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FAQ Trans

Jan 14th, 2016 (edited)
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  1. 19/02/2021: Oi, aqui é Aster! Eu publiquei este FAQ pela primeira vez em 14 de janeiro de 2016, e, embora tenha atualizado ele em alguns aspectos, ele usa umas separações que podem ser ruins para quem usa leitores de tela, e ocasionalmente pode ter passado algum tipo de linguagem que eu usava no passado mas que hoje em dia não usaria (como "gênero feminino binário" para mulher ou "gêneros não-binários" para identidades não-binárias).
  2.  
  3. Estou republicando o FAQ porque ainda acho que ele tem bastante informação útil pra quem não sabe de nada ou pra quem sabe muito pouco sobre questões trans. Agora o FAQ está em https://starrypride.neocities.org/textos/faqtrans.html também.
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  15. AVISOS DE CONTEÚDO:
  16.  
  17. TRANSMISIA: Este FAQ contém exemplos de transmisia, embora a maioria seja casual. Porém, darei meu melhor para corrigir termos datados e opiniões cissexistas. De qualquer modo, caso você seja trans e não queira lembrar que transmisia ainda exista, proceda com cautela.
  18.  
  19. FALTA DE RECURSOS: Este FAQ possui o objetivo de ajudar pessoas que não sabem muito sobre pessoas trans, mas que querem aprender. Ele não resolverá dúvidas como custos de hormônios/cirurgias ou processos para mudar o nome legalmente, e também não haverá uma lista grande com gêneros não binários para quem está questionando conseguir entender melhor o seu gênero.
  20.  
  21. CARECE DE FONTES: A maioria dos estudos e das definições citadas não estão acompanhades de fontes. Caso queira ler mais, procure por conta própria.
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  23.  
  24. ------------
  25. [000] Índice
  26. ------------
  27.  
  28. Utilize Ctrl+F ou a função de localizar de seu navegador para pular para a parte desejada, utilizando os números entre colchetes.
  29.  
  30. [001] Glossário
  31. Definição de algumas palavras e de alguns termos básicos, para o resto do FAQ ser legível.
  32.  
  33. [002] O que é ser trans
  34. Respostas para dúvidas básicas sobre o que pessoas trans sentem
  35.  
  36. [003] Identidades não-binárias
  37. Resolução de dúvidas comuns sobre identidades não-binárias
  38.  
  39. [004] Linguagem inclusiva
  40. Aprenda a utilizar linguagem inclusiva para pessoas trans, binárias ou não-binárias
  41.  
  42. [005] Orientações
  43. Resolução de dúvidas relacionadas a como orientações sexuais ou românticas funcionam com pessoas trans
  44.  
  45. [006] Questões de preconceito
  46. Consequências de ser trans na sociedade atual, e mais esclarecimentos sobre transfobia
  47.  
  48. ---------------
  49. [001] Glossário
  50. ---------------
  51.  
  52. Este glossário está em ordem de relevância, não em ordem alfabética. Portanto, utilize a função de localizar em seu navegador para procurar palavras específicas. Caso prefira, você pode pular esta seção e só tentar localizar os termos com os quais possui dúvidas.
  53.  
  54. Gênero designado ao nascimento (GDAN; AGAB, em inglês):
  55. O gênero que designam aos bebês quando nascem. Caso o bebê nasça com uma vagina, designam o "gênero feminino" (mulher). Caso o bebê nasça com um pênis, designam o "gênero masculino" (homem). Caso o bebê nasça com alguma outra configuração genital (intersexo), na maioria das vezes fazem cirurgia para o bebê ficar só com um pênis ou só com uma vagina, e lhe designam como homem ou mulher, respectivamente.
  56.  
  57. Cis/cisgênero:
  58. Pessoa que se identifica com exatamente o mesmo gênero que lhe foi designada ao nascimento.
  59.  
  60. Trans/transgênero:
  61. Pessoa que não se identifica com o mesmo gênero que lhe foi designada ao nascimento. Algumas pessoas de identidades não-binárias, de gêneros fora da cultura eurocêntrica cristã que não se encaixariam como gêneros de pessoas cisgênero, e algumas travestis, não querem que o termo trans seja aplicado a elas, e isto deve ser respeitado.
  62.  
  63. Transexual:
  64. Esta palavra geralmente se refere a pessoas trans que querem fazer transição com hormônios e cirurgias para ficarem com o corpo que desejam. Mesmo assim, ela foi criada com o intuito de categorizar ser trans como uma doença, e é considerada ultrapassada na maior parte do mundo. Só chame pessoas trans de transexuais se elas querem se identificar como tal.
  65.  
  66. Gênero/Identidade de gênero:
  67. "Identidade de gênero ou gênero é a experiência subjetiva de uma pessoa a respeito de si mesma e das relações dessa pessoa com os outros gêneros de seu espaço social. É como alguém sente sua própria essência do "ser". É um modo como alguém se apresenta no meio social. É o resumo das vivências e entendimentos de uma pessoa. Não depende dos papeis de gênero, das roupas, dos genitais e da aparência física, também não se limita simplesmente a mulher e homem, pois há inúmeros gêneros não-binários e também não é uma obrigatoriedade: pessoas podem não ter gênero. Cada pessoa sente seu gênero de sua própria maneira. Ninguém escolhe o seu gênero. Os nomes dos gêneros são artificiais: os termos "mulher" e "homem" são nomes inventados para esses dois gêneros, mas isso não significa que os gêneros por si próprios são artificiais."
  68. Adaptado de http://pt-br.identidades.wikia.com/wiki/G%C3%AAnero
  69.  
  70. Há uma preferência na comunidade para se referir a termos usados para descrever gênero/gêneros/como o gênero de alguém funciona/pessoas sem gênero/etc. como identidades de gênero, enquanto gênero seriam somente identidades de gênero que podem ser descritas como "unidades".
  71. Por exemplo, bigênero, gênero-fluido, homem, mulher, gênero neutro e sem gênero são todas identidades de gênero. Entre essas, só homem, mulher e gênero neutro seriam gêneros, porque o resto não são gêneros por si só (sem gênero denota que a pessoa não tem nenhum gênero, bigênero e gênero-fluido denotam que a pessoa tem mais de um gênero).
  72.  
  73. Modalidade de gênero:
  74. Um termo cunhado em 2019 para falar da relação entre o gênero designado e a identidade de gênero de alguém. Cis e trans são exemplos de modalidades de gênero.
  75.  
  76. Disforia de gênero:
  77. Algo presente em várias pessoas trans. É quando pessoas trans se sentem mal em relação a não serem vistas como alguém de seu próprio gênero, pela sua própria visão ou pela de outras pessoas.
  78. Disforia física ocorre com uma ou mais partes do corpo, desejando que elas fossem mais tradicionalmente "de homem", "de mulher", ambíguas, neutras ou distintas disso. Pessoas trans podem sentir disforia física fraca ou forte, em diferentes partes do corpo, e também podem não sentir disforia nenhuma. Como um exemplo, disforia de peito é quando a pessoa se sente muito mal por achar que tem seios grandes demais para seu gênero, ou por achar que não possui seios suficientes para seu gênero.
  79. Disforia física também pode ser afetada por outros componentes físicos, como roupas, maquiagem ou pelos.
  80. Outro tipo de disforia é a social, que parte de como as pessoas tratam alguém. Por exemplo, um homem trans pode não ter problemas em ter seios e voz fina, enquanto sente disforia quando constantemente o chamam de "moça", "ela", ou "lésbica".
  81.  
  82. Passar:
  83. Passar, em relação à linguagem da comunidade trans, significa ser viste como do gênero que é. A importância de passar varia de pessoa para pessoa, mas normalmente é algo que todes querem, ou gostariam. Ninguém quer ser viste como outro gênero, e pessoas trans acabam sofrendo pela maior parte da sociedade acharem que elas são de outro gênero.
  84.  
  85. Gêneros binários:
  86. Mulher e homem. Tanto pessoas binárias cis quanto trans não são obrigadas a seguir o que a sociedade pensa que mulheres ou homens devem ser, e sua identidade de gênero não deve ser baseada nisso. Se você se sente uma mulher, você é uma mulher, mesmo que saias te deixem desconfortável e que você goste de esportes; e se você se sente um homem, você é um homem, mesmo que você ache os sapatos da seção feminina lindos e que você prefira cozinhar a dirigir.
  87.  
  88. Identidades de gênero não-binárias:
  89. Existe uma variedade enorme de identidades não-binárias. Algumas pessoas não possuem nenhum gênero, outras possuem mais de um gênero, outras possuem um gênero que não seja nem mulher nem homem, outras possuem variação entre gêneros ou entre a intensidade de seu gênero, outras são de um gênero caracterizado pelo seu neurotipo... enfim, há várias identidades que não são opções disponíveis para preencher na maioria das fichas por aí. Também existem várias palavras para certos gêneros serem descritos, e cabe a cada ume decidir quais são as mais exatas ou importantes. Pessoas também podem utilizar apenas não-binárie como identidade de gênero.
  90.  
  91. Espectros de gênero:
  92. Dentro dos termos de identidades de gênero, podem existir vários espectros que compreendem várias identidades de gênero. Por exemplo, o espectro multigênero compreende quem é bigênero, trigênero, poligênero, gênero-fluido etc.; o espectro de gêneros relacionados a ser homem compreende homens, homens não-binários, magihomens, demihomens, homens gênero-fluxo e outras pessoas cuja identidade é parcialmente homem, e assim vai.
  93.  
  94. Travesti:
  95. Travesti é uma identidade alinhada ao espectro de gênero transfeminino. Pode se referir tanto a certas mulheres trans, quanto a um gênero não-binário, quanto a certas pessoas que definitivamente não são homens, e que não querem se caracterizar como mulheres trans e nem como pessoas não-binárias. Travestis quase sempre utilizam linguagem dita "feminina" (a/ela/a; "ela é linda", "aquela moça", etc). Não se deve chamar uma travesti de transgênero se ela não quiser, e também não se deve chamar uma mulher trans ou outras pessoas transfemininas de travestis sem a permissão delas.
  96.  
  97. Queer:
  98. Palavra estigmatizada de origem anglófona, cujo significado original é algo como "estranho". É um xingamento utilizado contra todes que não gostam somente do gênero "oposto", contra pessoas intersexo, e também contra pessoas trans. Porém, há todo um histórico de luta para ressignificar a palavra, especialmente por comunidades que precisam de um termo abrangente que seja facilmente entendido pela população geral. De modo geral, apenas cada pessoa ou comunidade pode dizer se queer se aplica a si ou não.
  99.  
  100. Genderqueer ("gênero queer"):
  101. Algumas pessoas de gênero não-binário utilizam este termo para se descrever, além de algumas pessoas binárias que "quebram" papéis de gênero. Pode descrever tanto um gênero específico quanto um termo mais geral para pessoas não-binárias e/ou binárias que não se conformam com os estereótipos associados a seu gênero; embora devo reforçar que apenas cada pessoa pode dizer se quer se dizer genderqueer ou não, e que a palavra não deve ser utilizada para quem não quer.
  102.  
  103. Cirurgia de redesignação sexual (CRS):
  104. A tal da "mudança de sexo". É uma cirurgia para reconstruir genitais, normalmente trocando de um pênis para uma vagina, ou vice-versa. Ainda não existem resultados satisfatórios para cirurgias de reconstrução genital de vagina para pênis. Ainda assim, no caso de homens trans, a CRS também inclui lipoaspiração e retirada dos seios.
  105.  
  106. Transição:
  107. Transição de corpo, por causa de disforia ou pela vontade de ser viste como alguém de outro gênero. Terapia hormonal, terapia de voz, cirurgia facial, cirurgia nos peitos, CRS, cirurgia no quadril, entre outras coisas, são exemplos de etapas de transição que alguém pode fazer. Porém, ninguém é obrigade a realizar todas as transições, ou até mesmo a fazer qualquer tipo de transição.
  108. Algumas pessoas consideram trocar de pronomes, arranjar outro nome, trocar guarda-roupa e "sair do armário" como transição também.
  109.  
  110. Pessoas transfemininas/transmasculinas:
  111. Pessoas que foram designadas como meninos ao nascimento e que acham o conceito de feminilidade ou de ser mulher úteis para descrever suas identidades, ou pessoas que foram designadas meninas ao nascimento e que acham o conceito de masculinidade ou de ser homem úteis para descrever suas identidades, respectivamente.
  112. Muitas pessoas transfemininas são mulheres trans, mas pessoas transfemininas também podem ser mulheres não-bináries (pessoas não-binárias que acreditam que o conceito de mulher seja útil para descrever seu gênero) ou magimulheres (pessoas que na maior parte do gênero são mulheres, e que podem ou não ter um pouco de outro gênero), por exemplo. O mesmo vale para pessoas transmasculinas; podem ser homens trans, mas podem ser de alguma identidade não-binária alinhada à masculinidade ou a ser homem também. Pessoas também podem utilizar apenas transfeminine ou transmasculine como gêneros, ou apenas para descrever processos de transição ou expressões de gênero ainda que não tenham gênero, ou que tenham gêneros não relacionados aos binários.
  113.  
  114. MtF/FtM:
  115. Em inglês, "masculino para feminino", e "feminino para masculino". São termos datados geralmente utilizados para pessoas trans binárias, que devem ser apenas utilizados para pessoas que dão a devida permissão para utilizá-los. Uma mulher trans é uma mulher, não alguém que passou de homem para mulher, e certamente não alguém que só vai virar mulher com hormônios e CRS, ou mesmo quando parar de utilizar "roupas masculinas". Do mesmo modo, um homem trans é homem, e não alguém que virou homem, independentemente dos esforços que ele está ou não aplicando para parecer com um estereótipo de homem.
  116.  
  117. Transfobia ou transmisia:
  118. É qualquer ato de discriminação contra pessoas trans. Por exemplo, insistir que uma pessoa trans está confusa e não sabe o gênero que é, matar uma mulher trans por descobrir que ela possui um pênis ao tentar estuprá-la, tentar utilizar "estupro corretivo" para "curar"/"botar no lugar" uma pessoa trans, dizer que uma pessoa parece ser de um gênero que ela não é, ou forçar alguém a ser do seu gênero designado ao nascimento, entre outros.
  119.  
  120. Cissexismo:
  121. Uma classificação acima da transmisia, que envolve, além de transmisia, a presunção de que todes são cis, ou que pessoas trans são uma minoria tão insignificante que não deveria ser contada. Também envolve ignorar, propositalmente ou acidentalmente, a existência de gêneros além de homem e mulher. Isso envolve não educar crianças sobre a possibilidade de serem trans, presumir que todas as mulheres possuem útero/vagina/seios/etc., presumir que todos os homens possuem pênis/não engravidam/não menstruam/etc., presumir que casais do mesmo gênero não podem ter filhes biológiques, presumir que casais com pessoas de gêneros diferentes envolve ter sexo com genitais diferentes, entre outras coisas. Cissexismo também afeta pessoas intersexo independentemente do gênero ou gênero designado, mesmo que isso geralmente seja chamado de diadismo.
  122.  
  123. Transmisoginia:
  124. Um subtipo de transfobia, que apenas cobre mulheres trans ou outras pessoas transfemininas. É um tipo de opressão que ocorre por ser uma pessoa transfeminina, e não apenas por ser mulher ou trans. Exemplos são as inúmeras piadas que implicam como "homens vestidos de mulher" são ridículos e nunca passariam por uma mulher, as taxas mais altas de estupro e de morte, a noção de que uma mulher trans é uma "armadilha", por ser uma mulher bonita, mas ter um pênis, as piadas sobre homens que transam com mulheres trans sem querer, o mito de que uma mulher trans entrando num banheiro feminino na verdade é um homem querendo estuprar, o mito de que mulheres trans são apenas homens com fetiche por usar calcinhas, o mito de que mulheres trans são homens fracos, ou que querem invadir espaços feministas, entre outros.
  125.  
  126. Exorsexismo:
  127. Um subtipo de cissexismo que afeta somente pessoas que não são binárias. Envolve presumir que todas as pessoas são somente mulheres ou somente homens, invalidar identidades de gênero não-binárias, invalidar termos importantes para que pessoas não-binárias se comuniquem sobre suas experiências, etc.
  128.  
  129. Microagressões:
  130. São atos de discriminação pequenos, mas desconfortáveis, com o objetivo de oprimir minorias, de deixar pessoas destas minorias inseguras, tristes, excluídas. Alguns exemplos de microagressões transmísicas são perguntar "o que é aquela coisa"/"isso aí é uma mina ou um cara" quando não se consegue definir o gênero de alguém só por olhar, fazer piadas envolvendo vestir roupas de outro gênero, definir atração por um gênero como a atração por certo genital, definir menstruação e gravidez como algo para mulheres ao invés de para pessoas que menstruam ou que podem engravidar (estas últimas coisas também podem afetar pessoas intersexo mesmo sem serem trans), comentar sobre como tal pessoa parece ser de outro gênero e não do gênero que ela é, falar sobre o que é ser trans com base em pessoas transmísicas e não com base no que pessoas trans dizem, etc. Microagressões ainda contam como transmisia/cissexismo, ou como outro tipo de discriminação (no caso de microagressões racistas, misóginas, homomísicas, etc).
  131.  
  132. Pronomes/linguagem:
  133. Em questão de gênero, isto geralmente se refere ao "gênero linguístico" ao qual pessoas querem ser referidas. Por exemplo, homens trans são homens, e portanto geralmente utilizam o pronome ele, o final de palavra o e o artigo o, além de palavras associadas com ser homem (cara, rei, marido).
  134. Enquanto a maior parte das pessoas usem somente o artigo o, o pronome ele e o final de palavra o, ou o artigo a, o pronome ela e o final de palavra a, temos um problema quanto a pessoas que não gostariam de ser referidas nem com o/ele/o nem com a/ela/a; ainda que existam muitas pessoas não-binárias que preferem linguagem o/ele/o e/ou a/ela/a, mesmo sem se identificarem como masculinas/parcialmente homens ou como femininas/parcialmente mulheres, respectivamente.
  135.  
  136. Pronomes e linguagem para pessoas não-binárias:
  137. Por estas questões de complicação, muitas pessoas não-binárias que falam línguas como o português acabam por adotar linguagem "masculina" (o/ele/o) ou "feminina" (a/ela/a), mesmo que não se identifiquem como tal. Algumas pessoas possuem preferência por rotacionar o gênero da linguagem (ex: "ele é boa nisso").
  138. Em inglês, quem não quer utilizar he (ele) ou she (ela) muitas vezes usa they, que tanto pode ser utilizado como plural quanto como pode ser utilizado em situações onde não se sabe o gênero da pessoa. Ainda assim, algumas pessoas preferem it (um pronome neutro que normalmente é utilizado para objetos), o que é algo controverso, já que it muitas vezes é utilizado para chamar pessoas trans de coisas. Quem não gosta da conotação impessoal de they ou da conotação negativa de it, e ainda não quer utilizar he ou she, pode acabar utilizando neopronomes; pronomes que passaram a existir pela necessidade de pessoas não-binárias terem linguagem para se referirem a elas mesmas de forma correta.
  139. No inglês, porém, é fácil de utilizar neopronomes (embora algumas pessoas discordem): são apenas algumas palavras a serem substituídas, então não é muito diferente de utilizar they. Já no português, existem diversas palavras onde um final de palavra diferente é utilizado - meu/minha, o/a, um/uma, ele/ela, bonito/bonita, bom/boa, guri/guria, homem/mulher, herói/heroína, morador/moradora - e algumas palavras não possuem um padrão simples de substituir.
  140. Há três formas comuns de substituírem o final das palavras mais básicas: @, x e e. O @ caiu em desuso por replicar o exorsexismo de a/o; a letra x ainda é bastante usada, mas está caindo em desuso por causa de ser ruim de ler em programas que leem para usuáries que não conseguem enxergar, além de geralmente não ser bem pronunciado em voz alta (o x é mudo, mas como diferenciar um de umx?), e a letra e é a que está sendo recomendada atualmente. Em casos de palavras onde a "versão masculina" utilizaria e (professores, trabalhadores, esse, etc.), o e é substituído por ie, i ou u (professories, trabalhadoris, essu, etc).
  141. Quanto a neopronomes em português, certos lugares sugerem ile, ílu, êla, éle, elu ou íli, entre outros, mas fica a critério de cada pessoa o que fica confortável para usar (alguns exemplos de neopronomes utilizados são elz, éli e ily). Quanto a artigos, geralmente não os utilizam (como "Araci" ao invés de "o/a/x Araci"), mas também existem outras opções, como x (se o texto for escrito), e, ê, ie, i, y, le, ed, etc. Novamente, é importante perguntar como a pessoa se sente melhor.
  142. Também é bom perguntar sobre o final de palavra, que pode ser a, o, e, i, y, x, nada, etc. O final de palavra é o que vai em palavras como linda, moço, menine, aluni, cantory, cansadx, amig, etc.
  143. Conjuntos de linguagem são como são chamados conjuntos de elementos linguísticos que variam com gêneros gramaticais. Por exemplo, o/ele/o e ele/dele são formas de descrever conjuntos (embora possam se referir ao mesmo conjunto). Sugiro aprender a como usar e falar sobre conjuntos dentro do sistema artigo/pronome/terminação: https://ajudanhincq.wordpress.com/2019/03/15/o-sistema-artigo-pronome-final-de-palavra
  144.  
  145. Nota d' autor': Você, que é não-binárie, pode inventar seu próprio conjunto de linguagem também, caso nenhum outro te sirva. Novas palavras são feitas quando existe a necessidade delas existirem.
  146.  
  147. Caso alguém queira saber mais sobre conjuntos, neolinguagem e sobre como utilizar: https://orientando.org/o-que-e-neolinguagem/
  148. Se você não quer necessariamente ler sobre isso, mas precisa saber como se referir a alguém que usa certo artigo/pronome/final de palavra: https://orientando.org/conjuntos/
  149.  
  150. Maldenominação:
  151. É o ato de se referir a alguém com a linguagem errada (por exemplo, chamar um homem trans que usa apenas o/ele/o - a linguagem padrão associada a homens - de moça). Também pode se aplicar a títulos, nomes ou identidades de gênero (por exemplo, dizer que uma pessoa agênero é homem, chamar alguém cujo nome é Luciana de Luciano, etc). Maldenominação é considerada uma microagressão cissexista.
  152.  
  153. Carteira de Nome Social (CNS):
  154. Uma carteira que possibilita pessoas trans que moram no Rio Grande do Sul de terem seu nome legalmente reconhecido, a partir da CRS e de provas de que o nome "social" é realmente utilizado. Fora isso, não se deve dizer que o nome de uma pessoa trans é o "nome social"; é apenas seu nome, mesmo que tenha sido a pessoa que escolheu, após perceber que se identifica com um nome mais do que o nome que lhe foi dado ao nascimento.
  155. Atualmente, pessoas trans podem ir no cartório e mudar seu nome oficial de forma mais fácil, então esse tipo de carteira não é mais desejado.
  156.  
  157. Nome morto:
  158. Um nome que uma pessoa (geralmente trans) não usa mais. Pode ser o nome com o qual a pessoa foi registrada ao nascer, ou pode ser outros nomes que a pessoa usou antes de se decidir pelo atual.
  159.  
  160. LGBTQIAPN+:
  161. Uma sigla que significa Lésbicas, Gays, Bi, Transgênero (e, no Brasil, Transexuais e Travestis também), Queer, Intersexo, Assexuais/Arromântiques/Agênero, Pansexuais/Polissexuais, Não-bináries e outras pessoas não-cis/não-hétero. Este FAQ é apenas relacionado a pessoas trans, então não divagarei sobre o que significam estes outros termos.
  162.  
  163.  
  164. -----------------------
  165. [002] O que é ser trans
  166. -----------------------
  167.  
  168. ~ Por que lidar com transmisia e outras complicações? Não é mais fácil ficar no gênero que você nasceu?
  169. Favor não utilizar linguagem como "o gênero que você nasceu"; tal gênero foi apenas imposto. Respondendo à pergunta: muitas pessoas trans sofrem disforia demais para conseguirem viver com os gêneros que lhes foram impostas, enquanto outras, mesmo sem sofrerem tanta disforia, apenas querem ser respeitadas como realmente são. De qualquer modo, se referir a uma pessoa trans com seu gênero imposto muitas vezes a faz desconfortável, mesmo que não tenha sido intencional.
  170.  
  171. ~ Identidade de gênero tem a ver com ser gay?
  172. Pessoas trans podem ser hétero, e também podem ser gays, mas também podem ser de outras orientações. Pessoalmente, a maior parte das pessoas trans que conheci possuem atração sexual por mais de um gênero, e/ou estão no espectro assexual (espectro de pessoas que não sentem atração sexual por ninguém, e quando sentem, possuem qualificadores mais restritos para atração sexual do que gêneros).
  173.  
  174. ~ Pessoas trans viram cis depois da cirurgia de redesignação sexual?
  175. Não. Mesmo tendo o corpo 100% como querem, e mesmo que ninguém suspeite que sejam trans, pessoas trans não podem deixar de ser trans. O gênero delas ainda é diferente do que lhes foi designado. Elas ainda passaram por experiências que apenas pessoas trans podem passar.
  176.  
  177. ~ Posso definir pessoas trans como pessoas que querem mudar seu corpo para que este se encaixe com seu gênero?
  178. Não. Nem todas as pessoas trans querem fazer qualquer cirurgia, terapia hormonal ou treinamento da voz. Algumas pessoas possuem um gênero perto daquele que lhes foi designado, outras algumas vezes se sentem bem em serem tratadas como seu gênero designado, outras não possuem dinheiro para pagar todas estas coisas, outras estão bem com seu corpo, e outras se esforçam para se sentirem bem em seu corpo. Ser trans é ser de uma identidade de gênero que não é (totalmente ou exatamente) a mesma que o gênero designado ao nascer. Fora isso, não há jeito certo ou errado de se identificar como trans.
  179.  
  180. ~ É possível uma pessoa trans ser transmísica?
  181. Sim, pessoas trans podem ter transmisia internalizada (e achar, por exemplo, que ser trans é uma doença), ou podem espalhar outras coisas transmísicas por aí. Algo comum é certas pessoas trans invalidando gêneros não-binários e/ou seus pronomes, achando que estão só "querendo ser especiais", ou pessoas trans que não sofrem de disforia de gênero pelo mesmo motivo. Também existem homens trans que são transmisóginos, achando que mulheres trans possuem privilégios por terem sido designadas como homens ao nascimento, ou que simplesmente são homens tentando entrar em espaços feministas (enquanto eles querem fazer parte de espaços feministas), etc. Certas pessoas trans também acham que toda pessoa trans precisa "passar" (isto é, ser lida como seu gênero) para ter seu gênero tido como válido.
  182. Enfim, pessoas trans podem ser transmísicas, assim como pessoas que não são brancas podem ser racistas, ou como mulheres podem ser misóginas. Vivemos em uma cultura cissexista, afinal.
  183.  
  184. ~ Por que algumas pessoas utilizam "trans*", com o asterisco?
  185. O asterisco foi introduzido para trans* ser supostamente um termo que inclui todas as pessoas trans, mas ele é desnecessário e já foi utilizado para limitar quais gêneros podem ser considerados "realmente de pessoas trans". Portanto, ele não é necessário e nem útil.
  186.  
  187. ~ Qual a diferença entre mulheres trans e travestis?
  188. A maneira com a qual se identificam, ou até mesmo seu próprio gênero. Mulheres trans são simplesmente pessoas que foram designadas como homens ao nascimento, mas que são mulheres. Já travestis podem se identificar assim por outros motivos. Veja aqui: http://pt-br.identidades.wikia.com/wiki/Travestis
  189. Devo adicionar que é importante respeitar a maneira que cada ume se identifica. Ou seja, se alguém falar sobre uma mulher trans, não a chame de travesti; e se alguém falar sobre uma travesti, não diga que ela é trans. A não ser que você tenha permissão para fazê-lo, é claro - mas tal permissão só pode ser dada por cada mulher trans ou travesti.
  190.  
  191. ~ Não seria melhor se não houvesse gênero nenhum?
  192. Talvez, mas ao menos a grande maioria das culturas possui o conceito de gênero, então é mais fácil deixar de incomodar pessoas trans do que convencer todo mundo a largar o conceito de gênero; e querer largar o conceito de gênero só para poder ignorar o gênero de pessoas trans é transmisia.
  193.  
  194. ~ Como posso saber se sou trans?
  195. Você deve refletir sobre seu gênero. Fora não se identificar com o gênero que lhe foi imposto ao nascimento, não há realmente outros requisitos. Algumas coisas que podem ser sinais de que você é trans são:
  196. - Sentir-se mal sobre o tom de voz, os genitais, a altura, o formato do corpo, o formato do cabelo, roupas, etc., não em questão de se achar feie, mas sim em questão de preferir mudar estas coisas para as associadas a um gênero diferente, ou para características "unissex";
  197. - Não gostar de ser referide pelo gênero designado ("guri", "moça", "cara", "mulher", "homem", "ela", "ele"), não gostar do próprio nome por ser associado ao seu gênero designado, não gostar de revelar o próprio gênero quando isso não é necessário;
  198. - Questionar o próprio gênero com frequência, especialmente depois de descobrir que existem pessoas trans e/ou gêneros não-binários;
  199. - Não se sentir completamente incluíde em grupos destinados a apenas pessoas do seu gênero designado;
  200. - Sentir ódio pelo binarismo de gênero (além das questões feministas, ou de apoio a questões de ativismo trans);
  201. - Ter curiosidade de experimentar com gênero, para si e não para brincar com outras pessoas. Também vale para experimentar roupas que não são consideradas adequadas para seu gênero designado.
  202. Mesmo assim, a experiência de cada pessoa é diferente. Por exemplo, uma pessoa agênero pode simplesmente não ter disforia e nunca ter questionado seu gênero, achando que todos se sentiam assim e que a divisão de gênero era só por causa de genitais; e então saber instantaneamente que era agênero quando viu pela primeira vez tal definição.
  203. Algumas pessoas falam que se você fica pensando sobre se você é trans ou não, você tem 99,9999% de chance de ser trans.
  204.  
  205.  
  206. ------------------------------
  207. [003] Identidades não-binárias
  208. ------------------------------
  209.  
  210. ~ Gêneros não-binários não são só modinha de internet?
  211. Gêneros não-binários ocorrem em diversas culturas. Além disso, há histórico de vários pronomes neutros no singular terem sido criados em inglês na segunda metade do século XIX. Leia mais (em inglês): http://rationalwiki.org/wiki/Non-binary_gender | https://en.wikipedia.org/wiki/Third-person_pronoun
  212.  
  213. ~ Mas, hoje em dia, gêneros não-binários não seriam diversas formas de se rebelar contra as normas de gênero?
  214. Enquanto uma coisa leva à outra, pessoas não-binárias são não-binárias porque não se sentem nem totalmente como mulheres e nem totalmente como homens. Você pode ser contra as normas de seu gênero sem se sentir de outro gênero, e você pode ser não-binárie e agir de forma tradicionalmente masculina ou feminina. Existem também pessoas não-binárias que tentam simplesmente criar um terceiro conjunto de normas de gênero, como uma tentativa de serem mais aceitas pela sociedade, ainda que esta alternativa seja relativamente rara.
  215.  
  216. ~ Como saber se uma pessoa é não-binária?
  217. Só perguntando, provavelmente. Pessoas não-binárias podem se apresentar de formas que parecem binárias, e pessoas binárias podem se apresentar de formas diferentes das consideradas tradicionais para seus gêneros.
  218.  
  219. ~ Que pronomes utilizo para uma pessoa não-binária?
  220. Pergunte a ela. Pessoas não-binárias podem usar vários pronomes ou conjuntos de linguagem diferentes. Também é provável que, quando uma pessoa se apresente como não-binária, ela já dê seu pronome ou conjunto de linguagem.
  221. Recomendo perguntar sobre a linguagem em geral, incluindo títulos e/ou final de palavra, porque em português, pronomes não bastam. Você sabe que o pronome de alguém é éli, mas e aí? Essa pessoa seria alguém cansade, cansadi ou cansad, depois de um dia difícil? (Este é só um exemplo, existem outras opções.)
  222.  
  223. ~ É não-binário, não-binária ou não-binárie?
  224. Depende da palavra que acompanha o termo. Gênero é uma palavra que pede o/ele/o, portanto se diz gênero não-binário. Pessoa é uma palavra que pede a/ela/a, portanto se diz pessoa não-binária. E, se você estiver utilizando o termo sem nada ou falando sobre uma pessoa que utiliza e como final de palavra, se diz não-binárie.
  225.  
  226. ~ Quais são os gêneros não-binários?
  227. Infinitos gêneros podem existir por aí, então é complicado fazer uma lista. Há identidades de gênero que são compostas por vários gêneros, compostas por parte de um gênero, gêneros "inteiros" que não são nem homem nem mulher, gêneros relacionados a ser homem e/ou mulher, maneiras diferentes de descrever ausências de gênero, e ainda, termos caracterizados por como a pessoa sente seu gênero. Haverá uma listinha básica mais para frente para quem está confuse, mas não é possível e nem necessário fazer uma lista de todas as identidades de gênero possíveis.
  228.  
  229. ~ Existem identidades não-binárias que não derivam de masculino/feminino/neutro?
  230. Sim! Existem gêneros como neurogênero ou maverique, ou até vários xenogêneros - gêneros que são baseados em coisas externas geralmente não associadas a gênero - que não são necessariamente baseados em neutralidade, masculinidade ou feminilidade.
  231.  
  232. ~ Quais são as identidades não-binárias mais comuns na comunidade trans?
  233. Difícil saber com certeza, mas algumas das identidades não-binárias que vi bastante, ou que vejo pessoas falando sobre:
  234. Agênero: Ausência de gênero;
  235. Andrógine: Um gênero que é uma mistura de homem com mulher, sem ser nem um nem outro, ou que é uma mistura de outros dois gêneros;
  236. Bigênero: A presença de dois gêneros. Pode ser um de cada vez, ou os dois ao mesmo tempo. Tais gêneros não são necessariamente masculino e feminino;
  237. Demigênero: Parte de um gênero. Normalmente é acompanhado de um gênero no lugar de "gênero" (demimulher/demimenina, demigenderqueer, demiandrógine, etc). A outra parte do gênero da pessoa pode ou não existir;
  238. Genderflux/gênero-fluxo: Variação na intensidade de gênero. Um gênero que flui de tempos em tempos entre homem e demihomem, ou entre mulher e agênero, por exemplo;
  239. Genderqueer: Já explicado no glossário. Se você não leu ainda, procure lá;
  240. Gênero-fluido: Uma identidade de gênero para pessoas cujo gênero muda de tempos em tempos. Pode mudar entre vários gêneros diferentes, e não há limite mínimo ou máximo para o intervalo de tempo entre um gênero e outro;
  241. Gênero pessoal: Quem sente que seu gênero é tão único que não existem outras palavras para descrevê-lo pode utilizar seu nome como o nome do gênero (como Coreygênero se o nome da pessoa for Corey);
  242. Intergênero: Um gênero ou um termo geral para aquelus cuja intersexualidade informa seus gêneros;
  243. Maverique: Um gênero que é completamente independente dos gêneros masculino ou feminino, mas que também não é neutro;
  244. Neurogênero: Um termo utilizado para pessoas cuja neurodivergência teve efeito em seu gênero. Pode ser utilizado como um gênero por si só, até porque pessoas de certas neurodivergências muitas vezes se sentem distanciadas do conceito de gênero;
  245. Neutrois: Pode ser utilizado como outro termo para a ausência de gênero, mas também pode ser a presença de um gênero completamente neutro;
  246. Pangênero: A presença de todos os gêneros possíveis, ou que vai além dos gêneros conhecidos. Este termo é controverso, já que há vários gêneros não-binários em diferentes culturas e gêneros exclusivos para pessoas neurodivergentes ou intersexo - ou seja, ninguém pode realmente ter todos os gêneros. Há pessoas que utilizam a definição "a presença de todos os gêneros possíveis de serem experimentados pela pessoa". Ainda assim, recomendo utilizar poligênero ao invés de pangênero, caso você não esteja esteja preparade para tantas perguntas e inquisições quanto a quantidade de gêneros que você tem;
  247. Poligênero: A presença de vários gêneros, fixos ou fluidos; às vezes quem é poligênero nem consegue identificar todos. Quem tem a intensidade de uns gêneros em relação a outros flutuando de tempos em tempos (mas sempre tendo todos os gêneros ao mesmo tempo) pode se identificar como poligêneroflux (polygenderflux);
  248. Terceiro gênero: Como antropologistas europeus categorizavam (erroneamente) gêneros não-binários que encontravam em outras culturas. Mesmo que algumas pessoas tenham chegado neste termo sem más intenções, utilizá-lo como gênero é desrespeitoso, a não ser que você seja de um dito "terceiro gênero" de alguma cultura;
  249. Xumgênero/Xungênero: Um gênero para quem tenta, mas nunca consegue definir seu próprio gênero, por qualquer razão.
  250. Estes são apenas alguns, para dar uma ideia. Existem várias outras subcategorias destes gêneros - até a lista acima possui termos que podem ser utilizados em conjunto - e também muitos gêneros diferentes destes.
  251.  
  252. ~ O que são xenogêneros? A lista acima não parece citá-los.
  253. Algumas pessoas não-binárias com gêneros não convencionais preferem comparar seu gênero com coisas que normalmente não são associadas a gêneros. Exemplos de xenogêneros:
  254. Biogênero: Um gênero que é de alguma forma conectado à natureza;
  255. Caosgênero: Quando o gênero faz coisas confusas e não faz sentido;
  256. Energênero: Um gênero que é como uma bola de energia que fica se movimentando, e que só pode ser entendido parcialmente;
  257. Glimragênero: Um gênero que oscila e brilha fracamente;
  258. Gossagênero: Um gênero gentil e frágil, que quase não está lá;
  259. Hidrogênero: Um gênero que possui qualidades semelhantes às da água, como correntes ou ondas;
  260. Invisigênero: Um gênero que parece invisível, mas que a pessoa sabe que está lá.
  261. Jupitergênero: Um gênero tão grande que não dá para ter noção de como ele é, mas ele definitivamente está lá e definitivamente não é o gênero que foi designado à pessoa ao nascimento;
  262. Leukogênero: Um gênero que brilha intensamente;
  263. Gênero-mar: Um gênero que é um mar vasto, com cavernas e profundidades que ainda precisam ser exploradas;
  264. Gênero-pântano: Um gênero que é sentido como um pântano para quem o possui;
  265. Quantumgênero: Um gênero sentido como todos e como nenhum gênero ao mesmo tempo. Não é detectável, com a exceção do efeito que coisas externas fazem nele, o que faz ele flutuar entre existência e não existência.
  266.  
  267. ~ ????? Esses gêneros não fazem sentido! Isso não são gêneros de verdade! É por isso que gêneros não-binários não são válidos!
  268. Eu não acho que alguém gostaria de ser alvo de discriminação e de desrespeitar pessoas trans/não-binárias a ponto de descrever seu gênero com algo que pouques iriam acreditar só para ter uma identidade "cool". A maioria das pessoas acha que pode categorizar identidades não-binárias como "confusões" ou "doenças mentais", e algumas vezes só acreditam em alguns gêneros "básicos" derivados de homem, mulher ou agênero. A maioria das pessoas trans já é vítima de piadinhas, bullying/cyberbullying, exclusão social, ou até mesmo violência ou morte, apenas por expressar seu gênero de uma forma que a sociedade não quer.
  269. Então, por mais que pareça estranha a ideia de alguém sentir seu gênero como algo além de um conceito simples, não há motivos para não acreditar ou para desrespeitar identidades de gênero apenas por não entendê-las. Desde que ninguém esteja apropriando erroneamente uma identidade de gênero - por não ter direito a usá-lo, ou por estar utilizando um conceito de forma errada - não há problema nenhum em se identificar com uma identidade de gênero pouco convencional.
  270.  
  271. ~ Qual a diferença entre nanomulher, demimulher, magimulher, pessoa transfeminina e mulher não-binária?
  272. Nanomulher: Um gênero que é, em pequena parte, mulher. A outra parte do gênero pode ser conhecida ou não, e pode ou não existir;
  273. Demimulher: Um gênero que é parcialmente mulher, independentemente do tamanho da parte. A outra parte do gênero pode ser conhecida ou não, e pode ou não existir;
  274. Magimulher: Um gênero cuja grande parte é mulher. A outra parte do gênero pode ser conhecida ou não, e pode ou não existir;
  275. Pessoa transfeminina: Uma pessoa que foi designada como homem no nascimento, mas que é uma mulher e/ou que se identifica com feminilidade, parcialmente ou completamente;
  276. Mulher não-binária: Uma pessoa não-binária que acha que o conceito de ser mulher é útil para descrever sua identidade de gênero em algum grau.
  277. Ou seja: demimulher é ter uma parte do gênero como mulher, independentemente do quão grande é essa parte. Enquanto isso, nanomulher e magimulher especificam a quantidade do gênero que é feminino; pouco ou muito, respectivamente. Mulher não-binária já é uma identidade mais abrangente, que cobre tanto pessoas parcialmente mulheres quanto de gêneros parecidos com mulher, além de pessoas que são de alguma identidade não-binária qualquer (como agênero ou biogênero) mas que sentem alguma conexão com ser mulher, ou que não se importam em serem confundidas com mulheres. E pessoa transfeminina é um termo que cobre mulheres tanto binárias quanto não binárias que foram designadas como homens ao nascimento, além de pessoas que se identificam com feminilidade em algum grau sem se identificar como mulheres em qualquer grau; nem todas as mulheres não-binárias são transfemininas, e nem todas as pessoas transfemininas são mulheres não-binárias. Pessoas que foram designadas como mulheres ao nascimento podem ser mulheres não-binárias, magimulheres, demimulheres ou nanomulheres, mas não transfemininas ou mulheres trans.
  278. (Esta mesma resposta serve para gêneros relacionados a ser homem, trocando as palavras utilizadas por nanohomem, demihomem, magihomem, pessoa transmasculina e homem não-binário.)
  279.  
  280.  
  281. -------------------------
  282. [004] Linguagem inclusiva
  283. -------------------------
  284.  
  285. ~ Por que pessoas trans são tão sensíveis a termos incorretos?
  286. Pessoas trans muitas vezes são tratadas como falsas, "lo*c*s", ou como sendo nojentas a ponto de não merecerem serem tratadas como seres humanos. Utilizar termos como "tr*veco", "drag queen" (caso a pessoa não trabalhe com isso), "transexual", "tr*p", "sh*mal*", ou até mesmo "nasceu no corpo errado" e "pronomes preferidos" reafirmam este tratamento.
  287.  
  288. ~ Como respeitar os pronomes de alguém, quando eles não existem em nossa língua?
  289. Algumas pessoas conseguem providenciar pronomes adequados em outras línguas quando perguntam a elas, mas caso isso não funcione, sugiro que utilize neolinguagem, ou que não utilize nenhum artigo, pronome ou final de palavra que dependa de linguagem pessoal.
  290.  
  291. ~ Estarei sendo mais inclusive se começar a dizer para utilizarem qualquer pronome para mim, uma pessoa cis?
  292. Não. Você só está reforçando o fato de que você, uma pessoa que nunca sofreu nada sério por errarem seu gênero, não se importa se alguém se engana sobre ele de vez em quando. Você está reforçando que uma pessoa trans não deveria se importar com o gênero que estão a tratando, já que você não se importa também. Você está mostrando que não vai acontecer nada se você, uma pessoa cis, brincar de usar outras linguagens, enquanto pessoas trans podem ser mortas ou espancadas se as pessoas erradas descobrem que tais pessoas são trans.
  293. Caso você realmente prefira um pronome que não foi designado ao seu gênero designado ao nascimento, você pode começar a pensar na possibilidade de não ser cis.
  294.  
  295. ~ Por que "sexo/gênero oposto" é considerada uma expressão ruim, se pode ser simplesmente limitada a gêneros binários?
  296. Em tal expressão, oposto significa contrário. O que não faz muito sentido, se levarmos gêneros não-binários em questão. Afinal, uma pessoa pode ser bigênero e ter os dois gêneros ao mesmo tempo, ou ser maverique e ter um gênero que não é nenhum dos dois. Uma das definições atuais de heterossexual é "mulher que sente atração por homem ou homem que sente atração por mulher", o que faz mais sentido por estabelecer hétero como uma posição de poder.
  297. Quanto ao sexo biológico (testículos + XY + pênis + alta quantidade de testosterona + outras características de homens cis perissexo/ovários + XX + vagina + clitóris + alta quantidade de estrogênio + outras características de mulheres cis perissexo), o "oposto" prejudica pessoas intersexo.
  298. Enfim, faz muito mais sentido falar do gênero (ou do genital) que você quer falar, ou utilizar expressões como "gênero(s) diferente(s)", ao invés de utilizar expressões ultrapassadas só porque são mais fáceis. Dá pra entender o que você quer falar se você fizer isso de outra forma.
  299.  
  300. ~ Se ninguém no meu grupo utiliza linguagem neutra para si, existe algum problema em utilizar a palavra todos ao invés da palavra todes (ou todxs)?
  301. A questão da linguagem neutra não é só para pessoas não-binárias, mas também uma questão feminista: o "masculino" (o/ele/o) é considerado o neutro/padrão no português, e muitas feministas utilizam linguagem neutra não apenas para incluir pessoas não-binárias, mas também para não utilizar a linguagem associada a homens como se fossem prioridade. (Note que homens provavelmente iriam reclamar se começassem a utilizar a/ela/a ao invés de o/ele/o para grupos onde há tanto mulheres quanto homens; homens cis já reclamam até de linguagem neutra!)
  302.  
  303. ~ Se meu grupo é apenas para mulheres, existe algum problema em utilizar a palavra todas ao invés da palavra todes (ou todxs)?
  304. Mulheres não-bináries muitas vezes preferem conjuntos diferentes de a/ela/a, e devem ser incluses em um grupo de mulheres. Porém, o melhor neste caso é perguntar se alguém ali utiliza neolinguagem, ou ao menos deixar explícito que "todas" se refere à linguagem utilizada pela maioria das pessoas no grupo.
  305.  
  306. ~ Se é errado associar genitais ou características sexuais secundárias com gêneros, como faço para descrever problemas específicos de pessoas com tais órgãos?
  307. Ao invés de generalizar grupos, falem sobre o que querem falar. Querem falar dos perigos de enfiar coisas aleatórias em vaginas? Fale sobre pessoas com vaginas. Quer perguntar sobre dicas de absorvente? Pergunte a pessoas que menstruam. Quer falar sobre câncer de próstata? Fale para pessoas com próstatas. Falar sobre mulheres ou homens em relação a estas questões tanto inclui pessoas que não possuem tais características erroneamente em um grupo quanto excluem pessoas que possuem tais características.
  308.  
  309. ~ Mas eu não quero me descrever como uma "pessoa com útero" ou sei lá o quê! Eu sou uma mulher!
  310. Ok, mas você só precisa se descrever como uma pessoa que possui certa parte do corpo ou certa capacidade caso você esteja falando sobre isso. Você pode falar que é uma mulher, mas o que define a presença de útero em seu corpo não é seu gênero. Existem mulheres sem útero também, até mesmo mulheres intersexo que se consideram cis.
  311.  
  312. ~ Por que devemos fazer todas estas mudanças na linguagem do dia-a-dia para acomodar uma minoria?
  313. Porque a sociedade atual é cissexista e exorsexista, e ajudar a fazer um mundo onde pessoas trans são incluídas não dói ou custa nada. Tomar uma posição de neutralidade só ajuda opressories.
  314.  
  315. ~ Se alguém não se diz mulher nem homem, como descrevo a pessoa em uma palavra equivalente?
  316. Infelizmente, não existem termos equivalentes. É possível utilizar gurie, menine, garote, moçe, senhore, entre outros termos, mas acredito que não exista um termo mais pessoal do que pessoa em português para equivaler a mulher ou homem, com a exceção do próprio gênero (ume maverique, ume neutrois, etc).
  317.  
  318. ~ Como posso fazer uma ficha de identificação que inclua pessoas não-binárias discretamente, se devo incluir sexo?
  319. Você pode utilizar "outro" e/ou "prefiro não falar" em adição a masculino/feminino. Ou, se você pode ser mais inclusive, você pode trocar sexo ou gênero para pronomes: ele/ela/qualquer um/favor perguntar, e talvez seja legal incluir elu, ile e/ou elx entre os pronomes.
  320.  
  321. ~ Como posso perguntar pelo nome antigo de uma pessoa trans?
  322. Em geral, não há a necessidade de saber de quaisquer nomes antigos que uma pessoa trans já usou; você sempre deve se referir a uma pessoa com o nome que usa atualmente. Caso você precise saber do nome de registro de alguém, por conta de alguma transação financeira, por exemplo, ele provavelmente será fornecido, e você poderá se referir a este nome como um "nome que está nos documentos" ou coisa parecida se precisar pedir por ele. Mas este nome não deverá aparecer em conversa casual, e não deve ser tratado como um nome mais verdadeiro do que o nome que a pessoa usa.
  323.  
  324. ~ Existe algo que eu deva cuidar quando falo de sexo ou de minha orientação sexual?
  325. Você não deve associar genitais a gêneros. Gosta de mulheres? Então não fale que gosta de "ppks"/vaginas, e sim de mulheres. Você não tem como saber se uma mulher na rua tem um pênis, uma vagina, ou uma combinação entre essas genitálias só de olhar de longe, não? Muitas pessoas trans se parecem com pessoas cis, e mesmo as que parecem trans podem ter feito cirurgia de redesignação sexual, ou podem ser cis e simplesmente parecerem ter características associadas a outro gênero. Homens trans também não devem ser tratados como exceções para lésbicas, mesmo que tenham vagina e que não tenham a aparência particularmente masculina. O gênero de uma pessoa deve ser respeitado em qualquer tipo de relação.
  326. Além disso, existe o problema com certas orientações e gêneros não-binários, que será tratado na próxima seção.
  327.  
  328.  
  329. -----------------
  330. [005] Orientações
  331. -----------------
  332.  
  333. ~ Levando em consideração identidades não-binárias, como ficam definidas as orientações sexuais?
  334. Heterossexual é para mulheres atraídas somente por homens e vice-versa.
  335. Gay - ou lésbica, para mulheres ou pessoas alinhadas com mulheres que preferirem o termo - é atração somente por gêneros iguais ou parecidos com o próprio.
  336. Bissexual já é, faz algumas décadas, uma palavra definida como atração sexual por dois ou mais gêneros. Algumas definições dizem que é a atração pelo próprio gênero e por outros gêneros, mas esta não se aplica a todas as pessoas bissexuais.
  337. Pansexual é alguém que sente atração sexual por todos os gêneros, ou independentemente do gênero. Sem problemas aqui.
  338. Assexual é alguém que não sente atração sexual por nenhum gênero. Também sem problemas aqui.
  339.  
  340. Agora, há outras orientações que foram especificamente feitas por causa de pessoas não-binárias. Por exemplo:
  341. Polissexual: Atração sexual por vários gêneros. Podem ser todos (algumas pessoas se identificam como poli e pan), podem ser todos menos alguns (todos menos gêneros relacionados com ser mulher, por exemplo), podem ser simplesmente vários (homem, agênero, maverique e neutrois, por exemplo);
  342. Ceterossexual (alguns conhecem como skoliossexual): Atração sexual de pessoas não-binárias por apenas pessoas não-binárias, independentemente dos gêneros;
  343. Feminamórique: Pessoa não-binária que se atrai somente por mulheres
  344. Ninsexual: Atração sexual por pessoas que se identificam com gêneros neutros de alguma forma;
  345. Noninsexual: Atração sexual por qualquer gênero que não seja neutro;
  346. Neussexual: Atração sexual por pessoas sem gênero (agênero ou gênero-vácuo, por exemplo);
  347. Novossexual: Atração sexual que muda de acordo com o gênero (apenas para pessoas cujo gênero é fluido);
  348. Omnigay: Atração que muda de acordo com o gênero, mas de modo que a pessoa sempre possui atração apenas pelo gênero que está no momento (ou por gêneros próximos a aqueles que a pessoa está);
  349. Toren: Alguém que sente atração somente por homens e por pessoas não-binárias;
  350. Trixen: Alguém que sente atração somente por mulheres e por pessoas não-binárias;
  351. Viramórique: Pessoa não-binária atraída somente por homens.
  352.  
  353. Nota: Gostaria de deixar claro que esta lista de orientações é apenas para propósitos de educar pessoas sobre a relação entre orientações sexuais e gêneros não-binários. Esta lista não tem a intenção de ser uma lista completa de orientações, ou de educar pessoas sobre orientações fluidas ou do espectro assexual (ou do espectro arromântico). Caso você queira uma lista mais completa de orientações sexuais/românticas, vá para a seguinte página: http://orientando.org/listas/lista-de-orientacoes/
  354.  
  355. ~ Existem orientações baseadas em preferências por genitais?
  356. Não. Isso seria cissexista, por, normalmente, ter a intenção de reduzir gêneros a genitais, e diadista, por querer colocar genitais em categorias distintas, quando existem várias configurações genitais diferentes.
  357. Além disso, como já foi dito na última seção, você não tem como saber quais genitais a pessoa tem sem tirar a roupa dela, e normalmente ninguém espera até este momento para definir sua atração.
  358. A visão de sexo que a maioria tem é cisheteronormativa: um homem e uma mulher, o homem com um pênis e a mulher com uma vagina. É uma boa ideia refletir sobre seu asco por certo genital; muitas vezes, é a transmisia que está fazendo você associar certo genital com certo gênero, que está te dando a ideia de que alguém com certo genital não pode ser realmente de um gênero que não esteja associado a ele.
  359.  
  360. ~ Como sei se uma pessoa não é mulher nem homem só de olhar? Como vou definir atração por gêneros não-binários se eles não são tão óbvios?
  361. Pense na convivência, e não na atração à primeira vista. Se você gosta de mulheres e não gosta de homens, vê um homem cis de vestido, peruca e maquiagem, e acha que é uma mulher, mas depois descobre que não é, você ainda será atraíde por ele? Provavelmente não. É a mesma coisa com outros gêneros. Alguém que é neutrois vai agir como neutrois, mesmo que se vista e utilize linguagem de forma binária. Alguém que é gênero-fluido pode simplesmente ser de outro gênero na semana seguinte. Se você não consegue de forma nenhuma ter atração suficiente por ou aceitar ter alguém que não possui gênero binário em sua vida, se afaste desta relação.
  362.  
  363.  
  364. -----------------------------
  365. [006] Questões de preconceito
  366. -----------------------------
  367.  
  368. ~ Quais são os problemas emocionais que pessoas trans encontram mais, em relação a pessoas cis?
  369. - Depressão e ansiedade, oriundas da sensação de isolamento e de guardar segredos de outras pessoas;
  370. Caso a pessoa tenha a intenção de se revelar trans:
  371. - Medo de não encontrar ninguém para relacionamentos íntimos;
  372. - Medo do impacto e consequências diversas ao se revelar para parentes, para amizades e para colegas de trabalho;
  373. - Medo de violência física ou mental em lugares com pessoas estranhas;
  374. - Frustração contínua por ter que explicar documentos;
  375. - Caso a pessoa queira fazer transição hormonal e/ou cirúrgica, ela pode ter inseguranças em relação a estes tratamentos;
  376. - Caso a pessoa tenha feito transição hormonal e/ou cirúrgica, ela pode achar que não foram o suficiente, ou achar que ainda está feia;
  377. - Caso a pessoa não queira ou possa fazer transição hormonal e/ou cirúrgica, ela pode ter disforia em relação a não ter o corpo que quer ter.
  378. (Fonte: http://tgmentalhealth.com/basic-issues-in-transgender-mental-health/)
  379.  
  380. ~ Quais são os problemas sociais que pessoas trans encontram mais, em relação a pessoas cis?
  381. - Perda de trabalho/dificuldade em arranjar trabalho;
  382. - Perda de apoio familiar, emocional e/ou financeiro;
  383. - Perda/dificuldade em achar amizades e relacionamentos, especialmente fora de comunidades que incluem pessoas trans;
  384. - Rejeição a consultas por parte de médicos preconceituosos;
  385. - Possibilidade alta de violência mental ou física: xingamentos, olhares, espancamentos, estupros, mortes (especialmente mulheres trans - leia, em inglês: https://broadly.vice.com/en_us/article/why-do-men-kill-trans-women-gender-theorist-judith-butler-explains);
  386. - Dependendo do lugar, pode ser difícil utilizar um banheiro público, especialmente para pessoas transfemininas ou que parecem transfemininas;
  387. - Exclusão de certos lugares direcionados a quem é LGB+, que muitas vezes só possuem o T no nome;
  388. - Pessoas transfemininas podem acabar sendo taxadas de invasoras em espaços feministas.
  389.  
  390. ~ Existe alguma relação entre raça e identidade de gênero?
  391. Como qualquer outra espécie de falta de privilégio, quanto menos privilegiada a pessoa é, pior ela é tratada. Se já é difícil achar trabalho sendo negre ou trans, ter as duas características ao mesmo tempo é pior. Se representação na mídia para pessoas trans já é rara, para pessoas trans que não são brancas, é algo praticamente inexistente; e muitas vezes, tais histórias são centradas em mortes prematuras ou em outros tipos graves de violência. Sylvia Rivera, uma das principais forças por trás da revolta de Stonewall, era uma mulher trans latina, mas o filme Stonewall preferiu focar em um homem branco que nunca existiu.
  392. A maior parte das vítimas dos assassinatos de pessoas trans são pessoas transfemininas não-brancas.
  393.  
  394. ~ Qual a relação entre homens trans e misoginia?
  395. Homens trans, pessoas transmasculinas, e outras pessoas que não são mulheres, mas que foram designadas como mulheres, sofrem misoginia direcionada erroneamente. Isto é apenas transmisia, mesmo que sem querer. Afinal, estas pessoas não estão internalizando a mensagem de que são algo de ruim porque são mulheres, estão apenas internalizando que outras pessoas acham que elas são mulheres.
  396. Homens trans podem ter noção de que mulheres realmente recebem cantadas na rua, ou que são julgadas por fazer sexo, ou que são excluídas de certos espaços, mas a mensagem não é processada da mesma forma que é processada para uma mulher.
  397. Pessoas transmasculinas não possuem o direito de estarem em espaços para mulheres, não importa o quanto já foram tratados tão mal quanto outras mulheres antes de se descobrirem ou de se revelarem trans.
  398.  
  399. ~ Mulheres trans possuem privilégio por terem sido tratadas como homens por certa parte da vida?
  400. Resposta adaptada de uma mulher trans (com consentimento):
  401. Algum tipo de "privilégio masculino" externo ainda existe. Mas nem sempre, e nem sempre com todos os privilégios. Tipo, se certa mulher trans for vista como "homem feminino", não vai ser tão levada à sério, por exemplo. Ainda assim, ela pelo menos tem certos privilégios, como o de não ser cantada na rua, ou o de poder entrar em exatas sem muita resistência dos pais, ou o de ganhar mais dinheiro que outras mulheres em geral, se estiver no armário durante estes estágios da vida. Porém, a partir do ponto que se revela como mulher trans ou transfeminina, a pessoa perde praticamente todo esse privilégio masculino.
  402. Mas existe uma questão séria de transmisoginia que definitivamente afeta mulheres trans até mesmo antes de saberem que são trans. A mídia impõe muitas mensagens negativas relacionadas a mulheres trans, como representações que ridicularizam mulheres trans, piadas, etc. Até mesmo piadas misóginas ou mensagens misóginas em geral podem fazer isso. Essas podem fazer pessoas terem medo/vergonha de se identificarem como mulheres. Existe muita pressão social que ridiculariza mulheres trans, muito mais do que homens trans. Há mulheres trans que dizem que internalizam bastante misoginia a ponto de serem completamente misóginas antes de saberem que eram trans. Assim como mulheres cis também podem internalizar misoginia.
  403.  
  404. ~ Em relação a privilégio de gênero, onde ficam pessoas não-binárias que não são parcialmente masculinas ou parcialmente femininas?
  405. Esta ainda é uma questão complicada. Muito do que pessoas não-binárias sofrem é apenas exorsexismo (discriminação específica contra pessoas não-binárias), ou transmisoginia, muitas vezes direcionada erroneamente. Apenas se tem um consenso sobre pessoas não-binárias completamente alheias de gêneros binários serem afetadas negativamente pelo privilégio de homem - já que homens são considerados o centro de tudo - mas ainda terem privilégio sobre mulheres e pessoas parcialmente femininas - já que estas são as que sofrem e internalizam misoginia.
  406.  
  407. ~ E onde ficam as pessoas não-binárias que são parcialmente homens E parcialmente mulheres?
  408. ¯\_(ツ)_/¯
  409. Situação difícil. Só sei dizer que muitas pessoas não-binárias protestam sobre grupos apenas para homens ou apenas para mulheres não aceitarem pessoas que são tanto homens quanto mulheres. E, certamente, pessoas que não são 100% homens não tem como ter 100% de privilégio por serem homens.
  410.  
  411. ~ Por que pessoas trans precisam de mais representação na mídia?
  412. Porque é pela mídia que muitas pessoas conhecem a diversidade do mundo, e é pela mídia que mensagens preconceituosas são internalizadas: por exemplo, que ser gorde é algo vergonhoso que precisa mudar, que homens gays sempre gostam de música pop e de moda, que mulheres devem estar sempre lindas e buscando serem atraentes para homens, etc. A representação trans é quase nula, normalmente se reduzindo a livros de nicho (que ninguém vai procurar sem ter muito interesse), histórias trágicas em notícias e filmes (sendo que em filmes, normalmente pessoas trans são representadas por pessoas cis do gênero designado ao nascimento da personagem trans), ou piadas ambulantes (às vezes explicitando que são pessoas que "acham que são de outro gênero", outras vezes apenas mostrando que é ridículo se vestir como um gênero fora do designado). Isso faz com que pessoas trans, especialmente crianças e adolescentes, sofram por ter falta de recursos, ou por terem seus desejos de se apresentar como alguém de "outro gênero" sendo vistos como piadas.
  413.  
  414. ~ Por que pessoas cis não devem representar pessoas trans?
  415. Porque, além de tirar trabalho de pessoas trans - que já sofrem com serem rejeitadas de empregos onde a identidade de gênero não importa - isso passa a mensagem de que pessoas trans são basicamente pessoas cis que querem ser algo que não são, ou que "se vestem de outro gênero". Até diretores de cinema admitem que esta é a sua visão. Existem pessoas trans pré-transição que podem representar pessoas trans pré-transição, existem pessoas trans pós-transição que não vão se importar de atuarem como pessoas trans pré-transição, existem pessoas trans que estão durante a transição e que podem dar uma aparência mais realista ao filme. Note que atores ou atrizes cis contratades para fazer esses filmes nunca são do gênero da pessoa trans, e sim do gênero designado ao nascimento da pessoa trans. Isso é extremamente desrespeitoso, já que, além de passar a mensagem de que a imagem de uma pessoa trans é algo tão desagradável que não merece ser mostrada, passa a mensagem de que qualquer pessoa trans sempre vai parecer como se fosse de seu gênero designado ao nascimento.
  416.  
  417. ~ Por que errar a linguagem de uma pessoa trans é pior do que errar a linguagem de uma pessoa cis?
  418. Uma pessoa cis não vai ser referida como se fosse de outro gênero com frequência, e ninguém faz pressão para que uma pessoa cis seja de um gênero que ela não é. Pessoas trans são referidas como se fossem de outro gênero desde o nascimento, e haverão sempre preconceituoses que nunca vão respeitar o gênero de pessoas trans, mesmo após todos os tipos de transição possíveis.
  419.  
  420. ~ Por que dizem que pessoas cis são sempre cissexistas/transmísicas?
  421. Porque pessoas cis não precisam se esforçar para desaprender o cissexismo da nossa sociedade. Tal cissexismo inclui:
  422. - Ignorar que pessoas trans existem em qualquer tipo de educação sobre puberdade ou preconceitos ou identidades ou o que for, a não ser que seja o foco, e só é o foco se alguma pessoa trans está envolvida;
  423. - A maioria das pessoas acreditar que gêneros não-binários - especialmente xenogêneros - são apenas algo da internet, algo para quem não gosta de papéis de gênero e só está "inventando" isso para ser mais legal, ou até mesmo uma invenção para "se fingir de minoria";
  424. - O sistema (médiques/polítiques/terapeutas/etc.) não providenciar facilmente tratamento adequado para aquelus que o querem. Há vários testes a serem feitos antes de uma pessoa trans poder fazer terapia hormonal ou CRS, porque pessoas cis seriamente acreditam que até alguém que está disposte a pagar e a passar por todas estas mudanças permanentes no corpo pode estar "apenas passando por uma fase" - e, ainda por cima, existe gente que defende este sistema;
  425. - Não ligar para a possibilidade de errar a linguagem das pessoas que estão em volta ao presumi-la, e não ligar para a utilização de linguagem neutra;
  426. - Achar que orientações sexuais ou românticas estão relacionadas a genitais, e não a gêneros;
  427. - Achar que piadas sobre homens de vestido ou sobre mulheres masculinizadas são inofensivas, e até dizer que pessoas trans "legais" não se importam e participam dessas piadas;
  428. - Achar que pessoas trans que não são estereotipicamente o gênero que são estão apenas fingindo serem de outro gênero, ou mesmo duvidar do gênero de alguém por um motivo desses;
  429. - Tornar pessoas trans em um fetiche, achando sexy que elas possuem "o melhor dos dois mundos", ou que são "algo diferente pra experimentar";
  430. - Não se importar com palavras estigmatizadas ou com outras expressões ofensivas e/ou incorretas (como, por exemplo, "homem preso no corpo de uma mulher", ou "quando ele era uma mulher...");
  431. - Pensar que pessoas trans são apenas esquisitonas/nojentas/não devem ser levadas a sério ou respeitadas/estão cometendo um pecado por serem elas mesmas.
  432. Isso tudo, e mais o que já está escrito na seção sobre linguagem inclusiva. Pessoas trans também possuem dificuldade em desaprender estas noções, mas conseguem fazer isto mais facilmente porque sofrem diretamente com elas, enquanto pessoas cis podem desistir de apoiar pessoas trans a qualquer momento e vão ter apoio ou indiferença da maior parte da sociedade. Enquanto não vai ter nenhuma pessoa trans chamando uma pessoa cis pessoalmente de transfóbica se ela não fez nada para merecer isso (e cuidado com histórias, porque normalmente tal pessoa FOI transmísica e simplesmente não quer admitir/acha frescura), alguém dizendo que todas as pessoas cis são transfóbicas não está fazendo um discurso de ódio, ou acusando pessoas específicas injustamente. O sistema é cissexista, a sociedade é cissexista; portanto, sim, todas as pessoas cis são transmísicas. A diferença é que as que se importam com isso podem decidir mudar de atitude e ser menos transmísicas.
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