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- O canavial balançava de um lado para o outro, conduzido pelo soprar quente do meio da primavera. Fomos os primeiros a chegar, Nick e eu, e os poucos rastros que ali encontramos eram dos polícias militares locais. Nick desceu da viatura com o caderno costumeiro de anotações e os óculos seguros dentro do bolso da camisa, um par de luvas no bolso das calças e os sapatos desamarrados. Sem cadarços, porque, ele dizia, apenas serviam para atrapalhar o andamento dos pés. Eu vestia o uniforme corriqueiro de investigador: calça e camisa em tonalidades pares, sapato e cinto em preto.
- Como eu disse, eu era apenas um cara normal que não sabia quando desistir das coisas. Meu senso de moda era algo que eu deveria ter largado há muito.
- De qualquer modo, os polícias pareciam saber pouco sobre o que havia acontecido ou com o que estavam lidando. Nenhuma faixa de isolamento ou cuidado, nada da perícia ou de qualquer outro investigador. O caso era nosso e em retrospecto percebo como gostaria de ter esperado cinco minutos para atender àquele chamado.
- Nick foi andando à frente, sozinho, evitando a conversa fiada, mas necessária, com os policiais que encontraram o presunto. Desculpe, o corpo. Cabo Veck foi quem se aproximou primeiro, com um aceno leve de cabeça e um aperto de mão firme. Não me lembro do que conversamos além da situação da cena do crime, mas lembro-me que ele estava visivelmente pálido.
- - E então, o que temos?
- - Só espero que 'cês num tenham comido ainda - Veck havia sido transferido recentemente do interior do estado. Maravilha. - Ou vão pô prá fora, rapidim.
- Ele me levou por uma trilha secundária, que deu algumas voltas, antes de chegarmos aonde o corpo estava. Enquanto andávamos, via Nick se movendo entre o canavial e balançando as folhas a cada passo. Ele ia em direção reta, como mosca atraída à bosta, sem nem mesmo perguntar onde estava o morto. Isso era algo sempre impressionante de se ver, o jeito como aquele garoto parecia ser atraído para o desastre. As vezes me pergunto se ele sabia onde o cadáver estava, ou se era puro instinto. Mas é claro, vocês também tem essa dúvida.
- Chegamos, por fim, aonde a jovem estava deitada. Ou melhor, aonde o que restava de uma jovem estava posto contra o chão, amarrado com uma espécie de corda de seda escarlate contra pedras negras robustas e atípicas. Suas mãos foram decepadas, mas os tocos de seus braços estavam amarrados acima de uma cabeça de cabelos louros ensangüentados e uma face dilacerada por pequenos e inúmeros cortes feitos com a ponta de uma faca.
- Suas pernas estavam amputadas no joelho, também amarradas, e os cortes subiam por sua cocha até a base de seus seios, seguindo pelas costelas. Naquelas condições era difícil dizer se havia sofrido alguma espécie de trauma sexual, mas o relatório do legista logo diria tudo que precisávamos saber. Nick estava agachado, já com as suas luvas, e usava a caneta para espaçar os lábios da jovem. Se ele havia sido afetado pela cena, disfarçou muito bem.
- Eu, por outro lado, vomitei nos sapatos do Cabo. Ela parecia ter a idade da minha filha mais velha, por volta dos seus vinte anos, e isso abala um homem. É um soco no estômago, um pisão nos bagos. Você nunca está preparado para ver algo assim.
- Mas Nick estava.
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