quinta-feira, 14 de abril de 2011
No One's Around, but the Map says You're Here
Eu posso ouvir a solidão gritando nos meus ouvidos.


Muito se falou da falta de interpretação de Casemiro. Ele não dava nada, nenhuma bola dentro, apenas pé no tiro.
Os pais dos alunos do segundo grau queriam tirá-lo das garras daquela escola sublocada dos empresários marrentões. O sonho dele era fácil e instantâneo: Se graduar logo e fugir daquele colapso diário. Não deu, continuou ouvindo sermão de aluno, pai de aluno, aluno de novo, e todo mundo que sobrevoava a cabeça dele feito maníacos, feito corvos. Só espreitando.

Ele tinha alunos brilhantes, bacharéis em tudologia. Ele só não sabia como se locomover em relação a porra da interpretação. Por que os diabos ele não terminou a desgraça da faculdade? O cara podia passar por essa na maior quietação, mas não, se acorrenta numa cadeira pra não erguer qualquer bandeira contra aluno leviano.

O rapaz tem tão bom coração, que tenta ouvir o som das fagulhas da professora Márcia, que por sua vez não pára de fumar nem por um segundo que se abate na morbidez dos cancros de uma sala fechada e abafada. Sala dos professores. E o coitado louco pra dar uma tragada fulminante e encher suas artérias de orgulho masculino. É uma pena enorme e abarcada por mais pena o fato do professor Casemiro ser tão sozinho. Ele é um gênio e vocês não sabem! Poderia conseguir a garota que quisesse na encruzilhada que quisesse, na vida que quisesse, no rumo que quisesse, na rasteira que quisesse... Mas ele apenas toca contrabaixo no bar de couverts do seu Bosco. O seu Bosco por sua vez se subentende na própria rasteira. Ele não quer admitir sob hipótese ou tortura alguma que Casemiro pensava melhor do que ele. O sonho maior de Casemiro era fechar aquele pub pra exclusividade musical. - Na minha modesta opinião era o que afetava a síntese de discernimento do rapaz, já que ele era mais pobre e rigidamente transeunte do que um Axl Rose na transição dos noventa pros dois mil.

Para ser bem sincero, o maior sonho de Casemiro era casar e ir escrever romances em Aspen. É uma pena sustentável ele ter falecido precocemente dos órgãos que assentavam sua vida. Algo me diz que seus rins estouraram. Na vistoria da necropsia estavam os dois desmantelados e inchados. Dilacerados.

A pena maior é subentender a vida do seu Bosco a partir de agora. Ou a dos alunos. Ou até da professora Márcia, antiga fumante passiva que virou ativa devido a baixa capacidade de nutrir um meio de personalidade. Suas fagulhas serão as mesmas, em proporções estritamente iguais, com ou sem o rapaz embasbacado, admirando a bela moça, querendo pedir emprestado um cigarro. Eu me levo a crer que Casemiro faz essas coisas pra gente começar a perceber o quanto ele percebia o quão especial era a sua pessoa.

Tanta gente passando fome e abre um espaço pra divagar nas maneiras vitais. Tantos gênios espalhados por aí, os quais não têm a oportunidade de trucidar os outros com seus talentos múltiplos. Como Casemiro. Amanhã ele vai no pub, tocar bateria, seu Bosco o contratou logo após sua morte. O velho não podia suportar viver sem ter um ser que de cabeça, corpo e alma é acima dos outros.