Advertisement
Not a member of Pastebin yet?
Sign Up,
it unlocks many cool features!
- >tava lá eu, sentadão, saboreando minha cerva
- >porra mano fazia tempo que eu não tomava uma cervinha gelada dessas
- >entre goles de cerveja, eu repetia pela milhonésima vez a história que a Sophia tanto gostava de ouvir
- >ela adorava os detalhes do que eu fiz com o Playboy
- >cada vez que eu mencionava o barulho dos dedos dele quebrando
- >ou o grito de dor dele quando eu arrancava seus dentes com um alicate
- >o olho dela brilhava
- >era quase assustador
- >terminei logo a porra daquela história, já não aguentava mais falar disso
- >”mas eu tenho que te dizer uma coisa menina, você tem coragem mesmo hein” eu falei
- >”entrar na toca do lobo dessa forma, não é pra qualquer um”
- >ela me olhou, ainda saboreando a dor do Playboy
- >”você sabe que eu não fiz isso sem planejar milhares de vezes, Yuri”
- >”não é só porque eu não sou pm com 30 kilos de bíceps em cada braço que eu não possa ser perigosa” ela falou
- >porra, Deus me livre
- >eu sinceramente tenho medo dessas coisas
- >um meliante armado dá pra você alvejar, se tiver a técnica e a paciência
- >agora mulher vingativa irmão, não é pra qualquer um
- >”de qualquer forma, foi uma coisa perigosa que você fez, Sophia. Eu nem sei porque deixei você fazer isso” falei, virando o resto da minha latinha
- >”quem disse que eu preciso da sua autorização pra fazer o que eu quero, caveira? “ ela respondeu, cheia de ironia, enquanto ia levantando pra me buscar outra cerveja
- >”seu namorado, antes de morrer, me pediu pra ficar de olho em você” eu falei, abrindo o jogo com ela
- >porra, se tu esperava que eu fosse falar isso cheio de delicadeza e carinho você tá lendo o gt do cara errado
- >eu jogo limpo porra, comigo não tem espaço pra dúvida nem pra trololó
- >dei o papo reto
- >”você é inteligente mas gosta demais de se arriscar, poderíamos ter feito aquilo de outra forma”
- >ela me deu a cerveja, e percebi que o rosto dela tinha mudado de feição
- >deu pra ver que falar do Caneta ainda machucava ela
- >”ele pode até ter te pedido isso, Yuri” ela falou
- >”mas eu sei que se ele tivesse vivo e vocês estivessem em um tiroteio, você o mataria sem pensar duas vezes”
- >porra, a menina estava certa
- >é foda, eu nem tinha como negar
- >”ele me mataria também, se precisasse” respondi
- >”bom, o plano deu certo e é isso que importa” ela falou, tentando esconder o desconforto com aquele assunto
- >”além disso, não é pra falar sobre ele que eu te chamei aqui” ela disse, se sentando e tomando uma cerveja comigo
- >eu ainda não conseguia me acostumar com essa nova Sophia
- >eu nunca fui muito de conversa com ela, não sou de bater papo com vizinho
- >ela sempre tinha sido amiga da Juliana, vivia indo lá em casa
- >e quando eu olhava pra cara dela, sempre via uma menina quietinha, inocente, quase infantil de tão certinha
- >hoje em dia ela tinha uma malícia nos olhos
- >tava tão diferente que mal dava para reconhecer
- >”então diga, o que você quer?” perguntei
- >”bom, eu quero te informar que, agora que eu terminei a faculdade de Medicina, eu tava procurando onde trabalhar né”
- >”de preferência algum lugar diferente, que atenda meus interesses” ela começou a explicar
- >”hm, já sei” eu a interrompi
- >”você quer que eu arranje uma vaga pra você no hospital da PM?”
- >”não quero nenhum favor seu, Yuri” ela respondeu
- >”já consegui o trabalho que eu queria”
- >”e onde é?” perguntei
- >ela me olhou nos olhos e respondeu
- >”vou ser voluntária nos Médicos Sem Fronteiras. Eles abriram mais de 200 vagas para a minha especialidade”
- >”estou viajando semana que vem para o Líbano”
- >”vou passar seis meses lá”
- >fiquei encarando ela, sem acreditar
- >irmão, que tipo de doente mental faz uma coisa dessas?
- >a menina quer ir pro meio do Oriente Médio brincar de soldado?
- >”presta atenção Sophia, eu aceitei o negócio do playboy porque você tinha um motivo, vingar o Caneta”
- >”mas isso que você está querendo fazer agora é loucura e eu não vou permitir” falei, com firmeza
- >”você não tem que permitir nada, Yuri. Tem que aceitar, só isso” ela respondeu
- >”garota, de onde tu tirou essa ideia doentia? De boa”
- >”você já parou pra pensar que existem pessoas que gostam de você e que se importam com você?”
- >”e que você tem responsabilidades para com estas pessoas? E que não pode arriscar sua vida a toa?”
- >”Yuri, a única pessoa que eu amava e que me correspondia morreu a mais de um ano”
- >”não tem mais nada pra mim aqui. Eu vou pra um lugar onde eu possa realmente viver e fazer algo de útil”
- >”não quero passar o resto da minha vida trabalhando no consultório e gastando dinheiro com coisas fúteis”
- >”quero fazer algo que faça a diferença” ela falou, convicta
- >eu percebi que ela não ia mudar de ideia então foda-se
- >não vou ficar dando murro em ponta de faca
- >”muito bem Sophia, você é adulta e faz o que quiser da sua vida” eu respondi
- >”mas me diz uma coisa. O que o Caneta fez de tão especial pra você se apaixonar tanto assim?” eu perguntei, sem entender
- >eles ficaram tão pouco tempo juntos, eu não conseguia compreender esse fascínio que ela tinha por ele
- >ela se levantou e disse “ele me ensinou a lição mais importante de todas”
- >”não podemos esperar que os outros sejam fortes por nós. Nós é que temos que ser fortes” ela falou, enquanto virava e ia embora
- (Parte I)
- >acordei de madrugada, com o celular tocando baixinho do meu lado
- >5:30 da manhã, já era hora de fardar e ir pro batalhão
- >levantei meio com preguiça mais foda-se e fui me vestir
- >enquanto eu colocava a farda, olhei pra Ju
- >a minha guerreirinha
- >a missão que o meu irmão Costa tinha colocado na minha vida
- >eu ainda não tinha esquecido do sacrifício dele nem da missão que ele tinha me passado
- >ele salvou a minha vida
- >se não fosse o sacrifício dele, eu também teria entrado em depressão e me matado
- >mas ele me fez viver, para proteger o bem maior dele
- >a Juliana e o filho dele, o Rodrigo
- >o moleque tinha nascido a um mês
- >grandão igual o pai
- >dei um beijo na testa dos dois, antes de sair
- >mas de uns tempos pra cá, comecei a ficar preocupado
- >afinal, quem eu estava enganando?
- >a Juliana não precisava de mim, tinha dinheiro pra cuidar muito bem do Rodrigo sozinha
- >poderia estar com um cara muito mais rico
- >não precisava mais da minha proteção
- >o que eu estava fazendo ali?
- >será que eu estava atrasando a vida dela e do Rodrigo?
- >será que eu estava atrapalhando ao invés de ajudar?
- >passei o dia no quartel pensando nessas coisas enquanto a gente fazia nossos treinamentos
- >treinamos periodicamente pra não perder nosso condicionamento
- >e, recentemente, com as implantações das UPPs, o BOPE estava sendo cada vez menos requisitado
- >resultado: treinávamos mais do que qualquer outra coisa
- >eu gostava de treinar artes marciais, dar porrada (e tomar, ocasionalmente) é bem relaxante
- >no final do dia, saí do batalhão de carro e fui voltando pra casa, como de costume
- >mais um dia normal para o caveira encostado
- >foi aí que meu telefone deu aquele bip
- >era uma mensagem no whatsapp
- >mermão eu odeio essa porra, fica dando bip toda hora
- >tu manda mensagem vagabundo responde com carinha
- >enfia essa carinha no seu cu, filho da puta
- >mas dessa vez era coisa séria
- >um número desconhecido me mandou uma mensagem
- >”Me encontre no Bar do Adão na Aires Saldanha, em Copacabana”
- >não sabia quem era, mas fui
- >adoro o pastel do bar do Adão
- >mas deixei a Glock de prontidão pra caso fosse algum marginal de tocaia
- >cheguei lá, o bar estava mais ou menos vazio
- >tinha um casal de namorados em um canto
- >uma mãe com o filho pequeno em outro
- >uma gringa assistindo TV, provavelmente sem entender nada
- >e um homem de terno sentado no fundo, em um lugar afastado e quieto
- >com uma cara de sério, cabelos grisalhos
- >adivinha qual desses provavelmente tinha me chamado?
- >fui lá sentar com o cara
- >”presta atenção irmão, eu recebi a tua mensagem então me diz aí, sem gracinha”
- >”por que você me chamou aqui e o que você quer? “
- >o maluco sorriu, com uma cara estranha lá
- >”você é exatamente o que eu estava procurando, Sargento Yuri” ele falou
- >caralho, quem é esse cara e como ele sabia meu nome?
- >cheguei perto dele e falei
- >”olha só vovô, presta bem atenção no que eu vou te falar”
- >”eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui batendo papo com maluco”
- >”então acho bom você desembuchar ou eu vou colocar tanto chumbo no seu corpo que você seu apelido no asilo vai ser Homem de Ferro”
- >o cara continuou sorrindo
- >”você é feliz com a sua vida, sargento?” ele perguntou
- >”com a sua mulher, que ganha mais que você”
- >”com a sua carreira no BOPE, que está congelada”
- >”com a bandidagem do Rio, que cada vez mata mais e mais policiais, seus irmãos de farda”
- >”você está satisfeito com isso?” ele perguntou
- >”é claro que não” eu respondi, intuitivamente
- >”muito bem, sargento. Eu vim aqui para te oferecer uma oportunidade”
- >”uma oportunidade de fazer diferente”
- >”estou ouvindo” eu disse, meio desconfiado
- >”antes de mais nada, deixa eu me apresentar. Me chamam de Duque, sou diretor do centro assuntos extraordinários da ABIN”
- >eu conhecia esse nome, ABIN
- >a agência brasileira de inteligência
- >a equivalente à CIA do Brasil
- >”nós temos acompanhado seu desempenho há anos, você é um policial excepcional e cheio de recursos”
- >”recursos?” eu perguntei, sem entender o que aquele coroa tava querendo dizer
- >”sim, claro. Nós ficamos sabendo da sua jogada com aquela menina, a Sophia” ele disse
- >meus olhos arregalaram na hora
- >caralho, como esses filhos da puta sabem disso? Só eu e ela sabíamos daquele plano de matar o playboy
- >”a propósito, não se preocupe, temos uma célula no Líbano e vamos monitora-la para garantir o bem estar dela” ele disse, com aquela voz mansa dele
- >”enfim, precisamos de homens como você para realizar uma missão especial”
- >”que missão especial é essa?” perguntei, curioso
- >”sargento, o que vocês fazem aqui no Rio de Janeiro é enxugar gelo”
- >”você mata um bandido hoje, amanhã tem dois na rua. Vocês apreendem um fuzil hoje, amanhã tem três no crime”
- >”você já pensou em terminar com todo esse problema de uma só vez? Cortando o mal pela raiz e poupando a cidade de mais décadas e décadas de violência?”
- >”isso é impossível” eu respondi
- >”não, não é. Nossos agentes rastrearam o homem que repassa drogas e armas para as maiores facções criminosas no Brasil”
- >”caso algo aconteça com esse homem, o baque será tremendo em toda a estrutura da criminalidade brasileira”
- >”é tudo uma questão de estratégia, uma intervenção cirúrgica que permitirá que o crime desabe como um castelo de cartas” ele falou
- >porra, a ideia era genial
- >eu abri minha boca para fazer uma pergunta, mas antes que eu pudesse falar, ele se levantou
- >”bem, eu já falei demais. se você quiser saber mais, estarei esperando pelo seu contato. Você tem 24 horas para dizer se quer ir”
- >“mas, se não for do seu interesse, basta não me responder. Não vou insistir nem voltarei a te procurar”
- >”você tem meu número. Estarei aguardando”
- >ele foi embora do restaurante, entrando num carro preto e saindo pelas ruas de Copacabana
- >eu tinha 24 horas para decidir
- >mas na minha cabeça, eu já tinha a resposta
- (Parte II)
- >já era noite
- >a Juliana tinha colocado o Rodrigo pra dormir
- >porra o pirralho é enjoado pra cacete, só quer saber de ficar assistindo peppa
- >ela tava lá, me esperando na cama
- >um daqueles raros momentos onde um casal com filho pode transar
- >e eu lá, na varanda, com a porra do telefone na mão
- >”vem pra cama amooor” ela disse, tentando não acordar o bebê
- >porra, é foda, eu não podia abandonar minha família assim
- >mas eu ainda tinha aquele espírito de polícia, de moleque
- >sentia saudade pra caralho da época do GAT, eu e Costa dando prejuízo pra vagabundagem
- >porra, eu ia fazer isso
- >ia aceitar o convite do coroa, do duque
- >mas não ia ser só por mim
- >ia ser pelo Costa também
- >tamo junto irmão
- >liguei pro número que ele me deu lá
- >”finalmente hein, achei que nunca iria ligar” o velho respondeu, do outro lado da linha
- >”to dentro do bagulho Duque, o que eu faço agora?” perguntei
- >”você vai vir pra Brasília pra ser integrado à equipe. Esteja no aeroporto de Jacarepaguá amanhã às 9 da manhã”
- >”não conte nada a ninguém, nem à sua mulher”
- >”não se atrase” ele terminou, antes de desligar
- >voltei pra dentro do quarto, e a Ju tava me olhando com a carinha de safada
- >ela ainda era uma mulher muito bonita, apesar da gravidez
- >”eu acho que você é viado, Yuri... você fica mais tempo marcando paintball com os caras do batalhão do que comigo” ela falou, dando risada
- >”era isso que você tava fazendo no celular? Ou tava vendo putaria pelo whatsapp? Já falei pra você sair desses grupos hein”
- >”não era nada disso, Juliana” eu respondi, meio sério
- >ela sentou e veio pra perto de mim
- >”que foi amor, o que houve?” ela perguntou, de um jeito carinhoso
- >eu odeio mentir, especialmente pra ela
- >ela sabia disso, e por isso confiava em mim incondicionalmente
- >mas dessa vez não ia ter jeito, eu ia ter que enganar, mesmo odiando
- >”vai ter um curso novo de combate urbano no BOPE e eu me inscrevi, vou ficar um tempo fora” falei
- >ela me olhou por um tempo, até abrir um sorrisão
- >”que bom amor!” ela disse, me abraçando “fico feliz, você é tão comprometido com o trabalho”
- >”se precisar de qualquer coisa me fala, estou aqui pra te apoiar” ela disse
- >porra, a mina é foda, olha que moral
- >”mas e o Rodrigo? Tu vai conseguir cuidar de boa?” perguntei, meio preocupado
- >”ah, deixa disso Yuri. Como se você trocasse as fraudas dele né” ela falou, deitando de novo na cama
- >”agora vem dormir porque você precisa descansar pra ficar bem pro curso” ela disse, me puxando
- >deitei abraçado com ela mas, aquela noite, eu não consegui dormir direito não parceiro
- >no dia seguinte, tomei café da manhã com ela pela primeira vez em um tempão
- >coloquei meus equipamentos numa mochila e me arrumei, com uma roupa à paisana
- >na hora de ir, fui dar um beijo no Rodrigo e depois na Ju
- >ela me segurou pelo braço e disse, bem séria
- >”eu sei que você vai fazer a coisa certa, amor. Tô sempre aqui, do seu lado”
- >me deu um beijo e depois praticamente me empurrou pra fora
- >ela me conhecia pra caralho, sabia que eu não ia conseguir sair sozinho
- >mas ela me ajudou, então eu fui
- >não vou mentir, eu não conseguia tirar aquela mina da cabeça
- >no final das contas, ela era a última pessoa que ainda tava ali pra mim
- >e ela sempre tava do meu lado, me incentivando
- >nessas horas você tem que ser forte, não tem jeito
- >peguei o carro e dirigi até o aeroporto de Jacarepaguá, conforme o que o Duque falou
- >lá, já tinha um avião particular esperando por mim
- >embarquei e ele decolou, rumo a Brasília
- >passei a viagem inteira pensando na Ju, no Costa, na nossa família
- >imaginando como seria se ele ainda tivesse vivo
- >nós curtindo o Rodrigo crescer, comendo churrasco na beira da piscina ao som de raça negra
- >mas fazer o quê irmão
- >a Sophia falou algo que é muito verdadeiro
- >não podemos esperar que os outros sejam fortes pra gente
- >nós temos que ser fortes nós mesmos
- >antes que eu pudesse perceber, o avião desceu em Brasília
- >pra minha surpresa, já havia uma equipe lá me esperando
- >uns caras de terno preto e óculos escuros, todos armados
- >parecia aquele filme lá do Will Smith, homens de preto
- >porra, eu olhei aquilo e dei mó risadão
- >um dos caras não gostou, veio me perguntar
- >”tem alguma coisa engraçada aqui?”
- >aí eu tive que responder
- >”po amigão, eu sou do BOPE e vou falar pra vocês, deixa a roupa preta pra gente porque em vocês fica ridículo”
- >comecei a gargalhar
- >mas aí vi que ninguém riu, então calei a boca
- >a viagem de carro foi curta, logo estávamos na sede da ABIN
- >um prédio alto e bonito, com uns vidros pretos, coisa bacana mesmo
- >os seguranças me levaram até uma sala no subsolo
- >”aqui você vai receber maiores informações sobre a operação”
- >eu abri a porta e entrei na sala
- >era uma sala relativamente pequena e bem escura, com um projetor lançando a imagem de um mapa em um quadro
- >em volta, várias cadeiras ocupadas por soldados
- >e em pé, um homem um pouco mais baixo que eu, magro e de pele morena, que aparentemente estava explicando a situação
- >ele olhou pra mim e falou “você deve ser o sargento Yuri?”
- >respondi que sim
- >”eu sou o tenente Fontes, oficial em comando dessa equipe” ele disse, se apresentando
- >fiz a continência e o cumprimentei
- >”a vontade, sargento. Na sala são seus companheiros, os sargentos Hotel, Golf, Victor, Sierra, Delta, Bravo, Alpha e Whisky”
- >era óbvio que esse não era o nome dos caras, ele pegou a inicial de cada nome e usou o alfabeto militar para preservar a identidade deles
- >deu pra ver que os caras aqui realmente eram profissionais
- >me sentei numa cadeira vazia e ele começou a falar
- >”o nosso alvo se chama Pedro Juan Caballero, um ex coronel do Exército Paraguaio que mora nesta fazenda, a 60 km da fronteira com o Paraná” ele apontou no mapa a localização da fazenda
- >”esse homem é a peça chave na articulação dos criminosos brasileiros com os produtores internacionais de maconha e cocaína, fora o tráfico ilegal de armas, pessoas e animais”
- >”nossa missão é mata-lo, da forma mais discreta e eficiente possível para evitar que as autoridades brasileiras possam ser identificadas como autoras da ação”
- >”se nossa identidade for revelada, podemos causar um estado de guerra entre o Brasil e os outros países, portanto, sigilo é fundamental”
- >”vamos de avião até Foz do Iguaçu, onde pegaremos helicópteros que nos levarão ao local da ação e nos retirarão de lá”
- >”tudo isso ocorrerá durante a noite, a duração máxima da operação será de exatos 30 minutos, ou seja, temos 30 minutos para entrar, executar o alvo e nos evadirmos do local”
- >”quem não tiver nos helicópteros nesse tempo será deixado para trás”
- >”alguma dúvida?” ele perguntou
- >um dos guerreiros levantou a mão: “e quanto à segurança do coronel Caballero?”
- >”nossos agentes informam que o local é protegido por cerca de 20 seguranças que se revezam em turnos”
- >”não deve ser difícil dominá-los de surpresa para executar o coronel”
- >”existe alguma precaução para o caso de dano colateral?” outro perguntou
- >explicando, dano colateral é como os militares chamam a possibilidade de civis serem atingidos em uma operação militar
- >”por questão de segurança, qualquer pessoa que esteja no local deve ser executada, inclusive não-combatentes” o tenente respondeu
- >”como não há mais dúvidas, os senhores estão liberados. Sgt Yuri, por favor, me acompanhe” ele disse, me chamando para falar com ele
- >fui junto dele, na direção oposta do resto da tropa
- >ele me guiou por um corredor enquanto ia falando comigo
- >”sinceramente, sargento, eu não sei por que você foi incluído na nossa equipe”
- >”especialmente na véspera de uma operação desse vulto”
- >”nossa equipe já está formada a tempo e tem um padrão técnico muito elevado”
- >”quero me garantir de que não vou ter nenhum tipo de surpresa negativa ao seu respeito”
- >eu o acompanhei, ouvindo toda aquela baboseira
- >quando ele terminou, pedi permissão pra falar
- >”tenente, com todo o respeito, eu acho que sei porque fui chamado”
- >”fui chamado porque precisam de um soldado de verdade na operação, entendeu? Um cara que entenda do assunto” falei, abrindo o jogo
- >o tenente parou e me olhou, com uma cara de surpreso
- >ao contrário da PM, os caras do Exército levam a hierarquia a ferro e fogo
- >não existe isso de sargento responder tenente
- >isso explica a cara de bunda do tenente lá
- >como eu não sou do Exército, falei mesmo, foda-se
- >”presta atenção tenente, eu sou caveira, eu tenho bastante experiência em troca de tiro e ação de alto risco”
- >”todos aqui temos uma formação especializada na área de combate de...” ele começou a falar
- >cortei o trololó dele rapidinho
- >”sim, sim, tenho certeza que as suas credenciais são impressionantes tenente, mas com certeza eu tenho mais operações nas costas do que você tem anos de vida”
- >”então vamos deixar uma coisa bem clara aqui entre a gente, ok? Você está no comando da operação, mas eu vou ajudar a guiar porque essa é a minha área e é o que eu faço”
- >”e eu espero que nós estejamos entendidos, porque não quero ouvir mimimi durante o tiroteio, fui claro?” perguntei
- >ele já ia me responder, mas nós chegamos à porta e uma voz nos mandou entrar
- >entramos
- >era o escritório do Duque
- >ele tava sentado atrás de uma mesa grande, de madeira
- >aquelas mesas bonitas que os manda chuva colocam o pé em cima nos filmes de hollywood
- >não, ele não tava com o pé em cima da mesa
- >em um canto da sala, tinha uma mesinha e uns sofás em volta
- >e sentados nos sofás tinha uma constelação
- >uns 5 ou 6 generais
- >era tanta estrela nos ombros daqueles caras que o escritório mais parecia o planetário
- >quando entramos, eles se retiraram. O tenente fez mó pose, ele é todo cheio de coisa com esse negócio de etiqueta militar
- >eu fiquei parado, nem muito reto nem muito relaxado, e aparentemente os generais não ligaram muito
- >depois de esvaziarem a sala, o Duque olhou bem pra cara do tenente e perguntou
- >”qual é o relatório da missão Serafim, tenente?”
- >”conforme o planejado senhor, a equipe já foi reunida e informada da operação, amanhã iremos para Foz do Iguaçu e depois de amanhã o alvo já estará morto”
- >falou com aquela voz monótona de militar que parecia um robô
- >”excelente” o Duque respondeu. “ tenho mais uma missão para você, tenente”
- >”depois de eliminar o alvo, preciso que você fotografe a casa, colete documentos, computadores, celulares, tudo”
- >”e retorne esse material para análise posterior”
- >”é imprescindível que você colete o máximo de material possível, entendido?”
- >”sim senhor” ele respondeu, com aquela cara de Capitão América
- >”além disso, quero que o sgt Yuri seja designado como subcomandante da missão”
- >”tenho fé na experiência e na capacidade do sgt”
- >”alguma dúvida?”
- >o tenente ficou com cara de cu, mas tinha que acatar
- >”não senhor” ele responde, dessa vez com bem menos entusiasmo
- >”dispensado” Duque respondeu
- >eu virei pra ir embora junto com o tenente, mas antes o Duque falou
- >”você fica”
- >eu me virei e encarei o coroa
- >”já conseguimos localizar a Sophia no Líbano e eu mandei pessoalmente destacar alguns homens para cuidar da segurança dela” ele me disse
- >pfff, como se aquela menina precisasse de segurança
- >mas fiquei aliviado, eu ainda estava preocupado com a loirinha
- >”além disso, estamos monitorando sua família também para garantir que nada de ruim aconteça na sua ausência” ele falou
- >”Duque, olha só, com todo respeito, eu não entendi que porra é essa ainda” eu falei
- >ele se reclinou contra a cadeira, um pouco espantado, e esperou eu explicar
- >”você nem me conhece, aí vem, me chama para uma missão super secreta, cuida da minha família e ainda me promove para subcomandante da missão?”
- >”tem alguma coisa aqui que tu não me contou, e eu não gosto de segredos” eu falei, com firmeza
- >o coroa me encarou por uns momentos, e depois cedeu
- >”sim, Yuri, tem algo que você deve saber”
- >”o tenente Fontes é um militar excepcional, foi um sacrifício trazê-lo para a minha equipe, tive que fazer um esforço tremendo”
- >”a carreira dele é brilhante, mas existe um problema”
- >”problema?” perguntei
- >”sim, uma complicação. Ainda não sei se posso confiar 100% na lealdade do tenente. Por isso chamei você e te promovi”
- >”sua missão é ficar na cola dele e garantir que ele não vá querer pular o muro. Se necessário for, precisarei que você use força letal”
- >”ué, mas por quê ele faria isso?” perguntei
- >o cara parecia 100% devoto à missão, eu sinceramente não esperava essa
- >”as missões aqui mudam muito as pessoas. Mas você já cumpriu mais missões que qualquer um e sei que posso confiar no seu julgamento”
- >”quero que você seja o meu homem de confiança, Yuri. A missão que eu to te dando é dolorosa, eu sei, mas se nós pudermos confiar um no outro, vamos nos dar muito bem”
- >”e você vai ter todo o prestígio que quiser, sua carreira voltará a ter aquele brilho que ela tinha no começo. Sei que isso é importante para você”
- >realmente era
- >o cara sabia pra caralho de mim mesmo
- >mas ele trabalhava pra uma agência de inteligência né, o que eu esperava?
- >o maluco devia saber até a cor da minha cueca
- >”certo chefia, pode confiar em mim, vou cumprir a missão direitinho”
- >o velho abriu um sorriso meio estranho
- >”você é um rapaz inteligente, Yuri”
- >”você vai ver, nós dois vamos lucrar muito com isso tudo” ele falou
- >pedi permissão e fui embora
- >a missão já tava certa, e não tinha mais dúvida do que fazer
- >era chegar lá e descer o dedo nos malandros
- >e nisso, modéstia à parte, eu sou bom pra caralho
- (Parte III)
- >depois de aterrissarmos em Foz do Iguaçu, seguimos direto para uma guarnição militar na cidade
- >começamos a nos equipar, enquanto os caras abasteciam o helicóptero
- >irmão, antes de mais nada, tu tem que entender uma coisa
- >eu gosto de trocar tiro pesadão, entendeu? Gosto de ir pro tiroteio bem armado
- >quando cheguei na reserva de armamento (que foi colocada à nossa disposição) eu fiquei de bobeira
- >o armamento do BOPE era de melhor qualidade, admito
- >mas os brinquedos ali eram bem masculinos também
- >tinha munição que penetra titânio irmão, titânio
- >eu nem sei que porra de metal é esse mas só pelo nome já dá pra sentir a moral
- >tinha uns coletes de alta qualidade também, capacete de kevlar com go-pro, camelback e NVG
- >vai, pesquisa essa porra aí no Google viadinho
- >e granada, muita granada
- >porra, adoro granada, no BOPE a gente não pode usar porque usar granada em favela é sacanagem
- >mas dessa vez eu enchi o cu de granada, porra, ia estourar todo mundo, quero ver perna voando
- >depois de nos equiparmos, subimos nos helicópteros e partimos pra missão
- >aquele friozinho na barriga de quem tá prestes a trocar tiro
- >fui no mesmo helicóptero que o tenente lá
- >dava pra ver que ele ainda tava nervoso, apesar de tudo
- >”fica calmo cara, vai dar tudo certo” eu disse pra ele
- >ele balançou a cabeça
- >”o plano tá bem elaborado, a execução vai ser direitinho, vai dar tudo certo mesmo” ele repetiu, tentando internalizar aquela porra
- >”esquece o plano, viado” eu falei
- >ele me olhou
- >”esquece o plano? Como assim esquece o plano?” ele perguntou, sem entender porra nenhuma
- >”mermão, no tiroteio não existe essa de plano. É você, o cara e quem acertar o tiro primeiro ganha”
- >”esquece essa porra de plano bem elaborado e se preocupa em acertar seus tiros na cabeça dos caras que vai ficar tudo bem”
- >ele respirou fundo e concordou
- >é foda, esses caras passam 5 anos na Academia Militar tendo aula teórica em sala de aula e dando tiro em manequim
- >a gente no BOPE pode ter bem menos instrução que eles, mas em termo de prática irmão, não tem quem se compare
- >o plano realmente tava excepcional, a formação do cara era muito boa mesmo
- >mas na hora do tiroteio você pode ter até 50 anos de treino nas costas, se não tiver a cabeça no lugar vai fazer merda
- >”dois minutos pra chegarmos” o piloto do helicóptero falou
- >preparamos as armas e respiramos fundo
- >era o último suspiro antes do mergulho
- >quando o helicóptero pousou, já descemos nos movimentando
- >não descemos atirando igual em filme de hollywood, isso não existe
- >progredimos na disciplina, como manda o figurino
- >cercamos o local e identificamos onde os seguranças estavam posicionados
- >”executar ação.... AGORA” o tenente falou, pelo rádio
- >simultaneamente, todos os elementos da equipe atacaram os seguranças ao mesmo tempo
- >não teve chance dos caras reagirem
- >os soldados ficaram na contenção enquanto eu e o tenente entrávamos na casa
- >vasculhamos o local à procura do coronel Caballero
- >ele estava na sala, mas correu pro segundo andar
- >com uma pistola na mão, ele tentou dar um tiro na gente, mas errou
- >acertei um na perna do filho da puta e ele subiu as escadas mancando
- >subimos atrás dele rápido, ele tava atravessando um corredor em direção a uma porta
- >antes que ele pudesse dar mais um passo eu e Fontes alvejamos ele
- >o cara ficou igual uma peneirinha, todo furado
- >fomos até o corpo dele e verificamos a morte
- >o tenente tirou as fotos, e continuamos vasculhando a casa
- >no quarto que ele ia, estava a mulher e os dois filhos dele
- >os três apavorados, nos olhando
- >eu olhei pro tenente, e vi a cara dele
- >ele não ia ter coragem
- >”vira” eu falei pra ele, e ele se virou
- >olhei de volta para os civis e desci o dedo neles
- >sim, matei pessoas desarmadas. Matei também os funcionários da casa que eu encontrei
- >até o cachorro do cara eu matei
- >missão não se discute irmão, se você não gostou da minha atitude, enfia a hipocrisia no seu cu
- >minha profissão é essa, matar
- >se eu mato bandido, por que não vou matar os caras lá?
- >no final das contas é a mesma coisa, os dois sangram igual, morrem igual
- >é a lei do cão, quem sobrevive é o mais forte
- >Sophia já tinha entendido isso... tava na hora do tenente também começar a entender
- >nós começamos a coletar as informações que o Duque pediu
- >porra, o lugar tava cheio de pasta, documento, computador, pendrive, essas porras
- >o Fontes saiu correndo atrás de tudo isso igual um maluco
- >eu fui investigar de novo o corpo do coronel, e achei um celular
- >liguei o celular e tava desbloqueado
- >”hmmm” falei, achando interessante
- >abri a porra do whatsapp, aquela merda
- >e fui ver as mensagens
- >vi um número que me era familiar
- >caralho, que porra é essa
- >era o número do Duque
- >CARALHO
- >fui passando, tinha o número de vários outros caras importantes
- >gente no Ministério da Justiça
- >juízes brasileiros
- >militares
- >puta que pariu
- >chamei o Fontes na hora, e mostrei tudo pra ele
- >ele leu, perplexo
- >e caiu sentado no chão
- >”porra Yuri”
- >”isso não é uma missão contra o tráfico” ele falou
- >”é uma queima de arquivos”
- >o Duque nos tinha mandado pra cá pra matar o cara que poderia incriminar ele e metade do governo do Brasil
- >filho da puta
- >nessa hora, ouvimos o barulho dos helicópteros novamente
- >olhamos pela janela e eles estavam indo embora, com o resto da equipe dentro
- >”porra” o Fontes falou, puto. “eles só deviam ir embora depois de meia hora, caralho! Ainda estão faltando oito minutos!”
- >eu olhei para o monte de flagrante que nós tínhamos e falei, no ouvido dele
- >”vamos sair logo daqui. Não vai demorar muito pra chegar mais gente e nós não podemos ser vistos”
- >”a fronteira fica a 60km daqui, Yuri” ele me disse, irritado
- >”então é melhor nós começarmos a andar” eu respondi, pegando as coisas no chão, botando em uma mochila e puxando ele pra fora da casa
- >saímos do local e rumamos em direção a uma velha estrada de barro que saía da fazenda
- >”você sabe pra onde estamos indo, pelo menos?” eu perguntei pra ele, sussurrando
- >naquele momento, não podíamos nos dar o luxo de falar alto
- >éramos apenas dois, e sem muita munição
- >”sim, eu estudei bastante os mapas da região. Essa estrada vai levar a gente até Foz do Iguaçu”
- >”mas não podemos andar pelo meio da estrada, senão vamos ficar muito expostos. Vamos pelo mato” ele disse
- >ai meu caralho
- >fomos pela merda do mato
- >aquele matagal de merda, cheio de lama e mosquito
- >mosquito
- >mosquito
- >não era pouco mosquito, meu amigo
- >e não é esse mosquitinho fofo que tem no parque da sua cidade não
- >era cada mosquitão transformer que chegava a dar medo
- >os mosquitos pareciam beija flor de tão grande
- >esses viados não tinham bico, tinham seringa
- >o Fontes reparou no meu sofrimento e deu uma risada
- >”qual a graça, viado?” eu perguntei
- >”Você, sargento. Cheio de marra de ser do BOPE, mas não aguenta um mosquitinho” ele disse, gargalhando
- >”aaah vai se fuder tenente, porra, eu troco tiro toda semana, se eu quisesse fazer passeio no mato eu não seria militar, seria escoteiro porra” eu respondi
- >porra, agora tu vê, que cara de pau
- >esse tenente aí querendo me zuar
- >continuamos andando, afinal, nós íamos ter que andar por um bom tempo
- >de repente, ouvimos um barulho vindo adiante
- >”sshhh! Agacha, agacha!” o Fontes falou
- >eu e ele agachamos no meio do mato, nos camuflando
- >pela estrada, um comboio de vários carros passou pela nossa frente
- >alguns homens de moto acompanhavam o comboio, todos pesadamente armados
- >”esse comboio tá vindo do Brasil” eu sussurrei
- >”sim, estão indo em direção à casa do coronel” ele respondeu
- >”devem estar indo à mando do viado do Duque” eu falei
- >”vamos esperar... sempre no final do comboio vem um batedor isolado. Vamos pega-lo e interroga-lo” ele respondeu
- >aí eu gostei
- >interrogar é uma parada que eu sei fazer bem
- >conforme disse o Fontes, no final do comboio, meio afastado, vinha um motociclista
- >mirei na perna dele e dei o tiro. Como a arma estava com o silenciador, o barulho foi bem baixo
- >o capacete do viado abafou o grito que ele deu, então nós rapidamente agarramos ele e puxamos ele da estrada pro mato
- >a essa altura, o comboio já havia se afastado bem
- >tirei o capacete e olhei na cara dele
- >”malandro, o negócio é o seguinte, eu quero saber quem vocês são, quem é o chefe de vocês e qual é a missão”
- >o cara me olhou, meio nervoso, mas decidiu encarar
- >”não vou te falar nada, seu viado” ele respondeu, tentando botar marra apesar de estar visivelmente apavorado
- >eu sorri
- >”vou ter que esculachar então né?”
- >adoro essa parte
- >o Fontes tava segurando ele deitado
- >eu dei um pisão no joelho dele que esmagou a articulação inteira
- >o maluco berrou, mas o Fontes abafou o grito
- >”pronto amigão, agora você é oficialmente um aleijado. E aí, vai desembuchar ou vou ter que te capar também?” perguntei, com um sorrisão na cara
- >o cara tava tremendo todo
- >”quem nos mandou foi um cara do governo... a gente não sabe quem ele é... falaram que era pra tomar uma casa e pegar as drogas e dinheiro que tá escondido lá...”
- >”cara de pau” o Fontes falou. “o Duque agora vai querer embolsar o espólio da operação”
- >”não é isso não...” o cara falou, nervosão
- >”desembucha, vacilão” eu falei, botando pressão
- >”a nossa missão... é permanente...”
- >”ele tá querendo tomar.... o lugar...”
- >”a gente trabalha... pra ele...’’
- >”pro Duque? Hein viado?” eu perguntei, mas o viadinho lá tinha desmaiado de dor
- >”deixa ele aí, vamos embora, a gente não pode ficar muito tempo parado não” o Fontes falou
- >”beleza, vamos lá” eu disse, cortando a garganta dele
- >não é um jeito digno de matar um homem mas ele tava desmaiado, eu ia poupar munição e ele não ia sentir dor
- >ia funcionar
- >o Fontes virou a cara, ele ainda tinha restrição a esse negócio de matar
- >na minha opinião, é uma viadagem. Mas eu entendo o lado dele. Não é qualquer um que tem estômago para isso
- >continuamos andando por algumas horas
- >”como você consegue, hein? Matar dessa forma?” o Fontes me perguntou, enquanto andávamos
- >eu sorri
- >”depois de um tempo, você acaba se acostumando” eu disse
- >é real, depois de tantas mortes, tanto sangue, pra mim aquilo já havia se tornado natural
- >”sempre antes de eu puxar o gatilho, eu penso no motivo de eu estar aqui. O motivo de tudo isso, sabe? Servir o país” ele começou a dizer, mas eu o interrompi
- >”assim você nunca vai se tornar um matador, Fontes”
- >”esse discurso aí é pros indecisos. Os convictos não precisam de motivos”
- >”nós vamos pra guerra porque é isso que está no nosso sangue. Somos matadores e não há nada que mude isso”
- >”queria ter essa sua força de vontade, Yuri” ele falou, olhando pra mim
- >eu olhei de volta pra ele e respondi, muito sério
- >”vai por mim, você não queria”
- >ele não fazia ideia do que eu passei pra chegar aqui
- >de toda a dor, todo o sofrimento
- >ninguém fazia ideia
- >e eu não desejava isso para ninguém
- (Parte IV)
- >quando chegamos em Foz do Iguaçu, já havia amanhecido
- >optamos por esconder nosso armamento em um local afastado da cidade, entramos apenas com as pistolas e a mochila com os documentos que incriminavam o Duque
- >estávamos ambos exaustos, então fomos para algum bar pé sujo onde não fôssemos chamar muita atenção
- >nos sentamos, enquanto o garçom trouxe nosso pedido lá
- >a cerveja tava quente e a comida nojenta, mas na hora parecia um manjar dos deuses
- >comemos igual dois mortos de fome
- >no canto, tinha uma TV ligada
- >”caralho, Fontes, dá uma olhada naquela merda” eu disse
- >na TV, tava mostrando o filho da puta do Duque fazendo um discurso do lado do secretário de segurança e do Ministro da Justiça
- >”graças à uma medida enérgica do nosso governo, conseguimos derrubar um dos maiores traficantes internacionais de drogas e inauguramos uma nova era para o Brasil!” ele dizia
- >enquanto um monte de babaca batia palma
- >”sim, inaugurou uma nova época... uma época onde os traficantes são do próprio governo” o Fontes falou, sarcasticamente
- >”infelizmente, tudo demanda um sacrifício, e esse ato não foi suficiente. Perdemos dois heróis, o tenente Fontes e o sargento Yuri. Mas os nomes deles ficarão marcados para a posteridade” o Duque falou, na tv
- >”caralho Fontes, eles acham que nós morremos!” eu falei, surpreso
- >”ou não... talvez não saibam e tenham colocado um preço na nossa cabeça. Afinal, tudo que o Duque quer é que nós estejamos mortos” ele respondeu
- >na hora eu pensei na Juliana
- >ela recebendo essa notícia
- >puxei meu celular para ligar pra ela, mas o Fontes segurou minha mão
- >”o que você pensa que tá fazendo, doente? “ ele perguntou
- >”me solta Fontes, vou ligar pra minha mulher” eu respondi
- >”deixe de ser burro, Yuri, sua mulher deve estar sendo monitorada por alguma equipe do Duque”
- >”se você falar alguma coisa, ela morre”
- >”além disso, a essa altura do campeonato, nossos telefones já devem ter sido grampeados” ele falou
- >”porra, então qual é o plano? Você que gosta de planos, diz aí, o que vamos fazer?” eu perguntei
- >”só tem um jeito de nos livrarmos dessa, sargento”
- >”temos que matar o Duque e depois expor tudo que descobrimos” ele falou
- >chamei o garçom que passava por ali e perguntei sobre o homem que estava na TV
- >ele respondeu “ah, o Duque é o cara da vez! Ele tá aqui na cidade, vai dar uma entrevista pública no fórum hoje às 21h. Parece que vai lotar”
- >Fontes olhou pra mim
- >não precisava falar mais nada
- >saímos de lá e fomos para o nosso esconderijo fora da cidade para nos prepararmos
- >de alguma forma, eu sabia que aquela missão seria sem volta
- >olhei pro Fontes e percebi que ele se sentia assim também
- >sorri
- >ele me lembrava muito o Costa, quando era mais jovem
- >certinho e aplicado
- >enquanto nos equipávamos, ele começou a falar
- >”porra Yuri, quando nos conhecemos eu pensei que você fosse só um babaca metido”
- >”eu me equivoquei demais, me perdoa pela forma que eu te tratei”
- >”ah, para de viadagem Fontes” eu respondi. “nós somos guerreiros, estamos juntos porra”
- >ele sorriu
- >”sim irmão, estamos juntos” ele respondeu
- >eu fiquei calibrando o armamento enquanto ele começava a planejar, como ele gostava
- >porra esse cara adorava um plano
- >”o carro do Duque vai vir pela avenida central às 20:30.
- >”a avenida é muito movimentada, não tem como pegarmos ele lá”
- >”mas para acessar a avenida eles vão ter que passar pela rua do Bispo, uma ruazinha pequena e bem deserta”
- > Se cada um de nós ficar de um lado da rua, poderemos emboscar o comboio”
- >”provavelmente a segurança dele vai ser leve, então isso não vai ser um grande problema”
- >”vamos finalizar o filho da puta do Duque e sair do local o mais rápido possível” o Fontes terminou
- >”porra, como tu sabe disso tudo?” eu perguntei pro Fontes
- >”eu li no mapa” ele respondeu
- >”porra meu amigo mas tu adora um mapa hein” falei, rindo
- >”mas então, saindo de lá, a gente pega um carro e vai pro Rio” eu comecei a falar
- >”podemos ficar na minha casa, e a minha mulher conhece uns jornalistas”
- >”além disso, se eu entrar em contato com o BOPE, não vai ter quem consiga nos pegar. Meus irmãos são casca grossa e muito unidos, ninguém vai tocar na gente” eu falei
- >”justo” o Fontes concordou
- >”agora vamos nessa” ele disse
- >nos aproveitamos da noite pra irmos pro local da ação sem sermos vistos
- >a cidade não era tão movimentada quanto Rio ou São Paulo, então ficou tranquilo não ser visto
- >usamos as ruazinhas pequenas de dentro da cidade, evitando as avenidas maiores, pra não sermos vistos
- >finalmente chegamos na tal Rua do Bispo
- >ficamos cada um de um lado da rua, escondidos atrás de árvores para não sermos vistos.
- >de longe, eu acenei com a cabeça pro Fontes
- >logo logo a ação iria começar
- >mas dessa vez, íamos matar pelos motivos certos
- >não demorou muito para o carro aparecer na esquina
- >atrás dele vinha uma minivan
- >os dois pretos
- >é agora
- >ele se aproximou e, quando o Fontes deu o sinal, eu larguei dedo nos pneus do carro
- >ele freou bruscamente e nós fomos pra cima, aplicando no carro
- >atrás, a minivan abriu a porta e de dentro saiu umas 8 cabeças com um uniforme bem familiar
- >”caralho” eu pensei
- >”são os caras da equipe do Fontes”
- >olhei pra ele e ele tinha congelado do outro lado da rua
- >berrei bem alto pra ele ouvir “PARA DE ADMIRAR SEUS NAMORADOS CARALHO BALA NELES PORRA”
- >puxei a arma e dei rajadão pra cima dos caras
- >os caras eram gente boa, gostei de trabalhar com eles, mas dessa vez eles estavam do outro lado do tiroteio, tentando me matar, então não pensei duas vezes
- >eles correram buscando cobertura, e nesse tempo deu pra eu derrubar uns dois com facilidade
- >depois que se abrigaram, ficou mais difícil, mas eu fui avançando, gosto de ser agressivo em tiroteio
- >eles iam tentando avançar também, para cercar o carro e proteger o Duque
- >derrubei mais um quando tomei um tiro de raspão na perna
- >caralho, essa porra arde pra cacete
- >vi que o Fontes tava no sufoco com um dos seguranças lá, um carinha meio enjoado
- >”VAI PRA CIMA DELE, VAI VAI VAI” gritei, incentivando
- >o Fontes achou uma brecha, e conseguiu derrubar o cara
- >”BOA COSTA!” eu gritei, sem nem me ligar que havia trocado o nome
- >os dois eram, realmente, muito parecidos
- >já eram quatro mortos
- >só faltavam mais quatro
- >vi que dois foram se abrigar perto da minivan
- >foi nessa hora que eu puxei uma das granadas que eu tinha trazido comigo
- >”ahh seus filhas da puta agora eu vou mandar vocês pro espaço” eu disse, arremessando a granada
- >ela explodiu lindamente, parecia fim de ano da globo
- >foi fogo e pedaço de corpo pra todo lado
- >”agora ces vão atirar no capeta seus arrombados” eu disse
- >faltavam só mais dois e o viado do Duque era nosso
- >eu já tava quase alcançando o carro quando o impensável aconteceu
- >acertaram o Fontes
- >um dos babacas tava partindo pra cima dele e conseguiu meter um tiro bem na barriga dele
- >puta que pariu
- >nesse momento eu congelei
- >foi como se o tempo tivesse parado também
- >de um lado, o carro tava na minha frente, e o Fontes caído era a distração perfeita pra eu matar o Duque
- >de outro lado, o meu amigo tava no chão, prestes a ser executado
- >eu tinha que matar o Duque
- >tinha que expor esse filho da puta
- >tinha que mostrar ao país todo o quão podre e corrupto são nossos governantes
- >TINHA QUE CUMPRIR MINHA MISSÃO
- >mas não
- >não podia deixar outro amigo, outro irmão de farda morrer
- >eu não podia
- >tinha que salva-lo
- >não podia errar com ele como eu errei com o Costa
- >virei pro lado e vi o soldado avançando pra cima do Fontes
- >o Fontes olhou pra mim e apontou pro carro, gritando
- >”Mata o Duque, mata o Duque”
- >mirei a arma na cabeça do soldado e dei só um tiro
- >o sangue dele espirrou na parede, deixando uma grande marca vermelha
- >corri pra socorrer o Fontes
- >o ultimo soldado que sobreviveu aproveitou a chance pra entrar no carro e ir embora
- >mesmo com as rodas furadas a porra do carro ainda andava
- >”caralho Fontes, você tá bem?” eu perguntei, me ajoelhando do lado dele e tirando o colete pesado que sufocava
- >”porra irmão... você tinha que ter matado ele... tinha que ter matado o duque” ele falou, com uma voz fraca
- >”não, Fontes, não... a amizade vem antes de qualquer missão, irmão. Nós podemos expor o Duque depois. Agora temos que sair daqui”
- >eu coloquei o Fontes nas costas e fui pra rua correndo
- >cheguei na avenida central, todo ensanguentado, e parei um carro
- >um senhor desceu do carro apavorado, enquanto eu pedia ajuda pra colocar o Fontes no banco de trás
- >”me desculpa por favor, senhor, eu sou polícia, não sou assaltante, mas vou ter que levar seu carro pra salvar meu amigo’’ eu disse, nervosamente
- >o cara nem quis argumentar, deve ter ficado com medo por causa da minha arma e do sangue na minha cara
- >virei o carro e meti o pé daquela maldita cidade
- > 180km por hora na estrada
- >a essa altura do campeonato, entretanto, o Duque já tinha alertado à todas as polícias, tava todo mundo nos caçando
- >”eu só estou te atrasando cara...” o Fontes me falou
- >”cala a boca seu viado, tenta resistir... logo logo estaremos chegando e um médico vai tratar de você” eu respondi
- >mas quem eu estava enganando? Iam demorar dias até chegar no Rio
- >”ei... Yuri...” ele me chamou, bem baixinho
- >”obrigado por salvar a minha vida, irmão”
- >”você é um herói.... e é o melhor guerreiro que eu já conheci” ele falou, quase sussurrando
- >meus olhos encheram de água
- >por um momento, eu tive esperança
- >eu não sei que louca esperança era essa que eu tinha, de que tudo poderia ficar bem
- >mas, como costuma ser na vida, as coisas não ficaram bem
- >depois de algumas horas de estrada bati de cara com um bloqueio da PRF
- >os caras nem perguntaram, já vieram estalando pra cima de mim
- >eu revidei e consegui derrubar alguns, mas eles me acertaram na perna e me dominaram
- >eu olhei, impotente, enquanto eles abriam o carro e arrastavam o Fontes pro lado de fora
- >”esse aqui já tá mais morto que vivo” um deles disse
- >o outro concordou e, com a arma na mão, estourou a cabeça do Fontes
- >”NÃO” eu berrei, tentando me levantar, mas eles me derrubaram de novo
- >eles simplesmente mataram meu único amigo
- >como se não fosse nada
- >filhos da puta, filhos da puta, VIADOS
- >eu tentei lutar, tentei continuar, mas cada vez que eu tentava eles me derrubavam mais forte
- >eu já estava sem forças
- >a mochila com os documentos eles pegaram e, sem nem abrir pra ver o que havia dentro, tacaram fogo
- >todos estavam com um sorriso estampado na cara, era óbvio que iam receber uma recompensa gorda pelo serviço deles
- >e eu fui levado embora por eles para ser jogado na toca dos leões
- (Parte V)
- >depois daquilo tudo passou rápido
- >é engraçado como o governo pode ser eficiente quando quer te fuder
- >fui condenado por mais de 12 crimes, incluindo resistência a prisão, formação de quadrilha, terrorismo e homicídio do Fontes
- >sim, eles mataram o meu irmão e ainda me prenderam por isso
- >deu 184 anos de reclusão, no total das penas
- >no começo, eu fiquei preso em uma prisão militar, onde eu estava seguro
- >mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu seria transferido para algum presídio
- >pra alguma cela cheia de vagabundo
- >e aí não iria ter jeito
- >palavras como dia e noite deixaram de ter sentido pra mim
- >o tempo ia se arrastando como se não quisesse passar
- >eu emagreci quase 15 kilos em dois meses, deixei de ser grande e fiquei magro, meio pálido
- >foi nessa que um dia eu recebi uma visita
- >veio a Sophia, a Juliana e o Rodrigo
- >o comandante da unidade prisional me conhecia, e arrumou uma sala confortável pra eu ter minha visita
- >nunca chorei tanto na vida quanto naquele dia
- >a Sophia, eu me lembro, estava muito preocupada comigo
- >fez várias perguntas, achando que eu estava doente pela perda de peso
- >”eu estou bem, estou bem, juro” eu respondia
- >a última coisa que eu queria falar era de saúde
- >abracei a Juliana, quase quebrando ela ao meio, enquanto ela me beijava
- >e as lágrimas dos nossos rostos se misturavam
- >”eu senti tanta saudade de você, amor” ela me disse, com os olhos marejados
- >não respondi, não havia nada a dizer
- >virei para o lado e fui ver o Rodrigo
- >ele já tinha 4 anos
- >sim, demorou 4 anos para eu poder receber uma visita
- >o sistema prisional realmente é uma merda
- >”e você, garotão? Como tá?” eu perguntei pra ele
- >ele respondeu, meio embolado “to fóti igual papai!”
- >levantou os braços e mostrou o muque
- >”aaaah moleque, você parece mais o Hulk!” eu disse, levantando ele nos braços
- >”vai crescer e virar um guerreiro hein?” eu disse, enquanto ele balançava a cabeça
- >coloquei ele no chão de novo e ele saiu para brincar
- >a Sophia se aproximou e falou
- >”Yuri, nós confiamos em você. Apesar de toda essa história, sabemos que você é inocente”
- >é foda, eu nem tive a oportunidade de conversar com elas, parceiro
- >eu nunca nem pude contar minha versão do que aconteceu
- >e mesmo assim elas confiam na minha inocência
- >obrigado Deus, por colocar essas pessoas na minha vida
- >”já entramos em contato com um bom advogado, amigo da minha família”
- >”vamos tirar você daqui” ela disse, colocando a mão no meu ombro
- >reparei melhor na feição dela
- >o Líbano tinha mudado ela muito
- >ela deixou de ter aquele jeito de aventureira e se tornou uma mulher séria, madura, que impunha respeito
- >a Juliana me abraçou forte
- >”os caras do BOPE também acreditam em você amor”
- >”vamos nos reunir pra tentar provar a sua inocência”
- >”vamos conseguir te tirar daqui e viver nossa vida em paz novamente” ela disse, voltando a chorar novamente
- >eu tive que me controlar e ser forte
- >pois minha vontade era de chorar junto com ela
- >mas falei pras duas
- >”quero que vocês prestem bem atenção”
- >”logo logo eu vou ser transferido para Bangu, junto com outros presos comuns”
- >”lá, com certeza, vai ser meu fim”
- >”então eu não quero que vocês me procurem ou tentem me visitar”
- >”não existe advogado que possa impedir isso”
- >”então o que eu quero é que vocês lembrem de mim de um jeito bom, e sigam a vida de vocês”
- >irmão, tu sabe o quão difícil é isso?
- >dizer pras pessoas que mais te amam nesse mundo para te esquecer?
- >não existe treinamento que te prepare pra isso
- >mas todo guerreiro sabe que tem horas que é necessário se sacrificar pelo bem maior
- >essa era minha hora
- >a Juliana não conseguia falar nada
- >a Sophia tentou argumentar
- >”Yuri, para de besteira, a gente vai conseguir sim” ela começou a falar
- >”não adianta Sophia, eu conheço esses caras” eu disse, interrompendo ela
- >”é game over. Perdemos. Não tem jeito”
- >”cuidem do Rodrigo e sejam felizes. Esse é o último pedido que eu faço a vocês”
- >o tempo da visita já estava se esgotando, então eu tinha que acelerar
- >peguei a Juliana nos meus braços
- >ela não merecia todo esse sofrimento, toda essa dor
- >sussurrei no ouvido dela “você é a mulher mais corajosa que eu já conheci”
- >e dei a ela um último beijo
- >um beijo que fez tudo valer a pena
- >que fez tudo ter sentido
- >um beijo de verdadeiro amor
- >me despedi do Rodrigão, com os olhos marejados
- >e finalmente, dei adeus para a Sophia por último
- >”cuide deles por mim” eu sussurrei no ouvido dela
- >a missão que o Costa me passou, eu agora passava adiante
- >ela acenou com a cabeça, de um jeito bem seguro
- >eu sabia que eles iam ficar bem
- >eles olharam para trás uma última vez, e eu vi os olhos deles pela última vez
- >e depois voltei pra minha cela
- >demoraram alguns dias para eu superar a dor da separação
- >a dor do adeus
- >mas eu superei
- >venci a mais essa batalha
- >e comecei a malhar
- >a praticar minha luta
- >e a me preparar
- >porque em breve eu iria para Bangu
- >iam me colocar com os presos comuns
- >um último teste para um guerreiro cansado
- >e eu sei que eu vou cair
- >mas vou cair lutando, irmão
- >e vou levar muito marginal pro inferno comigo
- (Epílogo)
- >16 anos se passaram desde que eu vi o Yuri pela primeira vez
- >e já faziam 20 anos desde que eu vi o Arthur
- >a vida castiga o nosso coração, mas não nos dá nenhum desafio que não possamos suportar
- >desde então, meu bem maior foi o Rodrigo
- >eu o vi crescer, vi ele se tornar um homem forte e inteligente
- >e não fiquei surpresa quando ele optou por ser policial
- >doeu muito aceitar que ele iria para a mesma carreira dos pais dele
- >tentei de tudo para convencê-lo a fazer outra coisa, mas de nada adiantou
- >ele estava convicto
- >no dia da apresentação, levei ele no CFAP
- >no calor de Sulacap, em um dia ensolarado
- >parei na porta do quartel, e olhei para ele
- >ele sorriu para mim, com aquele ar de jovem convencido que acha que sabe tudo da vida
- >eu puxei ele pra perto e dei um beijo na testa
- >”agora vai ser tudo diferente, filho” eu disse
- >”agora vai ficar tudo bem”
- Obs².: Tenho o gt do caneta q matou o arthur e do pla
Advertisement
Add Comment
Please, Sign In to add comment
Advertisement