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May 21st, 2018
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  1. Moe Kadeny
  2.  
  3. Eram três da manhã. Um casal deitava na cama, na madrugada. O homem tinha os cabelos negros e espetados, e aspecto japonês, apesar disso, os olhos eram bem abertos. Kazumi olhava apreensivo para a mulher que dormia ao seu lado, na cama de casal. A mulher estava deitada de barriga para cima, com os olhos fechados com força. De repente abriu os olhos e virou-se para o homem.
  4. - Não consigo aguentar, Kazumi... – Disse, apalpando a sua enorme barriga que doía. Kazumi estremeceu.
  5. - Aiko... Ainda não se completaram nem oito meses... – O homem disse, engolindo em seco. Aiko gemeu.
  6. - Desculpe, mas não estou aguentando... Me leve ao hospital... – A mulher implorou. Kazumi admirou seus cabelos negros e lisos com um reflexo azulado do luar. O lugar estava um breu. O homem, com um nó na garganta, apalpou a mesa ao lado e acendeu o abajur. Em seguida, sentou-se na cama e se levantou. Foi até o outro lado da cama ajudando Aiko a se levantar, dando apoio.
  7. Aos passos lentos, Aiko e Kazumi andaram pelos cômodos, Aiko apoiada em Kazumi, que abria as portas e caminhava lentamente, acompanhando os gemidos de dor da mulher. Ainda com roupas de dormir, ambos entraram no carro. Kazumi, apressado, partiu pela estrada deserta. A mulher ainda gemia de dor, alisando a barriga enorme, resultante de quase oito meses de gravidez. Ao chegar no hospital, Kazumi abriu a porta para a esposa, que andou lentamente até o interior.
  8. A enfermeira recebeu-os com urgência. Todos os restantes pareciam ter má vontade, mas ela os apressava. Kazumi interrogava os médicos sempre que podia, mas nenhum deles disse nada muito esclarecedor. Até que a doutora Wilson, uma médica estrangeira, com os cabelos loiros e ondulados, apareceu no quarto e seu olhar foi direto para Kazumi.
  9. - Então, doutora? – Kazumi interrogou-a, pedindo explicações. As mãos tremiam e ele suava muito, mesmo com o ar congelante do hospital, vindo do ar condicionado.
  10. - Está dilatando - A médica afirmou, tentando manter-se séria. – Em poucos minutos começará o trabalho de parto.
  11. Kazumi pareceu atormentado, as mãos tremeram mais ainda e ele levou uma delas a cabeça. A doutora Wilson aproximou-se do homem, e dobrou-se para ficar à altura dele, que estava sentado.
  12. - Não seria melhor esperar lá fora? – Disse, vendo que o homem estava muito nervoso. – Lhe avisaremos quando tudo terminar.
  13. O homem parecia não ter ideias do que fazer em mente. Aceitou com um aceno de cabeça, e meio atormentado, levantou-se. Beijou a esposa e saiu do quarto. Ficou na primeira cadeira que viu ao sair do quarto da esposa. Olhava para o azulejo azul, tremendo em todas as partes do corpo. Sacuida a perna com um tique nervoso. Olhava em volta, ansioso por alguma notícia.
  14. Passaram-se trinta minutos de tortura até que Algumas vozes vieram do quarto. Kazumi empalideceu. Não conseguiu entender as vozes, estava demasiado nervoso. Apoiou a testa na cabeça e fechou os olhos com força, esperando apenas que os ruídos se acalmassem. Depois de poucos minutos, já se ouvia o choro de um bebê. O homem suspirou. Um pouco aliviado, um pouco preocupado, apenas olhou para a porta, apreensivo, ainda balançado a perna nervosamente. Depois de dois minutos, o bebê ainda chorava. “Não são lindas?” Vinham vozes do quarto. Depois de apenas algums segundos a doutora Wilson apareceu com um sorriso suave no rosto.
  15. - São meninas! – Anunciou alegremente. – São gêmeas!
  16. - Posso entrar? – Perguntou, ainda com a perna balançando nervosamente. – Posso vê-las?
  17. A médica fez que sim com a cabeça, ainda com um sorriso no rosto. Kazumi foi apressadamente até o quarto, atropelando a médica.
  18. Aiko sorria, muito emocionada, com duas bebezinhas, uma em cada braço. Tinham a pele parda igual a da mãe. Uma delas chorava, a outra dormia tranquilamente. Kazumi correu até a esposa e olhou as duas filhas com os olhos brilhando. Não se aguentava de felicidade.
  19. - Não são lindas? – A mãe dizia, olhando para Kazumi que se debruçava sob os lençóis azulados que cobriam a esposa.
  20. - São lindas sim. – Disse, abrindo um sorriso de orelha a orelha e deixando escapar uma lágrima. – Elas são iguais a você, Aiko... – E sorriu para a mulher. A mulher sorriu em retribuição.
  21. - São as gêmeas Moe. – Declarou, com um sorriso de orgulho. - Moe Kadeny e Moe Katheryn.
  22. CAPITULO 2
  23. Embora as gêmeas precisassem ficar no hospital até completar os nove meses, tudo ocorrera bem. Kazumi tranquilizou-se ao longo do tempo e os meses passaram-se rápido. “Elas são lindas, iguais a você!” Kazumi repetia sorrindo quando se lembrava das gêmeas. Periodicamente iam visitá-las. Kazumi quase chorou de emoção quando uma delas agarrou com força o seu dedo, que acariciava a bebezinha. Ao final dos nove meses, foram para o hospital. Desta vez não para uma visita costumeira, para levá-las para casa. Kazumi insistiu e fez Aiko comprar os berços assim que saíram do hospital, no dia do parto. Kadeny recebeu um berço Lilás bem claro, e o de Katheryn era rosa. Kazumi perdia-se nas lembranças dos berços e das meninas quando ouviu uma voz chamar seus nomes.
  24. - Senhor Chiang Khai e Senhora Seang Khai – chamava uma mulher de voz aguda e de vestes brancas de enfermeira, na porta que levava aos quartos. Kazumi foi apressado até a mulher, e Aiko foi logo atrás, puxada pelo marido.
  25. - Acompanhe-me, por favor. – A enfermeira pediu e levou até o costumeiro quarto em que as duas ficavam. O casal olhou pelo vidro o quarto dos bebês, admirados, tornaram a olhar para as gêmeas, em berços vizinhos. A enfermeira apareceu com as duas nos braços. Pela primeira vez estavam fora do quarto. O casal sorriu. A mulher entregou Katheryn para a mãe e Kadeny para o pai. Em seu pulso frágil havia uma pulserinha com o nome da mãe “AIKO SAENG KHAI”. Kazumi quase chorou quando Kadeny agarrou o seu dedo novamente com suas mãozinhas de bebê.
  26. O tempo passou rápido. As Gêmeas receberam muita visita de família e amigos, e praticamente todos os conhecidos já tinham a visitado depois de um mês em casa. Kazumi não se cansava de comprar mimos para as filhas. De vez em quando aparecia com brinquedinhos e enfeites de quarto de bebê, fazendo a mãe sorrir e corar, emocionada. Ao primeiro ano das gêmeas, o homem organizou a maior festa que podia. Quase a cidade inteira apareceu. A família Khai rapidamente tornou-se popular por causa das gêmeas Moe e a empolgação de Kazumi para mostrá-las. Todos os anivesários eram uma festa enorme, em um salão caríssimo, com todos os tipos de doce, embora as atrações sempre dormissem nos braços de Aiko no meio das festas. Rapidamente, quatro anos se passaram. As meninas já começaram a adquirir características próprias, inclusive a personalidade. Katheryn era sempre enturmada, e fazia questão dos mimos básicos de menina. Usava roupas rosas “da moda”, tinha vestidos orientais chiquérrimos de festa. Kadeny nunca fez questão de muita coisa, e era mais quieta. Quase todas as roupas dela tinham aspecto oriental, mas não eram tão formais quanto as da irmã.
  27. As irmãs Moe cresceram, e chegou a hora de irem pra escola – cinco anos. Kazumi, é claro, preocupou-se com os mínimos detalhes. Chegou a conversar pessoalmente com a diretora da escola apenas para conferir se teria comprado o paradidático certo, que aparecia com o nome em inglês na lista e o homem tinha comprado uma versão tailandesa. “Não tem problema” todos disseram, mas precisou sair da boca da diretora para que o homem finalmente engolisse e se acalmasse. Aiko tentava tranquilizar o homem e resolveu responsabilizar-se pela compra dos uniformes e das bolsas para sossegá-lo. Katheryn apontava para todos os cantos, indecisa com qual bolsa escolher. “Mãe, aquela é tão bonita!” “Olhe, mãe, aquela tem florzinhas!” ficou em dúvida entre uma bolsa com enfeites de flores branco e outra de corações vermelhos, ambas rosa, e a mãe escolheu a de corações para a filha indecisa. A outra Moe não sabia o que escolher, e por fim escolheu uma bolsa igual a de Katheryn, só que lilás claro, da cor de seu berço, com corações púrpura. A compra de uniforme deixou Katheryn feliz, pois o uniforme parecia bastante com as roupas que costumava usar. Kadeny não mostrou alteração. “É bonitinho” comentou meio forçada quando a irmã lhe mostrou os uniformes com empolgação.
  28. No primeiro dia de aula, Kazumi fez questão de conferir todos os detalhes das garotas bem na porta da escola, repetindo o que fizera duas vezes antes de sair de casa. Com um nó na garganta, ele despediu-se delas, que entraram na escola descontraídas com o novo ambiente. Katheryn rapidamente fez novas amigas. Kadeny não falava muita coisa, mas ganhou as mesmas amigas que a irmã. Ao final do dia, Kazumi buscou-as. O pai já esperava na porta da escola faz meia hora, pois quis se prevenir caso largassem mais cedo. Recebeu com alívio as notícias das gêmeas, que tinham gostado de ir à escola. Preparou na noite daquele dia tudo para o dia seguinte, e conferiu três vezes de manhã de novo. Aos poucos, com os conselhos de Aiko, o pai foi aliviando, e apenas uma olhada básica nas duas nas manhãs já bastava para ele. Na época de férias, Kazumi fez questão de revisar as matérias com as filhas várias vezes. A professora das meninas elogiava-as muito, em especial Kadeny. “Educada, comportada e muito inteligente!” A professora Minchi elogiava sempre que tinha a oportunidade de falar com o pai. Em geral não havia muito conteúdo, pois as escolas nessa idade ensinavam às meninas boas maneiras e educação.
  29. As gêmeas Moe foram sempre muito populares na escola. Katheryn com sua personalidade e Kadeny com sua boa fama em estudos, eram amigas da maioria das meninas das turmas. O mesmo se repetiu nos outros anos. As meninas tinham sete anos quando foram começar, de fato, o ensino fundamental. Kazumi fez igual ao primeiro dia de aula e conferiu os mínimos detalhes de tudo. Katheryn fez questão de bolsas novas e a mãe comprou de boa vontade para as gêmeas. Eram do mesmo modelo, com vários símbolos na língua Thai, que escreviam várias vezes Amor e Amizade. Katheryn escolheu uma bolsa azul e Kadeny uma da cor púrpura, ambas com os escritos em branco. Embora a cultura do país fosse de muita educação e boas maneiras, a cidade e especialmente o bairro era mais desconectada disso. No ensino fundamental, essas “boas maneiras” perderam o valor para muitos alunos. Kadeny tirava excelentes notas, mas não sustentavam sua fama. Todos se interessavam em Katheryn, e por mais que a menina fizesse propaganda da irmã, Kadeny nunca teve uma amiga muito próxima. Os trabalhos em grupo serviam de consolo, pois Katheryn sempre a escolhia, em primeiro lugar.
  30. Uma menina chamada Lang Feng entrou na metade do ano, no início do segundo semestre, e parecia ter os mesmos gostos que Katheryn. A menina rapidamente conquistou sua amizade. Para a surpresa de Kadeny, quando a professora Minchi pediu para juntarem duplas, Katheryn preferiu fazer grupo com Lang Feng desta vez. Kaadeny fez dupla com um menino que sobrara, e aceitou-a de muita má vontade, pois queria fazer dupla com um amigo que, por sua vez, preferira outro. Os dias se passaram e Kadeny ficava cada vez mais sozinha. O ano terminou, e na segunda série, Lang Feng já estava em outro colégio. Mesmo assim, Kadeny não recuperou sua fama. A menina tornou-se extremamente tímida. O pai Kazumi parecia não saber o que acontecia com ela na escola, e sempre exibia Kadeny para a família com suas ótimas notas.
  31. CAPITULO 3
  32. Certo dia, Kadeny ficou na escola até mais tarde para terminar um trabalho em grupo com uma menina até bastante simpática. O pai prometeu de pegá-la as quatro horas, mas terminaram o trabalho bem antes. A menina resolveu dar uma passeada na cidade enquanto não chegava a hora de ser buscada. A sua escola ficava no bairro mais urbano da cidade, as casas em geral não tinham estilo oriental, muito menos as lojas ou as roupas das pessoas. Kadeny atravessou um lago ali perto, caminhando com a amiga que fizera o trabalho de escola, e começaram a observar outro bairro. Neste bairro sim, haviam casas de madeira, de telhado curvo, um clássico oriental, todos se vestiam com o estilo mais asiático possível e haviam dezenas de academias de budismo. Haviam dois templos, um de mármore, outro de madeira, porém ambos com o aspecto oriental do bairro, bem perto ao centro de budismo principal da cidade. Kadeny sentiu imensa atração por esta cultura, mas não pode observá-la. Já eram quase quatro horas e era melhor esperarem Kazumi na escola.
  33. A menina ficou ansiosa por outra oportunidade para visitar o local, mas ela nunca surgia. Kadeny apenas tournou-se mais apreensiva com o passar dos dias. Um certo dia, no café da manhã, Kazumi apareceu com um sorriso no rosto enquanto colocava torradas nos pratos das meninas.
  34. - Ah! Kadeny tirou dez em ciências de novo! – Disse, olhando para a filha com orgulho e um sorriso muito grande no rosto. – Espere só até saberem disso... Estou orgulhosa de você, Moe! – Disse para a filha. A menina se sentiu lisonjeada, mas não deu muita atenção, estava pensando ainda no bairro que vira, e principalmente no centro budista que a fascinara tanto. Kadeny tentou controlar a nervosidade do rosto e decidiu que era melhor pedir ao pai.
  35. - ...Pai? – A menina que ainda nem tocara na torrada disse timidamente. O pai dava uma mordida alegre no pão. Após mastigar, sorriu para a filha e a respondeu.
  36. - Diga, Moe. –Kazumi deu outra mordida feliz enquanto a menina preparava-se para falar.
  37. - Bem... Eu estava vendo... Tem um bairro... Perto da minha escola.... Sabe? – Kadeny hesitou a continuar ao ver que todos olhavam para ela. O pai agora ficou mais sério. Kadeny baixou o tom da voz e olhou para Kazumi. – Eu posso... Dar um passeio por lá? Achei interessante... O lugar...
  38. Aiko olhou para a filha seriaimente.
  39. - É aquele bairro onde tem o centro de budismo? – Perguntou, escondendo no rosto alguma expressão indecifrável. Kadeny fez que sim com a cabeça. Aiko pareceu decepcionada.
  40. - Moe... – Kazumi começou a falar para a menina, sério. – Kadeny... Você não precisa ir lá. Tem tantos bairros para visitar, veja... O nosso bairro é lindo também, não é? – Disse, sorrindo. Kadeny engoliu em seco e resolveu insistir.
  41. - Mas... Lá é diferente. Eu queria saber sobre as religiões, os templos... – A menina parou de falar ao ver que Kazumi fez cara séria.
  42. - Você não tem nada que saber sobre isso. – Declarou, com um tom de irritação na voz, enquanto bebia o café. – São só um bando de idiotas que ficam procurando a “paz interior”. – Kazumi disse, e por fim, terminou de comer a torrada e retirou-se da mesa. A família continou a comer em silêncio. Katheryn olhava de lado para Kadeny, um pouco assustada com a conversa.
  43. Kadeny passou o dia inteiro pensando na conversa e naquele bairro. Parecia-lhe tão calmo, tão interessante. Lembrava-se perfeitamente do aspecto das pessoas e das casas. Ao fim da aula, Kadeny avisou o pai para buscar-lhe de quatro horas, pois iria fazer um trabalho com uma colega, porém, não havia trabalho nenhum desta vez.
  44. Depois que teve certeza que o pai já estava bem longe da escola, a menina saiu e foi passear pelo lago, com a mochila pesando nas costas. Atravessou-o através de uma ponte de madeira, em poucos minutos estava no bairro oriental. O coração dela batia forte. Estava fascinada em ver novamente aqueles templos, aquelas pessoas, aquele aspecto. Ela caminhou lentamente pelo bairro. Duas meninas de olhinhos puxados sorriram simpaticamente para ela, que sorriu em retribuição. Ainda com a mochila nas costas, Kadeny tornou a parar de andar para admirar o grande centro de budismo. Um jardim cheio de estátuas de Buda, muitas flores e a grama bem verde e bonita, ao fundo, um templo onde se ouvia um homem falando calmamente em tailandês.
  45. - Limpem a mente... – A voz falava, calmamente. – Concentrem-se... – E logo ouviram-se longas respirações tranquilas. Kadeny atravessou o jardim e encostou-se a parede lateral para espiar. Haviam pessoas de todas as idades sentados em um tatami e inspirando. Um senhor de idade, na ponta do tatami, virado para eles, dava ordens. Inspirava tranquilamente fazendo um gesto com a mão, e os outros inspiravam junto.
  46. Kadeny ficou fascinada com isso. Observou o grupo por alguns minutos. Quando virou o rosto, assustou-se ao ver que uma senhora estav aindo em direção ao templo. Kadeny agachou-se para se esconder, felizmente, a senhora não a vira. Todos a receberam com muita animação. Depois de mais dois minutos, Kadeny começou a ficar com medo. “ E se me virem aqui?” pensava. Decidiu que era hora de ir. Ainda agachada, andou lentamente, contornando o jardim. Na calçada ela finalmente levantou-se e começou a fazer o caminho de volta. A senhora acabou de sair do lugar e passou por ela. Usava vestes verdes e orientais. Um chapéu de sol esverdeado com pérolas, que eram igualmente verdes. Enfim, a roupa da mulher era inteiramente verde, contrastando com seus cabelos grisalhos e a pele branca. Ela sorriu simpaticamente para Kadeny e entrou no templo de madeira. A menina retribuiu o sorriso, e asism que a velha tornou a entrar e desaparecer, Kadeny foi correndo de volta para a escola. Ao chegar, ainda eram três e meia. Não demorou muito. Faltavam dez para as quatro quando Kazumi apareceu, sorridente, perguntando sobre a menina como tinha sido o trabalho em grupo.
  47. - Ótimo! – Kadeny afirmou, ainda lembrando-se da sua visita ao bairro. Conseguira o que queria tanto.
  48. CAPÍTULO 4
  49. Kadeny passou o dia inteiro no dia seguinte pensando no bairro oriental. A senhora monocromática muito simpática não saía de sua mente. O centro de budismo agora era mais interessante do que nunca aos seus olhos. Era uma sexta-feira, o dia da primeira prova do semestre, de geografia. Geografia era uma matéria em que Kadeny não tinha tirado 10 ainda, e isso o preocupou profundamente, pois seus oito ou nove e meio não bastavam para Kazumi. O pai chegou lá duas horas antes do término da aula. Neste dia, revisou as coisas três vezes de manhã e duas na noite anterior. “E se elas esquecerem alguma coisa ou quebrarem?” Kazumi justificou para Aiko, que reclamava o fato do marido levar estojos reserva quando foi para a escola duas horas antes da largada. O pai perguntou todos os detalhes da prova para a secretária nestas duas horas.
  50. - Vão entregar as provas pela ordem alfabética? - o pai perguntou, preocupado. A moça na secretaria não via porque tanta preocupação.
  51. - Sim, vamos.
  52. - Mas e se o aluno não souber escrever o nome? - Argumentou, dando um soco no balcão. - E se escrever o nome do outro de propósito?
  53. - Senhor Chiang, poderemos reconhecer a caligrafia... Garanto que as professoras conhecem bem...
  54. - Eles podem saber a caligrafia dos outros! - Disse, como se fosse óbvio. A moça começara a irritar-se.
  55. - Ora, Senhor Chiang... Têm apenas oito anos... Não sabem burlar as provas dessa maneira... - Explicou, com um tom irritado. Kazumi fez cara feia para a moça.
  56. - Está bem. - Disse, irritado. - Não me venham procurar se houverem duas Moe Kadeny .
  57. A moça fez cara de absurdo para Kazumi que saiu da secretaria e foi sentar-se no banco da escola. Ele estava inquieto, e a tranquilidade do lugar apenas o inquietava mais ainda. Abriu os estojos das duas e começou a conferir as coisas.
  58. - Lápis, borracha, caneta, lapi... - Custou a achar a lapiseira e entrou em desespero por alguns segundos por isso. - Lapiseira.
  59.  
  60. - Reserva ecológica é... - Kadeny falou para si mesma baixinho, enquanto escrevia. Tinha hábito de falar o que escreve, de maneira quase inaudível. - Não sei o que é. - Falou no mesmo tom de voz para si, e olhou ao redor para ver se a resposta lhe vinha à mente. Os pensamentos iam longe, para o bairro oriental; E não conseguia se concentrar direito. Um pouco nervosa, a menina colocou o lápis na mesa e levantou-se. Andou lentamente até o balcão da professora.
  61. - Professora... - Kadeny disse, olhando para a tia.
  62. - O que é? - Minchi perguntou simpáticamente.
  63. - Posso ir no banheiro?
  64. - Claro, Kadeny. - Declarou, com um sorriso. Kadeny desceu as escadas até o pátio, planejava mentalmente ir até o bairro oriental de novo. Já se virava para o portão quando foi surpreendida por uma mão que a segurou com força pelo ombro.
  65. - Moe! - Kazumi disse, e Kadeny virou-se. - Porque você desceu? Está bem? Está com febre? - Kazumi perguntou com cara de preocupado. Agachou-se, e enquanto dizia, media a temperatura do pescoço e da testa, chegou a checar se os pulsos estavam bombeando sangue e o coração estava batendo.
  66. - Eu estou bem. - Kadeny falou, recuperando-se do choque. - Eu só vou ao banheiro.
  67. - Ah sim, vá. - Disse, ainda preocupado. - O banheiro é por ali.
  68. - Eu sei, pai... - Andou até o banheiro.
  69. - Se houver qualquer coisa, pode gritar para mim... Não tenha vergonha... - Ele disse, e voltou a se sentar no banco, ainda apreensivo. Continuou a checar o outro estojo. Kadeny, no banheiro a pulso, lamentava-se pelo pai estar lá. Não poderia visitar o bairro agora. A não ser que algo acontecesse com o pai, mas era muito difícil. A meina já perdia as esperanças quando ouviu batidas na porta do banheiro.
  70. - Moe? Está aí? - A voz de Kazumi perguntava, apressada.
  71. - Estou, porque? - Kadeny disse, sem entender.
  72. - O seu estojo reserva está sem lapiseira. Eu revisei tantas vezes. - Disse, com o tom de voz atormentado. - Se a sua quebrar, ficará sem. Eu vou em casa pegar uma lapiseira. Se não achar, eu vou até a lojinha e compro uma agora mesmo.
  73. Kadeny assustou-se. Não era nescessário, sua lapiseria funcionava muito bem, e mesmo que quebrasse, tinham dois lápis com a ponta bem afiada. Mesmo assim, não queria desperdiçar uma oportunidade para livrar-se do pai.
  74. - Tudo bem... - Disse, apressando-se para sair do banheiro.
  75. - Muito bem. Eu... eu volto daqui a uma hora. Vou aproveitar e comprar algumas coisas a mais. - Disse, e Kadeny ouviu os passos de Kazumi afastando-se. A menina ainda não acreditava no que aconteceu, e saiu do banheiro o mais rápido que pode. O tempo era curto, Minshi ainda a esperava. Ela correu, desta vez mais leve, sem a mochila nas costas, atravessou a ponte de madeira sob o lago e depois de um minuto já estava no ambiente que adorava tanto. Dois homens se cumrpimentavam com reverência vestidos em suas nobres roupas orientais, no outro lado da rua mais próxima ao lago. Moe dobrou à direita, onde nunca fora antes. As casas começaram a tornar-se mais raras e o chão misturava-se com areia. Chegara à uma rua onde o único caminho era uma curva à esquerda. Depois de andar poucos metros tinha que dobrar para a direita de novo. Uma praia deslumbrante encantou-a. Muitas pessoas divertiam-se no mar, outras na orla, sob seus guarda-sóis orientais. Uma barraquinha com uma placa tailandesa no lado tinha dentro um homem um pouco gordo, de aspecto oriental e avental, que servia alegremente alguns pratos tailandeses para uma moça com roupas de praia e uma canga vermelha. Kadeny queria explorar a praia, mas controlou-se; já demorara muito, precisava voltar à escola. Correu o mais rápido que pôde, sem pensar em nada mais do que chegar na escola logo. Tropeçou muitas vezes mas continou correndo. Chegou à escola, totalmente vazia, Kazumi não chegara. Subiu a escada apressada, e abriu a porta com um golpe rápido. A porta bateu com força na parede e todos olharam para ela. Moe olhou para Minchi.
  76. - Desculpe, professora, me atrapalhei...
  77. - Tudo bem, Moe, sente-se. - A professora disse, sorrindo, e os alunos voltaram a olhar para suas provas. Kadeny acalmou-se e voltou a sua cadeira. Katheryn olhou desconfiada para ela, mas o olhar durou pouco.
  78. - Reserva ecológica é... - Ela leu o que tinha já tinha escrito. Bateu o lápis na mesa, pensando, e a resposta lhe veio a mente. - é uma área de proteção ambiental muito importante para a preservação da vida selvagem, flora, fauna ou características geológicas.
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