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Nov 21st, 2019
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  1. NÚMERO 66
  2. Um texto sem lide sobre uma relação de sete anos e trinta anos de história.
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  4. Por Igor González
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  6. No final de agosto de 2012, quando desembarquei na estação das barcas no centro do Rio de Janeiro, rumo à tradicional feira de antiguidades que se estendia todos os sábados sob o extinto Elevado da Perimetral na Praça XV, notei uma figura em pé sobre o topo do Centro Administrativo do Tribunal de Justiça do Rio. Enquanto os visitantes da feira pareciam não se importar com tal acontecimento, preferindo continuar garimpando peças exóticas como pinturas amareladas de crianças fantasmagóricas e um “legítimo” capacete que pertencera a um ex-combatente com direito a furo de bala, outros pedestres de olhares curiosos paravam frente ao prédio para observar e fotografar o vulto suicida. Meu interesse em registrá-lo acabou se tornando maior que o desejo de procurar uma câmera Polaroid funcionando em pleno século XXI.
  7.  
  8. Acompanhado de meu amigo, Gabriel Silva, que estava ali atrás do mesmo produto, e, assim como eu, em profunda negação com o fato de atravessar a Baía de Guanabara para comprar uma câmera Polaroid funcionando em pleno século XXI ser uma atitude hipster, seguimos até a pequena aglomeração.
  9.  
  10. Podendo observar mais de perto, o que parecia ser uma figura melancólica prestes a mergulhar rumo ao desconhecido, deu lugar a uma estátua de ferro fundido, pertencente à exposição ‘Corpos Presentes’, do artista inglês e ganhador de prêmios internacionais importantes, Antony Gormley. Alguém que eu, no auge dos meus dezesseis anos e nem um pouco preocupado com as personalidades do mundo das artes plásticas, nunca havia ouvido falar. E que só descobriria a existência mais tarde naquele mesmo dia.
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  12. Nossos ouvidos atentos, de jovens tímidos o bastante para questionar a estranhos nossas dúvidas, acabaram por captar a conversa de alguém mais a par da situação explicando o real motivo de tal estátua estar em um local tão inusitado como aquele e onde seria possível encontrar o restante da “obra”. E logo, nosso passeio acabou tomando outro rumo.
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  14. Gormley havia escolhido o Centro Cultural Banco do Brasil para hospedar uma retrospectiva de sua trajetória, com trabalhos expostos em mostras como a Documenta de Kassel e a Bienal de Veneza. E sua escolha acabou me levando ao endereço de número 66 na Rua Primeiro de Março.
  15.  
  16. Com linhas neoclássicas, o prédio de chão de mármore foi construído em 1906, sendo projetado pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva — arquiteto da Casa Imperial, fundador da Sociedade Propagadora das Belas-Artes e do Liceu de Artes e Ofícios — como sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
  17.  
  18. Entre 1920 até 1960 ele abrigou a sede do Banco do Brasil até sua transferência para a nova capital do país, Brasília. Somente no final da década de 80, quando o processo de revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro começava a nascer, o prédio foi restaurado, se tornando um dos meus pontos culturais favoritos, assim como de muitos cariocas e turistas.
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