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Feb 17th, 2019
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  1. Eu não uso leitura dinâmica e não acelero meus vídeos e podcasts
  2. Você também já deve ter sofrido daquele sentimento de que existem mais livros no mundo do que você é capaz de ler.
  3.  
  4. Toda filosofia, conhecimentos específicos e grandes histórias, todas ali na sua cabeceira, esperando para serem devoradas.
  5.  
  6. Agora pense como seria incrível poder acordar e ouvir 2 podcasts dos seus favoritos, ler 150 páginas da última edição de Uma Breve História do Tempo e chegar a tempo ao trabalho para começar o dia?
  7.  
  8. Quanto conhecimento você não poderia colecionar a mais se pudesse multiplicar a velocidade que consome todo esse conteúdo?
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  10. É assim que algumas ideias são vendidas e adotadas por uma quantidade enorme de pessoas. É assim que a maioria de nós acaba buscando soluções mágicas para problemas que não existem.
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  12. Uma dessas ideias mágicas é a tal da leitura dinâmica e suas mais variadas versões.
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  14. É bem comum me perguntarem se uso alguma técnica de leitura dinâmica. Como tenho muitos livros e normalmente leio cada um deles mais de uma vez, é esperado que exista algum truque.
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  16. Tenho outros tantos amigos que acreditam e aplicam técnicas de leitura, mas que muitas vezes percebo neles o problema deste tipo de prática.
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  18. Ler é a única forma existente de, de fato, se tornar mais inteligente. Óbvio que nossas experiências e o contato com outras pessoas ao longo da vida nos agregam um valioso tipo de conhecimento, mas isso de fato não te deixa mais "Inteligente". Significa que você tem uma boa percepção do que acontece ao seu redor, nada além disso.
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  20. A única forma de fazer alguém mais inteligente, infelizmente, ainda é através de uma densa quantidade de leitura. Agregando dados que vão além da própria visão de mundo e conexões com mais referências que podemos colecionar na própria vida.
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  22. E assim, queremos ler mais em menos tempo.
  23.  
  24. Mas ler rapidamente te traz apenas a impressão de conhecimento. Você é capaz de entender o que está sendo dito e o contexto geral, mas não é capaz de entender as ideias por completo. O que os estudos mostram é que velocidade sempre traz uma relação de troca com a compreensão do conteúdo.
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  26. Além de dificultar a compreensão verdadeira, ler rápido costuma ser pior do que não ler. Quando você lê muito rápido, é incapaz de pensar profundamente sobre o que está lendo, se apegando à primeira conexão que vem em mente, sem ponderar o real sentido das palavras. Essa falta de compreensão real sobre o que está sendo lido gera dois problemas profundos: conhecimento superficial e excesso de confiança (google efeito dunning kruger para entender mais).
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  28. Ler propriamente significa questionar o que está sendo dito pelo autor, reler algumas frases duas ou três vezes, questionar a escolha de algumas palavras e anotar suas considerações para voltar depois e repensar o capítulo.
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  30. Uma leitura eficiente surge dessa riqueza de detalhes que é possível extrair da imersão profunda em relação ao que o autor está tentando dizer.
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  32. Essa compreensão é impossível com leitura rápida.
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  34. Em resumo, não existe forma de aumentar a velocidade da leitura sem perder compreensão.
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  36. Aí que entra uma forma moderna e ainda cada vez mais comum de consumir conteúdo: áudios e vídeos. É uma verdadeira febre, principalmente na comunidade mais envolvida com tecnologia, acelerar conteúdo audiovisual em 1.5 ou 2x para consumir na metade do tempo.
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  38. E essa parece ser uma forma eficiente, ainda mais com softwares que possuem aceleração inteligente. Que ao invés de acelerar de fato o áudio, procura por intervalos de silêncio e remove o espaço entre as falas. O que parece brilhante, mas não é.
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  40. Acelerar o áudio, ou o vídeo traz um efeito bem similar ao da leitura dinâmica. Pelo pouco tempo que sobra para pensar propriamente no que foi dito, o ouvinte inevitavelmente perde a profundidade do conteúdo e as camadas de informações tornam-se apenas uma superfície plana.
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  42. Um dos problemas que ninguém costuma mencionar ao consumir audiovisual de forma acelerada é a importância do silêncio.
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  44. O silêncio que acaba sendo cortado nesse processo tem um papel enorme para a profundidade de qualquer conteúdo. Podemos perceber a confiança no assunto de quem está dizendo, os impactos emocionais do que está sendo dito causaram e, em caso de conteúdo de humor, a atmosfera ideal para que uma piada tenha sua força.
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  46. Quando Steve Jobs apresentou o primeiro iPod Nano e deu sua icônica apresentação sobre o aparelho caber no bolso pequeno da calça jeans, o grande efeito de sua fala estava no silêncio.
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  48. "Para que serve esse bolso? ..."
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  50. Sem a pausa depois dessa frase, o breve silêncio que gera tensão e curiosidade para o que vem em seguida, sua apresentação não teria metade do impacto que teve. O segredo do impacto das apresentações de Steve Jobs estavam no silencio, nas pausas calculadas.
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  52. Imagine que consumir algo com a profundidade necessária é como utilizar o Google Street View. É possível entender o contexto geral e entrar num longo detalhamento do que existe além desse contexto simplificado.
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  54. Com o Street view é possível ler nomes de lojas, entender a organização das ruas, a direção que os carros andam, casas, numerações dos lotes e até grandes monumentos que são referências mundiais.
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  56. No caso da leitura dinâmica e do áudio acelerado, a compreensão é reduzida apenas ao mapa visto de cima. É possível coletar algumas informações e entender o contexto geral, mas o entendimento está completamente limitado. É impossível se aprofundar em qualquer outra dimensão.
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  58. Pior ainda do que no exemplo acima, com táticas para acelerar o consumo de conteúdo muitas vezes o contexto se perde, é como se enxergasse apenas partes de mapas diferentes sendo conectadas sem uma ligação sequencial, esperando que tudo ao final faça sentido.
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  60. O problema é que é muito fácil enganar a nós mesmos. O cérebro é uma máquina de fazer conexões e, quando algo parece fazer sentido, a mente junta as duas ideias e cria uma explicação plausível para justificá-la. No fim, a pessoa não entendeu muito mas acha que domina o assunto.
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  62. E muitas vezes as gente que não entende a diferença entre ter uma noção superficial do assunto e dominar os detalhes e pontos de vista criam distorções catastróficas.
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