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- O polo de inacessibilidade da cidade do Rio de Janeiro localiza-se no interior do Parque da Pedra Branca, entre o pico da Pedra Branca e o Vale do Gunza, o parque em sua totalidade separa a baixada de Jacarepaguá da grande Campo Grande e produz duas zonas intersticiais na geografia da cidade, o caminho de Bangu e o sistema Recreio-Guaratiba, essa vastidão de floresta é um delicado ecossistema de conjecturas e mistérios cotidianos. Os habitantes isolados vivem como no passado, radinho AM pendurado na ponta de um bambu, plantações de banana que confundem-se com a floresta aqui e ali, não há luz, é um coração de escuridão que salta aos olhos na imagem noturna da cidade, um ponto de densidade vazia nos sistemas elétricos da metrópole.
- O que nos interessa dessa geografia selvagem é precisamente o local mais distante, o remoto, o inumano. A produção desse contraste com a malha urbana ao redor, a arquitetura que trabalha pela racionalização do mundo, é o que nos impele para esse cerne. É preciso vagar abrindo caminho por trilhas que existem sem demorar, basta que uma temporada se vá e elas deixam de ser, a lâmina que perder seu fio em metades ficará fadada a nunca romper o mistério.
- Distante da matemática divina que constrói os dia-a-dias fora da Pedra Branca, nós sentimos o apoio nas regularidades dirimir, o suor do movimento para o impossível é também gotículas da realidade que vão deixando o corpo, diante da distância somos hidrofrênicos, nosso pensamento nos deixa como choro, suor ou urina.
- Na natureza, ao contrário do que dizem os re-animistas, estamos longe de Deus. Sua secundidade ao próprio universo o faz o humano original, a razão seu instrumento. O que há antes de Deus é em paralelo o que há antes do homem. Deus, sin-Natura.
- Essa lonjura tal do consolo do esquadro nos coloca em uma posição de tolo, sitting ducks de forças incompreensíveis.
- O polo de inacessibilidade é uma promessa além de um medo. O que se esconde na maior dentre todas as distâncias? A maior de todas as separações, a cisão com a Garantia. A garantia da identidade, a garantia do funcionamento dos números, toda a solidez. O terror acachapante do encontro com o sem senso e sem referente.
- Nas fronteiras onde o assenhoreamento do mundo, e sua máquina de guerra, o desencantar, parece não ser tão certo de si, nós tememos, a mão no facão fraqueja só um pouco, absorta e incerta se o próximo corte será ou não.
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