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Citações Lenin

Oct 19th, 2019
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  1. Lenin - Esquerdismo Doença Infantil do Comunismo
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  3. Negar a necessidade do Partido e da disciplina partidária eis o resultado a que chegou a oposição. E isso equivale a desarmar completamente o proletariado, em proveito da burguesia. Equivale precisamente à dispersão, instabilidade, incapacidade de de dominar-se para unir-se e atuar de modo organizado, defeitos tipicamente pequeno- burgueses, que, se formos indulgentes com eles, causam inevitavelmente a ruína de todo movimento revolucionário do proletariado.
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  6. Quem concorre para enfraquecer, por pouco que seja, a disciplina férrea do Partido do proletariado (principalmente na época de sua ditadura) ajuda, na realidade, a burguesia
  7. contra o proletariado.
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  10. Toda a história do bolchevismo, antes e depois da Revolução de Outubro, está cheia de casos de manobra, de acordos e compromissos com outros partidos, inclusive os partidos burgueses!
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  13. É muitíssimo mais difícil - e muitíssimo mais meritório - saber ser revolucionário quando ainda não existem as condições para a luta direta, aberta, autenticamente de massas, autenticamente revolucionária, saber defender os interesses da revolução (através da propaganda, da agitação e da organização) em instituições não revolucionárias e, muitas vezes, simplesmente reacionárias, numa situação não revolucionária, entre massas incapazes de compreender imediatamente a necessidade de um método revolucionário de ação.
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  16. A infantilidade de "negar" a participação no parlamentarismo consiste, exatamente, em que com esse método tão "simples", "fácil" e pseudo-revolucionário querem "resolver" a difícil tarefa de lutar contra as influências democrático-burguesas no seio do movimento operário e, na realidade, a única coisa que fazem é fugir de sua própria sombra, fechar os olhos diante das dificuldades e desembaraçar-se delas apenas com palavras.
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  19. Em 1907-1908, por exemplo, os bolcheviques "de esquerda" realizavam às vezes e em alguns lugares seu trabalho de agitação entre as massas com maior êxito que nós. Isso se explica, em parte, por ser mais fácil aproximar-se das massas com a tática da negação "pura e simples" numa situação revolucionária, ou quando ainda estão bem vivas as lembranças da revolução. Isso, contudo, não chega a ser um argumento em favor de semelhante tática.
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  23. Lenin - O Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo
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  25. No livrinho prova-se que a guerra de 1914-1918 foi, de ambos os lados, uma guerra imperialista (isto é, uma guerra de conquista, de pilhagem e de rapina), uma guerra pela partilha do mundo, pela divisão e redistribuição das colônias, das ,esferas de influência, do capital financeiro, etc.
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  28. A distribuição da rede ferroviária, a desigualdade dessa distribuição e do seu desenvolvimento, constituem um balanço do capitalismo moderno, monopolista, à escala mundial. E este balanço demonstra que, com esta base econômica, as guerras imperialistas são absolutamente inevitáveis enquanto subsistir a propriedade privada dos meios de produção.
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  31. A propriedade privada baseada no trabalho do pequeno patrão, a livre concorrência, a democracia, todas essas palavras de ordem por meio das quais os capitalistas e a sua imprensa enganam os operários e os camponeses, pertencem a um passado distante. O capitalismo transformou-se num sistema universal de subjugação colonial e de estrangulamento financeiro da imensa maioria da população do planeta por um punhado de países “avançados”.
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  35. Lenin - Que Fazer
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  37. "A liberdade de crítica" é a liberdade da tendência oportunista na social-democracia, a liberdade de transformar esta em um partido democrático de reformas, a liberdade de implantar no socialismo as ideias burguesas e os elementos burgueses. A liberdade é uma grande palavra, mas foi sob a bandeira da liberdade da indústria que foram empreendidas as piores guerras de pilhagem, foi sob a bandeira da liberdade do trabalho, que os trabalhadores foram espoliados. A expressão "liberdade de crítica", tal como se emprega hoje, encerra a mesma falsidade.
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  40. Alguns dos nossos gritam: Vamos para o pântano! E quando lhes mostramos a vergonha de tal ato, replicam: Como vocês são atrasados! Não se envergonham de nos negar a liberdade de convidá-los a seguir um caminho melhor! Sim, senhores, são livres não somente para convidar, mas de ir para onde bem lhes aprouver, até para o pântano; achamos, inclusive, que seu lugar verdadeiro é precisamente no pântano, e, na medida de nossas forças, estamos prontos a ajudá-los a transportar para lá os seus lares. Porém, nesse caso, larguem-nos a mão, não nos agarrem e não manchem a grande palavra liberdade, porque também nós somos "livres" para ir aonde nos aprouver, livres para combater não só o pântano, como também aqueles que para lá se dirigem!
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  43. Marx, que lançou de forma triunfante: "Cada passo avante, cada progresso real valem mais que uma dúzia de programas". Repetir tais palavras nessa época de dissensão teórica equivale a dizer à vista de um cortejo fúnebre: "Tomara que sempre tenham algo para levar!" Além disso, essas palavras são extraídas da carta sobre o programa de Gotha, na qual Marx condena categoricamente o eclectismo no enunciado dos princípios. Se a união é verdadeiramente necessária, escrevia Marx aos dirigentes do partido, façam acordos para realizar os objectivos práticos do movimento, mas não cheguem, ao ponto de fazer comércio dos princípios, nem façam "concessões" teóricas. Tal era o pensamento de Marx, e eis que há entre nós pessoas que, em seu nome, procuram diminuir a importância da teoria! Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário.
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  46. Como doutrina, o socialismo evidentemente tem suas raízes nas relações econômicas atuais, da mesma forma que a luta de classe do proletariado; do mesmo modo que esta última, resulta da luta contra a pobreza e a miséria das massas, provocadas pelo capitalismo. Mas o socialismo e a luta de classe surgem paralelamente e um não engendra o outro; surgem de premissas diferentes. A consciência socialista de hoje não pode surgir senão à base de um profundo conhecimento científico.
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  49. O problema coloca-se exclusivamente assim: ideologia burguesa ou ideologia socialista. Não há meio-termo (pois a humanidade não elaborou uma "terceira" ideologia; e, além disso, em uma sociedade dilacerada pelos antagonismos de classe não seria possível existir uma ideologia à margem ou acima dessas classes). Por isso, toda diminuição da ideologia socialista, todo distanciamento dela implica o fortalecimento da ideologia burguesa.
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  52. O desenvolvimento espontâneo do movimento operário resulta justamente na subordinação à ideologia burguesa, efetua-se justamente segundo o programa do "Credo", pois o movimento operário espontâneo é o sindicalismo, a Nur- Gewerkschafilerei: ora, o sindicalismo é justamente a escravidão ideológica dos operários pela burguesia. Por isso, nossa tarefa, a da social-dernocracia, é combater a espontaneidade, desviar o movimento operário dessa tendência espontânea que apresenta o sindicalismo, de se refugiar sob as asas da burguesia, e atraí-lo para a social- democracia revolucionária.
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  55. A consciência da classe operária não pode ser uma consciência política verdadeira, se os operários não estiverem habituados a reagir contra todo abuso, toda manifestação de arbitrariedade, de opressão e de violência, quaisquer que sejam as classes atingidas.
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  58. Eis porque nossos "economistas", que pregam a luta econômica como o meio mais amplamente aplicável para integrar as massas no movimento político, realizam um trabalho profundamente prejudicial e reacionário em seus resultados práticos.
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  61. Não somos crianças que podem ser alimentadas apenas com a "sopinha" da política "econômica"; queremos saber tudo o que os outros sabem, queremos conhecer em detalhe todos os aspectos da vida política e participar ativamente de cada acontecimento político.
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  64. Intelectuais, é seu dever fornecer-nos tais conhecimentos em quantidades cem, mil vezes maior do que o fizeram até agora, e não apenas sob a forma de raciocínios, folhetos e artigos (os quais freqüentemente costumam ser - perdoem a franqueza! - maçantes), mas - e isto é imperioso - sob a forma de revelações vivas sobre o que fazem nosso governo e nossas classes dominantes exatamente no momento atual, em todos os aspectos da vida. Portanto, ocupem-se um pouco mais ciosamente da tarefa que lhes; pertence, e fazem menos "de elevar a atividade da massa operária".
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  67. Os apelos ao terrorismo, bem corno., os apelos para conferir à própria luta econômica um caráter político, são apenas pretextos diferentes para se fugir ao dever mais imperioso dos revolucionários russos: organizar a agitação política sob todas as suas formas.
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  70. Isto mostra precisamente que terroristas e "economistas" subestimam a atividade revolucionária das massas, a despeito do testemunho evidente dos acontecimentos da primavera. Uns lançam-se à procura de "excitantes" artificiais, outros falam de "reivindicações concretas". Tanto uns como outros não prestam atenção suficiente ao desenvolvimento de sua própria atividade em matéria de agitação política e de organização de revelações políticas. E não há nada que possa substituir isso, nem agora, nem em qualquer outro momento.
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  73. Para dizer a verdade, o ideal do militante, para os membros de tal círculo, aproxima-se na maioria dos casos muito mais ao do secretário de sindicato do que do dirigente político socialista. De fato, o secretário de um sindicato inglês, por exemplo, ajuda constantemente os operários a conduzir a luta econômica, organiza revelações sobre a vida de fábrica, explica a injustiça das leis e disposições que entravam a liberdade de greve, a liberdade dos piquetes (para prevenir a todos que há greve em uma determinada fábrica); mostra o partido tomado pelos árbitros que pertencem às classes burguesas etc. etc. Em uma palavra, todo secretário de sindicato conduz e ajuda a conduzir a "luta econômica contra os patrões e o governo". E não seria demais insistir que isto ainda não é "social-democratismo"; que o social-democrata não deve ter por ideal o secretário do sindicato, mas o tribuno popular, que sabe reagir contra toda manifestação de arbitrariedade e de opressão, onde quer que se produza, qualquer que seja a classe e ou camada social atingida, que sabe generalizar todos os fatos para compor um quadro completo da violência policial e da exploração capitalista, que sabe aproveitar a menor ocasião para expor diante de todos suas convicções socialistas e suas reivindicações democratas, para explicar a todos e a cada um o alcance histórico da luta emancipadora do proletariado.
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  76. Imaginem apenas este quadro concreto: um social-democrata apresenta-se no "destacamento" dos radicais russos ou dos constitucionalistas liberais, e diz: Somos a vanguarda; "agora uma tarefa nos é colocada: como conferir, tanto quanto possível, à própria luta econômica um caráter político". Um radical ou um constitucionalista, por pouco inteligente que seja (e há muitos homens inteligentes entre os radicais e os constitucionalistas russos), apenas sorrirá ao ouvir isso, e dirá (para si, bem entendido, pois na maioria dos casos é um diplomata experimentado): "essa vanguarda é muito ingênua"! Não compreende sequer que isso é tarefa nossa - a tarefa dos representantes avançados da democracia burguesa - conferir à própria luta econômica um caráter político. Porque também nós, como todos os burgueses do Ocidente, desejamos integrar os operários à política, mas apenas à política sindical, e não social-democrata. A política sindical da classe operária é precisamente a política burguesa da classe operária. E essa "vanguarda", formulando sua tarefa, formula precisamente uma política sindical! Também, que se digam sociais-democratas tantas vezes quantas quiserem. Não sou uma criança para me importar com rótulos! Mas, que não se deixem levar por esse dogmáticos ortodoxos nocivos; que deixem a "liberdade de crítica" para aqueles que arrastam inconscientemente a social-democracia na esteira do sindicalismo!
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  79. Todo rebaixamento da política social-democrata ao nível da política sindical resume-se exatamente em preparar o terreno para fazer do movimento operário um instrumento da democracia burguesa.
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  82. A luta política da social-democracia é muito maior e muito mais complexa que a luta econômica dos operários contra os patrões e o governo.
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  85. A predominância da imprensa local sobre a imprensa central é um indício de miséria ou opulência.
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  88. As pessoas que lançam uma acusação áspera, que irrita a multidão, levam vantagem por sua desenvoltura, pelo desdém demonstrado pelos deveres do revolucionário, que esconde cuidadosamente dos olhos do mundo as relações e ligações que realiza, que estabelece ou procura estabelecer. Compreende-se porque renunciamos de uma vez por todas a competir com essas pessoas no campo da "democracia".
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  92. Lenin - Um Passo em Frente Dois Passos Atrás
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  94. A "maioria" é a ala revolucionária do nosso partido, e que a "minoria" é a sua ala oportunista; as divergências que separam atualmente estas duas alas dizem respeito, sobretudo a questões de organização, e não a questões de programa ou de tática.
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  97. Visamos um êxito duradouro na agitação, sem nos deixarmos perturbar por insucessos temporários, e que um êxito duradouro (apesar da ruidosa gritaria dos "concorrentes" ... dum minuto) é impossível sem que o programa assente em firmes bases teóricas.
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  100. Devo assinalar que, infelizmente, não consegui encontrar a primeira variante do projeto de Mártov, que consistia cm qualquer coisa como 48 parágrafo" e sofria ainda mais duma "hipertrofia" de formalismo inútil.
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  103. Agora que a conduta anarquista da minoria, depois do congresso, quase conduziu o partido à cisão, é frequente encontrar sabichões que dizem: acaso teria valido a pena em geral lutar no congresso por ninharias como o incidente do CO, a dissolução do grupo Iújni Rabótchi ou da Rabótcheie Dielo, o §1, a dissolução da antiga redação, etc.? Quem assim raciocina(8) introduz de fato o ponto de vista de círculo nos assuntos do partido: a luta de matizes no partido é inevitável e necessária enquanto não conduz à anarquia e à cisão, enquanto se desenvolve dentro dos limites aprovados, de comum acordo, por todos os camaradas e membros do partido. E a nossa luta no congresso contra a ala direita do partido, contra Akímov e Axelrod, contra Martínov e Mártov, em nada ultrapassou esses limites.
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  106. Lutar fora do congresso através de tais falatórios equivale na minha opinião a atuar por meio de mexericos. E a única resposta que eu poderia trazer a público sobre esses falatórios seria lembrar a luta no congresso: dizeis que o CC foi eleito por uma pequena maioria. Está certo. Mas esta pequena maioria era composta por todos aqueles que da maneira mais consequente, não em palavras, mas na prática, lutaram pela concretização dos planos do Iskra. A autoridade moral desta maioria deve, pois ser ainda infinitamente superior à sua autoridade formal - superior para todos aqueles que sobrepõem a continuidade da tendência do Iskra à continuidade deste ou daquele círculo do Iskra. Quem eram os mais competentes para julgar da capacidade desta ou daquela pessoa para levar à prática a política do Iskra? Aqueles que tinham aplicado esta política no congresso ou os que, em toda uma série de casos, combateram esta política e defenderam todo o tipo de atraso, todo o tipo de velharias, todo o tipo de espírito de círculo?
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  109. As "terríveis palavras": jacobinismo, etc., não exprimem absolutamente nada a não ser oportunismo. O jacobino, ligado indissolutamente à organização do proletariado, consciente dos seus interesses de classe, é justamente o social-democrata revolucionário. O girondino, que suspira pelos professores e os estudantes de liceu, que receia a ditadura do proletariado, que sonha com o valor absoluto das reivindicações democráticas, é justamente o oportunista. Só os oportunistas podem ainda, na nossa época, ver um perigo nas organizações de conspiradores, quando a idéia de reduzir a luta política às proporções de uma conspiração foi mil vezes refutada na literatura, foi há muito tempo refutada e posta de lado pela vida, quando a primordial importância da agitação política de massas foi explicada e repisada até à exastão. O verdadeiro motivo deste medo da conspiração, do blanquismo, não é esta ou aquela característica que se manifestou no movimento prático (como Bernstein e C.ª há muito tentam em vão demonstrar), mas a timidez girondina do intelectual burguês, cuja mentalidade se manifesta tantas vezes entre os sociais-democratas contemporâneos.
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  112. Agora essa luta, todos reconhecemos, assegurou já uma unidade suficiente, formulada no programa do partido e nas resoluções do partido sobre a tática; agora temos de dar o passo seguinte, e, como todos estamos de acordo, demo-lo: elaboramos as formas de uma organização única, em que se fundem todos os círculos. Arrastaram-nos agora para trás semidestruindo estas formas, arrastaram-nos para trás para uma conduta anarquista, para a frase anarquista, para o restabelecimento do círculo em vez da redação do partido, e justificam este passo atrás dizendo que o alfabeto é mais útil ao discurso correto do que o conhecimento da sintaxe!
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  115. O akimovismo número um tinha justificado o atraso de uma certa parte da intelectualidade social-democrata no que se refere a colocar questões de táctica, alegando um conteúdo mais "profundo" da "luta proletária", a auto-educação do proletariado. O akimovismo número dois justifica o atraso de uma certa parte da intelectualidade social-democrata quanto às questões da teoria e da prática da organização pelo argumento não menos profundo de que a organização é apenas uma forma e o essencial é a auto-educação do proletariado. O proletariado não receia a organização nem a disciplina, saibam-no os senhores que se preocupam tanto com o irmão mais novo! O proletariado não se importará que os senhores professores e estudantes de liceu, que não queiram entrar numa organização, sejam considerados como membros do partido porque trabalham sob o controlo de uma organização. Toda a vida do proletariado o educa para a organização de modo muito mais radical que a muitos intelectuaizinhos. O proletariado, por muito pouco que compreenda o nosso programa e a nossa táctica, não se porá a justificar o atraso da organização argumentando que a forma é menos importante que o conteúdo. Não é ao proletariado, mas a certos intelectuais do nosso partido, que falta a auto-educação no espírito de organização e disciplina, no espírito de hostilidade e desprezo pelas frases anarquistas.
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  118. Não vos faz isto recordar mais uma vez o herói da epopéia popular que, à vista de um cortejo fúnebre, exclamava: oxalá tenhais sempre algo que levar! Não haverá seguramente um único militante prático (sem aspas) no nosso partido que não compreenda que é precisamente a forma da nossa atividade (ou seja, a organização) que há muito está atrasada - terrivelmente atrasada - em relação ao conteúdo, e que os gritos aos atrasados: acertai passo! não vos adianteis! - só podem vir dos simplórios do partido.
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  121. Precisamente a fábrica, que a alguns parece apenas um espantalho, representa a forma superior de cooperação capitalista, que unificou e disciplinou o proletariado, o ensinou a organizar-se, o pôs à cabeça de todas as outras camadas da população trabalhadora e explorada. Precisamente o marxismo, ideologia do proletariado educado pelo capitalismo, ensinou e ensina aos intelectuais inconstantes a diferença entre o lado explorador da fábrica (disciplina baseada no medo de morrer de fome) e o seu lado organizador (disciplina baseada no trabalho em comum, unificado pelas condições em que se realiza a produção altamente desenvolvida do ponto de vista técnico). A disciplina e a organização, que ao intelectual burguês tanto custam a adquirir, são facilmente assimiladas pelo proletariado, justamente graças a essa "escola" da fábrica. O medo mortal a essa escola, a incompreensão absoluta da sua importância como elemento de organização, caracterizam precisamente a maneira de pensar que reflete as condições de existência pequeno-burguesas, e gera esse aspecto do anarquismo que os sociais-democratas alemães chamam Edelanarchismus, ou seja, o anarquismo do senhor "distinto", o anarquismo senhorial, diria eu. Este anarquismo senhorial é particularmente característico do niilista russo. A organização do partido parece-lhe uma monstruosa "fábrica", a submissão da parte ao todo e da minoria à maioria surge-lhe como uma "servidão" (ver os folhetins de Axelrod), a divisão do trabalho sob a direção de um centro fá-lo lançar gritos tragicômicos contra a transformação dos homens em "engrenagens e parafusos" (e vê uma forma particularmente intolerável dessa transformação na transformação dos redatores em colaboradores), a simples alusão aos estatutos de organização do partido provoca nele um gesto de desprezo e a observação desdenhosa (dirigida aos "formalistas") de que se poderia perfeitamente dispensar os estatutos.
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  124. A redação do novo Iskra lança contra Alexándrov a edificante observação de que "a confiança é uma coisa delicada que não pode ser metida a martelo nos corações e nas cabeças" (n.º 56, suplemento). A redação não compreende que precisamente a colocação em primeiro plano da confiança, da mera confiança, trai uma vez mais o seu anarquismo senhorial e o seu seguidismo em matéria de organização. Quando eu era unicamente membro de um círculo, do grupo dos seis redatores ou da organização do Iskra, tinha o direito, para justificar por exemplo a minha recusa a trabalhar com Iskra, de invocar exclusivamente a falta de confiança, sem ter de apresentar explicações nem motivos. Uma vez membro do partido, não tenho o direito de invocar apenas uma vaga falta de confiança, porque isso abriria as portas de em par a todas as extravagâncias e todas as arbitrariedades dos antigos círculos; sou obrigado a fundamentar a minha "confiança" ou a minha "desconfiança" com uma argumentação formal, quer dizer, referir-me a esta ou aquela disposição formalmente estabelecida no nosso programa, na nossa tática, nos nossos estatutos. Sou obrigado a não me limitar a um "tenho confiança" ou "não tenho confiança" não fundamentado, mas reconhecer que tenho que responder pelas minhas decisões, como em geral qualquer parte integrante do partido tem que responder pelas suas, perante todo o partido; sou obrigado a seguir a via formalmente prescrita para exprimir a minha "<desconfiança", para fazer triunfar as idéias e os desejos que decorrem dessa desconfiança. Do ponto de vista próprio dos círculos de que a "confiança" não tem que ser fundamentada, elevamo-nos já ao ponto de vista de partido que exige a observação de métodos formalmente estabelecidos e sujeitos a serem explicados, de exprimir e comprovar a confiança, mas a redação arrasta-nos para trás e chama ao seu seguidismo pontos de vista novos em matéria de organização!
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  127. Eis aqui onde o proletário que passou pela escola "da fábrica" pode e deve dar uma lição ao individualismo anarquista. O operário consciente já há muito que largou as fraldas, já lá vai o tempo em que fugia do intelectual como tal. O operário consciente sabe apreciar uma bagagem de conhecimentos mais rica, o horizonte político mais vasto que encontra nos intelectuais sociais-democratas. Mas, à medida que vamos constituindo um verdadeiro partido, o operário consciente deve aprender a distinguir entre a psicologia do soldado do exército proletário e a psicologia do intelectual burguês que se pavoneia com frases anarquistas; deve aprender a exigir que cumpram os seus deveres de membros do partido não só os militantes de base, mas também "os de cima"; deve aprender a encarar com o mesmo desprezo o seguidismo em matéria de organização com que outrora o encarava no domínio da táctica!
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  130. Quando se fala da luta contra o oportunismo é preciso não esquecer nunca um traço característico de todo o oportunismo contemporâneo, em todos os domínios: o seu caráter vago, impreciso, inapreensível. Pela sua própria natureza o oportunista evita sempre pôr as questões de maneira clara e definida, procura a resultante, arrasta-se como uma cobra entre dois pontos de vista que se excluem mutuamente, procurando "estar de acordo" com um e com outro, reduzindo as suas divergências a ligeiras modificações, a dúvida, a votos piedosos e inocentes, etc., etc.
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  133. Um passo em frente, dois passos atrás ... É algo que acontece na vida dos indivíduos, na história das nações e no desenvolvimento dos partidos. Seria a mais criminosa das cobardias duvidar um só momento do triunfo inevitável e completo dos princípios da social-democracia revolucionária, da organização proletária e da disciplina de partido. Já conseguimos muito, devemos continuar a luta sem nos deixarmos desencorajar pelos reveses, lutar com firmeza, desprezando os métodos filistinos das questiúnculas de círculo, salvaguardando ao máximo o laço que liga num partido único todos os sociais- democratas da Rússia, laço estabelecido à custa de tantos esforços, e procurando conseguir, com um trabalho persistente e sistemático, que todos os membros do partido, sobretudo os operários, conheçam plena e conscientemente os deveres de partido, a luta no II Congresso do partido, todas as causas e peripécias da nossa divergência, todo o papel pernicioso do oportunismo, que, também no domínio da organização, do mesmo modo que no domínio do nosso programa e da nossa táctica, capitula perante a psicologia burguesa, adota sem qualquer critica o ponto de vista da democracia burguesa, embota a arma da luta de classe do proletariado. O proletariado, na sua luta pelo poder, não tem outra arma senão a organização. Dividido pela concorrência anárquica que reina no mundo burguês, esmagado pelos trabalhos forçados ao serviço do capital, constantemente atirado ao abismo da miséria mais completa, do embrutecimento e da degenerescência, o proletariado só pode tornar- se, e tornar-se-á inevitavelmente, uma força invencível quando a sua unidade ideológica, baseada nos princípios do marxismo, é cimentada pela unidade material da organização que reúne milhões de trabalhadores num exército da classe operária. A esse exército não poderão resistir nem o poder decrépito da autocracia russa, nem o poder decrépito do capital internacional. Esse exército cerrará cada vez mais as suas fileiras, apesar de todos os ziguezagues e passos atrás, apesar das frases oportunistas dos girondinos da social-democracia contemporânea, apesar dos louvores presunçosos do espírito de circulo atrasado, apesar do falso brilho e do palavreado do anarquismo próprio de intelectuais.
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  137. Lenin - Uma Grande Iniciativa
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  139. Em qualquer país capitalista,incluindo a Rússia, a imensa maioria da população - e mais ainda a imensa maioria da população trabalhadora - sentiu mil vezes sobre si e os seus familiares a opressão do capital, a sua pilhagem e toda a espécie de vexames. A guerra imperialista - isto é, o assassínio de dez milhões de homens para decidir se a primazia na pilhagem de todo o mundo devia pertencer ao capital inglês ou alemão - agudizou, ampliou e aprofundou extraordinariamente estas provações, forçando as massas a tomar consciência delas. Daí a inevitável simpatia da imensa maioria da população, particularmente da massa dos trabalhadores, pelo proletariado, pelo fato de ele, com uma audácia heróica com implacabilidade revolucionária, derrubar o jugo do capital, derrubar os exploradores, reprimir a sua resistência e, derramando o seu próprio sangue, abrir o caminho que conduz à criação duma sociedade nova, na qual não haverá lugar para os exploradores.
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  143. Lenin - Sobre As Greves
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  145. Os patrões pagam aos operários exclusivamente o salário imprescindível para que estes e sua família mal possam subsistir, e tudo que o operário produz acima dessa quantidade de produtos necessária para a sua manutenção o patrão embolsa; isso constitui seu lucro. Portanto, na economia capitalista, a massa do povo trabalha para outros, não trabalha para si, mas para os patrões, e o faz por um salário. Compreende-se que os patrões tratem sempre de reduzir o salário; quanto menos entreguem aos operários, mais lucro lhes sobra.
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  148. Quando a indústria prospera, os patrões obtêm grandes lucros e não pensam em reparti-los com os operários; mas durante a crise os patrões tratam de despejar sobre os ombros dos operários os prejuízos.
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  150.  
  151. E apesar de todas essas calamidades, os operários desprezam os que se afastam de seus companheiros e entram em conchavos com o patrão. Malgrado as calamidades da greve, os operários das fábricas próximas sentem entusiasmo sempre que veem que seus companheiros iniciaram a luta.
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  153.  
  154. Quando um patrão que acumulou milhões às custas do trabalho de várias gerações de operários não concede o mais modesto aumento de salário e inclusive tenta reduzi-lo ainda mais e, no caso de os operários oferecerem resistência, põe na rua milhares de famílias famintas, então os operários veem com clareza que toda a classe capitalista é inimiga de toda a classe operária e que os operários só podem confiar em si mesmos e em sua união.
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  156.  
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  158. Lenin - Explicação da Lei sobre Multas Imposta
  159. Este exemplo confirma claramente o que dissemos anteriormente sobre multas, ou seja, que elas significam a escravização dos trabalhadores pelo capitalista, significam que os trabalhadores constituem uma classe mais baixa sem direitos, condenados durante toda a vida a trabalhar pelos capitalistas e a criar sua riqueza, recebendo em troca uma mera ninharia insuficiente para tornar a vida ainda tolerável.
  160. ______________________
  161.  
  162. O que distingue nossas leis sobre o tamanho das multas não é apenas sua opressão abominável, mas também sua injustiça grosseira. Se a multa for muito grande (mais de um terço), o empregador pode cancelar o contrato; o trabalhador, no entanto, não recebe um direito semelhante, ou seja, o direito de deixar a fábrica se lhe forem impostas multas que excedam um terço de seus ganhos. É claro que a lei só se preocupa com o dono da fábrica, como se as multas fossem devidas apenas à culpa dos trabalhadores. Na verdade, no entanto, todos sabem que os donos das fábricas frequentemente impõem multas sem culpar os trabalhadores, por exemplo, para acelerar os trabalhadores. A lei apenas protege o dono da fábrica contra o mau trabalhador, mas não protege o trabalhador contra o empregador demasiado opressivo. Neste último caso, portanto, os trabalhadores não têm ninguém a quem recorrer para proteção. Eles devem pensar por si mesmos e pela luta contra os empregadores.
  163. ______________________
  164.  
  165. E os trabalhadores apreciarão, finalmente, o ponto de que a lei nada faz para melhorar seu status, desde que a dependência dos trabalhadores dos capitalistas continue a existir, porque a lei será sempre parcial para os empregadores capitalistas, porque estes últimos sempre terão sucesso em inventar estratagemas para fugir da lei.Uma vez que tenham entendido isso, os trabalhadores verão que há apenas um meio permanente para se defender, a saber, unir forças para a luta contra os donos das fábricas e as práticas injustas estabelecidas pela lei.
  166.  
  167.  
  168.  
  169. Lenin - Nosso Programa
  170.  
  171. Nós nos baseamos integralmente na teoria de Marx: ela transformou pela primeira vez o socialismo, de utopia, em uma ciência, lançou as sólidas bases dessa ciência e traçou o caminho que havia de seguir, desenvolvendo-a e elaborando-a em todos os seus detalhes. A teoria de Marx descobriu a essência da economia capitalista contemporânea, explicando como a contratação do operário, a compra da fôrça de trabalho encobre a escravização de milhões de despojados por um punhado de capitalistas, donos da terra, das fábricas, das minas, etc.
  172. ______________________
  173.  
  174. A teoria de Marx estabeleceu a verdadeira tarefa de um partido socialista revolucionário: não arquitetar planos de reestruturação da sociedade nem ocupar-se da prédica aos capitalistas e seus acólitos da necessidade de melhorar a situação dos operários, nem tampouco tramar conjurações, mas sim organizar a luta de classe do 'proletariado e dirigir esta luta, que tem por objetivo final a conquista do poder político„ pelo proletariado e a organização da sociedade socialista.
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  176.  
  177. E agora perguntamos: que trouxeram de novo a essa teoria aqueles buliçosos “renovadores”, que tanto ruído fizeram em nossos dias, agrupando-se em torno do socialista alemão Bernstein? Absolutamente nada: não avançaram nem um passo a ciência que nos legaram, com a indicação de desenvolvê-la, Marx e Engels; não ensinaram ao proletariado nenhum novo método de luta; só fizeram recolher-se, catando fragmentos de teorias atrasadas e pregando ao proletariado, em vez da doutrina da luta, a das concessões aos inimigos mais encarniçados do proletariado, aos governos e partidos burgueses, que não se cansam de inventar novos métodos de perseguição contra os socialistas.
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  179.  
  180. Não pode existir um forte partido socialista sem uma teoria revolucionária que agrupe todos os socialistas, da qual eles extraiam todas as suas convicções e apliquem em seus processos de luta e métodos de ação. Defender essa teoria, que segundo sua mais profunda convicção é a verdadeira, contra os ataques infundados e contra as tentativas de alterá-la não significa, de modo algum, ser inimigo de toda crítica. Não consideramos, absolutamente, a teoria de Marx como algo acabado e intocável; estamos convencidos, pelo contrário, de que esta teoria não fez senão fixar as pedras angulares da ciência que os socialistas devem impulsionar em todos os sentidos, sempre que não queiram ficar para trás na vida.
  181. ______________________
  182.  
  183. Mas esquecer a luta política por causa da luta econômica significaria renegar o princípio fundamental da social-democracia do mundo inteiro, significaria esquecer todos os ensinamentos proporcionados pela história do movimento operário. Os partidários fervorosos da burguesia e do governo a serviço dela tentaram, inclusive, mais de uma vez, organizar associações de operários, de caráter puramente econômico, para, desse modo, desviá-los da “política” e do socialismo.
  184.  
  185.  
  186.  
  187. Lenin - Tarefas Urgentes do Nosso Movimento
  188.  
  189. Desligado da social-democracia, o movimento operário restringe-se e transforma-se forçosamente num movimento burguês: ao promover exclusivamente a luta económica, a classe operária perde a independência política, converte-se num apêndice de outros partidos e trai o grande preceito: «A emancipação da classe operária deve ser a obra da própria classe operária».
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  191.  
  192. É necessário preparar homens que não dediquem à revolução as tardes livres, mas toda a sua vida; preparar uma organização tão numerosa, que possa aplicar uma rigorosa divisão do trabalho nos diferentes aspectos da nossa actividade.
  193.  
  194.  
  195.  
  196. Lenin - Projeto de Programa do Partido Social-Democrata e Explicação desse Projeto
  197.  
  198. Por isso, só existe um processo para pôr fim à exploração do trabalho pelo capital, qual seja: suprimir a propriedade privada sobre os instrumentos de trabalho, colocar nas mãos de toda a sociedade todas as fábricas e minas, assim como todas as grandes propriedades rurais, etc., e organizar a produção comum socialista, dirigida pelos próprios operários. Os produtos do trabalho comum reverterão assim em benefício dos próprios trabalhadores, e o que sobrar além do necessário para atender a seu sustento servirá para satisfazer as necessidades dos próprios operários, para desenvolver plenamente todas as suas capacidades e para usufruir em pé de igualdade de todas as conquistas da ciência e da arte. No programa assinala-se, por isso mesmo, que só assim pode terminar a luta da classe operária contra os capitalistas. Mas, para isso, é necessário que o poder político, isto é, o poder da direção do Estado, passe das mãos do governo que está sob a influência dos capitalistas e dos latifundiários, ou das mãos do governo formado diretamente por representantes eleitos dos capitalistas, para as mãos da classe operária. Este é o objetivo final da luta da classe operária, esta é a premissa de sua plena emancipação. Para este objetivo finai devem dirigir-se os operários conscientes e unidos.
  199. ______________________
  200.  
  201. Mesmo concentrando todas as suas forças em atividades entre os trabalhadores fabris, a Social-democracia Russa está pronta para apoiar todos aqueles revolucionários russos que, na prática, baseiam suas atividades socialistas na luta de classe do proletariado; mas ela não esconde nem um pouco a questão de que nenhuma aliança prática com outros grupos de revolucionários pode, ou deve, levar a compromissos ou concessões em matéria de teoria, programa ou bandeira.
  202.  
  203.  
  204.  
  205. Lenin - Um Novo Massacre
  206. Merece cem vezes o nome de herói quem prefere sucumbir na luta aberta contra os defensores e guardiães desse regime abominável a perecer em morte lenta como uma besta de carga submersa no embrutecimento, extenuada e submissa.
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  208.  
  209. Esta tarefa é difícil, nem é preciso dizer, mas podemos com pleno direito modificar as palavras de Marx repetidas ultimamente com tanta frequência e com tanto desacerto, e dizer: “Cada passo do movimento efetivo é mais importante que uma dúzia” de atentados e ações individuais, mais importantes que centenas de organizações e “partidos” exclusivamente intelectuais.
  210. ______________________
  211.  
  212. Mas de facto são os operários que com o seu trabalho se alimentam tanto a si próprios como a todos aqueles que não trabalham eles próprios. Mas pela permissão para trabalhar na terra do latifundiário, na fábrica ou no caminho-de-ferro, o operário entrega gratuitamente ao proprietário tudo aquilo que é produzido, recebendo ele próprio apenas o suficiente para uma parca subsistência. Quer dizer que de facto não são os latifundiários e os comerciantes que dão trabalho aos operários mas os operários que com o seu trabalho sustentam todos, entregando gratuitamente a maior parte do seu trabalho.
  213.  
  214.  
  215.  
  216. Lenin - Aos Pobres do Campo
  217. Se cada cidadão do Estado estiver armado, então a Rússia não terá de temer nenhum inimigo. E o povo ficaria livre do jugo da camarilha militar: para esta camarilha militar vão centenas de milhões de rublos por ano, e todo este dinheiro é recolhido do povo; é por isso que os impostos são tão grandes e se torna cada vez mais difícil viver. A camarilha militar reforça ainda mais o poder dos funcionários e da polícia sobre o povo. A camarilha militar é necessária para saquear outros povos, por exemplo para tirar terra aos chineses. Isto não torna mais fácil a vida do povo, antes a torna ainda mais difícil, devido aos novos impostos. A substituição do exército permanente pelo armamento de todo o povo traria um grande alívio a todos os operários e a todos os camponeses.
  218. ______________________
  219.  
  220. Constituiria igualmente um enorme alívio para eles a abolição dos impostos indirectos, coisa que os sociais-democratas se esforçam por alcançar. Chama-se impostos indirectos aos impostos que não recaem directamente sobre a terra ou sobre a propriedade, mas que são pagos pelo povo de modo indirecto, sob a forma de um mais alto pagamento pelas mercadorias. O fisco sujeita a imposto o açúcar, a vodka, o petróleo, os fósforos e toda a espécie de outros artigos de consumo; este imposto é pago ao fisco pelo comerciante ou pelo fabricante, mas, evidentemente, eles não pagam com o seu dinheiro mas com o dinheiro que lhes pagam os compradores. O preço da vodka, do açúcar, do petróleo, dos fósforos, aumenta, e cada comprador de uma garrafa de vodka ou de uma libra de açúcar paga não só o preço da mercadoria como também o imposto sobre ela. Por exemplo, se paga, digamos, catorze copeques por uma libra de açúcar, quatro (aproximadamente) copeques constituem o imposto: o fabricante do açúcar já pagou este imposto ao fisco e agora vai buscar a cada comprador a soma que pagou. Deste modo, os impostos indirectos são impostos sobre os artigos de consumo, impostos que o comprador paga sob a forma de um preço mais elevado da mercadoria. Diz-se por vezes que os impostos indirectos são os mais justos: paga-se de acordo com o que se compra. Mas isto não é verdade. Os impostos indirectos são os impostos mais injustos, porque aos pobres é muito mais difícil pagá-los do que aos ricos. O rico tem um rendimento dez vezes maior do que o camponês ou o operário, ou mesmo cem vezes maior. Mas precisará o rico de cem vezes mais açúcar? De dez vezes mais vodka ou fósforos? ou petróleo? Naturalmente que não. Uma família rica compra duas vezes ou, quando muito, vezes mais petróleo, vodka, açúcar, do três que a pobre. E isto significa que o rico paga sob a forma de imposto uma parte menor do seu rendimento do que o pobre.
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  222.  
  223. Por isso os impostos indirectos são os mais injustos. Os impostos indirectos são impostos sobre os pobres. Os camponeses e operários constituem juntos 9/10 de toda a população e pagam 9/10 ou 8/10 de todos os impostos indirectos. Mas a parte dos camponeses e operários no total dos rendimentos não passa provavelmente de 4/10! É por isso que os sociais-democratas exigem a abolição dos impostos indirectos e o estabelecimento de um imposto progressivo sobre os rendimentos e as heranças. Isto significa: quanto maior é o rendimento mais elevado deve ser o imposto.
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  225.  
  226. Finalmente, uma melhoria muito importante para todo o povo, e particularmente para os pobres do campo, consiste no ensino gratuito das crianças, que os sociais-democratas exigem. Hoje em dia há no campo muito menos escolas do que nas cidades, e além disso em toda a parte só as classes ricas, só a burguesia, têm a possibilidade de dar aos seus filhos uma boa educação. Só o ensino gratuito e obrigatório de todas as crianças pode fazer sair o povo, ainda que parcialmente, da actual ignorância. E os pobres do campo sofrem particulamente com a ignorância e necessitam particularmente de educação. Mas, naturalmente, nós precisamos de uma educação autêntica e livre, e não daquela que querem os funcionários e os padres.
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  228.  
  229. É evidente que não poderemos suprimir toda a subjugação enquanto no mundo houver miséria, e não poderemos suprimir a miséria enquanto a terra e as fábricas se encontrarem nas mãos da burguesia, enquanto a força principal no mundo for o dinheiro, enquanto não for estabelecida a sociedade socialista.
  230.  
  231.  
  232.  
  233. Lenin - A Era das Reformas
  234. Abster-se da participação ativa na vida política contemporânea, por repelente que ela seja, é a tática dos anarquistas e não a dos social-democratas.
  235.  
  236.  
  237.  
  238. Lenin - As Tarefas da Juventude Revolucionária
  239. Estas opiniões, de facto, diferem radicalmente da corrente do oportunismo a que tão consequente e zelosamente se agarra o órgão liberal-burguês. Reconhecendo que «apenas um sentimento revolucionário não pode criar a unidade ideológica dos estudantes», que «para este objectivo é necessário um ideal socialista, que se apoie numa ou noutra concepção socialista do mundo», e além disso numa concepção do mundo «definida, integral», a redacção do Student rompeu já no campo dos princípios com a indiferença ideológica e o oportunismo teórico, colocando numa base correcta a questão dos meios de revolucionar os estudantes.
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  241.  
  242. Os erros dos socialistas-revolucionários nas suas considerações sobre os estudantes e a revolução não podem ser explicados apenas pela falta de lógica que nos esforçámos por demonstrar atrás. Num certo sentido, pode-se afirmar o contrário: a falta de lógica das suas considerações decorre do seu erro fundamental. Como «partido» eles adoptaram desde o princípio uma posição internamente tão contraditória, tão escorregadia, que pessoas perfeitamente honestas e perfeitamente capazes de pensamento político não se podiam agarrar a ela sem constantes vacilações e quedas. É preciso recordar sempre que não é pelos diferentes erros destes ou daqueles escritores, destas ou daquelas personalidades, que a social-democracia explica o dano infligido à causa do socialismo pelos «socialistas-revolucionários», antes, pelo contrário, ela considera todos estes erros como um resultado inevitável de uma posição programática e política falsa.
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  244.  
  245. O autor não se envergonha por isso de apresentar e de repetir o apelo aos estudantes revolucionários para o «movimento político geral». Para ele o centro de gravidade reside precisamente no movimento político geral, isto é, democrático geral, que deve ser unido. Esta unidade não deve ser perturbada pelos «círculos puramente revolucionários», que devem agrupar-se «paralelamente à organização estudantil geral». Do ponto de vista deste amplo e unido movimento democrático seria criminoso, naturalmente, «impor» etiquetas partidárias e violar a consciência intelectual dos companheiros. Era precisamente assim que a democracia burguesa via as coisas em 1848, quando as tentativas de apontar a contradição de interesses de classe da burguesia e do proletariado provocaram a condenação «geral» dos «fanáticos da divisão e da cisão». Como se vê, as considerações dos socialistas-revolucionários, incongruentes e contraditórias até ao ridículo do ponto de vista de um socialista, tornam-se perfeitamente compreensíveis e consequentes do ponto de vista democrático burguês. Isto porque o partido dos socialistas-revolucionários não é em essência senão uma fracção da democracia burguesa, uma fracção predominantemente intelectual quanto à sua composição, predominantemente pequeno-burguesa quanto ao seu ponto de vista, e que quanto à sua bandeira teórica combina eclecticamente o oportunismo recente com o velho populismo dos nossos avós.
  246.  
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  248.  
  249. Lenin - Ao Proletariado Russo
  250. Os mercadores russos e os milionários industrialistas pensam ser a guerra necessária para assegurar novos mercados consumidores para seus produtos e novos portos em um irrestrito mar para o desenvolvimento do comércio da Rússia. Você não pode vender muito em casa para os muzhik famintos e os trabalhadores desempregados, você deve olhar para os mercados em terras estrangeiras! Os ricos da burguesia russa foram criados pelo empobrecimento e ruína dos trabalhadores russos - e agora, no intento de multiplicar estes ricos, os trabalhadores devem verter seu sangue para dar à burguesia russa uma mão livre na conquista e escravização dos homens trabalhadores, chineses e coreanos.
  251. Esta guerra criminosa, que vem sendo um imenso flagelo para o povo trabalhador, foi engendrada pelos interesses da gananciosa burguesia, os interesses do capital, que é preparado para vender e arruinar o próprio país em sua marcha pelo lucro.
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  254.  
  255. Lenin - Nós Devemos Organizar a Revolução?
  256. De fato, qualquer edição de jornal burguês europeu mostra que essa enganação ainda está sendo realizada com sucesso. “O liberalismo moderado da Rússia sofreu seu golpe mortal.” É de uma ingenuidade política infantil acreditar que o liberalismo está morto quando está apenas tentando ser “político” e passar desapercebido. O liberalismo está muito vivo, assumiu uma nova vida. Na verdade, está agora no limiar do poder. A razão pela qual está sendo discreto é que o liberalismo deseja dar seu lance pelo poder no momento certo, com a maior certeza de sucesso e o menor risco. Por esta razão, está sempre se disfarçando para a classe trabalhadora. É preciso ser irremediavelmente míope para levar a sério esse flerte (cem vezes mais perigoso por ser praticado no momento) e declarar com orgulho que “o proletariado – o libertador do país, o proletariado – a vanguarda de toda a nação, agora tem o seu heroico papel reconhecido pela opinião pública dos elementos progressistas da burguesia liberal-democrática”.
  257. ______________________
  258.  
  259. No entanto, as condições na Rússia hoje diferem dessas condições cotidianas de trabalho; portanto, os social-democratas revolucionários, que até agora nunca fizeram um apelo às armas, mas sempre equiparam os trabalhadores com a necessidade ardente de se armar – portanto, os social-democratas revolucionários, seguindo a iniciativa dos trabalhadores revolucionários, agora emitiram a palavra de ordem: “às armas!”Em tal momento, quando esta palavra de ordem finalmente foi emitida, o Iskra entrega-se à declaração de que o principal não é armar, mas a necessidade ardente de armar. O que é isso senão intelectualismo estéril, ruminação lógica e incurável Tryapichkin-ismo? Não estão essas pessoas arrastando o Partido, mantendo-o longe das tarefas urgentes da vanguarda revolucionária para a contemplação da “retaguarda” do proletariado?
  260.  
  261.  
  262.  
  263. Lenin - A Ditadura Democrática Revolucionária do Proletariado e do Campesinato
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  265. Na época da revolução, alguns sociais-democratas, inclinados a ceder à espontaneidade, podem esquecer tudo isto, mas não o partido no seu conjunto. Os partidários desta opinião errada caem em adoração à espontaneidade, pensando que a marcha das coisas obrigará a social-democracia, em tal situação, a lançar-se contra sua vontade na realização da revolução socialista. Se assim fosse, então o nosso programa seria incorrecto, ele não corresponderia à «marcha das coisas»: aqueles que adoram a espontaneidade temem exactamente isto, temem pela correcção do nosso programa. Mas o seu medo (cuja explicação psicológica nos esforçámos por dar nos nossos artigos) é infundado até ao último grau. O nosso programa é correcto. Será precisamente a marcha das coisas que o confirmará necessariamente, e tanto mais quanto mais para diante. Será precisamente a marcha das coisas que nos «imporá» a necessidade absoluta de uma luta desesperada pela república, será precisamente ela que conduzirá na prática para essa direcção as nossas forças, as forças do proletariado politicamente activo. Será precisamente a marcha das coisas que nos imporá inevitavelmente na revolução democrática uma tal massa de aliados da pequena burguesia e do campesinato, cujas necessidades reais exigirão exactamente a aplicação do programa mínimo, que os receios de uma passagem demasiado rápida para o programa máximo são simplesmente ridículos.
  266. ______________________
  267.  
  268. Participar no governo provisório juntamente com a democracia revolucionária burguesa - choram eles -, isso significa consagrar o regime burguês, consagrar a manutenção das prisões e da polícia, da propriedade e da prostituição. É um argumento digno dos anarquistas ou dos populistas.
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  270.  
  271. Se não houver instinto de classe revolucionário, se não houver uma visão do mundo integral que esteja ao nível da ciência, se não houver (diga-se sem pretender suscitar a cólera dos camaradas novo-iskristas) juízo na cabeça, então é perigosa tanto a participação nas greves - pode conduzir ao «economismo» —; como a participação na luta parlamentar - pode acabar no cretinismo parlamentar.
  272.  
  273.  
  274.  
  275. Lenin - A Social-Democracia e o Governo Provisório Revolucionário
  276.  
  277. É que quanto mais nos aproximamos da realização directa das nossas tarefas políticas imediatas, tanto maior é a necessidade de compreender de modo perfeitamente claro estas tarefas, tanto mais prejudicial é qualquer ambiguidade, reticência ou irreflexão nesta questão.
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  279.  
  280. Um social-democrata naturalmente nunca esquecerá a natureza político-económica dupla da massa pequeno-burguesa da cidade e do campo, nunca esquecerá a necessidade da organização de classe separada e independente do proletariado que luta pelo socialismo. Mas ele não esquecerá também que esta massa tem, «além de um passado, um futuro, além de preconceitos, uma razão»(5) que a empurra para a frente, para a ditadura democrática revolucionária; ele não esquecerá que o esclarecimento não é dado só pelos livros, e até nem tanto pelos livros quanto pelo próprio curso da revolução, que abre os olhos e serve de escola política. Em tais condições, uma teoria que rejeita a ideia de ditadura democrática revolucionária não pode ser chamada senão justificação filosófica do atraso político.
  281.  
  282.  
  283.  
  284. Lenin - Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática
  285.  
  286. Mas todos nós estamos persuadidos de que a emancipação dos operários só pode ser obra dos próprios operários; sem a consciência e a organização das massas, sem a sua preparação e a sua educação por meio da luta de classe aberta contra toda a burguesia, não se pode sequer falar de revolução socialista. E, como resposta às objecções anarquistas de que adiamos a revolução socialista, diremos: não a adiamos, antes damos o primeiro passo na sua direcção pelo único método possível, pelo único caminho certo, isto é, pelo caminho da república democrática. Quem quiser chegar ao socialismo por outro caminho que não seja o da democracia política, chegará inevitavelmente a conclusões absurdas e reaccionárias, tanto no sentido económico como no político.
  287. Se num momento determinado alguns operários nos perguntarem porque não realizamos o nosso programa máximo, responderemos indicando-lhes como estão ainda longe do socialismo as massas do povo impregnadas de espírito democrático, como se encontram ainda pouco desenvolvidas as contradições de classe, como estão ainda desorganizados os proletários. Tentai organizar centenas de milhares de operários em toda a Rússia, difundir entre milhões a simpatia pelo vosso programa! Experimentai fazer isso, não vos limitando a frases anarquistas sonoras mas ocas, e vereis imediatamente que alcançar esta organização, difundir esta educação socialista, depende da realização mais completa possível das transformações democráticas.
  288. ______________________
  289.  
  290. E muito infeliz, ou pelo menos inábil, a expressão de que o governo provisório deveria «regular» a luta das classes antagónicas entre si: os marxistas não deveriam empregar uma fórmula liberal-osvobojdenista como esta, que dá margem a pensar ser possível um governo que sirva, não de órgão da luta de classes, mas de «regulador» da mesma...
  291. ______________________
  292.  
  293. "Em tais condições, a social-democracia deve esforçar-se por conservar, durante todo o curso da revolução, uma posição tal que melhor lhe garanta a possibilidade de impulsionar a revolução para a frente, não lhe ate as mãos na luta contra a política inconsequente e interessada dos partidos burgueses e a proteja contra a sua diluição na democracia burguesa.
  294.  
  295. "Assim, a social-democracia não deve estabelecer como seu objectivo conquistar ou compartilhar o poder no governo provisório, mas deve continuar a ser o partido da oposição revolucionária extrema.»
  296. ______________________
  297.  
  298. Os marxistas estão absolutamente convencidos do carácter burguês da revolução russa. Que significa isto? Isto significa que as transformações democráticas no regime político e as transformações económico-sociais, que se converteram numa necessidade para a Rússia, não só não implicam por si o minar do capitalismo, o minar da dominação da burguesia, mas, pelo contrário, desbravarão pela primeira vez realmente o terreno para um desenvolvimento vasto e rápido, europeu e não asiático, do capitalismo e, pela primeira vez, tornarão possível a dominação da burguesia como classe. Os socialistas-revolucionários não podem compreender esta ideia porque desconhecem o á-bê-cê das leis do desenvolvimento da produção mercantil e capitalista, não vêem que mesmo o êxito completo da insurreição camponesa, a redistribuição de toda a terra em benefício dos camponeses e de acordo com os seus desejos («partilha negra» ou qualquer coisa deste género) não destruiria de forma alguma o capitalismo, antes, pelo contrário, daria um impulso ao seu desenvolvimento e aceleraria a diferenciação de classe entre os próprios camponeses. A incompreensão desta verdade converte os socialistas-revolucionários em ideólogos inconscientes da pequena burguesia.
  299. ______________________
  300.  
  301. Os neo-iskristas interpretam de modo radicalmente errado o sentido e a significação da categoria «revolução burguesa». Nos seus raciocínios transparece constantemente a ideia de que a revolução burguesa é uma revolução que só pode dar aquilo que beneficia a burguesia. E, contudo, não há nada mais errado do que esta ideia. A revolução burguesa é uma revolução que não ultrapassa o quadro do regime económico-social burguês, isto é, capitalista. A revolução burguesa exprime as necessidades do desenvolvimento do capitalismo, não só não destruindo as suas bases, mas, pelo contrário, alargando-as e aprofundando-as. Esta revolução exprime, portanto, não apenas os interesses da classe operária, mas também os de toda a burguesia. Uma vez que a dominação da burguesia sobre a classe operária é inevitável sob o capitalismo, pode-se dizer com todo o direito que a revolução burguesa exprime os interesses não tanto do proletariado como da burguesia. Mas é completamente absurda a ideia de que a revolução burguesa não exprime em nenhuma medida os interesses do proletariado. Esta idéia absurda reduz-se ou à velha teoria populista de que a revolução burguesa é contrária aos interesses do proletariado e de que não temos necessidade, por esse motivo, da liberdade política burguesa, ou esta idéia reduz-se ao anarquismo, que nega qualquer participação do proletariado na política burguesa, na revolução burguesa, no parlamentarismo burguês.
  302. ______________________
  303.  
  304. Em contrapartida, é mais vantajoso para a classe operária que as transformações necessárias no sentido democrático-burguês se produzam precisamente não pela via de reformas, mas por via revolucionária, pois a via de reformas é a via das dilações, dos adiamentos, da agonia dolorosa e lenta das partes apodrecidas do organismo popular. Os que sofrem mais e em primeiro lugar com esta putrefacção são o proletariado e o campesinato. A via revolucionária é a via da operação mais rápida e menos dolorosa para o proletariado, a via da eliminação directa das partes apodrecidas, a via do mínimo de concessões e cautelas em relação à monarquia e às suas correspondentes instituições repelentes, ignominiosas e apodrecidas, que envenenam a atmosfera com a sua decomposição.
  305. ______________________
  306.  
  307. O marxismo ensina o proletariado não a ficar à margem da revolução burguesa, não a ser indiferente a ela, não a entregar a sua direcção à burguesia, antes pelo contrário, a participar nela do modo mais enérgico, a lutar do modo mais decisivo pela democracia proletária consequente, para levar até ao fim a revolução.
  308. ______________________
  309.  
  310. «A vitória decisiva da revolução sobre o tsarismo» é a ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato. Os nossos neo-iskristas não poderão fugir a esta conclusão indicada desde há muito tempo pelo Vperiod. Não há mais ninguém que possa obter a vitória decisiva sobre o tsarismo.
  311.  
  312. E esta vitória será precisamente uma ditadura, isto é, deverá apoiar-se inevitavelmente na força das armas, nas massas armadas, na insurreição e não em tais ou tais instituições criadas «pela via legal», «pacífica». Só pode ser uma ditadura porque a realização das transformações imediata e absolutamente necessárias para o proletariado e o campesinato provocará uma resistência desesperada tanto por parte dos latifundiários como da grande burguesia e do tsarismo. Sem ditadura será impossível esmagar esta resistência, rechaçar as tentativas contra-revolucionárias.
  313. ______________________
  314.  
  315. É verdade que a nossa influência, a dos sociais-democratas, sobre a massa do proletariado é ainda muito e muito insuficiente; a influência revolucionária sobre a massa camponesa é completamente insignificante; a dispersão, o atraso, a ignorância do proletariado e, sobretudo, do campesinato, são ainda terrivelmente grandes. Mas a revolução une rapidamente e educa rapidamente. Cada passo do seu desenvolvimento desperta as massas e atrai-as com força irresistível precisamente para o programa revolucionário, como o único que exprime, de modo consequente e completo, os seus verdadeiros interesses, os seus interesses vitais.
  316. ______________________
  317.  
  318. No artigo do Sr. Struve há uma série de declarações interessantíssimas que aqui só podemos assinalar de passagem. Ele tenciona «criar uma democracia russa apoiando-se não na luta mas na colaboração de classes», com a particularidade de que a «intelectualidade socialmente privilegiada» (tal como a «nobreza culta», ante a qual o Sr. Struve faz reverências com a graça autenticamente mundana de um... lacaio) trará o «peso da sua situação social» (o peso de um saco de dinheiro) para este partido «não classista».
  319. ______________________
  320.  
  321. As grandes questões da vida dos povos decidem-se somente pela força. As próprias classes reaccionárias são geralmente as primeiras a recorrer à violência, à guerra civil, a «colocar a baioneta na ordem do dia»
  322. ______________________
  323.  
  324. Sem dúvida, Marx e Engels histórica e politicamente tinham razão quando viam o interesse fundamental da classe operária, em primeiro lugar, em impelir para a frente o mais possível a revolução burguesa... Não obstante, uma prova notável de como o instinto elementar do movimento operário sabe corrigir as concepções dos pensadores mais geniais é dada pelo facto de que, em Abril de 1849, eles se pronunciaram por uma organização operária específica e decidiram participar no congresso operário, que estava a ser organizado principalmente pelo proletariado do leste do Elba (Prússia Oriental).»
  325.  
  326. De modo que só em Abril de 1849, quase um ano depois do aparecimento do jornal revolucionário (a Nova Gazeta Renana começou a sair em 1 de Junho de 1848), Marx e Engels se pronunciaram a favor de uma organização particular dos operários! Até então dirigiam simplesmente um «órgão da democracia», não ligado por qualquer laço orgânico a um partido operário independente! Este facto, monstruoso e incrível do nosso ponto de vista actual, demonstra-nos claramente a diferença entre a social-democracia alemã de então e o actual partido operário social-democrata russo. Este facto mostra-nos quantas vezes menos se manifestavam os traços proletários do movimento, a corrente proletária nele, na revolução democrática alemã (devido ao atraso da Alemanha em 1848, tanto no sentido económico como no político — o seu fraccionamento estatal). Isto não se deve esquecer (como o esquece, por exemplo, Plekhánov ao apreciar as numerosas declarações de Marx, desta época e da época um pouco posterior, sobre a necessidade da organização independente de um partido do proletariado. Apenas com a experiência da revolução democrática Marx, ao cabo de quase um ano, tirou esta conclusão prática: a tal ponto era então filistina, pequeno-burguesa, toda a atmosfera da Alemanha.
  327.  
  328.  
  329.  
  330. Lenin - A Revolução Educa
  331.  
  332. O receio das palavras “governo revolucionário”, “poder revolucionário”, é um sentimento puramente anarquista e indigno de marxistas. Para se “apoderar” das administrações dos bancos, “proceder a eleições”, encarregar da “gestão provisória dos assuntos”, “proclamar a destituição da monarquia, é evidentemente indispensável começar por criar e proclamar um governo revolucionário. Sem essa unificação, sem o reconhecimento geral do governo provisório pelo conjunto do povo revolucionário, sem a transferência da totalidade do poder para esse governo, qualquer “tomada” das administrações, qualquer “proclamação” da República, não passará de um puro e simples gesto de revolta sem alcance sério. A energia revolucionária do povo, se não for concentrada por um governo revolucionário, estará condenada a dispersar-se após o primeiro êxito da insurreição, consumir-se-á em ninharias, perderá a amplitude nacional e não conseguirá conservar aquilo que for tomado nem realizar o que for proclamado.
  333.  
  334.  
  335.  
  336. Lenin - Do artigo: A Greve Política e a Luta de Rua em Moscou
  337.  
  338. É certo que inclusive a forma atual de luta, produto do movimento das massas operárias, assesta no tzarismo os golpes mais contundentes. A guerra civil adquiriu a forma de uma guerra de guerrilhas que se desencadeia em toda parte e com o mais porfiado ardor. A classe operária não dá tréguas ao inimigo, interrompe o curso normal da vida industrial, detém constantemente a máquina da administração local e cria em todo o país um estado de alarma, mobilizando novas e novas forças para a luta. Nenhum Estado pode resistir durante muito tempo a semelhante investida, e menos ainda o putrefato governo tzarista, do qual se afastam, uns após outros, seus antigos partidários. E se às vezes a luta parece muito obstinada à burguesia monárquica liberal, se a guerra civil e este estado de alarmante insegurança em que vive o país a assusta, para o proletariado revolucionário a continuação deste estado, o prolongamento da luta é uma necessidade vital. Se entre os ideólogos da burguesia começam a aparecer elementos que pretendem apagar o incêndio revolucionário recomendando um progresso pacífico legal e que se preocupam em amenizar a crise política, em vez de aguçá-la, o proletariado consciente, que nunca duvidou da natureza traiçoeira do amor burguês à liberdade, seguirá com firmeza para a frente, levantando e trazendo consigo os camponeses, semeando a decomposição nas fileiras do exército tzarista.
  339.  
  340.  
  341.  
  342. Lenin - A Organização do Partido e a Literatura de Partido
  343.  
  344. Seja como for, a meia revolução obriga-nos a todos nós a passar imediatamente a uma nova maneira de organizar as coisas. Agora a literatura pode, mesmo «legalmente», ser 90% partidária. A literatura deve tornar-se partidária. Em oposição aos costumes burgueses, em oposição à imprensa empresarial e mercantil burguesa, em oposição ao carreirismo e ao individualismo literários burgueses, ao «anarquismo aristocrático» e à corrida ao lucro, o proletariado socialista deve avançar o princípio da literatura de partido, desenvolver este princípio e aplicá-lo da forma mais completa e integral possível.
  345. ______________________
  346.  
  347. Tranquilizai-vos, senhores! Em primeiro lugar, trata-se da literatura de partido e da sua subordinação ao controlo do partido. Cada um é livre de escrever e de dizer tudo o que queira, sem a menor limitação. Mas cada associação livre (incluindo um partido) é também livre de afastar aqueles membros que utilizam o nome do partido para defender concepções antipartido. A liberdade de palavra e de imprensa deve ser completa. Mas a liberdade de associação também deve ser completa. Eu sou obrigado a atribuir-te, em nome da liberdade de palavra, o pleno direito de gritar, de mentir e de escrever o que quiseres. Mas tu és obrigado a atribuir-me, em nome da liberdade de associação, o direito de estabelecer ou de romper a associação com pessoas que dizem isto e aquilo. O partido é uma associação voluntária, que se dissolveria inevitavelmente, primeiro ideologicamente e depois também materialmente, se não se depurasse dos membros que defendem concepções antipartido. E para definir as fronteiras entre o que é de partido e o que é antipartido existe o programa do partido, existem as resoluções tácticas do partido e os seus estatutos, existe, finalmente, toda a experiência da social-democracia internacional, das associações voluntárias internacionais do proletariado, que incluiu constantemente nos seus partidos determinados elementos ou correntes não de todo consequentes, não de todo puramente marxistas, não de todo correctas, mas que também empreendeu constantemente «depurações» periódicas do seu partido.
  348. ______________________
  349.  
  350. Estamos agora a atravessar uma transição brusca para uma organização aberta, agora aderirão inevitavelmente a nós muitas pessoas inconsequentes (do ponto de vista marxista), talvez até alguns cristãos, talvez até alguns místicos. Temos estômagos fortes, somos marxistas duros como pedra. Digeriremos essas pessoas inconsequentes. A liberdade de pensamento e a liberdade de crítica dentro do partido nunca nos obrigarão a esquecer a liberdade de agrupamento das pessoas em associações livres chamadas partidos.
  351. ______________________
  352.  
  353. Em segundo lugar, senhores individualistas burgueses, devemos dizer-vos que os vossos discursos sobre a liberdade absoluta não passam de hipocrisia. Numa sociedade baseada no poder do dinheiro, numa sociedade em que as massas dos trabalhadores vivem na miséria e em que um punhado de ricos vive como parasitas não pode haver «liberdade» real e efectiva. É livre em relação à sua editora burguesa, senhor escritor? ao seu público burguês, que lhe exige pornografia em limites(5) e quadros, a prostituição sob a forma de «complemento» da «sagrada» arte cénica? Esta liberdade absoluta é uma frase burguesa ou anarquista (porque, como concepção do mundo, o anarquismo é o burguesismo voltado do avesso). Não se pode viver na sociedade e ser livre em relação à sociedade. A liberdade do escritor, do artista, da actriz burgueses é apenas uma dependência mascarada (ou que hipocritamente se mascara) do saco do dinheiro, do suborno, da situação de viver por conta de alguém.
  354.  
  355. E nós, socialistas, desmascaramos esta hipocrisia, arrancamos as tabuletas falsas, não para obter uma literatura e uma arte não de classe (isto só será possível na sociedade socialista sem classes) mas para contrapor a uma literatura hipocritamente livre, mas de facto ligada à burguesia, uma literatura realmente livre, abertamente ligada ao proletariado.
  356. ______________________
  357.  
  358. O exército não pode e não deve ficar neutro. Manter o exército à margem da política, é a palavra-de-ordem dos serviçais hipócritas da burguesia e do czarismo, que sempre na realidade arrastaram o exército para a política reacionária e transformaram os soldados russos em auxiliares dos Cem Negros e da polícia. Não se pode permanecer à margem da luta de um povo inteiro. Quem quer que seja indiferente torna-se cúmplice dos excessos de um governo policial que prometeu a liberdade apenas para insultar esta mesma liberdade.
  359. ______________________
  360.  
  361. Deixemos a burguesia hipócrita ou sentimental sonhar com o desarmamento. Enquanto houver no mundo oprimidos e explorados, devemos exigir o armamento geral do povo e não o desarmamento. Somente o armamento do povo assegurará plenamente o futuro da liberdade. Somente ele abaterá definitivamente a reação.
  362.  
  363.  
  364.  
  365. Lenin - O Partido Socialista e o Revolucionarismo sem Cunho Partidário
  366.  
  367. No interesse de uma ampla e aberta luta de classes é necessário o desenvolvimento de um rigoroso espírito de partido. Por isso, o partido do proletariado consciente, a social-democracia, combate sempre com absoluta razão a ideia de se situar à margem dos partidos, esforçando-se invariavelmente para criar um Partido Operário Socialista coeso e fiel aos princípios.
  368. ______________________
  369.  
  370. Com efeito, se examinarmos o número infinito de reivindicações, exigências e doléances (queixas) hoje formuladas na Rússia em cada fábrica ou escritório, em cada regimento, seção da guarda municipal, paróquia, centro de ensino, etc, etc, comprovaremos facilmente que a imensa maioria delas são, se é possível exprimir-se assim, reivindicações de caráter estritamente “cultural”. Quero dizer que não são, propriamente falando, reivindicações específicas de classe, mas exigências de sentido fundamentalmente jurídico, exigências que, longe de destruir o capitalismo, colocam-nos nos marcos do europeísmo e libertam-no da barbárie, da selvageria, do suborno e de outros restos “russos” do regime de servidão. Na realidade, também as reivindicações proletárias limitam-se, na maioria dos casos, a exigir transformações plenamente realizáveis nos limites do capitalismo. O proletariado da Rússia reclama, hoje, de maneira imediata, não o que mina o capitalismo, mas o que o purifica e o que acelera e impulsiona seu desenvolvimento.
  371. ______________________
  372.  
  373. A revolução camponesa é atualmente uma revolução burguesa, por muito que essas palavras “ofendam” o ouvido sentimental dos cavalheiros sentimentais de nosso socialismo pequeno-burguês.
  374. ______________________
  375.  
  376. A indiferença política não é outra coisa senão a saciedade política. Aquele que está farto é “indiferente” e “insensível” diante do problema do pão de cada dia; porém o faminto será sempre um homem “de partido” nessa questão. A “indiferença e insensibilidade” de uma pessoa diante do problema do pão de cada dia não significa que não necessite de pão, mas que o tem sempre garantido, que nunca precisa dele, que se acomodou bem no “partido” dos que estão saciados. A posição negativa diante dos partidos na sociedade burguesa não é senão uma expressão hipócrita, velada e passiva de quem pertence ao partido dos que estão empanturrados, o partido dos que dominam, o partido dos exploradores.
  377. ______________________
  378.  
  379. A posição negativa diante dos partidos é uma ideia burguesa. O espírito de partido é uma ideia socialista. Essa tese, em geral, é aplicável a toda a sociedade burguesa. Naturalmente, é preciso saber aplicar esta verdade geral às diferentes questões e casos particulares. Mas esquecer essa verdade em certos momentos em que a sociedade burguesa em seu conjunto se lança contra a servidão e a autocracia, significa renunciar de fato e por completo à crítica socialista da sociedade burguesa.
  380. ______________________
  381.  
  382. Nossos liberais, representantes dos pontos de vista da burguesia, não podem transigir com o espírito socialista de partido, nem querem ouvir falar da luta de classes.
  383. ______________________
  384.  
  385. A salvaguarda da independência ideológica e política do partido do proletariadoel e incondicional dos socialistas. Quem não cumpre esta obrigação, deixa de fato de ser socialista, por mais sinceras que sejam suas convicções “socialistas” (socialistas de palavras). Para um socialista, a participação nas organizações sem cunho partidário é permissível só como exceção. E os próprios fins desta participação e seu caráter, as condições que ela exige, etc, devem estar inteiramente subordinados à tarefa fundamental preparar e organizar o proletariado socialista para a direção consciente da revolução socialista.
  386.  
  387.  
  388.  
  389. Lenin - O Socialismo e a Religião
  390.  
  391. Nenhuma liberdade os livrará da miséria, do desemprego e da opressão enquanto não for derrubado o poder do capital.
  392. ______________________
  393.  
  394. A religião é uma das formas de opressão espiritual que pesa em toda a parte sobre as massas populares, esmagadas pelo seu perpétuo trabalho para outros, pela miséria e pelo isolamento. A impotência das classes exploradas na luta contra os exploradores gera tão inevitavelmente a fé numa vida melhor além-túmulo como a impotência dos selvagens na luta contra a natureza gera a fé em deuses, diabos, milagres, etc. Àquele que toda a vida trabalha e passa miséria a religião ensina a humildade e a paciência na vida terrena, consolando-o com a esperança da recompensa celeste. E àqueles que vivem do trabalho alheio a religião ensina a beneficência na vida terrena, propondo-lhes uma justificação muito barata para toda a sua existência de exploradores e vendendo-lhes a preço módico bilhetes para a felicidade celestial. A religião é o ópio do povo. A religião é uma espécie de má aguardente espiritual na qual os escravos do capital afogam a sua imagem humana, as suas reivindicações de uma vida minimamente digna do homem.
  395.  
  396. Mas o escravo que tem consciência da sua escravidão e se ergueu para a luta pela sua libertação já semideixou de ser escravo. O operário consciente moderno, formado pela grande indústria fabril, educado pela vida urbana, afasta de si com desprezo os preconceitos religiosos, deixa o céu à disposição dos padres e dos beatos burgueses, conquistando para si uma vida melhor aqui, na terra. O proletariado moderno coloca-se ao lado do socialismo, que integra a ciência na luta contra o nevoeiro religioso e liberta os operários da fé na vida de além-túmulo por meio da sua união para uma verdadeira luta por uma melhor vida terrena.
  397. ______________________
  398.  
  399. Em relação ao partido do proletariado socialista a religião não é um assunto privado. O nosso partido é uma associação de combatentes conscientes e de vanguarda pela libertação da classe operária. Essa associação não pode e não deve ter uma atitude indiferente em relação à inconsciência, à ignorância ou ao obscurantismo sob a forma de crenças religiosas. Reivindicamos a completa separação da igreja e do Estado para lutar contra o nevoeiro religioso com armas puramente ideológicas e só ideológicas, com a nossa imprensa, com a nossa palavra. Mas nós fundámos a nossa associação, o POSDR, entre outras coisas precisamente para essa luta contra qualquer entontecimento religioso dos operários. E para nós a luta ideológica não é um assunto privado mas um assunto de todo o partido, de todo o proletariado.
  400. ______________________
  401.  
  402. O nosso programa assenta todo numa concepção do mundo científica, a saber, a concepção do mundo materialista. A explicação do nosso programa inclui por isso necessariamente também a explicação das verdadeiras raízes históricas e económicas do nevoeiro religioso. A nossa propaganda inclui também necessariamente a propaganda do ateísmo; a edição da correspondente literatura científica, que o poder de Estado autocrático-feudal rigorosamente proibia e perseguia até agora, deve agora constituir um dos ramos do nosso trabalho partidário. Teremos agora, provavelmente, de seguir o conselho que Engels uma vez deu aos socialistas alemães: traduzir e difundir maciçamente a literatura iluminista e ateísta francesa do século XVIII(N144).
  403.  
  404. Mas ao fazê-lo não devemos em caso nenhum cair num modo abstracto e idealista de colocar a questão religiosa «a partir da razão», fora da luta de classes, como não poucas vezes é feito pelos democratas radicais pertencentes à burguesia. Seria um absurdo pensar que, numa sociedade baseada na opressão e embrutecimento infindáveis das massas operárias, se pode, puramente por meio da propaganda, dissipar os preconceitos religiosos. Seria estreiteza burguesa esquecer que o jugo da religião sobre a humanidade é apenas produto e reflexo do jugo económico que existe dentro da sociedade. Não é com nenhuns livros nem com nenhuma propaganda que se pode esclarecer o proletariado se não o esclarecer a sua própria luta contra as forças negras do capitalismo. A unidade desta luta realmente revolucionária da classe oprimida pela criação do paraíso na terra é mais importante para nós do que a unidade de opiniões dos proletários sobre o paraíso no céu.
  405.  
  406.  
  407.  
  408. Lenin - Mais uma vez sobre o Ministério da Duma
  409.  
  410. Qual é a principal falha em todos esses argumentos oportunistas? É que, na verdade, eles substituem a teoria burguesa do progresso "social" "unificado" pela teoria socialista da luta de classes como a única força motriz real da história. De acordo com a teoria do socialismo, ou seja, do marxismo (o socialismo não marxista não merece discussão séria nos dias de hoje), a verdadeira força motriz da história é a luta de classes revolucionária; as reformas são um produto subsidiário dessa luta, subsidiário porque expressam tentativas fracassadas de enfraquecer, contornar essa luta, etc. De acordo com a teoria dos filósofos burgueses, a força motriz do progresso é a unidade de todos os elementos da sociedade que levam em conta as "imperfeições" de algumas das suas instituições. A primeira teoria é materialista; a segunda é idealista. A primeira é revolucionária; a segunda é reformista. A primeira serve de base para as táticas do proletariado nos países capitalistas modernos. A segunda serve como base das táticas burguesas.
  411. ______________________
  412.  
  413. As táticas reformistas são as menos propensas a garantir reformas reais. A maneira mais eficaz de assegurar reformas reais é perseguir as táticas da luta de classes revolucionária. Na verdade, as reformas são conquistadas como resultado da luta de classes revolucionária, como resultado de sua independência, força de massa e firmeza. As reformas são sempre falsas, ambíguas e permeadas pelo espírito policialesco; são reais apenas em proporção à intensidade da luta de classes. Ao fundirmos nossos slogans com os da burguesia reformista, enfraquecemos a causa da revolução e, consequentemente, a causa da reforma, porque diminuímos a independência, a força e a força das classes revolucionárias.
  414.  
  415.  
  416.  
  417. Lenin - As Lições da Insurreição de Moscovo
  418.  
  419. A técnica militar deu nos últimos tempos novos passos em frente. A guerra japonesa fez aparecer a granada de mão. As fábricas de armas lançaram no mercado a espingarda automática. Tanto uma como outra já são empregadas com êxito na revolução russa, mas em proporções que estão longe de serem suficientes. Nós podemos e devemos aproveitar-nos do aperfeiçoamento da técnica, ensinar os destacamentos operários a fabricar bombas em massa, ajudá-los assim como aos nossos grupos de combate a fazer reservas de explosivos, detonadores e espingardas automáticas. Se a massa operária participar na insurreição na cidade, se se atacar em massa o inimigo, se se lutar decidida e habilmente pelas tropas que vacilam ainda mais depois da Duma, depois de Sveaborg e Cronstadt[N282], se estiver garantida a participação do campo na luta comum — a vitória será nossa na próxima insurreição armada em toda a Rússia!
  420. ______________________
  421.  
  422. Lembremo-nos que se aproxima a grande luta de massas. Será a insurreição armada. Ela deve ser, na medida do possível, simultânea. As massas devem saber que se lançam a uma luta armada implacável e sangrenta. O desprezo pela morte deve ser difundido entre as massas e ser assegurada a vitória. A ofensiva contra o inimigo deve ser da maior energia; ataque, e não defesa, deve ser a palavra de ordem das massas, o aniquilamento implacável do inimigo será a sua tarefa; a organização da luta tornar-se-á móvel e flexível; os elementos vacilantes das tropas serão arrastados para a luta activa. O partido do proletariado consciente deve cumprir o seu dever nesta grande luta.
  423.  
  424.  
  425.  
  426. Lenin - A Guerra de Guerrilhas
  427.  
  428. Um marxista não pode considerar em geral anormal e desmoralizadora a guerra civil ou a guerra de guerrilhas, como uma das suas formas. Um marxista coloca-se no terreno da luta de classes e não da paz social. Em certos períodos de crises económicas e políticas agudas, a luta de classes desenvolve-se até ao nível de uma guerra civil directa, isto é, de uma luta armada entre duas partes do povo. Nesses períodos um marxista é obrigado a colocar-se no ponto de vista da guerra civil. Qualquer condenação moral dela é perfeitamente inadmissível do ponto de vista do marxismo.
  429.  
  430.  
  431.  
  432. Lenin - Dos Projetos de Resoluções para o V Congresso do POSDR
  433.  
  434. Levando tudo isso em consideração, a assembleia reconhece:
  435.  
  436. que é necessária a mais enérgica luta de princípios contra o movimento anarco-sindicalista no seio do proletariado e contra as ideias axeroldistas e larinistas no seio da social-democracia;
  437. que é necessária a luta mais enérgica contra todas as tentativas desorganizadoras e demagógicas, feitas dentro do POSDR, com o objetivo de debilitar a organização do Partido, ou de utilizá-la para substituir a social-democracia por organizações políticas do proletariado situadas à margem do Partido.
  438.  
  439.  
  440.  
  441. Lenin - Marxismo e Revisionismo
  442.  
  443. Inútil falar da ciência e da filosofia burguesas, ensinadas escolasticamente pelos professores oficiais para embrutecer as novas gerações das classes possuidoras e “amestrá-las” contra os inimigos de fora e de dentro. Esta ciência não quer nem ouvir falar de marxismo, declarando-o refutado e destruído; tanto os jovens homens de ciências, que fazem carreira refutando o socialismo, como os velhos decrépitos, que guardiães dos legados de toda a espécie de “sistemas” caducos, se lançam sobre Marx com o mesmo zelo. Os avanços do marxismo, a difusão e a afirmação de suas ideias entre a classe operária, tornam inevitavelmente mais frequentes e mais agudos esses ataques burgueses contra o marxismo, que sai mais fortalecido, mais temperado e mais activo após cada uma de suas “destruições” por obra da ciência oficial.
  444.  
  445.  
  446.  
  447. Lenin - Material Inflamável na Política Mundial
  448.  
  449. «progressista» (de facto = lacaia do capital)
  450. ______________________
  451.  
  452. Com a sua pilhagem colonial dos países asiáticos os europeus conseguiram temperar um deles, o Japão, para grandes vitórias militares, que lhe asseguraram um desenvolvimento nacional independente.
  453.  
  454.  
  455.  
  456. Lenin - Sobre a Atitude do Partido Operário em Relação à Religião
  457.  
  458. Todas as religiões e igrejas actuais, todas e quaisquer organizações religiosas, são sempre encaradas pelo marxismo como órgãos da reacção burguesa que servem para defender a exploração e para entontecer a classe operária.
  459. ______________________
  460.  
  461. O marxismo é materialismo. Como tal, ele é tão implacavelmente hostil à religião como o materialismo dos enciclopedistas(6) do século XVIII ou o materialismo de Feuerbach. Mas o materialismo dialéctico de Marx e Engels vai mais longe que os enciclopedistas e Feuerbach, aplicando a filosofia materialista ao domínio da história, ao domínio das ciências sociais. Devemos lutar contra a religião. Isto é o á-bê-cê de todo o materialismo e, por conseguinte, também do marxismo. Mas o marxismo não é um materialismo que se deteve no á-bê-cê. O marxismo vai mais longe. Ele diz: é preciso saber lutar contra a religião, e para isso é preciso explicar de modo materialista a fonte da fé e da religião entre as massas. Não se pode limitar a luta contra a religião a uma prédica ideológica abstracta, não se pode reduzi-la a essa prédica; é preciso pôr esta luta em ligação com a prática concreta do movimento de classe dirigido para a eliminação das raízes sociais da religião. Por que é que a religião se mantém nas camadas atrasadas do proletariado urbano, em vastas camadas do semiproletariado e também na massa do campesinato? Por causa da ignorância do povo, responde o progressista burguês, o radical ou o materialista burguês. Consequentemente, abaixo a religião, viva o ateísmo, a difusão das concepções ateístas é a nossa principal tarefa. O marxista diz: não é verdade. Essa concepção é um superficial culturalismo limitado e burguês. Essa concepção explica de modo insuficientemente profundo, não de modo materialista mas idealista, as raízes da religião. Nos países capitalistas contemporâneos são raízes principalmente sociais. A opressão social das massas trabalhadoras, a sua aparente impotência completa perante as forças cegas do capitalismo, que causa todos os dias e a todas as horas aos simples trabalhadores sofrimentos mil vezes mais horríveis e martírios mil vezes mais bárbaros do que quaisquer acontecimentos extraordinários como guerras, terramotos, etc. — eis em que consiste a mais profunda raiz actual da religião. «O medo criou os deuses.» O medo da força cega do capital, que é cega porque não pode ser prevista pelas massas do povo, que a cada passo da vida do proletário e do pequeno proprietário ameaça infligir-lhe e lhe inflige uma «súbita», «inesperada», «acidental» ruína, a perdição, a sua transformação num pobre, num miserável, numa prostituta, a morte de fome — eis a raiz da religião actual que o materialista deve ter em vista em primeiro lugar e acima de tudo se não quiser permanecer um aprendiz de materialista. Nenhum livro educativo arrancará a religião de entre as massas oprimidas pelos trabalhos forçados do capitalismo, dependentes das cegas forças destruidoras do capitalismo, enquanto essas massas não aprenderem elas próprias a lutar unida, organizada, sistemática e conscientemente contra esta raiz da religião, contra o domínio do capital sob todas as formas.
  462.  
  463. Decorrerá daqui que o livro educativo contra a religião é prejudicial ou inútil? Não. O que daqui decorre não é nada disso. Daqui decorre que a propaganda ateísta da social-democracia deve ser subordinada à sua tarefa fundamental: desenvolver a luta de classe das massas exploradas contra os exploradores.
  464. ______________________
  465.  
  466. Tomemos um exemplo. O proletariado de uma dada região e de um dado ramo da indústria divide-se, suponhamos, numa camada avançada de sociais-democratas bastante conscientes, que são evidentemente ateus, e em operários bastante atrasados, ligados ainda ao campo e ao campesinato, que acreditam em Deus, vão à igreja ou se encontram mesmo sob a influência directa do sacerdote local, que fundou, admitamos, uma associação operária cristã. Suponhamos, além disso, que a luta económica nessa localidade conduziu a uma greve. Para um marxista é obrigatório colocar o êxito do movimento grevista em primeiro plano, é obrigatório contrariar decididamente a divisão dos operários nesta luta em ateus e cristãos, lutar decididamente contra essa divisão. A propaganda ateísta pode revelar-se nessas condições inútil e prejudicial, não do ponto de vista das considerações filistinas acerca de não assustar as camadas atrasadas, acerca da perda do mandato nas eleições, etc., mas do ponto de vista do progresso real da luta de classes, que nas condições da sociedade capitalista contemporânea conduzirá cem vezes melhor os operários cristãos à social-democracia e ao ateísmo do que a mera prédica ateísta. O propagandista do ateísmo nesse momento e nessas condições apenas faria o jogo do padre e dos padres, que nada desejam tanto como substituir a divisão dos operários segundo a participação na greve pela divisão segundo a crença em Deus. Um anarquista, ao pregar a guerra contra Deus a qualquer preço, estaria de facto a ajudar os padres e a burguesia (como os anarquistas ajudam sempre de facto a burguesia). Um marxista deve ser materialista, isto é, inimigo da religião, mas um materialista dialéctico, isto é, que coloca a luta contra a religião não de modo abstracto, não no terreno da propaganda abstracta, puramente teórica, sempre igual a si própria, mas de modo concreto, no terreno da luta de classes que tem lugar de facto e que educa as massas mais e melhor que tudo. Um marxista deve saber ter em conta toda a situação concreta, encontrar sempre a fronteira entre o anarquismo e o oportunismo (esta fronteira é relativa, móvel, mutável, mas existe), não cair no «revolucionarismo» abstracto, verbal, de facto vazio, do anarquista nem no filistinismo e no oportunismo do pequeno burguês ou do intelectual liberal, que teme a luta contra a religião, esquece esta sua tarefa, se reconcilia com a crença em Deus, se guia não pelos interesses da luta de classes mas por cálculos pequenos e mesquinhos: não ofender, não afastar, não assustar, pela sapientíssima regra: «vive e deixa viver os outros», etc., etc.
  467. ______________________
  468.  
  469. O partido do proletariado exige do Estado que declare a religião um assunto privado, não considerando de modo nenhum «assunto privado» a questão da luta contra o ópio do povo, da luta contra as superstições religiosas, etc.
  470.  
  471.  
  472.  
  473. Lenin - As Lições da Revolução
  474.  
  475. Só a luta revolucionária das massas é capaz de obter melhorias minimamente sérias na vida dos operários e na direcção do Estado. Nenhuma "simpatia" dos homens instruídos para com os operários, nenhuma luta heróica de terroristas isolados, podiam minar a autocracia tsarista e a omnipotência dos capitalistas. Só a luta dos próprios operários, só a luta conjunta de milhões podiam fazê-lo, e quando essa luta enfraqueceu, imediatamente se começou a retirar aquilo que os operários haviam conquistado. A revolução russa confirmou aquilo que se canta na canção internacional dos operários:
  476.  
  477. "Ninguém nos trará a salvação nem deus, nem rei, nem herói; conquistemos nós a libertação com as nossas próprias mãos."
  478.  
  479.  
  480.  
  481. Lenin - As Divergências no Movimento Operário Europeu
  482.  
  483. Por fim, uma causa extremamente importante que gera divergências entre os participantes no movimento operário são as mudanças de táctica das classes governantes em geral e da burguesia em particular. Se a táctica da burguesia fosse sempre uniforme, ou pelo menos sempre semelhante, a classe operária rapidamente aprenderia a responder-lhe com uma táctica igualmente uniforme ou semelhante. Na realidade a burguesia em todos os países elabora inevitavelmente dois sistemas de governo, dois métodos de luta pelos seus interesses e pela salvaguarda da sua dominação, e estes dois métodos, ora se sucedem um ao outro ora se entrelaçam em combinações diversas. Trata-se em primeiro lugar do método da violência, do método da recusa de quaisquer concessões ao movimento operário, do método do apoio a todas as instituições velhas e caducas, do método da negação intransigente das reformas.
  484. ______________________
  485.  
  486. As flutuações na táctica da burguesia, as passagens do sistema da violência ao sistema de pretensas concessões, são em consequência disso, características da história de todos os países europeus no último meio século, desenvolvendo alguns países principalmente a utilização de um ou outro método durante determinados períodos. Por exemplo, a Inglaterra foi, nos anos 60 e 70 do século XIX, o país clássico da política burguesa «liberal», a Alemanha dos anos 70 e 80 ateve-se ao método da violência, etc.
  487.  
  488.  
  489.  
  490. Lenin - Acerca de Algumas Particularidades do Desenvolvimento Histórico do Marxismo
  491.  
  492. A nossa doutrina — disse Engels falando por si e pelo seu célebre amigo — não é um dogma mas um guia para a acção. Esta tese clássica sublinha com notável força e expressividade este aspecto do marxismo que muitas vezes se perde de vista. E, perdendo-o de vista, tornamos o marxismo unilateral, disforme e morto, despojamo-lo da sua alma viva, minamos as suas bases teóricas fundamentais — a dialéctica, doutrina do desenvolvimento histórico multiforme e pleno de contradições; minamos a sua ligação com as tarefas práticas definidas da época, que podem modificar-se a cada nova viragem da história.
  493. ______________________
  494.  
  495. Precisamente porque o marxismo não é um dogma morto, não é uma qualquer doutrina acabada, pronta, imutável, mas um guia vivo para a acção, precisamente por isso não podia deixar de reflectir em si a mudança surpreendentemente brusca das condições da vida social. O reflexo da mudança foi uma profunda desagregação, a confusão, vacilações de toda a espécie, numa palavra — uma gravíssima crise interna do marxismo. Uma resistência decidida a esta desagregação, uma luta decidida e tenaz em defesa dos fundamentos do marxismo, inscreveu-se de novo na ordem do dia. Camadas extraordinariamente amplas das classes que não podem dispensar o marxismo ao formular as suas tarefas assimilaram o marxismo na época precedente, de uma maneira extremamente unilateral, disforme, decorando tais ou tais «palavras de ordem», tais ou tais respostas às questões tácticas, e não compreendendo os critérios marxistas dessas respostas. A «reavaliação de todos os valores» nos diferentes domínios da vida social conduziu à «revisão» dos fundamentos filosóficos mais abstractos e gerais do marxismo. A influência da filosofia burguesa, nos seus variados matizes idealistas, manifestou-se na epidemia machista entre os marxistas. A repetição de «palavras de ordem» aprendidas de cor, mas não compreendidas nem meditadas, conduziu à ampla difusão de uma fraseologia oca, que na prática consistiu em tendências perfeitamente não marxistas, pequeno-burguesas, como o «otzovismo» declarado ou envergonhado, ou o reconhecimento do «otzovismo» como um «matiz legítimo» do marxismo.
  496.  
  497.  
  498.  
  499. Lenin - Em Memória da Comuna
  500.  
  501. A Comuna teve tempo de aplicar algumas medidas que caracterizam bastante seus verdadeiros sentido e objetivo. Substituiu o exército permanente, instrumento cego em mãos das classes dominantes, pelo armamento de todo o povo; proclamou a separação da Igreja do Estado; suprimiu a subvenção ao culto (quer dizer, o soldo que o Estado pagava aos padres) e deu um caráter estritamente laico à instrução pública, com o que assestou um rude golpe aos soldados de batina. Pouco foi o tempo para se fazer algo no terreno puramente social, porém esse pouco mostra com suficiente clareza seu caráter de governo popular, de governo operário: foi suprimido o trabalho noturno nas tarefas; foi abolido o sistema das multas, consagrado pela lei, com que se vitimavam os operários; finalmente, foi promulgado o famoso decreto de entrega de todas as fábricas e oficinas abandonadas ou paralisadas por seus donos às cooperativas operárias com o fim de retomar a produção. E para sublinhar, como se disséssemos, seu caráter de governo autenticamente democrático, proletário, a Comuna dispôs que a remuneração de todos os funcionários administrativos e do governo não fosse superior ao salário normal de um operário, nem passasse em nenhum caso dos 6.000 francos anuais (menos de 200 rublos ao mês).
  502.  
  503. Todas essas medidas mostravam com farta eloqüência que a Comuna constituía uma ameaça de morte ao velho mundo, baseado no avassalamento e na exploração. Essa era a causa de a sociedade burguesa não poder dormir tranqüila enquanto o Ajuntamento de Paris ostentasse a bandeira vermelha do proletariado.
  504.  
  505.  
  506.  
  507. Lenin - Das Resoluções da VI Conferência de Toda a Rússia do POSDR
  508.  
  509. A parte das riquezas produzidas pelo operário assalariado, que este recebe em forma de salário, é tão insignificante que mal chega para satisfazer suas necessidades vitais mais essenciais; o proletariado está, pois, privado de toda possibilidade de economizar uma parte de seu salário para o caso de perda de sua capacidade de trabalho, em consequência de um acidente, de uma enfermidade, de velhice ou invalidez, bem como do desemprego, indissoluvelmente vinculado ao modo capitalista de produção. Por isso, o seguro operário, em todos os casos indicados, é uma reforma imperiosamente ditada por todo o curso do desenvolvimento capitalista.
  510.  
  511.  
  512.  
  513. Lenin - Duas Utopias
  514.  
  515. A burguesia liberal em geral e a intelectualidade burguesa liberal, em particular, não podem deixar de aspirar à liberdade e à legalidade, pois que sem isso a dominação da burguesia não é completa, não é absoluta, não está assegurada. Mas a burguesia tem mais medo do movimento de massas do que da reacção.
  516. ______________________
  517.  
  518. A utopia dos liberais perverte a consciência democrática das massas. A utopia dos populistas, pervertendo a sua consciência socialista, acompanha, é um sintoma e mesmo em parte uma expressão do seu ascenso democrático.
  519.  
  520.  
  521.  
  522. Lenin - Resultados e significado das eleições
  523. presidenciais na América1 (1912)
  524.  
  525. Na América, a riqueza nacional total eleva-se hoje a 120 mil milhões de dólares,
  526. i.e., a cerca de 240 biliões de rublos. Cerca de um terço deste montante, perto de 80
  527. biliões de rublos, pertence aos dois trusts Rockfeller e Morgan ou é controlado por
  528. eles! Cerca de 40 mil famílias, que detêm estes dois trusts, reinam sobre 80 milhões
  529. de escravos assalariados.
  530. É evidente que enquanto existirem estes escravistas modernos, todas as «reformas» são uma mera fraude. Roosevelt está manifestamente a soldo de milionários
  531. astutos para propagandear esta fraude. «O controlo do Estado» que ele promete
  532. transformar-se-á – enquanto o capital estiver nas mãos dos capitalistas – num meio
  533. de luta contra as greves e da sua asfixia.
  534.  
  535.  
  536.  
  537. Lenin - Os Destinos Históricos da Doutrina de Karl Marx (1913)
  538.  
  539.  
  540. Todas as doutrinas sobre um socialismo não de classe e uma política não de classe se revelam um oco disparate.
  541. ______________________
  542.  
  543. Não tinham ainda os oportunistas acabado de congratular-se com a «paz social» e a desnecessidade de tempestades sob a «democracia» quando uma nova fonte de grandes tempestades mundiais se abriu na Ásia. À revolução russa seguiram-se a turca, a persa e a chinesa(1). Vivemos precisamente na época destas tempestades e da sua «repercussão» na Europa. Qualquer que seja o destino da grande república chinesa, pela qual afiam hoje os dentes diversas hienas «civilizadas», nenhuma força no mundo restabelecerá a velha servidão na Ásia nem varrerá da face da Terra o democratismo heróico das massas populares dos países asiáticos e semi-asiáticos.
  544. ______________________
  545.  
  546. Os longos adiamentos da luta decisiva contra o capitalismo na Europa conduziram algumas pessoas, desatentas das condições de preparação e desenvolvimento da luta de massas, ao desespero e ao anarquismo. Vemos agora como é míope e pusilânime o desespero anarquista.
  547.  
  548.  
  549.  
  550. Lenin - As Três Fontes e as Três partes Constitutivas do Marxismo
  551.  
  552. A doutrina de Marx suscita em todo o mundo civilizado a maior hostilidade e o maior ódio de toda a ciência burguesa (tanto a oficial como a liberal), que vê no marxismo uma espécie de "seita perniciosa". E não se pode esperar outra atitude, pois, numa sociedade baseada na luta de classes não pode haver ciência social "imparcial". De uma forma ou de outra, toda a ciência oficial e liberal defende a escravidão assalariada, enquanto o marxismo declarou uma guerra implacável a essa escravidão. Esperar que a ciência fosse imparcial numa sociedade de escravidão assalariada seria uma ingenuidade tão pueril como esperar que os fabricantes sejam imparciais quanto à questão da conveniência de aumentar os salários dos operários diminuindo os lucros do capital.
  553. ______________________
  554.  
  555. A doutrina de Marx é omnipotente porque é exacta. É completa e harmoniosa, dando aos homens uma concepção integral do mundo, inconciliável com toda a superstição, com toda a reacção, com toda a defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês.
  556. ______________________
  557.  
  558. A filosofia do marxismo é o materialismo. Ao longo de toda a história moderna da Europa, e especialmente em fins do século XVIII, em França, onde se travou a batalha decisiva contra todas as velharias medievais, contra o feudalismo nas instituições e nas ideias, o materialismo mostrou ser a única filosofia consequente, fiel a todos os ensinamentos das ciências naturais, hostil à superstição, à beatice, etc. Por isso, os inimigos da democracia tentavam com todas as suas forças "refutar", desacreditar e caluniar o materialismo e defendiam as diversas formas do idealismo filosófico, que se reduz sempre, de um modo ou de outro, à defesa ou ao apoio da religião.
  559.  
  560. Marx e Engels defenderam resolutamente o materialismo filosófico, e explicaram repetidas vezes quão profundamente errado era tudo quanto fosse desviar-se dele. Onde as suas opiniões aparecem expostas com maior clareza e pormenor é nas obras de Engels Ludwig Feuerbach e Anti-Dühring, as quais – da mesma forma que o Manifesto Comunista – são os livros de cabeceira de todo o operário consciente.
  561. ______________________
  562.  
  563. O operário assalariado vende a sua força de trabalho ao proprietário de terra, das fábricas, dos instrumentos de trabalho. O operário emprega uma parte do dia de trabalho para cobrir o custo do seu sustento e de sua família (salário); durante a outra parte do dia, trabalha gratuitamente, criando para o capitalista a mais-valia, fonte dos lucros, fonte da riqueza da classe capitalista. A teoria da mais-valia constitui a pedra angular da teoria económica de Marx
  564. ______________________
  565.  
  566. Nenhuma vitória da liberdade política sobre a classe feudal foi alcançada sem uma resistência desesperada. Nenhum país capitalista se formou sobre uma base mais ou menos livre, mais ou menos democrática, sem uma luta de morte entre as diversas classes da sociedade capitalista.
  567.  
  568. O génio de Marx está em ter sido o primeiro a ter sabido deduzir daí a conclusão implícita na história universal e em tê-la aplicado consequentemente. Tal conclusão é a doutrina da luta de classes.
  569.  
  570.  
  571.  
  572. Lenin - Sobre o Conceito Liberal e Marxista da Luta de Classes
  573.  
  574. Todas as lutas de classes são lutas políticas(2). É sabido que os oportunistas, subjugados pelas ideias do liberalismo, compreenderam erradamente estas profundas palavras de Marx e se esforçaram por interpretá-las de forma deturpada. Entre os oportunistas figuraram, por exemplo, os «economistas»(3), irmãos mais velhos dos liquidacionistas. Os «economistas» pensavam que qualquer choque entre classes é já uma luta política. Os «economistas» reconheciam por isso como «luta de classes» a luta por um aumento de 5 copeques por rublo, recusando-se a ver a luta de classes mais elevada, desenvolvida, nacional, por objectivos políticos. Deste modo, os «economistas» reconheciam a luta de classes embrionária sem a reconhecerem na sua forma desenvolvida. Por outras palavras, os «economistas» reconheciam na luta de classes apenas aquilo que era mais tolerável do ponto de vista da burguesia liberal, recusando-se a ir mais longe que os liberais, recusando-se a reconhecer uma luta de classes mais elevada, inadmissível para os liberais. Os «economistas» transformavam-se assim em políticos operários liberais. Os «economistas» renunciavam assim ao conceito marxista, revolucionário, da luta de classes.
  575.  
  576.  
  577.  
  578. Lenin - O Capitalismo e a Imigração dos Operários
  579.  
  580. Não há dúvida de que só a extrema miséria obriga as pessoas a abandonar a sua pátria, de que os capitalistas exploram da maneira mais desavergonhada os operários migrantes.
  581. ______________________
  582.  
  583.  
  584.  
  585. Lenin - Um Catedrático Liberal Fala de Igualdade
  586.  
  587. Mas quando os senhores catedráticos se dedicam a refutar o socialismo, nunca se sabe o que mais nos surpreende, se a sua estupidez, se a sua ignorância, se a sua má-fé.
  588. ______________________
  589.  
  590. Mas a situação social dos catedráticos na sociedade burguesa é tal que só são admitidos nessas funções aqueles que vendem a ciência ao serviço dos interesses do capital, apenas aqueles que concordam em dizer contra os socialistas as mais incríveis tolices, os mais desavergonhados absurdos e asneiras. A burguesia perdoa tudo isso aos catedráticos desde que eles se ocupem em «aniquilar» o socialismo.
  591.  
  592.  
  593.  
  594. Lenin - Sobre a Violação da Unidade Encoberta com Gritos de Unidade
  595.  
  596. Nem tudo o que reluz é ouro. Há muito brilho e barulho nas frases de Trótski, mas conteúdo não.
  597. ______________________
  598.  
  599. Mas deixemos os gracejos de lado (ainda que o gracejo seja o único meio de réplica suave à insuportável verborreia de Trótski.
  600.  
  601. «Suicídio» é simplesmente uma frase, uma frase oca, apenas «trotskismo».
  602. ______________________
  603.  
  604. Se na prática, na experiência do movimento, é refutada a nossa atitude para com o liquidacionismo, há que analisar essa experiência, o que Trótski também não faz. «Numerosos operários avançados — reconhece ele — transformam-se em activos agentes da cisão» (leia-se: activos agentes da linha, da táctica e do sistema de organização pravdistas).
  605.  
  606. Porque é, pois, que se dá o fenómeno tão triste, confirmado, segundo reconhece Trótski, pela experiência, de os operários avançados, e além disso numerosos, serem pelo Pravda?
  607.  
  608. Em consequência da «plena desorientação política» desses operários avançados, responde Trótski.
  609.  
  610. A explicação, é desnecessário dizer, é extremamente lisonjeira para Trótski, para todas as cinco fracções no estrangeiro e para os liquidacionistas. Trótski gosta muito de dar explicações, «com o ar erudito do conhecedor» e com frases pomposas e sonoras, lisonjeiras para Trótski, dos fenómenos históricos. Se «numerosos operários avançados» se tornam «activos agentes» de uma linha política e partidária que não se coaduna com a linha de Trótski, então Trótski resolve a questão, sem constrangimento, imediata e directamente: estes operários avançados encontram-se «em estado de plena desorientação política», e ele, Trótski, evidentemente, «em estado» de firmeza política, clareza e justeza de linha!... E esse mesmo Trótski, batendo com a mão no peito, fulmina o fraccionismo, o espírito de círculo, a tendência própria de intelectuais para impor a sua vontade aos operários!...
  611.  
  612. Na verdade, ao ler tais coisas, perguntamo-nos involuntariamente se não será de um manicómio que se ouvem tais vozes.
  613. ______________________
  614.  
  615. As pessoas que nos acusavam de cisionismo, de não querermos ou não sabermos entender-nos com os liquidacionistas, não se entenderam elas próprias com eles. O Bloco de Agosto revelou-se uma ficção e desagregou-se.
  616.  
  617. Escondendo aos seus leitores esta desagregação Trótski engana-os.
  618.  
  619. A experiência dos nossos adversários demonstrou que temos razão, demonstrou a impossibilidade de trabalhar com os liquidacionistas.
  620. ______________________
  621.  
  622. Eis o que dirão os «operários avançados» da Rússia aos diversos projectistas, eis o que já disseram, por exemplo, na imprensa marxista, os marxistas organizados de Petersburgo. Quererá Trótski ignorar estas condições publicadas para os liquidacionistas? Tanto pior para Trótski. O nosso dever é advertir os leitores de como é ridículo o projectismo «unificador» (do tipo da «unificação» de Agosto?), que não quer ter em conta a vontade da maioria dos operários conscientes da Rússia.
  623. ______________________
  624.  
  625. Os velhos participantes no movimento marxista na Rússia conhecem bem a figura de Trótski, e não vale a pena falar-lhes dela. Mas a jovem geração operária não a conhece, e é necessário falar, pois trata-se de uma figura típica de todos os cinco grupinhos no estrangeiro, que de facto também vacilam entre os liquidacionistas e o partido.
  626.  
  627. Nos tempos do velho Iskra (1901-1903), para esses vacilantes e trânsfugas que passavam dos «economistas» para os «iskristas» e vice-versa, havia uma alcunha: «trânsfugas de Túchino» (assim chamavam na Época da Confusão311 na Rússia aos guerreiros que fugiam de um campo para o outro).
  628.  
  629. Quando falamos de liquidacionismo, designamos certa corrente ideológica, que foi crescendo com os anos, e ligada pelas raízes ao «menchevismo» e ao «economismo» em vinte anos de história do marxismo, ligada à política e à ideologia de determinada classe, a burguesia liberal.
  630.  
  631. Os «trânsfugas de Túchino» declaram-se acima das fracções com base na única razão de que eles «tomam de empréstimo» as ideias hoje de uma fracção e amanhã de outra. Trótski era um «iskrista» apaixonado nos anos de 1901-1903, e Riazánov chamou ao seu papel no congresso de 1903 papel de «cacete leninista». Nos fins de 1903 Trótski era um menchevique apaixonado, isto é, dos iskristas passou para os «economistas»; proclama que «entre o velho e o novo Iskra há um abismo». Nos anos de 1904-1905 afasta-se dos mencheviques e ocupa uma posição vacilante, ora colaborando com Martínov («economista») ora proclamando a «revolução permanente» de um esquerdismo absurdo. Em 1906-1907 aproxima-se dos bolcheviques e na Primavera de 1907 declara-se solidário com Rosa Luxemburg.
  632.  
  633. Na época da desagregação, após longas vacilações «não fraccionistas», vai de novo para a direita e em Agosto de 1912 entra num bloco com os liquidacionistas. Agora de novo afasta-se deles, mas entretanto repete no fundo as suas mesmas ideiazinhas.
  634.  
  635. Tais tipos são característicos como restos das formações históricas de ontem, quando o movimento operário de massas na Rússia ainda dormia e qualquer grupinho «estava à vontade» para se apresentar a si próprio como corrente, grupo, fracção — numa palavra, uma «potência» que fala de unificação com outros.
  636.  
  637. É preciso que a jovem geração operária saiba bem com quem trata, quando apresentam incríveis pretensões pessoas que não querem ter em conta de modo algum nem as decisões do partido, que desde 1908 determinaram e estabeleceram a atitude para com o liquidacionismo, nem a experiência do movimento operário actual na Rússia, que criou de facto a unidade da maioria na base do pleno reconhecimento das citadas decisões.
  638.  
  639.  
  640.  
  641. Lenin - Sobre o Direito das Nações à Autodeterminação
  642.  
  643. Não há dúvida de que a politiquice gerada por todas as relações da sociedade capitalista gera às vezes uma tagarelice extremamente frívola e até simplesmente absurda de parlamentares ou de publicistas sobre a separação desta ou daquela nação. Mas só os reaccionários podem deixar-se amedrontar (ou fingir que estão amedrontados) com semelhante tagarelice. Quem se mantém no ponto de vista da democracia, isto é, da solução das questões de Estado pela massa da população, sabe perfeitamente que entre a tagarelice dos politiqueiros e a solução de massas «vai uma enorme distância»[N327]. As massas da população sabem perfeitamente, pela experiência quotidiana, qual o significado dos laços geográficos e económicos, as vantagens de um grande mercado e de um grande Estado, e só irão para a separação quando o jugo nacional e os atritos nacionais fizerem a vida em comum absolutamente insuportável, entravarem todas e quaisquer relações económicas. E em semelhante caso os interesses do desenvolvimento capitalista e da liberdade da luta de classes estarão precisamente ao lado dos que se separam.
  644. ______________________
  645.  
  646. Em todo o caso o operário assalariado continuará a ser objecto de exploração, e a luta com êxito contra ela exige a independência do proletariado em relação ao nacionalismo, a completa neutralidade, por assim dizer, dos proletários na luta da burguesia de diferentes nações pela supremacia. O mínimo apoio por parte do proletariado de uma qualquer nação aos privilégios da «sua» burguesia nacional provocará inevitavelmente a desconfiança do proletariado de outra nação, enfraquecerá a solidariedade internacional de classe dos operários e dividi-los-á para regozijo da burguesia. E a negação do direito à autodeterminação, ou à separação, significará inevitavelmente na prática o apoio aos privilégios da nação dominante.
  647. ______________________
  648.  
  649. Nunca ainda, em nenhuma questão séria do marxismo, Trótski teve uma opinião firme, sempre «se insinuando nas fendas» destas ou daquelas divergências e passando de um lado para outro. Neste momento ele encontra-se na companhia dos bundistas e dos liquidacionistas. Ora estes senhores não têm cerimónias para com o partido.
  650.  
  651.  
  652.  
  653. Lenin - Guerra e a Social-Democracia da Rússia
  654.  
  655. Os oportunistas fizeram fracassar as decisões dos congressos de Stuttgart, de Copenhaga e de Basileia[N345], que obrigavam os socialistas de todos os países a lutar contra o chauvinismo em todas e quaisquer condições, que obrigavam os socialistas a responder a qualquer guerra desencadeada pela burguesia e pelos governos com a redobrada propaganda da guerra civil e da revolução social. A bancarrota da II Internacional é a bancarrota do oportunismo, que se desenvolveu sobre a base das particularidades de uma época histórica passada (a chamada época «pacífica») e que nos últimos anos passou a dominar de facto na Internacional. Os oportunistas há muito que preparavam esta bancarrota, negando a revolução socialista e substituindo-a pelo reformismo burguês; negando a luta de classes e a sua necessária transformação, em determinados momentos, em guerra civil e defendendo a colaboração de classes; pregando o chauvinismo burguês sob o nome de patriotismo e de defesa da pátria e ignorando ou negando a verdade fundamental do socialismo, já exposta no Manifesto Comunista, de que os operários não têm pátria; limitando-se na luta contra o militarismo ao ponto de vista sentimental-filisteu, em vez de reconhecer a necessidade da guerra revolucionária dos proletários de todos os países contra a burguesia de todos os países; transformando a necessária utilização do parlamentarismo burguês e da legalidade burguesa numa feiticização desta legalidade e no esquecimento da obrigatoriedade das formas clandestinas de organização e de agitação nas épocas de crise. O «complemento» natural do oportunismo, a corrente anarco-sindicalista — concepção igualmente burguesa e hostil ao ponto de vista proletário, isto é, marxista — caracterizou-se não menos ignominiosamente por uma repetição fátua das palavras de ordem do chauvinismo durante a presente crise.
  656.  
  657. Não é actualmente possível cumprir as tarefas do socialismo, não é possível realizar a verdadeira coesão internacional dos operários, sem romper decididamente com o oportunismo e explicar às massas a inevitabilidade do seu fiasco.
  658.  
  659.  
  660.  
  661. Lenin - Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa
  662.  
  663. O capitalismo é a propriedade privada dos meios de produção e a anarquia da produção. Preconizar a «justa» partilha do rendimento nesta base é proudhonismo, estupidez de pequeno burguês e filisteu. Não se pode partilhar de outra maneira que não seja «segundo a força».
  664. ______________________
  665.  
  666. Para comprovar a verdadeira força do Estado capitalista, não há nem pode haver outro meio que não seja a guerra. A guerra não está em contradição com as bases da propriedade privada, mas é um desenvolvimento directo e inevitável destas bases. No capitalismo é impossível o crescimento uniforme do desenvolvimento económico das diferentes economias e dos diferentes Estados. No capitalismo são impossíveis outros meios de restabelecimento de tempos a tempos do equilíbrio alterado que não sejam as crises na indústria e as guerras na política.
  667. ______________________
  668.  
  669. Os Estados Unidos do mundo (e não da Europa) são a forma estatal de unificação e de liberdade das nações, que nós relacionamos com o socialismo — enquanto a vitória completa do comunismo não conduzir ao desaparecimento definitivo de todo o Estado, incluindo o democrático.
  670. ______________________
  671.  
  672. A desigualdade do desenvolvimento económico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Daí decorre que é possível a vitória do socialismo primeiramente em poucos países ou mesmo num só país capitalista tomado por separado. O proletariado vitorioso deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista no seu país, erguer-se-ia contra o resto do mundo, capitalista, atraindo para o seu lado as classes oprimidas dos outros países, levantando neles a insurreição contra os capitalistas, empregando, em caso de necessidade, mesmo a força das armas contra as classes exploradoras e os seus Estados. A forma política da sociedade em que o proletariado é vitorioso, derrubando a burguesia, será a república democrática, que centraliza cada vez mais as forças do proletariado dessa nação ou dessas nações na luta contra os Estados que ainda não passaram ao socialismo. É impossível a liquidação das classes sem a ditadura da classe oprimida, o proletariado. É impossível a livre unificação das nações no socialismo sem uma luta mais ou menos longa e tenaz das repúblicas socialistas contra os Estados atrasados.
  673.  
  674.  
  675.  
  676. Lenin - O Socialismo e a Guerra
  677.  
  678. Os socialistas sempre condenaram as guerras entre os povos como coisa bárbara e brutal. Mas a nossa atitude em relação à guerra é fundamentalmente diferente da dos pacifistas (partidários e pregadores da paz) burgueses e dos anarquistas. Distinguimo-nos dos primeiros pelo facto de compreendermos a ligação inevitável das guerras com a luta de classes no interior do país, de compreendermos a impossibilidade de suprimir as guerras sem a supressão das classes e a edificação do socialismo, e também pelo facto de reconhecermos inteiramente o carácter legítimo, progressista e necessário das guerras civis, isto é, das guerras da classe oprimida contra a classe opressora, dos escravos contra os escravistas, dos camponeses servos contra os senhores feudais, dos operários assalariados contra a burguesia. Nós, marxistas, distinguimo-nos tanto dos pacifistas como dos anarquistas pelo facto de reconhecermos a necessidade de estudar historicamente (do ponto de vista do materialismo dialéctico de Marx) cada guerra em particular. Na história houve repetidamente guerras que, apesar de todos os horrores, atrocidades, calamidades e sofrimentos inevitavelmente ligados a qualquer guerra, foram progressistas, isto é, foram úteis ao desenvolvimento da humanidade, ajudando a destruir instituições particularmente nocivas e reaccionárias (por exemplo a autocracia ou a servidão), os despotismos mais bárbaros da Europa (o turco e o russo). Por isso é necessário analisar as particularidades históricas da guerra actual.
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  680.  
  681. O conteúdo ideológico-político do oportunismo e do social-chauvinismo é o mesmo: a colaboração de classes em vez da sua luta, a renúncia aos meios revolucionários de luta, a ajuda ao «seu» governo em situação difícil em vez da utilização das suas dificuldades para a revolução.
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  684. Kautsky, que em 1909 escreveu todo um livro sobre a aproximação de uma época de revoluções e sobre a ligação da guerra com a revolução, Kautsky, que em 1912 subscreveu o manifesto de Basileia sobre a utilização revolucionária da guerra futura, justifica e embeleza hoje de todas as maneiras o social-chauvinismo e, tal como Plekhánov, junta-se à burguesia para ridicularizar quaisquer ideias de revolução, quaisquer passos no sentido da luta directamente revolucionária.
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  687. Quem deseja uma paz sólida e democrática deve ser a favor da guerra civil contra os governos e a burguesia.
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  690. Há parlamentarismo e parlamentarismo. Uns utilizam a arena parlamentar para agradar aos seus governos, ou, no melhor dos casos, para lavar as mãos, como a fracção de Tchkheídze. Os outros utilizam o parlamentarismo para se manterem revolucionários até ao fim, para cumprirem o seu dever de socialistas e de internacionalistas mesmo nas mais difíceis circunstâncias. A actividade parlamentar de uns leva-os às cadeiras governamentais, a actividade parlamentar dos outros leva-os à prisão, ao desterro, aos trabalhos forçados. Uns servem a burguesia, os outros servem o proletariado. Uns são sociais-imperialistas. Os outros são marxistas revolucionários.
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  693. As reuniões com os chamados programas de «acção» reduziram-se até agora a que nelas se proclamou, mais ou menos integralmente, um programa de simples pacifismo. O marxismo não é pacifismo. É necessário lutar pela mais rápida cessação da guerra. Mas só com o apelo à luta revolucionária a reivindicação de «paz» adquire um sentido proletário. Sem uma série de revoluções a chamada paz democrática é uma utopia filistina. O único verdadeiro programa de acção seria o programa marxista, que dá às massas uma resposta completa e clara sobre aquilo que aconteceu, que explica o que é o imperialismo e como combatê-lo, que declara abertamente que a falência da II Internacional foi provocada pelo oportunismo, que apela abertamente a edificar uma Internacional marxista sem e contra os oportunistas. Só um tal programa, que mostraria que nós acreditamos em nós próprios, acreditamos no marxismo, declaramos ao oportunismo uma luta de vida ou de morte, nos asseguraria mais cedo ou mais tarde a simpatia das verdadeiras massas proletárias.
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