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Jun 27th, 2016
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  1. Não havia muito do que se falar da família Cho, um casal feliz, um casal com uma conta no banco gorda até demais e um filho. Até aí tudo poderia ser considerado o mais simplório e mágico possível. Jonghyun era o filho exemplar, estudava muito, estava sempre se esforçando para fazer os pais felizes, ou até mesmo mais do que estavam e eram, mas ele sempre sentia que parecia que alguma coisa não estava nada fácil ali. Que não havia nada que fizesse para que ambos pudessem notá-lo de uma maneira ainda maior e melhor. O mais jovem dos Cho poderia até mesmo ser considerado como alguém ambicioso e até mesmo carente de atenção, carente até demais. Algo que pareceu aumentar ainda mais quando sua mãe viera com a sutil e maravilhosa notícia da gravidez. Ela teria seu segundo filho e aquilo para Jonghyun significava o fim de um pequeno império que tinha feito questão de criar nos últimos anos. Ou melhor dizendo, de sua existência.
  2. Nove meses depois no início do ano de 1998 nascera o mais novo e último do legado dos Cho: Gunhee. Um garoto franzino que qualquer um que visse não diria que ele duraria um dia vivo ou algo parecido. Mas o que ele significava então? Significava a mais nova alegria da casa, a iluminação perfeita nos rostos de seus pais, um brilho no olhar que fizera Jonghyun se questionar se quando nascera tinha sido a mesma coisa, porque nunca tinha visto seus pais parecerem tão abobalhados como estavam sendo naqueles tempos. E mesmo querendo que seus pais o notassem, parecia que agora a situação seria um pouquinho pior. Um plano um tanto quanto estranho lhe passou pela mente, se cuidasse bem do irmão mais novo, se fosse alguém que tratasse bem daquela criatura, poderia ter a atenção dos pais mais uma vez. E foi isso que Jonghyun passara a fazer.
  3. Sempre que tinha a oportunidade passava horas e horas brincando com o irmão, tomando conta dele. Aos olhos das pessoas pelo lado de fora, muito bem o garoto estava cuidando do pequeno, mas só o garoto sabia o que se passava. Assim como tinha a oportunidade de ficar brincando com o irmão, ele também a oportunidade de machucá-lo. Por que ficar perto daquele garoto e ele não sofrer nada por todo o prejuízo que ele tinha lhe causado? Era injusto de fato e sempre seria. E não passara a se tornar novidade, o fato de Gunhee aparecer machucado vez ou outra, com uma marca arroxeada aqui ou ali e Jonghyun dizer sempre que o irmão era descuidado o suficiente para se machucar por aí, afinal de contas era um menino arteiro demais. Mas Gunhee nunca fora assim. Era sempre quieto demais e sua mãe passara então desconfiar. Já tinha notado comportamento do seu garotinho e muito bem sabia que as palavras de seu filho mais velho sequer condiziam com a realidade do mais novo. Tanto que um dia quando chegou de mansinho no quarto dos garotos, finalmente tirou a prova. Jonghyun estava prestes a fazer a pior das coisas que já tinha feito ao irmão, iria lhe quebrar o braço e a sorte de Gunhee foi o surgir da mãe ali.
  4. Se lembraria daquilo posteriormente. Do irmão lhe segurando o braço, dizendo que para se tornar um verdadeiro herói tinha de aguentar a pior das dores e com um sorriso macabro nos lábios que jamais esqueceria. Gunhee tinha sido inocente ao ponto de acreditar que ele não ia fazer aquilo até a pressão no braço começar e a mãe surgir para impedir. A partir dali só lembrava da mãe estapeando seu irmão forte no rosto, gritando com ele e lhe segurando para proteger daquele que passara a ser o péssimo exemplo dentro de casa. Quiçá a pessoa mais insana ali.
  5. Jonghyun tinha ficado proibido se ousar chegar perto de Gunhee. O clima de casa ficara pesado e a única salvação do garoto era quando passava os finais de semana na casa do tio. Jaehwan era sua salvação em meio a todo aquele caos. Era a pessoa que o fazia sorrir, que brincava com ele quase como se fosse seu filho de verdade. Embora Gunhee amasse muito seus pais, por muita das vezes ele se sentia mais filho do tio do que aqueles que realmente lhe deram a vida. Jaehwan era sua fonte de segurança e aquilo nunca mudaria, ainda mais quando o garoto prezava de todas as formas manter contato com o homem e sempre contar tudo o que lhe acontecia. Principalmente a coisa que mais mudou a vida de todos dentro de casa.
  6. Estava voltando do colégio, os pais estavam trabalhando e Jonghyun estava sozinho em casa. Gunhee chegara com um sorriso bailando por sobre os lábios pelas notas boas que tinha tirado e, de certa forma, porque seria a primeira vez em eras que poderia estar só com o irmão e tentar conversar com ele, ou reaver alguma coisa que ainda poderia ter restado do laço entre os dois, embora aquilo nunca tivesse existido verdadeiramente. Indo em direção ao quarto do irmão, ele nunca achou que veria uma cena daquela. Jonghyun caído no chão, uma faca enfiada na barriga e sangue ao redor dele. Foi às pressas que foi até o outro, gritando para que ele se mantivesse vivo, as mãos tentando parar o sangramento. Saber qual seria a parte mais traumatizante, ninguém sabia, nem ele próprio, talvez tivesse sido as mãos terem sido manchadas de sangue, talvez tivesse sido as palavras que Jonghyun lhe soltara antes de desfalecer: “a culpa é toda sua.”.
  7. Depois daquele incidente, Gunhee não conseguia mais dormir, tinha pesadelos por cima de pesadelos e mesmo com sua mãe lhe ajudando a dormir, mesmo com os remédios que o psiquiatra acabara lhe passando, não havia nada que conseguisse fazê-lo melhorar. Foi aí que seus pais acreditaram que era necessário que se mudassem, estar naquela casa não fazia bem a ninguém e jamais faria. Decidiram que iriam se mudar para o exterior e ganhar uma vida nova, mas Gunhee não queria aquilo. Não queria ir embora da sua cidade natal, não queria deixar os amigos para trás e muito menos o tio. Jaehwan que era sua única fonte de suporte, ele não queria mesmo deixar para trás. Foi aí que depois de muito transtorno, muito desespero e negociação que seus pais permitissem que fosse morar com seu tio. O que ele não sabia era que encontraria uma baita de uma novidade na casa dele.
  8. Quando se mudou para morar com Jaehwan, tivera uma surpresa. Ele era casado com um homem e mais do que isso, ele tinha uma filha. Não tinha sido exatamente um choque, tinha notado o quanto o tio parecia feliz com que a vida que tinha, com o homem que lhe fazia feliz e ele não precisou de explicações para entender que aquilo que se passava ali era nada mais e nada menos que amor. Algo que aprenderia verdadeiramente nos próximos tempos. Os primeiros meses tinham sido difíceis, os pesadelos do garoto ainda continuavam e mesmo com o tio tentando lhe acalmar, ainda parecia meio difícil. Até que o homem tivera uma ideia um tanto quanto interessante. Pelo fato de o quarto que tinha destinado a Gunhee ser grande, ele transferira o piano que tinha na sala para o quarto garoto e toda noite tocava para que o garoto se sentisse bem. Uma terapia que passara a funcionar muito melhor do que qualquer remédio ou psicólogo. Foi a partir dali que o gosto por música começou.
  9. Gunhee passara a aprender a tocar piano e violão. Dois instrumentos que seu tio sabia e que passaram a ser a nova fonte de felicidade pertencente ao rapaz. Passara de ser dependente das melodias do tio e passara a ter as próprias. Não queria ser um estorvo àquele ponto, por isso tinha decidido que sempre que tivesse algum pesadelo ou medo ou algo parecido seria ele a tocar. Por isso durante a noite não eram mais as melodias de Jaehwan que tomavam conta da casa, passaram a ser as melodias de Gunhee e embora as coisas estivessem sendo melhores agora e o garoto apresentando alguma melhora, ele começara de verdade a fornecer algum tipo de culpa a si mesmo. A reclamar de se ele tinha sido culpado pela morte do irmão, porque ninguém tinha feito nada, porque ninguém tinha punido ele e ali ele pensou que a sua melhor forma de se punir era se machucar como tinha feito com o irmão. Em um dia, Gunhee havia pego uma faca e feito um belo corte por sobre a extensão do braço esquerdo, se ninguém o iria punir, que ele o fizesse então. Se recordava do desespero de seu tio, dos olhos perdidos de Nagi e a voz do marido de seu tio a tentar chamá-lo, ele sequer escutou mais nada antes de desmaiar enquanto ia para o hospital.
  10. Aquela tinha sido a primeira crise ‘estranha’ que o garoto havia tido, mas até então nada mais tinha acontecido depois dali. Levaram aquilo apenas como um estresse pós-traumático e não seguiram adiante com mais nada. Gunhee voltara a viver normalmente e tirar notas boas como sempre fizera. Na idade certeira, o seu tio lhe enviou para o Saint Francis, um internato religioso renomado, onde ele sabia que o futuro do seu – agora – filho estaria garantido e ele poderia ser um adolescente normal como bem deveria ser e como bem era.
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