História

A manhã tempestuosa era fria, assim como a jovem portuguesa de dezessete anos. Havia, ela, acabado de sir da terceira clinica abortiva da cidade e, mais uma vez sem sucesso. Já fora a terceira tentativa de aborto contra o feto indesejado, que ela afirmara ter estragado sua vida, mas sempre que chegava lá o médico não podia nunca a atendes. E foi então, na sua quarta tentativa em uma clinica diferente, que o inevitável aconteceu. Causando em todos, inclusive na jovem, um espanto, uma surpresa enorme. O feto prematuro era saudável e pior, havia nascido. Sim, no dia vinte e seis de agosto de mil novecentos e oitenta e um às exatamente 15h31min o médico abortista foi o parteiro do bebê virginiano a quem ganhou o nome de Oscar.
Desamparada pela família e com titulo de Rapariga em toda Lisboa, a jovem portuguesa aumentou seu rancor contra a criança quando descobriu que o homem que a engravidara, fugira da cidade para não ter responsabilidades de pai. Já não tinha mais paciência em aturar as atenções de que Oscar precisava, na verdade nunca tivera.
Após completar seu terceiro ano de vida, a mulher comprara seu passaporte e fora ao supermercado fazer suas compras matinais. Deixando assim, Oscar em um carrinho de compras qualquer com uma bolsa de conteúdo abarrotado, com roupas e outros pertences da criança, logo o abandonando ali.
A partir daquele dia, Oscar fora levado a uma casa de adoção e passou a visitar varias famílias que se diziam interessadas. Nessas famílias três delas não aturaram sua carência de atenção, cinco não tinham paciência com as perguntas sobre a mãe biológica que ele tanto fazia e duas eram extremamente cruéis com ele. Entre essas idas e vindas de casa em casa, Oscar finalmente aconchegou-se em uma família que se adaptou ao seu modo de ser, ganhando enfim uma família e um sobrenome que o acompanha até hoje, Viegas.
Como não podia faltar, em seu aniversário de dez anos ganhara um cartão postal de Vancouver, sua mãe biológica enviara a ele para desejá-lo feliz aniversário. E mais uma vez, para o espanto de todos, a reação de Oscar foi de tremenda felicidade. Ao que dizia, ela ainda se lembrava dele e talvez, só talvez, estivesse arrependida do que fizera.
Daquele dia em diante, Oscar inflamou sua mente com o desejo de ver a mãe mais uma vez. E ao ouvir um comentário aleatório em sua escola sobre pessoas que trabalhavam em firmas de viagem, seu interesse pelo ramo aumentou instantaneamente. Fizera incontáveis cursos lingüísticos, concursos técnicos os quais passara quase sempre ente os quatro primeiros lugares e optou por fazer faculdade de Turismo.
Mais uma vez algo inesperado na sua vida acontecera, o tão conhecido aluno focado em livros teve o prazer de conhecer o significado da palavra amor. Uma coisa que fora tão nova para ele que ele não sabia ao certo como reagir, a jovem pelo qual deixara Oscar vidrado todas as vezes que atravessava o corredor, não era da sua turma de Turismo. Ela fazia Engenharia Química, mas por sorte os pais de ambos eram amigos e não foi difícil Oscar ganhar uma afinidade a mais com a jovem portuguesa chamada Cilene.
Sua vida começara enfim a progredir, mas então veio à má noticia. Após o termino da faculdade Cilene teve de fazer um estágio de três anos na Austrália, a menos antes do imprevisto ela aceitara se casar com ele, então Cilene fora para a Austrália noiva de Oscar, que não tinha certeza de que ela ficaria com ele por muito tempo. Todos sabiam o significado de um relacionamento à distância.
Durante este tempo longo demais, Oscar encontrou trabalho em um aeroporto que se orgulhara em tê-lo como Comissário de bordo por conta de suas notas. O tempo também lhe fora favorável, Cilene não desmarcou o casamento em nenhuma carta que lhe escrevera.
Três longos anos se passaram e ela finalmente voltou e os preparativos do casamento finalmente prontos. E o dia finalmente chegou. E Oscar não podia explicar o quanto estava feliz, sem poder impedir as lagrimas que insistiam cair durante a cerimônia. Finalmente, depois de tudo que passou, poderia ser enfim feliz de verdade.
Uma felicidade que durou pouco e que ninguém esperava acabar de forma tão trágica. Após o termino da cerimônia, os recém-casados iam dirigir-se a sua tão sonhada lua de mel, mas um acidente acabou com tudo. Oscar não fora imprudente em momento algum no volante, mas o inevitável os pegou desprevenidos e, para sua eterna tristeza a morte os separou mais cedo do que o desejado. Uma caminhonete chocara-se contra a porta do passageiro, fazendo Cilene quebrar o pescoço por conta do solavanco e morrer na hora.
Foram três meses inconsciente, três longos meses sem poder explicar o que acontecera. Oscar não pode dizer adeus, não estava lá no enterro da esposa. O corpo recuperara-se rápido, mas ao que parecia o espírito morrera com ela. Não se recordava de ter rolado uma lagrima pelo abandono da mãe, mas por Cilene rolara varias. Parecia estar querendo cair em depressão, mas ele não se deu ao luxo de deixar com que isso o vence-se, voltando assim para o trabalho mais cedo do que muitos esperavam.
Como toda a manhã fazia, Oscar levara flores ao tumulo da esposa e seguiu seu caminho pela avenida para ir para o aeroporto quando uma luz o chamou a atenção. A avenida não movimentada pareceu não existir naquele momento, a luz parecia dançar diante de seus olhos e Oscar abandonou o carro em um canto da rua seguindo a brilhante luz ate um penhasco de onde sem perceber acabou por se jogar.