partido? Claro que não é admissível.
  334. ______________________
  335. Zinoviev falou, em seu discurso, sobre a ditadura do proletariado e afirmou que Stálin esclarece de maneira errônea a noção da ditadura do proletariado no seu conhecido artigo "Questões do Leninismo".
  336.  
  337. Trata-se de um disparate, camaradas. Zinoviev responsabiliza os outros pelos seus próprios erros. Na realidade só se pode supor que Zinoviev adultera o conceito leninista da ditadura do proletariado. Zinoviev possui duas versões sobre a ditadura do proletariado, das quais nenhuma delas pode ser considerada marxista e em que uma contradiz radicalmente a outra.
  338.  
  339. Primeira versão. Partindo da tese certa de que o Partido constitui a força dirigente fundamental do sistema da ditadura do proletariado, Zinoviev chega a uma conclusão inteiramente errônea, de que a ditadura do proletariado é a ditadura do Partido. Zinoviev identifica, assim, a ditadura do Partido com a ditadura do proletariado.
  340.  
  341. Mas o que quer dizer identificar a ditadura do Partido com a ditadura do proletariado?
  342.  
  343. Quer dizer, em primeiro lugar, colocar um sinal de igualdade entre a classe e o Partido, entre o todo e uma parte desse todo, o que é absurdo e inteiramente incongruente. Lênin nunca identificou e não podia identificar o Partido com a classe. Entre o Partido e a classe há toda uma série de organizações de massas do proletariado sem Partido e atrás destas organizações se encontra toda a massa da classe dos proletários. Ignorar o papel e o peso específico dessas organizações das massas sem Partido e, além disso, toda a massa da classe operária e pensar que o Partido pode substituir as organizações das massas sem Partido do proletariado e toda a massa proletária em geral significa separar o Partido das massas, levar a burocratização do Partido ao mais alto grau, transformar o Partido em força infalível e implantar no Partido o "netchaievismo"(38) e o "araktcheevismo"(39).
  344.  
  345. Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com tal "teoria" da ditadura do proletariado.
  346.  
  347. Quer dizer, em segundo lugar, conceber a ditadura do Partido não em sentido figurado, não no sentido da direção da classe operária pelo Partido, como justamente a concebeu o camarada Lênin, mas concebê-la no sentido exato da palavra "ditadura", isto é, no sentido da substituição da direção pela coerção do Partido em relação à classe operária. Porque, o que é uma ditadura no sentido exato da palavra? A ditadura, no sentido exato da palavra é um poder que se apóia na coerção, uma vez que não há ditadura sem elementos de coerção se considerarmos a ditadura no sentido exato desta palavra.
  348.  
  349. Pode o Partido ser um poder que se apóie na coerção em relação à sua classe, em relação à maioria da classe operária? É claro que não. Em caso contrário seria não uma ditadura contra a burguesia, mas uma ditadura contra a classe operária.
  350.  
  351. O Partido é o mestre, o dirigente, o chefe de sua classe, mas não um poder que se apóia na coerção em relação à maioria da classe operária. De outra forma nada se teria a dizer sobre o método da persuasão como método fundamental do trabalho do Partido proletário nas fileiras da classe operária. De outra forma nada se teria a dizer sobre que o Partido deve convencer as amplas massas do proletariado da justeza de sua política e que somente no decurso do cumprimento desta tarefa é que o Partido poderia se considerar um Partido realmente de massas, capaz de arrastar o proletariado à luta.
  352.  
  353. De outra forma o Partido teria de substituir o método da persuasão pelo método das ordens e ameaças em relação ao proletariado, o que é absurdo e inteiramente incompatível com o conceito marxista da ditadura do proletariado.
  354.  
  355. Eis a que absurdo conduz a "teoria" de Zinoviev sobre a identificação da ditadura (direção) do Partido com a ditadura do proletariado.
  356.  
  357. Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com esta "teoria".
  358. ______________________
  359. 5. Os Aforismos Oraculares de Trotski
  360. Desejaria me deter, também, sobre algumas declarações ambíguas de Trotski que têm o objetivo essencial de induzir-nos a erro. Desejaria apenas citar alguns fatos.
  361.  
  362. Primeiro fato. Quando se perguntou a Trotski qual era a sua posição atual em relação a seu passado menchevique, Trotski respondeu, não sem alguma pose:
  363.  
  364. "Já pelo próprio fato de que eu ingressei no Partido Bolchevique... já esse fato por si mesmo demonstra que depositei às portas do Partido tudo o que até então me afastava do bolchevismo".
  365.  
  366. O que significa "depositar às portas do Partido tudo o que separava"Trotski"do bolchevismo"? Remmele tinha razão ao replicar a essas palavras de Trotski: "Como se pode depositar tais coisas às portas do Partido"? E, de fato, como se pode depositar tais sujeiras às portas do Partido? (Risos). Essa pergunta ficou sem resposta da parte de Trotski.
  367.  
  368. Além disso, o que significa depositar às portas do Partido as sobrevivências mencheviques de Trotski? Depositou ele estas coisas às portas do Partido e as armazenou para futuras lutas dentro do Partido ou simplesmente as queimou? Parece que Trotski tencionou armazená-las às portas do Partido. Ou então como se explicar de outra forma as divergências permanentes de Trotski com o Partido, que tiveram início algum tempo após o seu ingresso no Partido e que ainda não cessaram até o presente momento?
  369.  
  370. Deveis julgar por vós mesmos. 1918 — divergências de Trotski com o Partido quanto à questão da paz de Brest e luta dentro do Partido. 1920-21 — divergências de Trotski com o Partido quanto ao movimento sindical e discussão em toda a Rússia. 1923 — divergências de Trotski com o Partido quanto às questões fundamentais da construção do Partido, quanto à sua política econômica, e discussão no Partido. 1924 — divergências de Trotski com o Partido quanto à questão da análise da Revolução de Outubro e da direção do Partido e discussão no Partido. 1925-26 — divergências de Trotski e de seu bloco oposicionista com o Partido quanto às questões fundamentais de nossa revolução e da política corrente.
  371.  
  372. Não são divergências demais para um homem que "depositou às portas do Partido tudo o que o "separava do bolchevismo"?
  373.  
  374. Pode-se afirmar que estas divergências permanentes de Trotski com o Partido constituem "um caso casualmente casual" e não um fenômeno regular?
  375.  
  376. Dificilmente se poderia afirmá-lo.
  377.  
  378. Qual pode ser o objetivo visado, em tal caso, por essa declaração de Trotski mais do que ambígua?
  379.  
  380. Penso que um só objetivo: atirar areia nos olhos dos ouvintes e induzi-los a erro.
  381.  
  382. Segundo fato. Sabe-se que a questão da "teoria" da revolução permanente de Trotski tem grande significação do ponto de vista da ideologia de nosso Partido e do ponto de vista das perspectivas de nossa revolução. Sabe-se que esta "teoria" tinha a pretensão e continua a ter a pretensão de concorrer com a teoria do leninismo sobre a questão das forças motrizes de nossa revolução. É de todo compreensível, por isso, que se tenha dirigido a Trotski, por mais de uma vez, e se lhe tenha indagado a respeito da atitude que mantém, hoje, em 1926, sobre a sua "teoria" da revolução permanente. E que resposta nos deu Trotski em seu discurso perante o Pleno do Komintern? Essa resposta é mais do que ambígua. Ele afirmou que a "teoria" da revolução permanente possui algumas "lacunas" e que alguns aspectos desta "teoria" não foram justificados pela nossa experiência revolucionária. Conclui-se que se alguns aspectos desta "teoria" constituem "lacunas", então há outros aspectos desta "teoria" que não constituem "lacunas" e que devem permanecer em vigor. Mas como separar alguns aspectos da "teoria" da revolução permanente de outros aspectos desta "teoria"? Acaso a "teoria" da revolução permanente não constitui todo um sistema de pontos de vista? Acaso se pode comparar a "teoria" da revolução permanente a uma caixa que tem dois cantos apodrecidos e os dois cantos restantes ilesos e em perfeito estado de conservação? E para que tudo isso, uma vez que podemos nos limitar aqui a uma declaração simples, que não envolve responsabilidade alguma, sobre as "lacunas" em geral, não indicando quais são precisamente as "lacunas" que Trotski tem em vista e quais são precisamente os aspectos da "teoria" da revolução permanente que ele considera errados? Trotski se refere a algumas "lacunas" da "teoria" da revolução permanente, mas quais são precisamente essas "lacunas" e quais são precisamente os aspectos desta "teoria" que ele considera errados — sobre tudo isso ele não disse uma palavra. As declarações de Trotski sobre esta questão devem ser consideradas, por isso, uma resposta formal ao problema, uma tentativa de se livrar de uma dificuldade por meio de uma frase ambígua a respeito de "lacunas" que não envolvem nenhuma responsabilidade para Trotski.
  383.  
  384. Trotski procede neste caso da mesma forma como procediam, nos velhos tempos, alguns hábeis oráculos que se livravam dos seus clientes por meio de respostas ambíguas como essa: "um grande exército será vencido ao atravessar um rio". Que rio é esse e que exército será vencido — entenda quem puder. (Risos).
  385. ______________________
  386. Vemos que tanto aqui em relação à Engels quanto em relação à Marx, Zinoviev permaneceu fiel à sua maneira revisionista de citar os clássicos do marxismo.
  387.  
  388. No que diz respeito, porém, à segunda conclusão de Zinoviev, então se verifica que ele desfigurou completamente o pensamento de Engels relativamente às suas doze reivindicações ou medidas que a revolução operária teria de pôr em prática. Zinoviev é de parecer que Engels nos teria apresentado, nas 12 reivindicações que menciona, um amplo programa do socialismo até o desaparecimento das classes o desenvolvimento da produção mercantil e, inclusive, o desaparecimento do Estado. Isto absolutamente não é verdade. Trata-se de uma adulteração completa do pensamento de Engels. Nas doze reivindicações apresentadas por Engels não há nenhuma palavra que se refira ao desaparecimento das classes, nem ao desaparecimento da produção mercantil, nem ao desaparecimento do Estado, nem ao desaparecimento de todas e quaisquer formas de propriedade privada. Pelo contrário, as 12 reivindicações de Engels se baseiam na existência da "democracia" (Engels considerava então "democracia" a ditadura do proletariado), na existência das classes e na existência da produção mercantil. Engels afirma claramente que as suas 12 reivindicações têm em vista "atentar diretamente contra a propriedade privada" (e não a sua destruição total) e "assegurar a existência do proletariado" (e não o desaparecimento do proletariado como classe). Eis as palavras textuais de Engels:
  389.  
  390. "A revolução do proletariado que, com toda a probabilidade se processará, só gradualmente é que poderá transformar a sociedade atual e só depois disso é que acabará com a propriedade privada, quando já tiver sido criada uma massa de meios de produção indispensáveis a que isso se realize... Instituirá, em primeiro lugar, um regime democrático e, por isso mesmo, direta ou indiretamente, a dominação política do proletariado... A democracia seria completamente inútil para o proletariado se não fosse utilizada imediatamente como meio para a realização de amplas medidas que atentem diretamente contra a propriedade privada e que assegurem a existência do proletariado. (Os grifos são meus — J. St.). Essas medidas principais, que decorrem necessariamente das condições agora vigentes, são as seguintes".
  391.  
  392. E segue-se a enumeração das já conhecidas 12 reivindicações ou medidas (Vide Engels, "Os princípios do comunismo")(43).
  393.  
  394. Vemos, dessa forma, que Engels não trata de um amplo programa do socialismo que inclua o desaparecimento das classes, do Estado, da produção mercantil, etc., mas dos primeiros passos da revolução socialista, das primeiras medidas necessárias a que se realize imediatamente uma limitação da propriedade privada, assegure a existência da classe operária e fortaleça o domínio político do proletariado.
  395.  
  396. A conclusão só pode ser uma: Zinoviev adulterou o pensamento de Engels, ao caracterizar as suas 12 reivindicações como um amplo programa de socialismo.
  397. ______________________
  398. CITEMOS, por fim, algumas palavras relativamente à explicação que Zinoviev dá ao conceito "revisionismo". Zinoviev é de parecer que todo melhoramento e todo esforço que se faca no sentido de tornar mais precisas velhas fórmulas ou teses isoladas de Marx e Engels e com maior razão a sua substituição por outras fórmulas correspondentes às novas condições, é revisionismo. Pergunta-se: por que? Acaso o marxismo não é uma ciência e acaso a ciência não se desenvolve, se enriquece com a nova experiência e melhora as velhas fórmulas? Porque, ao que se sabe, uma "revisão" significa "reexame" e o melhoramento e uma precisão maior das velhas fórmulas não podem ser realizados sem um certo "reexame" destas fórmulas e, por conseguinte, todo melhoramento e precisão maior das velhas fórmulas e qualquer enriquecimento do marxismo pela nova experiência e novas fórmulas é revisionismo. Tudo isso é engraçado, sem dúvida. Mas o que fazer com Zinoviev se ele mesmo se coloca em posição ridícula e ao mesmo tempo faz alarde de sua luta contra o revisionismo.
  399.  
  400. Stálin, por exemplo, teve o direito de modificar e tornar mais precisa a sua própria fórmula relativa à vitória do socialismo em um único país (1924) em completa correspondência com as indicações e a linha fundamental do leninismo? Segundo Zinoviev, Stálin não tinha esse direito. Por que? Porque a modificação e uma precisão maior de uma velha fórmula é o "reexame" desta fórmula, e "reexame" em alemão significa revisão. Não é claro que Stálin caiu no revisionismo?
  401.  
  402. Conclui-se, dessa forma, que temos, segundo Zinoviev, um novo critério do revisionismo que condena o pensamento marxista à completa imobilidade em face do temor da acusação de revisionismo.
  403.  
  404. Se, por exemplo, Marx afirmou, em meados do século passado, que é impossível a vitória do socialismo dentro das fronteiras de uma nação na época em que o desenvolvimento do capitalismo se processa no sentido de uma linha ascendente, e Lênin afirmou, no ano 15 do século XX que essa vitória é possível em virtude do fato de que o desenvolvimento do capitalismo se processa no sentido de uma linha descendente e nós nos achamos em presença do capitalismo moribundo — então chega-se à conclusão de que Lênin, em relação à Marx, caiu no revisionismo.
  405.  
  406. Se, por exemplo, Marx e Engels definiram a Comuna de Paris como uma ditadura do proletariado que, como se sabe, era dirigida por dois Partidos, dos quais nenhum era marxista, e Lênin, levando em conta a nova experiência da luta de classes nas condições do imperialismo, afirmou posteriormente que uma ditadura do proletariado algo desenvolvida só pode ser realizada sob a direção de um Partido, o Partido do marxismo — então conclui-se que Lênin caiu em manifesto "revisionismo" em relação a Marx e Engels.
  407.  
  408. Se Lênin afirmou, na etapa anterior à guerra imperialista, que uma federação constitui um tipo inadmissível de organização estatal, mas em 1917, levando em conta a nova experiência da luta do proletariado reconsiderou e modificou esta formulação, afirmando que uma federação é um tipo compatível de organização estatal no período de transição ao socialismo — então conclui-se que Lênin caiu em "revisionismo" em relação a si mesmo e ao leninismo.
  409. ______________________
  410. Conclui-se daí, segundo Zinoviev, que o marxismo não deve se enriquecer com a nova experiência, que é revisionismo qualquer melhoramento de determinadas teses e fórmulas deste ou daquele clássico do marxismo.
  411.  
  412. O que é o marxismo? O marxismo é uma ciência. Pode-se manter e desenvolver o marxismo como ciência se não se o enriquecer com a nova experiência da luta de classes do proletariado, se não se re-elaborar esta experiência do ponto de vista do marxismo, sob o ponto de vista do método marxista? Claro que não.
  413.  
  414. Torna-se claro depois disto que o marxismo exige o melhoramento e o enriquecimento das velhas fórmulas na base da consideração da nova experiência mantendo-se o ponto de vista do marxismo, mantendo-se o seu método, mas Zinoviev procede ao contrário, mantendo a letra e substituindo o ponto de vista do marxismo e seu método pela letra de determinadas teses do marxismo.
  415. ______________________
  416. Zinoviev procura mascarar as suas tentativas de "elaborar" Lênin com zombarias relativamente ao fato de que "não se pode construir o socialismo segundo os nossos próprios desejos, em duas semanas ou em dois meses". Tenho o mau pressentimento de que Zinoviev necessita dessas caçoadas para "fazer boa cara em face de um jogo perverso". Mas onde, porém, Zinoviev encontrou pessoas que pretendam construir o socialismo em duas semanas, em dois meses ou em dois anos? Por que então não nos diz quais são essas pessoas, se de fato existem neste mundo? Mas ele não no-las indicou porque elas não existem neste mundo. Zinoviev necessitou de caçoadas de mau gosto para mascarar o seu "trabalho" de "elaboração" de Lênin e do leninismo.
  417. ______________________
  418. Trotski declarou em seus discursos que o maior erro de Stálin é constituído pela teoria da possibilidade da construção do socialismo num único país, em nosso país. Conclui-se, dessa forma, que não se trata da teoria de Lênin a respeito da possibilidade da construção do socialismo em nosso país, mas de uma outra teoria, que ninguém conhece, a "teoria" de Stálin. Julgo que Trotski se traçou como objetivo travar luta contra a teoria de Lênin, mas como é tarefa arriscada travar uma luta aberta contra Lênin, ele então se decidiu a travar esta luta sob o aspecto de luta contra a "teoria" de Stálin. Trotski deseja, com isto, facilitar a sua luta contra o leninismo, mascarando esta luta com a sua crítica da "teoria" de Stálin. Tentarei demonstrar a seguir que a questão se apresenta justamente de maneira que o nome de Stálin aparece aí sem qualquer motivo, que não se pode falar de qualquer "teoria" de Stálin, que Stálin nunca pretendeu apresentar algo de novo em matéria de teoria mas sempre se esforçou no sentido de facilitar o triunfo completo do leninismo em nosso Partido, apesar dos esforços revisionistas de Trotski. Observemos, por enquanto, que a declaração de Trotski relativamente à "teoria" de Stálin é uma manobra, um estratagema, um covarde e infeliz estratagema que visa mascarar a sua luta contra a teoria leninista da vitória do socialismo em países considerados isoladamente, luta que teve início em 1915 e que se prolonga até os nossos dias. Que os camaradas julguem se esse método de Trotski é um indício de polêmica honrada.
  419. ______________________
  420. Fiz, há pouco, uma citação de conhecido artigo de Lênin onde ele pela primeira vez colocou a questão da possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente e, em vista disso, não a repetirei aqui. Esse artigo foi escrito em 1915. Afirma-se, nesse artigo que são possíveis a vitória do socialismo em países isolados, a tomada do poder pelo proletariado, a expropriação dos capitalistas e a organização da produção socialista. Sabe-se que Trotski mesmo então, no próprio ano de 1915, se manifestou, pela imprensa, contra esse artigo de Lênin, chamando de "estreiteza nacional" a teoria leninista do socialismo num único país.
  421.  
  422. Pergunta-se: onde se vê aqui uma "teoria" de Stálin?
  423. ______________________
  424. O Partido afirma que estas teses do leninismo contradizem as conhecidas teses de Trotski e do bloco oposicionista no sentido de que "é impossível a construção do socialismo dentro dos limites nacionais de um país", que "a teoria do socialismo em um único pais é a justificação teórica da estreiteza nacional" e que "sem um apoio estatal direto do proletariado europeu a classe operária da Rússia não poderá manter-se no poder". (Trotski).
  425.  
  426. O Partido afirma que estas teses do bloco oposicionista constituem uma manifestação do desvio social-democrata em nosso Partido.
  427.  
  428. O Partido afirma que a fórmula de Trotski relativamente ao "apoio estatal direto do proletariado europeu" é uma fórmula de rompimento completo com o leninismo. Isso porque, o que significa colocar a construção do socialismo em nosso país na dependência do "apoio estatal direto do proletariado europeu"? O que se deve fazer se o proletariado europeu não conseguir tomar o poder nos próximos anos? Pode a nossa revolução ficar à reboque dos acontecimentos, na expectativa da vitória da revolução no Ocidente por tempo indeterminado? Pode-se contar com que a burguesia de nosso país concorde em aguardar a vitória da revolução no Ocidente, abandonando o seu trabalho e a sua luta contra os elementos socialistas de nossa economia? Acaso não decorre desta fórmula de Trotski a perspectiva de um abandono gradual de suas posições aos elementos capitalistas de nossa economia e depois a perspectiva do afastamento de nosso Partido do poder, em caso de atraso de uma revolução vitoriosa no Ocidente?
  429.  
  430. Não é claro que temos aqui diante de nós duas linhas inteiramente diversas, das quais uma é a linha do Partido e do leninismo, e a outra — a linha da oposição e do trotskismo?
  431.  
  432. Perguntei a Trotski, em meu informe, e continuo a perguntar-lhe: acaso não é verdade que a teoria de Lênin sobre a possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente foi qualificada por Trotski, em 1915, como teoria da "estreiteza nacional"? Mas não obtive resposta. Por que? Acaso a personificação do silêncio é sinal de coragem na polêmica?
  433.  
  434. Perguntei mais adiante a Trotski e continuo a perguntar-lhe: acaso não é verdade que ele repetiu a acusação de "estreiteza nacional" contra a teoria da construção do socialismo ainda muito recentemente, em setembro de 1926, no seu conhecido documento endereçado à oposição? Mas também desta vez não obtive resposta. Por que?
  435.  
  436. Não será por que a personificação do silêncio constitui também um gênero de manobra peculiar a Trotski?
  437.  
  438. Qual a conclusão que se tira de tudo isso?
  439.  
  440. Primeiro, que Trotski se mantém nas suas velhas posições de luta contra o leninismo na questão fundamental da construção do socialismo em nosso país.
  441.  
  442. Segundo, que Trotski não teve a coragem de se manifestar francamente contra o leninismo, tentando dissimular essa sua luta com a crítica a uma inexistente "teoria" de Stálin.
  443. ______________________
  444. Trata-se de que Kamenev e Zinoviev, que se manifestaram, em 1925, a favor da resolução da XIV Conferência, repudiaram-na posteriormente e repudiaram, portanto, o leninismo, passaram-se para o campo do trotskismo, e hoje temem tocar nessa resolução, ainda que de passagem, temendo que sejam desmascarados. O que nos diz essa resolução? Eis um trecho desta resolução:
  445.  
  446. "A vitória do socialismo é perfeitamente possível (mas não no sentido de uma vitória definitiva) num único país". (O grifo é meu — J. St).
  447.  
  448. E mais adiante:
  449.  
  450. "... A existência de dois sistemas sociais diretamente opostos provoca a ameaça constante do bloqueio capitalista, de outras formas de pressão econômica, a intervenção armada e a restauração. A única garantia de uma vitória definitiva do socialismo, isto é, garantia contra a restauração, está, por conseguinte, na revolução socialista vitoriosa numa série de países. Disto não se conclui, de forma alguma, que seja impossível a construção de uma sociedade totalmente socialista num país tão atrasado, como a Rússia, sem o "auxílio estatal" (O grifo é meu — J. St.) (Trotski) de países mais desenvolvidos no sentido técnico e econômico. É parte constituinte da teoria trotskista da revolução permanente a afirmação de que um "autêntico surto da economia socialista na Rússia só se tornará possível após a vitória do proletariado nos países mais importantes da Europa" (Trotski, 1922) — afirmação que condena o proletariado da URSS a se manter, no momento atual, numa passividade fatalista. O camarada Lênin escreveu contra "teorias" desse gênero: "É extremamente ridículo o argumento de que lançam mão e que aprenderam de cor por ocasião do desenvolvimento da social-democracia da Europa Ocidental e que consiste em que ainda não progredimos o suficiente para alcançarmos o socialismo e que entre nós não há, segundo a expressão de diferentes categorias desses "sábios" senhores, as premissas econômicas objetivas para o socialismo" (Notas sobre Sukanov)". (Resoluções da XIV Conferência do P. C. (b) da Rússia "Sobre as Tarefas da Internacional Comunista e do PC (b) da Rússia em relação ao pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista")(57).
  451.  
  452. Vemos que as resoluções da XIV Conferência constituem uma exposição exata das teses fundamentais do leninismo sobre a questão da possibilidade da construção do socialismo em nosso país.
  453.  
  454. Vemos pela resolução que o trotskismo é qualificado de contraposição ao leninismo e uma série de teses da resolução parte da negação franca das bases do trotskismo.
  455. ______________________
  456. Trotski afirma em seu discurso que, ao falar sobre a superação da burguesia da URSS eu tinha em mente a sua superação política. Evidentemente que isto não é verdade. Trata-se de uma manifestação da paixão que Trotski tem pelo fraccionismo. Pela leitura do meu informe torna-se evidente que, ao falar sobre a superação da burguesia da URSS, eu queria me referir à sua superação no sentido econômico, uma vez que politicamente ela já foi superada.
  457.  
  458. O que significa superar economicamente a burguesia da URSS? Ou, em outras palavras: o que significa criar a base econômica do socialismo na URSS?
  459.  
  460. "Criar a base econômica do socialismo — significa ligar estreitamente a agricultura à indústria socialista numa única e indivisível economia, submeter a agricultura à direção da indústria socialista, organizar as relações entre a cidade e o campo na base da troca de produtos da agricultura e da indústria, fechar e liquidar todos os canais com a ajuda dos quais se originam as classes e se origina, em primeiro lugar, o capital e criar, finalmente, condições de produção e de distribuição que conduzam imediata e diretamente à supressão das classes" (Vide informe de Stálin ao VII pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista).
  461.  
  462. Foi assim que eu defendi, em meu informe, a essência da base econômica do socialismo na URSS.
  463.  
  464. Esta definição constitui uma exposição exata da definição da "essência econômica" e da "base econômica" do socialismo apresentada por Lênin no seu conhecido esboço: "O Imposto em Espécie"(58). Se essa definição é justa e se podemos contar com a possibilidade da construção da base econômica do socialismo em nosso país — eis em que se encontra atualmente a questão básica de nossas divergências.
  465.  
  466. Trotski não se referiu nem de leve a esta questão. Ele simplesmente evitou-a, considerando, evidentemente, que seria mais sensato silenciar a respeito.
  467. ______________________
  468. Trotski afirmou em seu discurso:
  469.  
  470. "Stalin diz que estamos realizando a construção do socialismo, isto é, estamos conseguindo a supressão das classes e do Estado, isto é, estamos superando a nossa burguesia. Sim, camaradas, mas o Estado precisa de um exército para se defender dos inimigos externos". (Esta citação é feita na base do texto colhido pela taquigrafia — J. St.).
  471.  
  472. O que significa isso? Qual é o sentido desta citação? Desta citação só se pode tirar uma conclusão: uma vez que a construção da base econômica do socialismo significa a supressão das classes e do Estado e uma vez que necessitamos, não obstante, de um exército para a defesa da pátria socialista, sendo que é impossível existir um exército sem o Estado (como o pensa Trotski) — então chega-se à conclusão de que não podemos construir a base econômica do socialismo até que desapareça a necessidade da defesa armada da pátria socialista.
  473.  
  474. Trata-se, camaradas, de uma miscelânea de todos os conceitos. Isso porque aqui se entende, por Estado, somente o aparelho de defesa armada da sociedade socialista, o que é absurdo, porque o Estado é, em primeiro lugar, a arma de uma classe contra as demais classes e torna-se compreensível por si mesmo que, assim que desaparecerem as classes também não poderá haver Estado. Porque o exército de defesa da sociedade socialista não se concebe aqui sem a existência do Estado, o que além do mais é absurdo, uma vez que teoricamente pode-se admitir perfeitamente uma tal situação da sociedade em que não haja classes, nem Estado, mas o povo armado que defende a sua sociedade sem classes dos inimigos externos. A sociologia nos apresenta muito exemplos de sociedades, na história da humanidade que não tinham classes, não tinham Estado mas se defendiam, desta ou daquela forma, dos seus inimigos externos. O mesmo se pode dizer da futura sociedade sem classes que, não possuindo classes nem Estado, pode contudo possuir uma milícia socialista indispensável para a sua defesa em face dos seus inimigos externos. Considero pouco provável que as coisas possam chegar entre nós a uma tal situação, uma vez que não há nenhuma dúvida de que os êxitos da construção socialista em nosso país e, tanto mais, a vitória do socialismo e a supressão das classes — são fatos de tão grande significação histórica e mundial que não podem deixar de provocar um poderoso impulso dos proletários dos países capitalistas no sentido do socialismo e que não podem deixar de provocar explosões revolucionárias nos outros países. Mas teoricamente é perfeitamente admissível uma tal condição da sociedade em que seja concebível a existência de uma milícia socialista sem a existência das classes e do Estado.
  475.  
  476. Esta questão, aliás, se acha esclarecida, até um certo ponto, no programa de nosso Partido. Eis o que o mesmo afirma a respeito:
  477.  
  478. "O Exército Vermelho, como arma da ditadura do proletariado, precisa de ter um caráter nitidamente de classe, isto é, formar-se exclusivamente do proletariado e das camadas semi-proletárias do campesinato que lhe são próximas. É somente em consequência da supressão das classes que um exército de classe desse tipo se transforma em milícia socialista de todo o povo". (O grifo é meu — J. St.) (Vide Programa do PC (b) da URSS)(59).
  479.  
  480. Trotski, evidentemente, se esqueceu deste ponto de nosso programa.
  481. ______________________
  482. Trotski falou, em seu discurso, da dependência de nossa economia nacional em relação à economia capitalista mundial e afirmou que "do comunismo de guerra isolado passamos cada vez mais à união orgânica com a economia mundial".
  483.  
  484. Conclui-se, assim, que nossa economia nacional, com a sua luta entre os elementos capitalistas e socialistas, une-se organicamente à economia capitalista mundial. Falo sobre a economia capitalista mundial, uma vez que não existe outra economia mundial no momento atual.
  485.  
  486. Isto não é verdade, camaradas. É evidentemente um absurdo. Trata-se de uma manifestação da tendência fraccionista de Trotski.
  487.  
  488. Ninguém nega que existe uma dependência de nossa economia nacional em relação à economia capitalista mundial. Ninguém negou ou nega este fato, assim como ninguém nega o fato de que existe uma dependência de cada país e cada economia nacional, inclusive a economia nacional americana, em relação à economia capitalista mundial. Mas essa dependência é recíproca. Não apenas a nossa economia dependas países capitalistas, mas também os países capitalistas dependem de nossa economia, de nosso petróleo, de nosso trigo, de nossa madeira, finalmente, de nosso imenso mercado. A "Standard Oil", digamos nos abre créditos. Dispomos também de créditos entre os capitalistas alemães. Mas não é por nossos belos olhos que esses créditos nos são concedidos, mas pelo lato de que os países capitalistas necessitam de nosso petróleo, de nosso trigo e de nosso mercado para escoamento de parte do equipamento que fabricam. Não se pode esquecer o fato de que o nosso país representa uma sexta parte do mundo, representa um imenso mercado de escoamento e os países capitalistas não podem dispensar determinadas ligações com o nosso mercado. Tudo isso representa a dependência dos países capitalistas em relação à nossa economia. Essa dependência é recíproca.
  489.  
  490. Isso significa que a dependência de nossa economia nacional em relação aos países capitalistas exclui a possibilidade da construção da economia socialista em nosso país? Sem dúvida que não significa isso. Apresentar a economia socialista como absolutamente fechada e absolutamente independente em relação às economias nacionais que a circundam — significa afirmar uma estupidez. Pode-se afirmar que a economia socialista não terá absolutamente nenhuma exportação e importação, não importará os produtos que faltam ao país e, em consequência disto, exportará os seus produtos? Não, não se pode afirmá-lo. E o que representa a exportação e a importação? É a expressão da dependência de determinados países em relação a outros. É uma expressão de dependência recíproca.
  491.  
  492. O mesmo se aplica aos países capitalistas de nossa época. Não se pode citar qualquer país que não possua exportação e importação. Consideremos a América, que é o pais mais rico entre todos os países do mundo. Pode-se afirmar que os atuais países capitalistas, digamos, a Inglaterra ou a América, sejam países absolutamente independentes? Não, não se pode afirmá-lo. E por que? Porque dependem da exportação e da importação, dependem da matéria prima de outros países (a América se acha em dependência, por exemplo, da borracha e outras espécies de matéria prima), dependem dos mercados de escoamento, onde colocam as suas máquinas e outras espécies de mercadorias manufaturadas.
  493.  
  494. Isso significa que se não há países absolutamente independentes, então por isso mesmo se exclui a independência das economias nacionais isoladas? Não, não quer dizer isso. O nosso país depende de outros países da mesma forma que outros países dependem de nossa economia nacional mas isso ainda não significa que nosso pais perdeu, por isso mesmo, ou perde a sua independência, que não pode defender a sua independência e que deva se transformar num parafuso da economia capitalista internacional. É preciso distinguir entre a dependência de uns países em relação a outros e a independência econômica desses países. A negação da independência absoluta das unidades econômicas nacionais isoladas ainda não significa e não pode significar a negação da independência econômica destas unidades.
  495.  
  496. Mas Trotski não fala apenas da dependência de nossa economia nacional. Ele transforma esta dependência na união orgânica econômica com a economia capitalista mundial. Mas o que quer dizer a união orgânica de nossa economia nacional com a economia capitalista mundial? Quer dizer a sua transformação em apêndice do capitalismo mundial. Mas será que nosso país é um apêndice do capitalismo mundial? Sem dúvida que não! Trata-se de uma estupidez, camaradas. Isso não é sério.
  497. ______________________
  498. O controle capitalista significa, em primeiro lugar, o controle financeiro. Mas acaso os nossos bancos não estão nacionalizados e acaso eles trabalham sob a direção dos bancos capitalistas europeus? O controle financeiro significa a implantação em nosso país de filiais dos grandes bancos capitalistas e significa a formação dos chamados bancos "anônimos". Mas por acaso, há bancos dessa espécie entre nós? Sem dúvida que não! E não somente não há mas também nunca os haverá enquanto viver o Poder Soviético.
  499.  
  500. O controle capitalista significa o controle sobre a nossa indústria, a desnacionalização de nossa indústria socialista e a desnacionalização de nosso transporte. Mas acaso a nossa indústria não se acha nacionalizada e acaso ela não progride justamente como indústria nacionalizada? Acaso se pretende desnacionalizar uma que seja das empresas nacionalizadas?
  501.  
  502. No que me diz respeito, não conheço as propostas que Trotski possa ter para apresentar ao Comissariado para as Concessões. (Risos). Mas não se pode duvidar de que não haverá lugar no nosso país para a existência de desnacionalizadores, enquanto viver o Poder Soviético.
  503.  
  504. O controle capitalista significa o direito de dispor de nosso mercado e significa a liquidação do monopólio do comércio exterior. Sei que os capitalistas do Ocidente deram com o nariz na porta por mais de uma vez ao tentarem romper a couraça do monopólio do comércio exterior. Sabe-se que o monopólio do comércio exterior é o escudo e a muralha de nossa jovem indústria socialista. Mas será que os capitalistas já puderam conseguir êxitos na questão da liquidação do monopólio do comércio exterior? Acaso é difícil compreender que enquanto existir o Poder Soviético o monopólio do comércio exterior será mantido e progredirá apesar de todos os obstáculos.
  505. ______________________
  506. Trotski afirmou em seu discurso:
  507.  
  508. "Trata-se de construir um Estado socialista isolado dentro do cerco da economia capitalista mundial. Isso só poderá ser conseguido se as forças produtivas desse Estado isolado forem mais poderosas do que as forças produtivas do capitalismo uma vez que somente considerando-se a perspectiva não de um ano ou de dez anos, mas de meio século e até mesmo de um século é que se pode consolidar o Estado e a nova forma social cujas forças produtivas sejam mais poderosas do que as forças produtivas do velho sistema social" (Vide o texto taquigrafado do discurso de Trotski perante o VII Pleno Ampliado da Comissão Executiva da Internacional Comunista).
  509.  
  510. Conclui-se, assim, que serão necessários uns cinquenta ou mesmo cem anos para que o sistema socialista de economia demonstre na prática a sua superioridade, em relação ao sistema capitalista de economia, do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas.
  511.  
  512. Isso não é verdade, camaradas. Trata-se de uma miscelânea de todos os conceitos e perspectivas.
  513.  
  514. Para que o sistema feudal de economia demonstrasse a sua superioridade em relação ao sistema escravagista de economia foram necessários, ao que parece, cerca de duzentos anos, se não menos. E não poderia ser de outra forma, uma vez que o ritmo de desenvolvimento era então extremamente lento e a técnica de produção era mais do que primitiva.
  515.  
  516. Para que o sistema burguês de economia demonstrasse a sua superioridade em relação ao sistema feudal de economia foram necessários cerca de cem anos ou menos. Já no seio da sociedade feudal o sistema burguês de economia demonstrou que ele era superior, muito superior ao sistema feudal de economia. As diferenças de prazo aqui se explicam pelo ritmo mais rápido de desenvolvimento e pelo maior desenvolvimento da técnica do sistema burguês de economia.
  517.  
  518. Desde então a técnica atingiu êxitos sem precedentes e o ritmo de desenvolvimento se tornou verdadeiramente assombroso. Pergunta-se: que base tem Trotski para supor que o sistema socialista de economia exige, para demonstrar sua superioridade sobre o sistema capitalista de economia, cerca de cem anos?
  519.  
  520. Acaso o fato de que à frente de nossa produção não se encontrarão parasitas, mas os próprios produtores — acaso este fato não constitui o mais poderoso fator de que o sistema socialista de economia terá todas as probabilidades para fazer avançar a economia a passos de gigante e demonstrar a sua superioridade sobre o sistema capitalista de economia num prazo mais curto?
  521.  
  522. Acaso não é fato que a economia socialista é a economia mais unificada e concentrada e que a economia socialista é dirigida por um plano, acaso esse fato não demonstra que a economia socialista terá todos os elementos positivos para demonstrar a sua superioridade, em prazo relativamente curto, sobre o sistema capitalista de economia, dilacerado pelas contradições internas e minado pelas crises? Não se torna claro, depois de tudo isso, que operar aqui com uma perspectiva de cinquenta a cem anos — significa padecer de uma fé supersticiosa de pequeno-burguês timorato no todo-poderoso sistema capitalista de economia?
  523.  
  524. E que conclusões tiramos daí? Essas conclusões são duas.
  525.  
  526. Primeiro. Nas suas réplicas sobre a questão da construção do socialismo em nosso país Trotski abandonou a sua velha base de polêmica e passou-se para uma nova base. Anteriormente a oposição replicava partindo do ponto de vista das contradições internas, do ponto de vista das contradições entre o proletariado e o campesinato, considerando essas contradições insuperáveis. Agora Trotski frisa as contradições externas, as contradições existentes entre a nossa economia nacional e a economia capitalista mundial, considerando estas contradições insuperáveis. Se anteriormente Trotski julgava que as maiores dificuldades para a construção socialista em nosso país eram representadas pelas contradições entre o proletariado e o campesinato, agora ele muda de frente, passa-se para uma nova base de crítica à posição do Partido e afirma que o maior obstáculo para a construção socialista se encontra nas contradições entre o nosso sistema de economia e a economia capitalista mundial. Com isso ele reconheceu na realidade a inconsistência dos velhos argumentos da oposição.
  527.  
  528. Segundo. Verifica-se que o recuo de Trotski é um recuo para o labirinto, para o pântano. Trotski, na realidade, recuou direta e abertamente em direção à Sukanov. No que consistem, em essência, os "novos" argumentos de Trotski? Consistem em que, em vista de nosso atraso econômico nós ainda não alcançamos o socialismo e que não há entre nós premissas objetivas para a construção de uma economia socialista e que a nossa economia nacional em vista disso, se transforma e deve se transformar em apêndice da economia capitalista mundial, numa unidade econômica sob o controle do capitalismo mundial.
  529.  
  530. Mas isto é sukanovismo, sukanovismo claro e sem nenhum disfarce.
  531.  
  532. A oposição resvalou até o menchevique Sukanov, até sua posição de completa negação de possibilidade de uma construção socialista vitoriosa em nosso país.
  533. ______________________
  534. QUE construímos o socialismo em aliança com o campesinato, isso, ao que parece, é um fato que a nossa oposição não se decide a negar. Construímos realmente o socialismo em aliança com o proletariado mundial — isso a oposição quer pôr em dúvida. Alguns oposicionistas afirmam até mesmo que o nosso Partido subestima a significação dessa aliança. E um deles, Kamenev, chegou mesmo a tal extremo que se pôs a acusar o Partido de nacional-reformismo e de substituir a perspectiva revolucionária internacional pela perspectiva nacional-reformista.
  535.  
  536. Trata-se de uma estupidez, camaradas. Uma rematada estupidez. Somente os loucos podem negar a grandiosa significação da aliança dos proletários de nosso país com os proletários de todos os demais países na tarefa da construção do socialismo. Somente os loucos podem acusar o nosso Partido de subestimar a questão da aliança dos proletários de todos os países. É somente em aliança com o proletariado mundial que se pode construir o socialismo em nosso país.
  537.  
  538. Toda a questão está em se compreender o sentido dessa aliança.
  539.  
  540. Quando os proletários da URSS tomaram o poder em Outubro de 1917 — isso representou uma ajuda aos proletários de todos os países e isso representou uma aliança com os mesmos.
  541.  
  542. Quando os proletários da Alemanha iniciaram a revolução em 1918 — isso representou uma ajuda aos proletários de todos os países e particularmente aos proletários da URSS e isso representou uma aliança com o proletariado da URSS.
  543.  
  544. Quando os proletários da Europa Ocidental faziam fracassar as tentativas de intervenção na URSS, não transportavam armamento para os generais contra-revolucionários, organizavam comitês de ação e minavam as retaguardas de seus capitalistas — isso representou uma ajuda aos proletários da URSS, isso representou uma aliança dos proletários da Europa Ocidental com os proletários da URSS. Sem uma tal simpatia e sem esse apoio da parte dos proletários dos países capitalistas não teríamos ganho a guerra civil.
  545.  
  546. Quando os proletários dos países capitalistas enviam a nós toda uma série de delegações, observam a nossa construção e depois fazem propaganda sobre os êxitos de nossa construção por toda a Europa operária — isso representa uma ajuda aos proletários da URSS, representa um grande apoio aos proletários da URSS, representa a aliança com os proletários da URSS e um freio a uma possível intervenção imperialista em nosso país. Sem esse apoio e sem esse freio não teríamos hoje uma "trégua" e sem essa 'trégua" não teríamos um grande trabalho de construção do socialismo em nosso país.
  547. ______________________
  548. O erro da oposição está em que ela não compreende ou não reconhece estas formas de aliança. A desgraça da oposição esta em que ela reconhece apenas uma forma de aliança, a forma que se manifesta no "apoio estatal direto" ao proletariado da URSS pelos proletários da Europa Ocidental, isto é, uma forma que infelizmente ainda não é aplicada e, ao mesmo tempo, a oposição coloca em completa dependência desse apoio futuro o destino da construção socialista na URSS.
  549.  
  550. A oposição pensa que somente reconhecendo uma tal forma de apoio é que o Partido pode manter uma "perspectiva revolucionária internacional''. Mas eu já afirmei que em caso de demora da revolução mundial uma tal posição só pode conduzir a incessantes concessões de nossa parte aos elementos capitalistas de nossa economia, e, no final das contas, a capitulação e à derrota.
  551.  
  552. Conclui-se, dessa forma, que o apoio estatal direto do proletariado da Europa proposto pela oposição como a única forma de aliança com o proletariado mundial, constitui, no caso de demora de revolução mundial, uma máscara para o capitulacionismo.
  553.  
  554. A "perspectiva revolucionária internacional" de Kamenev como máscara do capitulacionismo — eis, evidentemente, o sentido em que se orienta Kamenev.
  555.  
  556. Por isso não pode deixar de causar admiração a ousadia com que Kamenev se manifestou aqui ao acusar o nosso Partido de nacional-reformismo.
  557.  
  558. De onde surgiu — não se pode empregar um qualificativo mais suave — essa ousadia de Kamenev que nunca se distinguiu entre nós nem pelo revolucionarismo nem pelo internacionalismo?
  559.  
  560. De onde surgiu essa ousadia de Kamenev que sempre foi entre nós um bolchevique entre mencheviques e um menchevique entre bolcheviques? (Risos).
  561.  
  562. Onde conseguiu essa ousadia Kamenev que Lênin, com toda razão, chamava em sua época de "fura-greve" da Revolução de Outubro?
  563.  
  564. Kamenev deseja saber se o proletariado da URSS é internacionalista. Devo declarar que o proletariado da URSS não necessita de um atestado do "fura-greve" da Revolução de Outubro.
  565.  
  566. Desejais saber da medida do internacionalismo do proletariado da URSS? Perguntai aos operários ingleses, perguntai aos operários alemães (tempestuosos aplausos), perguntai aos operários chineses — e eles vos dirão do internacionalismo do proletariado da URSS.
  567. ______________________
  568. 1. Como se formou o bloco oposicionista?
  569. O Partido afirma que o bloco oposicionista se formou por meio da passagem da "nova oposição", por meio da passagem de Kamenev e Zinoviev para lado do trotskismo.
  570.  
  571. Zinoviev e Kamenev negam isto, insinuando que não foram eles que se aproximaram de Trotski, mas este que se aproximou deles.
  572.  
  573. Consideremos os fatos.
  574.  
  575. Falei sobre resolução da XIV Conferência relativa à questão da construção do socialismo em nosso país. Disse que Kamenev e Zinoviev repudiaram esta resolução que Trotski não aceita e não pode aceitar, repudiaram-na a fim de se aproximarem de Trotski e se passarem para do trotskismo. Isto é ou não é verdade? Sim, é verdade. Tentaram Kamenev Zinoviev contrapor esta afirmativa? Não, não tentaram. Limitaram-se silenciar sobre o assunto.
  576.  
  577. Possuímos, também, a resolução da XIII Conferência de nosso Partido que qualifica o trotskismo como desvio pequeno-burguês e revisão do leninismo.(60). Essa resolução foi ratificada, como se sabe, pelo V Congresso da Internacional Comunista. Afirmei em meu informe que Kamenev e Zinoviev repudiaram esta resolução após reconhecerem, nas suas declarações especiais, justeza do trotskismo na sua luta contra Partido em 1923. Isso é ou não é verdade? Sim, é verdade.
  578.  
  579. Tentaram Zinoviev e Kamenev contrapor algo a esta afirmação? Não, não tentaram. Responderam com o silêncio.
  580.  
  581. Citemos outros fatos. Em 1925 Kamenev escreveu o seguinte sobre o trotskismo:
  582.  
  583. "O camarada Trotski enveredou pelo caminho no qual se manifesta o elemento pequeno-burguês dentro de nosso Partido todo o caráter de seus atos e todo o seu passado histórico demonstram isso. Na sua luta contra o Partido ele já se tornou no país um símbolo de tudo o que é dirigido contra o nosso Partido"... "Devemos tomar todas as medidas no sentido de evitar que sejam contagiadas por essa doutrina anti-bolchevique as camadas do Partido com a qual essa doutrina conta, isto é, a nossa juventude, os quadros que no futuro devem tomar em suas mãos os destinos do Partido. E por isso a intensificação de todo gênero de explicações relativamente ao caráter errôneo da posição do camarada Trotski e relativamente à necessidade de se escolher entre o trotskismo e o leninismo e que um e outro não podem se combinar (O grifo é meu — J. St.) — esta deve ser a tarefa na ordem do dia para o nosso Partido" (Vide Kamenev: "O Partido e o Trotskismo", coleção "Pelo Leninismo", págs. 84-86).
  584.  
  585. Tem Kamenev a ousadia de repetir hoje estas palavras? Se se acha disposto a repeti-las, por que ele se encontra atualmente em bloco com Trotski? Se não se decide a repeti-las, então não é claro que Kamenev se afastou de suas velhas posições e se passou para o campo do trotskismo?
  586.  
  587. Em 1925 Zinoviev escreveu o seguinte sobre o trotskismo:
  588.  
  589. "O último discurso do camarada Trotski ("As Lições de Outubro") não é nada mais do que uma tentativa já bastante clara de revisão ou mesmo de uma franca liquidação dos fundamentos do leninismo (O grifo é meu — J. St.). Dentro de pouco tempo isso se tornará claro a todo o nosso Partido e a toda a Internacional" (Vide Zinoviev, "Bolchevismo ou trotskismo", coleção "Pelo Leninismo", pág. 120)
  590.  
  591. Comparemos este trecho de Zinoviev com a declaração de Kamenev em seu discurso: "Estamos com Trotski porque ele não revê as idéias fundamentais de Lênin" — e compreenderemos toda a profundidade da queda de Kamenev e Zinoviev. No mesmo ano de 1925 Zinoviev escreveu sobre Trotski:
  592.  
  593. "Atualmente, em 1925, se acha em processo de solução a questão de se saber quais as características que o PC da Rússia deve assumir. Em 1903 essa questão foi solucionada em relação ao primeiro parágrafo dos Estatutos e em 1925 em relação à Trotski, ao trotskismo. Quem afirma que o trotskismo pode se tornar uma "nuança legal" no Partido Bolchevique deixa de ser bolchevique. Quem deseja atualmente construir um Partido em aliança com Trotski, em cooperação com o trotskismo que se manifesta abertamente contra o bolchevismo, se afasta dos fundamentos do leninismo. (O grifo é meu — J. St). É preciso que se compreenda que o trotskismo é uma etapa ultrapassada e que hoje só é possível construir um Partido leninista a despeito do trotskismo"'"Pravda". de 5 de fevereiro de 1925).
  594.  
  595. Tem Zinoviev a ousadia de repetir hoje estas palavras? Se ele acha disposto a repeti-las, por que forma hoje bloco com Trotski?
  596.  
  597. Se não pode repeti-las, então não está claro que Zinoviev se afastou do leninismo e se passou para o trotskismo ?
  598.  
  599. O que nos revelam todos esses fatos?
  600.  
  601. Revelam que o bloco oposicionista se formou por meio da passagem de Kamenev e Zinoviev para o lado do trotskismo.
  602. ______________________
  603. Camaradas, a ditadura do proletariado, quando existe a dominação do imperialismo em outros países, quando um país, somente um único país, pode romper a frente do capital — a ditadura do proletariado nessas condições não pode existir nem um minuto sem a unidade do Partido, armado com uma disciplina de ferro. As tentativas feitas no sentido de minar a unidade do Partido e as tentativas de formação de um novo Partido devem ser destruídas pela raiz se quisermos manter a ditadura do proletariado e se quisermos construir o socialismo.
  604.  
  605. Por isso é nossa tarefa liquidar o bloco oposicionista e consolidar a unidade de nosso Partido.
  606. ______________________
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