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C_Ph

Untitled

Nov 28th, 2014
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  1. CAPÍTULO UM
  2. Frank caminhava pesadamente sobre a camada de folhas que se formava nas calçadas devido ao outono eminente. Ele caminhava em direção aos Mike's Restaurant, que pelo visto era o restaurante do Mike. Frank conhecia o Mike do restaurante, mas ele não era o dono. O Mike já foi dono, mas agora é só nome do lugar porque na época saía muito caro trocar o letreiro. Digamos que ele fez uma aposta e digamos que ele perdeu e digamos que ele tinha apostado o restaurante.
  3. Mas isso é outra história.
  4. Frank continuou seu caminho, desbravando as ruas gélidas canadenses. O gorro que cobria sua cabeça deixava alguns fios de seu cabelo castanho para fora. Eram exatamente esses fios que tinham vida própria quando ele andava na ventania que fazia hoje. Seu cabelo estava longo demais. Mas eu já sabia disso.
  5. O Mike's era um restaurante/pizzaria mediano, com a decoração tão elegante quanto a de um bar de beira de estrada. O piso azul escuro estava salpicado de cadeiras feitas da mesma madeira crua das mesas desprovidas de toalhas.
  6. Agora meu bom leitor imagine a seguinte cena: você chega num estabelecimento e se depara com um monte de mesas reviradas e comida espalhada pelo chão inteiro. Tudo isso por causa de um casal aos berros que não parava de lançar comida um no outro. Os dois gritava e pegavam os pratos em cima das mesas, enquanto o resto dos clientes simplesmente se afastavam, procurando sentar-se nas mesas próximas às paredes feitas de tijolinhos.
  7. Então, foi isso que Frank encontrou quando chegou ao Mike's.
  8. Antes de continuar com a história é de imprescindível importância retificar que é inadmissível o comportamento de certos personagens, principalmente com as situações apresentadas agora a pouco. Refiro-me a atitude de duas certas pessoas, que estão lançando pratos de comida uma na outra e trocando elogios feios, atitudes que pedimos que não repitam na vida real. Em outras palavras, não façam briga de comida crianças. Obrigado desde já.
  9. Ele adentrou o local, mantendo certa distância do casal, mas receoso com a possibilidade de ser atingido por um prato voador, muito embora eu quisesse que ele fosse atingido. Seguiu até o fundo do estabelecimento, onde de um lado se encontravam as fornalhas para fazer as pizzas e do outro via-se as duas portas que dariam na cozinha.
  10. Frank sentou-se numa das mesas ali do fundo que quase sempre eram lugares que ficavam vazios, pois ninguém gosta se sentar em lugar excepcionalmente quente por causa das fornalhas e do calor da cozinha. Só se sentara ali porque o Mike estava lá. Isso, o mesmo Mike do começo da história. Então, digamos que depois de perder o restaurante porque ele perdeu uma suposta aposta, o cara com quem ele tinha apostado lhe deu um emprego de pizzaiolo, porque o Mike realmente era um pizzaiolo. Mas tudo isso supostamente.
  11. Frank se acomodou e chamou o amigo que estava fazendo aquela coisa com a pizza, que eu não sei o nome, mas consistem em girar a massa no dedo, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Acreditem eu já tentei. Não deu certo.
  12. Enfim, de qualquer forma, Frank deu boas vinda à Mike que pareceu não ouvir por causa da gritaria do casal. Ele só se tocou quando Frank o chamou outras duas vezes.
  13. - Ah, me desculpe cara, tô tão compenetrado aqui nas pizzas que nem vi você aí.
  14. - Percebi. E essa troca de elogios entre os dois também não ajuda - disse o imprestável do personagem principal, apontando para o meio do restaurante todo sujo.
  15. - Isso daí? Quando gerente chegar... um deles vai se dar muito mal. O pessoal da cozinha tá como louco tentando arranjar um jeito de substituir os pratos que foram quebrados, e foi tanta comida desperdiçada que os cozinheiros tão precisando refazer vários pratos de comida. Isso fora o preju dos clientes que saíram sem pagar, alegando que isso tudo era um ultraje - disse fazendo caretas para simular as caras dos fregueses insatisfeitos.
  16. -Mas então, pra quem é essa pizza que você tá fazendo?
  17. -É uma pizza de pepperoni que ia para um casal que estava sentado nessas mesas por aí, mas eu acho que eles foram embora... - disse, mas quando pousou os olhos no amigo teve uma ideia - Como eu sei que você gosta de pepperoni, pode ficar com essa pizza aqui, e não precisa se preocupar que é por conta da casa
  18. -Por conta da casa? Isso não vai ficar ruim para o seu lado não? - disse avaliando a ideia. Ahh… todo mundo sabe que quando te oferecem uma pizza grátis (vide a parte por conta da casa) você aceita de bom grado! Só o Frank para ficar “avaliando”, onde já se viu, que cara mais burro!
  19. -Relaxa e deixa tudo comigo - até o amigo dele disse para relaxar.
  20. -Certeza? - eu digo que ele é burro, mas ninguém acredita olha aí a prova.
  21. -Certeza.
  22. Dito isso, Frank aprumou-se na cadeira, e esperou sua pizza de pepperoni ficar pronta - e tudo que eu posso dizer sobre isso é finalmente hein. Outra coisa que reforça ainda mais a hipótese de que nosso personagem principal é desprovido de cérebro é que todo mundo sabe que a melhor pizza é a Portuguesa. Além disso eu nem sequer reparou quem era aquela moça encharcada de molho de macarrão e pedaços de bife. Ainda.
  23. Frank virou seus olhos na direção do casal e observou a briga. Aquilo lhe lembra alguma coisa. Já brigara muitas vezes com alguém, mas ali era diferentemente familiar - e não, a diferença não é porque é uma briga de comida. A mesma forma de gestos ou talvez o mesmo vocabulário - onde ele estava era difícil ouvir distinguir com clareza o que os dois estavam discutindo, mas ele conseguia pescar algumas coisas.
  24. Sim, tudo lhe era familiar de alguma forma. A forma como os dois se vestiam: ela com o vestido, na altura dos joelhos, de um preto que poderia engolir qualquer coisa, a botina de cano longo cheia de fivelas, o cabelo longo, liso e de um negrume nunca visto. Tudo nela era um conjunto de roupas cor carvão, exceto a pele imaculadamente alva.
  25. O moço que brigava com ela também lhe era familiar de alguma forma. Alto e visivelmente mais velho que a moça, aparentavam um aspecto cansado e sem animo, como se levasse a vida pensando "Mais um longo e excruciante dia". Esse pensamento não era muito diferente dos que Frank tinha quando se relacionou com ela. Era tão cansativo... Sim, cansativo, pois foi eu quem narrou a história deles desde o princípio, desde quando nem vocês estavam aqui caros leitores. Os dois me davam nos nervos.
  26. Agora o personagem principal achou certa semelhança entre esse casal discutindo e o que e a relação dele com aquela moça. É nessas horas que eu tenho vontade de abandonar a história, mas não posso. Eu fiz meus acordos. Mas nada é de todo ruim por exemplo, eu posso zombar deles a vontade e ninguém nem saberá disso.
  27. Agora que Frank fez essa comparação ele realmente começou a pensar sobre aqueles dois brigando ali no meio. Realmente lembravam a época que ele estava com Helena. Mas agora o moço deu um grito bem alto e foi capaz de cortar o que a moça estava falando. Depois disso ele a encarou profundamente pegou a mochila que estava jogada no chão e foi embora, ao mesmo tempo que um homem todo vestido de preto entrara pelas portas escancaradas do restaurante.
  28. Esse homem parou e olhou a bagunça que estava o restaurante e ficou paralisado. Todas aquelas mesas, pratos, comida, tudo que ele levou anos para comprar e administrar, foi tudo levado água a baixo por dois moleques incompetentes. Ao menos foi isso que lhe informaram no telefone quando um de seus empregados ligou para ele. Mas na verdade a situação era bem pior do que descrito. Quando seus olhos passaram pela moça vestida de total negrume, essa pareceu desconcertada e rapidamente virou-se para pegar sua bolsa que estava no chão, mas um grito a impediu.
  29. - Que. Diabos. Aconteceu. Aqui? - leitores, imaginem uma voz estridente e amedrontadora. Essa era a voz do gerente.
  30. O silêncio atravessou o corpo de cada pessoa ali presente. Ninguém ousava dizer nada, e por um momento pareceu que a respiração de todos havia parado, inclusive a minha.
  31. - Eu disse, mas que merda aconteceu aqui? - novamente o silêncio parecia predominar entre todos. Até que um funcionário, diga-se de passagem muito corajoso, se aproximou do homem e lhe disse bem baixinho que um casal é que fez aquela bagunça.
  32. - Onde eles estão? - perguntou ele.
  33. - O homem foi embora bem quando você chegou. Já a moça está bem ali - disse apontando para a porta onde uma moça toda lambuzada de comida tentava sair de fininho enquanto ninguém estava notando.
  34. - Você! Venha já aqui! Precisamos conversar - ela se virou para ele e o seguiu até uma salinha escondida perto do caixa.
  35. E assim Frank finalmente encontrou seus olhos com os dela, completamente obscuros e obtusos, que poderiam sugar toda a vontade de viver de uma pessoa só de olhar para ela. Ele só sentira isso quando olhava para uma pessoa: Helena, a amaldiçoada Helena. Só ela poderia intimidar alguém assim, com aquelas duas pedrinhas obscurecidas que ela chama de olhos.
  36. Todo interior dele ficou gélido e impassível, da mesma forma que aqueles dois olhos. Nela, porém, só lhe ocorriam pensamentos do doloroso assassinato que gostaria de cometer assim que viu Frank. "Helena, a amaldiçoada". Foi isso que ele fez. Ela nunca quis isso. Agora voltara para resolver as coisas, mas teve que cortar relações com Erick para que pudesse fazê-lo.
  37. Agora que ela ia ter de pagar todo o prejuízo que os dois proporcionaram, ela viu que foi muito dura com ele, mas era disso que ele estava precisando. Erick queria mais. Depois que descobriu o que ela pretendia fazer, ele queria mais, bem mais. Sua ganancia quebrou o namoro dos dois e agora também quebrou o coração da nossa amaldiçoada Helena. Frank teria de se cuidar, pois ela estava de volta, para concertar a coisas.
  38. Mas, antes disso ela teria de arcar com o prejuízo do restaurante.
  39. E foi assim que Frank a observou pela última vez antes que ela desviasse o olhar e entrasse na saleta escondida do gerente. Mais um pesadelo voltava a tona.
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